Capítulo 9 Quem é essa garota bonita

A luz começou a penetrar pela janela do quarto quando Fiona ainda profundamente adormecida, ouviu o som alto de um clarim. Então, ela acordou abruptamente do que pareceu um longo sono.

"Esquerda, direita..."

Ela podia ouvir os soldados treinando à distância.

Esfregando os olhos, ela pegou o uniforme de camuflagem da mesa de cabeceira e o vestiu.

No vasto pátio de treinamento, Spencer estava de pé e uniformizado, com as mãos atrás das costas, enquanto observava os soldados correrem.

"Ouvi dizer que uma jovem chamada Fiona veio ontem. Por que você não a trouxe aqui?" Eric Yuan perguntou com um sorriso.

"Como você descobriu?" Spencer questionou rindo.

"Na verdade, sou o último a saber. Toda a base estava em alvoroço ontem à noite, falando sobre o quão bonita ela é", Eric respondeu.

"Toda a base?" Spencer perguntou franzindo a testa e rapidamente acrescentou: "Quem espalhou a notícia?"

Quando Eric estava prestes a dizer algo, ele ouviu os soldados começarem a falar uns com os outros.

"Fiona está aqui!", disse um deles.

"Olha, olha!"

"Ela fica tão linda de uniforme !", exclamou outro.

"Quem está falando?" Spencer gritou e imediatamente acrescentou: "Você! Para correr mais vinte voltas!"

Então, Eric olhou para ele com a boca aberta e, depois de se virar, tocou a cintura de Spencer com o dedo e perguntou: "É a Fiona?"

Spencer se virou e olhou para ela na entrada do pátio de treinamento.

Ela havia colocado o menor uniforme disponível, mas as mangas ainda caíam sobre seus ombros e suas calças tinham que ser arregaçadas. Os sapatos de lona branca expuseram seus tornozelos magros. Para finalizar, ela usava o cabelo num rabo de cavalo bem cuidado. Qualquer pessoa que a observasse pensaria que ela era uma jovem muito capaz. De repente, uma brisa leve soprou e uma mecha de cabelo caiu suavemente sobre seu rosto.

"É tão bonita...!", Eric murmurou.

Spencer não disse uma palavra. Fiona, por sua vez, parecia estar procurando por ele. O sol da manhã estava brilhando lá de cima, então ela teve que levantar o braço para cobri-lo para que pudesse ver melhor, e então ficou na ponta dos pés para espiar a multidão.

Naquele momento, Spencer observou seu perfil agradável, sem desviar o olhar dela.

Era difícil encontrar alguém em meio a um mar de pessoas usando o mesmo uniforme. Finalmente ela suspirou e desistiu. No entanto, quando ela estava prestes a sair, ouviu uma voz forte e poderosa chamando seu nome.

"Fiona!" Spencer gritou.

"Ahem!" Eric tossiu quando Spencer o viu cobrir a boca, tentando esconder um sorriso.

O último lançou-lhe um olhar severo e então chutou Johnson e ordenou: "Vá e peça a ela para vir aqui!"

"Sim, senhor!"

Mas antes de Johnson ir embora, Spencer o puxou de volta: "Não se preocupe, eu mesmo irei procurá-la."

"Sim, senhor!"

"Onde está o celular que você comprou ontem?" Spencer perguntou, estendendo a mão e rapidamente acrescentou: "Dê para mim."

"Aqui está!" Johnson disse e correu para entregar a caixa.

"Tudo bem", Spencer comentou e, assentindo, pegou a caixa e foi até Fiona.

Ela o observou à distância, enquanto ele se aproximava. Ela não conseguia vê-lo claramente, mas ele ainda era tão alto e bonito como sempre.

"Pegue-o!" Spencer exclamou quando ele estava perto o suficiente, e arrojou a caixa nele.

"O que?" Fiona perguntou confusa, e mesmo que ela tentasse segurar a caixa, atingiu sua clavícula e ela estremeceu.

"Estúpida! Você veio aqui para me ver?" Spencer proferiu com os dentes cerrados.

Então, ela franziu a testa, acariciando o lugar onde havia sido atingida e respondeu: "Se eu conhecesse outra pessoa, não o teria feito."

Ele bufou e permaneceu em silêncio. "O que é isso?"

"Um celular?", ela perguntou, percebendo que ele havia lhe dado um celular, e então ela questionou: "É para mim?"

"Sim. Lembre-se de ligar para o vovô regularmente. Não o faça acreditar que eu a intimidei ou algo assim", respondeu ele, e depois de se virar e olhar para os soldados, apontou para um deles e retrucou: "Você não dormiu o suficiente na noite passada? Controle-se!"

Naquele momento, Fiona sentiu seus ouvidos zumbindo.

"O que queres de mim? Não me faça perguntar de novo", disse Spencer, voltando-se para ela.

"Eu só queria saber onde fica a cantina. Posso pedir ao Johnson para vir? Quero conhecer o lugar", respondeu ela.

"É meu assistente! Por que ele iria com você?", Spencer respondeu.

"Você..."

"Está bem... Siga-me", disse ele impacientemente, depois acrescentou: "Olhe para você! Você é tão baixinha! Eu não vou ser capaz de ver você se você ficar no meio desses soldados."

'Ei? Tenho um metro e sessenta e sete. Eu sou tão baixa assim?', ela se perguntou. A verdade é que toda vez que ela ficava ao lado de Spencer, ela tinha que levantar a cabeça para olhar em seus olhos.

De repente, as buzinas soaram mais uma vez.

"O treinamento da manhã acabou. Vamos tomar o café da manhã", comentou Spencer, e começou a se afastar rapidamente.

Fiona trotou atrás dele, tentando alcançá-lo.

Apesar do barulho na sala de jantar ser ensurdecedor, quando os soldados perceberam que Fiona estava seguindo Spencer para dentro, eles ficaram em silêncio e sorriso.

Spencer fingiu não notar quem zombava dele e piscou para ele. Fiona, gentil como sempre, sorria educadamente.

"Você está tentando seduzir meus soldados sorrindo assim?" Spencer disse de repente.

Então, ela parou de sorrir e retrucou: "Você tem olhos na nuca? E a propósito, o que você disse foi incrivelmente duro."

Depois de pegar um pouco de comida, ela encontrou um canto e se sentou. Naquele momento, ela preferia estar na companhia de qualquer outra pessoa do que com Spencer.

Foi ele quem insistiu para que viesse àquele lugar. Que audácia de homem!

"Você acha que eu não iria te encontrar sentando longe?" Fiona nem mesmo precisou levantar os olhos para saber que era a voz severa de Spencer, que se sentou ao lado dela, baixou a cabeça e começou a comer.

"Sr. Spencer!"

"Sr. Spencer!", outros homens disseram em voz alta. Então ele ergueu a cabeça e olhou friamente para vários oficiais que se aproximavam.

"O que vocês estão fazendo aqui?", ele perguntou enquanto os olhava de cima a baixo.

"Posso me sentar ao seu lado, Sra. Fiona?" Eric perguntou e, sem esperar por uma resposta, ele o fez.

Os demais não foram tão ousados para sentarem ao lado de Spencer, correram para a mesa ao lado, de onde a olharam maliciosamente.

"Meu nome é Eric Yuan. Eu cresci com Spencer, somos bons amigos. Como é que eu nunca vi você antes?", Eric perguntou.

Naquele momento, Fiona não sabia o que dizer.

"Ela é da família Ji", explicou Spencer e, depois de comer a última colherada de arroz de seu prato, ela se levantou e disse: "Estou indo."

Eric ficou pasmo por um momento. Mas ele imediatamente se levantou e a saudou.

"Você..." Fiona gaguejou. Ela não conseguia entender por que ele fez isso, mas quando ela estava prestes a se levantar, ele colocou as mãos em seus ombros.

"Por favor, não faça isso", Eric disse, então continuou, "Você é filha do Sr. Ji. De agora em diante, você pode me perguntar o que quiser. Trabalhei para seu pai e o considero um herói. Eu o admiro muito."

"Obrigada", respondeu Fiona, e acenou com a cabeça em agradecimento.

"O túmulo do seu pai não está no cemitério dos mártires?", Eric perguntou.

"Não, não está lá", disse ela e, depois de balançar a cabeça, acrescentou: "Meu pai foi enterrado ao lado de minha mãe."

"Ah," Eric disse simplesmente e então sorriu.

A princípio, Fiona voltaria para seu quarto assim que terminasse o café da manhã. Porém, quando acabou de comer, decidiu que não teria pressa e se permitiu vagar pelo prédio.

Junto à zona residencial erguia-se um edifício branco, equipado com enfermaria, escritórios e quadro de logística.

Spencer trabalhou lá?

Fiona ergueu as sobrancelhas e caminhou em direção ao prédio. Pela janela, ela viu uma sala vazia, com um espelho enorme em uma parede e um piano no canto.

Então ela abriu a porta e caminhou até o piano. Uma camada de poeira envolveu o pesado instrumento, tornando-o cinza, e algumas teclas estavam amareladas. Parecia óbvio que não era usado há muito tempo.

Antes de perceber o que estava fazendo, ela abriu o piano e apertou uma tecla.

Enquanto Spencer voltava para seu escritório, viu um grupo de soldados expectantes aglomerados no primeiro andar do edifício. Eles estavam encostados na janela, em silêncio, como se estivessem extasiados.

"Vo cês..."

Sem tempo para perguntar, ele ouviu a melodia vindo da sala. Quem estava tocando piano? Fiona?

"Saia do meu caminho!", ele exclamou, dirigindo-se para a porta. Então, sua expressão severa suavizou lentamente.

Sentada em frente ao velho piano estava Fiona, cujos dedos delgados fluíam naturalmente ao longo das teclas pretas e brancas, enquanto o som reverberava suavemente nas paredes da sala. A luz do sol entrava pela janela e brilhava em seu rosto, lançando uma sombra agradável em seus traços suaves e delicados.

Naquele momento, quando fechou os olhos para ouvir a melodia agradável e delicada, os cílios de Spencer piscaram levemente. Ele não sabia o que estava tocando, mas estava completamente hipnotizado.

'Esta é a segunda vez hoje. Na segunda vez, sinto algo por ela', ele pensou.

Assim que Fiona terminou de tocar, ela sorriu. O piano, por mais antigo que fosse, ainda era capaz de produzir os mais belos sons.

"Bravo!", alguém gritou e foi seguido por uma série de aplausos.

Naquele momento, ela engasgou e, virando-se, viu uma multidão aplaudindo do outro lado da janela.

"Fiona, você joga bem!", disse um deles.

"Outro, por favor!", exclamou outro.

"Sim, toque mais uma vez!", gritou um terceiro.

A jovem, corando, respondeu: "Eu não sabia que você estava aqui. Eu..."

"Por que vocês não estão treinando?" Spencer gritou então, virando-se para os soldados, e acrescentou: "Se vocês têm tempo para ouvir piano, têm tempo para se concentrar no treinamento!"

"É nosso tempo livre!", alguém da multidão murmurou.

"Sim!"

"Exatamente!", disseram outros, concordando com ele.

"Quem disse isso?", Spencer gritou. Naquele momento, seus olhos pousaram na multidão, como os de uma águia observando sua presa. Em seguida, acrescentou: "Bem ... Se alguém de vocês puder me derrotar mais tarde no treinamento, você terá um dia de folga e poderá ouvi-la tocar piano."

De repente, o ar ficou pesado e houve silêncio.

Fiona apertou os lábios, sentindo que de alguma forma havia quebrado alguma regra.

"Fiona, venha comigo", Spencer ordenou.

"Tudo bem", disse ela, seguindo-o.