Enquanto Michael, Nicholas e Sofia acabavam de chegar a adolescência, Elizabeth e Mellanie alcançaram a idade adulta. Aos 18 anos, Liz já sabia que Gabriel era o seu pai adotivo, mas sempre o viu como o seu único pai, já Mellanie, decidiu voltar para Beverly Hills aos quinze anos para morar com a avó na intenção de saber mais sobre a sua falecida mãe, Andréia.
Em uma tarde quente de verão, Viviane retornou a casa depois de um dia cansativo. Durante o jantar, ela olhou para o relógio mais uma vez, estava a ponto de ligar para Gabriel quando o grandalhão apareceu na sala de refeições pouco antes de servirem a sobremesa.
- Muito trabalho? - Viviane perguntou.
- A reunião estendeu-se demais, - beijou-lhe a testa antes de sentar ao lado da esposa.
- Pai, eu quero um carro, - Elizabeth pediu.
Gabriel trocou olhares com Viviane.
- Ela já tem a habilitação e dirige bem. Ela é responsável, você precisa confiar nela.
Não era isso que o preocupava, Gabriel sabia que o monstro estava escondido em algum lugar. Tinha medo que Pietro atentasse contra a vida de Liz e de Viviane novamente. Mesmo após treze anos, ele ainda tinha pesadelos com o dia em que a sua amada esposa levou um tiro.
- Por favor, pai! - Elizabeth insistiu.
Liz estava cursando a faculdade de Técnico de Enfermagem. Embora fosse um tanto tímida, a jovem tinha os traços marcantes de Viviane.
- Vou conversar sobre isso com a sua mãe.
- Sou adulta, pai - A garota replicou.
- Eu ainda mando na p0rr4 desta casa, - o punho cerrado de Gabriel se chocou contra a mesa.
Os trigêmeos sentados à mesa não se abalaram tanto, pois já estavam habituados ao jeito turrão do pai.
- Hei, mantenha calma! - Viviane se intrometeu ao alisar os ombros largos do marido. - Eu não quero brigas durante as refeições.
- A Mellanie já tem um carro, - Liz rebateu.
- Eu não sei como aquela garota conseguiu, - Gabriel fitou a esposa.
- Tenho certeza que a sua mãe tem algo a ver com isso, - tocou as costas do marido.
- A vovó nunca gostou de mim, por isso ela não me deu o carro - Elizabeth lamentou.
Olhando para a sobrancelha franzida da filha, Viviane suspirou antes de dizer:
- Vou conversar com o seu pai...
- Não vou falar sobre neste assunto outra vez, - Gabriel empurrou a cadeira para trás com o corpo e, ao ficar em pé, saiu da mesa.
Os trigêmeos ainda estavam entretidos.
Os dois meninos continuaram atentos aos jogos nos celulares enquanto a menina lia o livro e escutava música pelo fone de ouvido. Nenhum deles tinha se dado conta do que aconteceu à mesa.
- Guardem isso e vão terminar o dever de casa!
- Não comemos a sobremesa! - A menina de cabelos castanhos falou calmamente.
Sofia estava sentada ao lado dos seus dois irmãos Michael e Nicholas. A garota de treze anos tinha traços semelhantes aos de Gabriel, mas era tão tranquila quanto a mãe.
- Considerem isso como um castigo!
Nicholas bufou enquanto Michael continuou atento à tela do celular. Obedecendo à mãe, os três deixaram a mesa.
- Vou tomar o celular de vocês. - Viviane avisou;
- Devia pegar livro da Sofia também, mãe! - Nicholas reclamou.
- Façam o que mandei, - Viviane apontou para a saída.
Observando que Liz estava quieta e cabisbaixa, Viviane caminhou sorrateiramente para saber o porquê da filha estar distraída.
Ao chegar mais perto, Viviane se deu conta de que Elizabeth suspirava e alisava a fotografia de um rapaz atraente no celular.
- Você gosta do Alex Bittencourt?
- Mamãe, - sacudiu o aparelho para desligar a tela. - Devia respeitar a minha privacidade.
- Eu não estou te julgando, só quero saber o que você sente por esse rapaz.
- Acho ele bonito, - Liz sorriu instintivamente.
- Ele já tem trinta anos e está noivo, filha! - sentou-se ao lado de Elizabeth.
- Não, ele não está! Eu soube que ele rompeu o noivado quando a pegou ela na cama com o irmão dele.
- Onde você aprendeu essa palavra? - Viviane arqueou as sobrancelhas claras.
- Não sou mais criança, mamãe. Já tenho 18 anos e sei o que é sexo.
- Você já fez aquilo? - A dúvida tomou conta dos pensamentos da mãe desesperada.
- Não, mãe! Eu ainda não fiz nada, mas adoraria fazer amor com o Alex.
- Acho melhor não tocar neste assunto na frente do seu pai - Viviane pegou a taça e tomou um gole de água antes de prosseguir: - Ele vai surtar.
- Todos escutam quando você e o pai gemem no quarto durante a madrugada.
- Ah, não! - As maçãs do rosto ficaram vermelhas.
Liz arrastou a cadeira para trás, ajeitou a t-shirt sobre a bermuda jeans quando ficou em pé.
- Espera, filha! - Viviane se levantou. - Quando estiver pronta, converse comigo. Existem alguns métodos contraceptivos que...
- Ih, mãe! Eu não sou tão boba. Sei como os métodos contraceptivos, aliás, é a senhora que precisa tomar cuidado para não encher essa casa de criança.
- Veja como fala, Liz!
- Estou te zoando, - Abraçou a mãe com força. - Boa noite, te amo!
- Amo mais!
Viviane coçou o alto da cabeça enquanto a secretária do lar tirava as louças da mesa. Ela começou a retirar os pratos para ajudar a funcionária. Ela ainda estava preocupada com Mellanie.
Era difícil segurar Mellanie em casa. Desde que voltou, ela estava diferente. No tempo em que morou com a avó em Beverly Hills, Mellanie foi presa duas vezes, uma por dirigir embriagada e outra por roubar duas sandálias numa loja de grife na Rodeo Drive. Na última vez em que Mellanie foi solta sob fiança, a mãe de Gabriel avisou que não aceitaria aquela situação e acabou mandando a neta de volta para o Brasil.
Embora a filha adotiva fosse rebelde, Viviane passou diversas noites pensando em Mellanie. Gabriel estava sem falar com a jovem desde que a pegou em atos libidinosos com Giovanni na sala de estar.
Na ocasião, Gabriel disse aos berros que aquilo era indecente e errado, mas foi Giovanni quem o contestou dizendo que Mellanie não era a sua irmã de sangue e que estava apaixonado por ela.
- Mesmo assim, vocês são primos de segundo grau, - a voz mansa de Viviane tentou explicar.
- Gabriel também era primo da minha falecida mãe Andréia e eles já dividiram a mesma cama. - A jovem de cabelos negros e escorridos replicou.
Mellanie sabia mais do que deveria e isso causava um grande atrito na família.
- Repete! - Gabriel ergueu a mão.
O senhor Welsch estava a ponto de esbofeteá-la quando Giovanni se meteu entre os dois.
- Eu te odeio! - Mellanie gritou enquanto ajeitava o vestido.
- Filha, por favor, não diz isso - a voz serena de Viviane suplicou.
Por anos, Viviane cuidou de Mellanie com o mesmo carinho e amor que ofertou aos outros filhos, mas em algum momento, a garota tomou conhecimento de fatos distorcidos e passou a culpar os pais adotivos pela morte de sua mãe biológica e pela prisão de seu pai.
- Você não é minha mãe, - Mellanie gritou a todo pulmão.
Slapt!
A jovem revoltada desferiu um tapa no rosto de Viviane e a agarrou pelos cabelos.
- Você foi apenas uma babá aproveitadora que trepava com o meu tio Gabriel.
O senhor Welsch se meteu para apartar a garota de cima da mãe. No intuito de ajudar, Giovanni segurou as mãos de Mellanie.
Ao afastá-la de Viviane, Gabriel parou na frente da esposa como um anjo protetor.
- Saiam daqui! - A voz rouca ordenou. - Não quero vocês na minha casa.
- Não, Gabriel! - Viviane ainda estava com rosto vermelho quando intercedeu.
- Já chega, Viviane!
O homem comprido agarrou o abajur e tacou na parede.
- Leve a Mellanie para um dos meus hotéis na cidade ou para qualquer lugar, - deu a ordem para Giovanni. - Desapareçam da minha frente.
Com os olhos vermelhos e o sangue fervendo, Mellanie encarou os pais. Cada dia odiava mais Viviane, só queria saciar a sua sede de vingança como prometeu a Andréia no dia em que visitou o túmulo da mãe.
Envolvendo Viviane nos seus braços, Gabriel conteve a esposa que chorava por perder o amor e o respeito dos filhos adotivos.
No fundo, ele sabia o quanto Viviane os amava, mas acabaria com o casamento se continuasse permitindo que Mellanie e Giovanni agredisse a esposa fisíca e verbalmente.
Os dois jovens revoltados ainda estavam atados aos laços de sangue e fariam de tudo para se vingar de Viviane e Gabriel.