Mamãe de mentira
img img Mamãe de mentira img Capítulo 2 Tudo por ela
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Capítulo 6 Controle-se img
Capítulo 7 Profissional img
Capítulo 8 Amigos img
Capítulo 9 Em casa img
Capítulo 10 Real img
Capítulo 11 Confissões img
Capítulo 12 Temporário img
Capítulo 13 Mentiras e ciúmes img
Capítulo 14 Nome da ex img
Capítulo 15 Eu img
Capítulo 16 Um dia inesquecível img
Capítulo 17 Salvação img
Capítulo 18 Malu img
Capítulo 19 A coisa certa img
Capítulo 20 Nós img
Capítulo 21 Confiança img
Capítulo 22 Investigação img
Capítulo 23 Entre medos e alianças img
Capítulo 24 Uma verdade img
Capítulo 25 Achismos e confissões img
Capítulo 26 Roda Gigante img
Capítulo 27 Um conselho img
Capítulo 28 Deslize img
Capítulo 29 Uma confissão img
Capítulo 30 Todos os santos img
Capítulo 31 Te amo img
Capítulo 32 Pedacinho do passado img
Capítulo 33 Céu da Bahia img
Capítulo 34 Um corpo em miséria img
Capítulo 35 Icebergs img
Capítulo 36 Cópia img
Capítulo 37 Eu img
Capítulo 38 Estou aqui img
Capítulo 39 Chantagem img
Capítulo 40 Personagem img
Capítulo 41 Juntos img
Capítulo 42 Preciso de você img
Capítulo 43 Péssimo img
Capítulo 44 A visita img
Capítulo 45 A verdadeira Daniela img
Capítulo 46 Bariloche img
Capítulo 47 Franqueza img
Capítulo 48 Pedido de aniversário img
Capítulo 49 Um presente img
Capítulo 50 A única chance img
Capítulo 51 Um amor de verdade img
Capítulo 52 Epílogo img
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Capítulo 2 Tudo por ela

A casa cheirava a riqueza, móveis e eletrodomésticos de última geração estavam espalhados de maneira encantadora por toda a sala.

O segui até o escritório, que ficava atrás de uma porta lateral; era um lugar colorido e alegre, alguns quadros de modelos famosas vestindo as roupas de sua marca.

-Sente-se, Daniela... Como vê, a indústria é muito importante para mim e não vejo os funcionários apenas como um meio de produção, eu já fui um funcionário...

- Conheço esse seu discurso meritocrata e até o admiro por ter vencido, mas essas pessoas vão passar fome, consegue entender? Talvez uma pessoa com uma casa tão grande não entenda o que é não ter o que comer amanhã, mas...

- Eu entendo mais do que você, menina, por isso sei que o melhor é fechar e pagar a todos, uma pequena reserva pode mudar a vida deles... Imagina como seria se essas pessoas simplesmente não tiverem nada como reserva por um capricho seu?

- Capricho? - O encarei.

- Sim, você é jovem, pode depender dos pais...

- Não posso! - Saí do sério.

-Tem gente lá que é responsável por si mesma...

- Olha aqui, seu Antônio, eu...

- Me chame apenas de Antônio - Ele me interrompeu com a sobrancelha erguida num sinal de imposição.

- Olha aqui, Antônio. Eu sou uma pessoa que sempre se sustentou, ao contrário de você que tem boa vida. Eu sei o que é a fome e não acho que deixar de lutar seja uma opção, a fábrica pode crescer, mas se você a fechar, como tanto quer, na crise que o país enfrenta, a maioria daquelas pessoas não terão um emprego tão cedo.

- Com as indenizações terão tempo para procurar.

- Você cresceu sem ao menos se arriscar? - Ergui a sobrancelha.

- Eu não coloco ninguém em risco...

- Colocou quando colocou aquelas moças para cuidar da produção. Você há de convir que onde se ganha o pão não se come a carne, certo?

- Daniela, eu não comi nem pão, nem carne...

- Até parece... Vai nos dar os dois meses ou não? Você me enrolou demais...

- Eu já disse que não!

- O que esperar de patrão que não isso? - Ele deu dois passos em minha direção e coçou a barba, ele era tão bonito quanto egoísta.

- Você está sendo injusta comigo...

- Eu gostaria de estar mesmo.

- Daniela, me ouça, eu...

E a porta foi aberta tão rápido que eu mal percebi! Uma menina sorridente de janelinha entre os dentes estava parada na porta.

- Você disse Daniela, papai? É ela? - Ela era menor do que eu imaginava, e se jogou nos meus braços. - Mamãe, eu rezei tanto para você vir! Eu sabia, papai do céu me ouviu... Como você cheira bem...

Olhei para Antônio antes de falar a verdade que simplesmente se instalou em minha garganta, o olhar dele parecia vitrificado.

Eu poderia jurar que ele estava em pânico. A menina continuava a me puxar, como se quisesse colo, e ali notei que havia algo muito errado.

- Você está aí! Venha, Duda, temos de tomar banho...

- Olha vó Hilda, é a mamãe! Olha como a mamãe é linda! - O olhar dela procurou o do filho, que assentiu.

- Deixe a mamãe e venha tomar banho. Acha que sua mãe ficaria feliz em te abraçar suja de sorvete? Venha...

A menina me soltou, concordando com a avó.

- Verdade, vó Hilda, ela não me abraçou... - Ela já ia em direção à avó, mas ao sair parou na porta e me encarou. - Mamãe, não vá embora, eu já volto limpinha.

Quando a pequena saiu, fechando a porta, senti que meu pulmão respirava novamente.

- Ela não conhece a mãe? - perguntei para meu chefe e notei que ele chorava sem se dar conta. - Antônio?

- Não, não há nada para conhecer...

- Mas a sua esposa não está nos Médicos sem Fronteiras?

- Não. - Ele passou a mão pela barba. - Não faço ideia de onde ela possa estar... Daniela, eu aceito não fechar a fábrica. - A voz soou distante e fria. - Finja que é a mãe dela, apenas hoje, eu nunca vi minha filha tão feliz como nesse momento.

- Eu não entendi. Por um momento pensei que queria que me passasse por mãe de sua filha.

- É exatamente isso...

- Ela não vai notar?

- Não há retratos ou qualquer outra coisa que ela possa comparar. Além do mais, será só até ela adormecer...

- Antônio, você está me dizendo que ela não conhece a mãe?

- Não sou de falar da minha vida, mas quero que faça isso por mim, estou disposto a tudo. Daniela foi embora quando minha filha tinha apenas duas semanas de vida. Ela não podia viver com esse estorvo. Eu protegi minha filha até aqui; estava pensando em uma atriz, mas você serve...

- Uma atriz?

- Sim, vestida de médica. Era isso que eu vim fazer mais cedo, queria uma mãe postiça só por hoje, mas ela chegou antes da hora e confundiu as coisas...

- Uma mãe postiça? Olha, essa é a pior coisa que já ouvi na minha vida. Eu nunca faria isso...

- Ela precisa ver a mãe, eu juro que essa situação não é permanente e...

- Você vai fazer o quê?

- Talvez uma morte? Ela é órfã mesmo... Por favor, só o bolo, a gente corta e você vai embora...

- Isso é horrível. Meu Deus, eu nem sei o que falar...

- Por favor, Daniela, é apenas uma noite. Eu faço o que você disse sem reclamar. - Revirei os olhos e virei o rosto. - Olhe para mim, Daniela. Saiba que estou desesperado, não sou de implorar nada, mas estou te implorando.

Engoli em seco e o encarei.

- Minha filha é tudo para mim. - Ele mordeu os lábios. - Não ligo se tiver de me ajoelhar a seus pés, faço tudo o que for necessário.

- Tudo? Você vai manter os empregos que não podia bancar há meia hora para enganar uma criança? Por orgulho? Você vai mentir hoje por orgulho?

- É aniversário dela. - Ele parecia distante.

- Aniversário? Pelo que entendi essa criança vive uma mentira desde que nasceu... Essa menina vai crescer como? Achando que a mãe é um anjo e o pai é perfeito, sendo que nenhum se importa com ela? Eu não farei parte disso...

Girei nos calcanhares, ele correu e parou na minha frente.

- Está bem, você está certa, falarei a verdade, mas não hoje. - Para minha surpresa ele me abraçou apertado. -Me ajude, por favor, eu te imploro. Eu não sou um pai perfeito, mas amo a minha filha.

- Fale a verdade, ou contrate uma atriz, mas não conte comigo nisso.

Abri a porta e antes que pudesse sair Duda veio até mim.

- Mamãe, eu estava te esperando!

            
            

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