Em certo momento, ela hesitou. Parou, perguntando a si mesma: "O que eu estou fazendo aqui?" Era tarde demais para retroceder, não poderia mais fugir. Por amor aos seus filhos, aquela mulher faria qualquer coisa para manter o monstro violento longe dos únicos tesouros que ela tinha na sua vida.
Os passos hesitantes continuaram no corredor do sétimo andar daquele prédio inóspito, onde o silêncio imperava. Apenas o som do salto de seus elegantes sapatos pretos batia contra o piso vinílico e rompia a quietude do local.
Cautelosamente, os olhos claros passearam pelo corredor com paredes revestidas por um papel em arabesco desgastado.
Tudo parecia tranquilo, exceto por um pequeno facho de luz vermelha escondido no alto de uma das paredes que passou despercebido da sua vista. Ela segurou firme na alça da maleta que continha um valor exorbitante do resgate.
Viviane estava à mercê da própria sorte, não podia contar ao marido o que estava prestes a realizar, já que Pietro exigiu que a ex-mulher levasse a quantia e não contasse ao marido e nem mesmo para a polícia; caso o contrário, começaria a enviar partes da sua filha. Cerrando o punho, ela tocou na porta, o ruído oco das batidas se repetiram por mais três vezes.
O destino forçava Viviane a seguir com o plano. Girando os calcanhares para a direita, ergueu os olhos e vislumbrou o número setenta e sete, suspirou profundamente ao reparar na porta do apartamento. Quando viu a maçaneta girar bem devagar, ela sentiu um arrepio atravessando a sua espinha. O ranger da porta se abrindo vagarosamente era um som pavoroso.
Viviane estava diante do homem que permeou os seus piores pesadelos desde que recebeu a notícia de que o monstro recebeu a progressão de pena para o regime aberto.
- Pi-Pietro, - a sua voz saiu tremida.
- Olá, docinho! - O ex-marido tocou no seu braço, - Entre!
O ruído abafado da porta se fechando atrás de Viviane provocou-lhe um arrepio.
- Onde está a minha filha? - perguntou ao ver a sala mal iluminada e vazia.
- Acalme-se! - Ele tocou no seu rosto e deslizou pela base do pescoço de Viviane. - Adoraria quebrar esse pescocinho.
O estômago embrulhou ao reviver os momentos de tortura nas mãos daquele homem.
- Mamãe!
- Mellanie, estou aqui, querida! - Viviane ergueu o pescoço na direção de onde o som da voz vinha.
- Você trouxe o que te pedi? - Pietro perguntou.
Há treze anos, ele havia tirado Liz dos seus braços e mais uma vez, ousou raptar a sua outra filha.
- Sim! - Viviane apertou forte a alça da maleta e apertou contra o peito, - mas primeiro, solte a minha filha.
- Para que a pressa? - Ele deu uma volta em torno da mulher de cabelos dourados, segurou nas mechas e aproximou o nariz para sentir o aroma de baunilha do shampoo que Viviane costumava usar. - Você continua gostosa mesmo depois da gravidez de trigêmeos... - passou a língua em torno dos lábios ao parar diante dela. - Pena que é uma frígida!
Ao ouvir o choro abafado, ela deu um passo a frente, mas os dedos compridos agarraram com força nos seus cabelos, puxando-a de volta
- Onde pensa que vai? - Passou o braço por seu pescoço e em seguida, lambeu a sua orelha.
- Quero ver a minha filha! - pediu, desesperada.
- Mellanie não é a sua filha... - ele apertou ainda mais, deixando-a sem ar. - Ela foi um erro que cometi quando fiquei com a Andréia. - Pietro comprimiu o olhar ao recordar. - A falecida não era frígida como você! Ela gostava de me satisfaz3r, pena que ela se deixou levar pela ambição e paixão pelo primo.
O coração saltava dentro do peito, Viviane ainda buscava o ar.
- Mãe! - A voz surgiu do quarto.
- Estou aqui! - disse, lutando para se libertar de Pietro.
Desesperada, cravou a ponta da unha no braço do ex.
- Papai! - A voz estava mais alta.
- Cala a boca! - Pietro berrou.
Por alguma razão, ele soltou-a. Viviane tocou no pescoço vermelho e tossiu incontrolavelmente até que o ar entrou nos seus pulmões.
Dando-lhe as costas, Pietro foi até uma porta com pintura descascada e a abriu. Aproveitando o momento, Viviane meteu a mão no bolso do tailleur preto e tocou no metal com o cano longo. Escondeu o revólver atrás da maleta assim que o homem veio ao seu encontro. O sorriso maquiavélico tornava a expressão ainda mais assustadora.
- Quanto eu receberia para não matar a babá do CEO? - Ele estudou o rosto pálido da mulher assustada. - Que tal nos divertirmos um pouco?
As passadas largas venceram a distância. Pietro examinou o decote.
- Estão maiores, - tocou o pescoço fazendo pressão novamente.
- Não toque em mim, - ela deixou a maleta cair.
A ponta da mala cheia de dinheiro caiu no pé de Pietro, fazendo-o encolher de dor. Viviane engatilhou e apontou o cano da pistola na direção do homem que saia do chão.
- Você nem sabe como usar isso, - ele riu debochadamente.
Diante da provocação. Vivian atirou num jarro que se espatifou no chão.
- Ainda tem dúvidas?
- Vai perder o seu réu primário por uma garota que nem é sua filha? Ela tem o meu gene e é tão má e sagaz quanto a Andreia.
- Mellanie é minha filha!
Mantendo a mira em Pietro, ela andou de costas até o cômodo onde Mellanie estava sentada com as mãos algemadas.
- Tire isso das mãos dela, - Viviane se encheu de coragem ao exigir. - Depressa!
Sob a ameaça da mulher armada, ele retirou a chave do bolso da calça jeans surrada e abriu as algemas. A jovem de cabelos negros livrou-se do seu raptor e correu para o outro lado da sala. Mellanie já tinha dezoito anos e o rosto idêntico ao de Andréia. Apesar da sua rebeldia e todos os problemas no qual a jovem se meteu na adolescência, Viviane a amava do mesmo jeito que amava Liz e os trigêmeos.
- Vamos sair daqui! - disse Viviane.
- Estúp1do! - A garota de olhos claros vociferou ao passar pelo pai biológico. - Eu te odeio! - A jovem vociferou.
Apressada, Mellanie tropeçou na maleta. Agachou-se para pegá-la e piscou para o homem encostado no batente da porta do quarto enquanto Viviane caminhava de costas, tomando cuidado para que Pietro não a atacasse de surpresa.
Ao deixar o local, ambas correram até virar no corredor. Mellanie apertou o botão diversas vezes. A respiração de Viviane estava entrecortada. A sensação de estar sendo observada era inquietante. Finalmente, a porta da caixa de metal se abriu. Ambas caminharam para dentro do elevador em passos firmes.