Pegando o blazer preto, ele jogou sobre os ombros da esposa e colocou-se e imediatamente fechou o zíper da calça.
- O que veio fazer aqui? - Ele esbravejou grosseiramente. - Saia daqui!
- Perdoe, senhor Welsch! - A secretária já estava de costas para o casal. - É urgente!
O rosto de Viviane queimou diante do constrangimento. Escondida atrás do homem comprido, ela encolheu os ombros.
- Já mandei sair da minha sala.
- É sobre as suas filhas.
Surpresa, Viviane ergueu os olhos.
- Qual delas? - A voz mirrada perguntou.
- Mellanie e Elizabeth.
- O que aconteceu?
- As duas se envolveram num acidente de carro.
Virando o pescoço levemente, Gabriel franziu o cenho para a esposa sob os ombros.
- Acabaram de ligar do hospital para informar que Elizabeth bateu a cabeça e a Mellanie torceu o tornozelo;
Atordoada, Viviane pôs as duas mãos nas costas de Gabriel, mas ele se afastou. Ao fechar o blazer, que mais parecia um vestido, em volta do próprio corpo, ela deu um passo para o lado.
- Estão bem! O filho do Doutor Bittencourt está cuidando delas.
Gabriel pôs a mão no peito, num claro sinal de alívio. Estava com medo de que Pietro tivesse algo a ver com o acidente.
- Deixe-nos a sós! - O senhor Welsch estendeu a mão indicando a saída para a funcionária.
- Sim, senhor! - disse antes de se retirar.
Logo que as portas se fecharam, os dedos de Gabriel começaram a tamborilar na mesa. Lembrava-se claramente de ouvir a esposa dizendo que daria carona à filha.
- Que porra é essa, Viviane?
Os olhos inquisidores acompanharam-na. Ela correu para poltrona onde pegou o casaco trench coat e começou a se vestir.
- Depois que se tem filhos, não é mais na hora que queremos, e na hora que dá, - tentou amenizar a situação, mas desistiu quando vasculhou a feição carrancuda.
- Não estou falando disso, car4lho! - Bateu na mesa com punho fechado. - Quero saber o que a Liz estava fazendo no carro com a Mellanie? Era para você levá-la.
Ela estremeceu diante da explosão de fúria do marido. Terminou de fechar o laço do casaco e pegou a alça da bolsa.
- A Elizabeth é adulta, - num tom sereno, ela tentou explicar enquanto ajeitava os cabelos.
- Não me interessa! Era para você levá-la, mas foi mais fácil deixar a Liz pegar carona com a irmã que vive me desrespeitando.
- Por que você é assim? - Balançou a cabeça, reprovando a atitude do marido.
- Esse tipo de atitude só afasta as nossas filhas de você.
- Enquanto os nossos filhos estiverem dentro da minha casa, terão que seguir as minhas regras.
- Você já se escutou, Gabriel? - Ela projetou o queixo numa afronta visível. - Está agindo como se fôssemos sua propriedade.
- É a minha família.
Ele segurou forte no tecido do blazer e saiu de trás da mesa quando Viviane deu-lhes as costas e encaminhou-se para o elevador.
- Você já pensou que nem tudo é como você quer.
- Só quero manter meus filhos seguros. Foi por isso que designei guarda-costas para acompanhá-los.
- Você tem que aceitar que elas cresceram e querem ser independentes. A nossa missão é criar e educar os nossos filhos para conviverem em sociedade. Minha mãe cuidou de mim e depois deixou que eu seguisse o meu rumo.
- Quer me falar mais sobre o seu irmão que morreu afogado na festa da faculdade? - Não mediu as palavras. Na hora da raiva, o sangue fervia e a mente não filtrava o que deveria ou não falar. - Talvez você queira conversar sobre o dia em que sua querida mãe entregou a sua filha para aquele imbecil do Pietro. A sorte, é que eu já sabia da sua gestação e não pensei duas vezes antes de adotar a Liz como a minha filha enquanto você estava em coma.
Viviane engoliu em seco. Fazia tempo que o marido não usava eventos ruins de seu passado para confrontá-la. Poderia permanecer naquela sala, discutindo por horas a fio, mas estava preocupada demais com as filhas para desperdiçar o seu tempo.
- Desculpa, - ele cerrou os olhos ao se dar conta do que acabou de fazer, - não era isso o que eu queria falar... continuo aborrecido com a sua mãe.
Ela não se manifestou, embora as palavras dele fincasse como um punhal em seu peito, Vivian girou os calcanhares. O silêncio era a principal arma que aprendeu a utilizar naqueles momentos de tensão. Andando até a saída, ela passou numa mecha que cobria o seu rosto e ajeitou atrás da orelha. Viviane parou dentro do elevador e trocou olhares com o marido.
Os músculos estavam tensos, ele não saiu do lugar. Mentalmente, ponderou se deveria ou não comentar sobre a notícia que recebeu pouco antes de Viviane aparecer em seu escritório.
As portas do elevador estavam se fechando quando Gabe correu e segurou-as antes que se fechassem.
- Ele saiu da prisão, - ele revelou de supetão ao adentrar a caixa de metal.
- Quem?
- Seu ex-marido está livre.
- Não é possível!
O sangue fugiu do rosto de Viviane. Ela colocou a mão na testa e sentiu a pele gelada. Aquela manhã estava mais conturbada do que os dias tensos de discussão entre Mellanie e Gabriel. Só naquele instante, ela entendeu o porquê o instinto protetor de Gabriel estava mais sufocante do que nos últimos anos. Ela levantou a cabeça e fitou o semblante preocupado do marido.