Capítulo 2 Um

Oakland, Califórnia.

Fevereiro de 2018. 2 meses antes...

Mesmo com tudo no eixos, emprego maravilhoso e carreira seguindo cada vez melhor, eu queria aprender mais. Com 24 anos, estava começando uma segunda faculdade. Loucura? Talvez. Mas com certeza uma enorme vontade de aprender mais.

Era meu primeiro dia na universidade, pela segunda vez na vida. Só que agora era Fisioterapia. Já havia feito Ortopedia há alguns anos, quando saí do colegial. Agora era hora de mais coisas.

E, felizmente, eu nunca estive sozinha. Em nenhuma das loucuras que inventei. Essa era a sorte de ter duas melhores amigas de infância e uma amiga da primeira faculdade. Audrey e Valerie eu conhecia desde que nasci e sempre fizemos tudo juntas. Alice surgiu quando entramos na faculdade. Em pouco tempo fazíamos tudo juntas.

Quando começamos o estágio no hospital, resolvemos morar juntas. Então, ganhamos um apartamento de nossos pais. E agora nós 4 moramos juntinhas. Meu irmão ainda mora com meus pais, assim como os irmãos da Audrey e a irmã da Valerie. Nós somos uma grande família.

Eu sabia que meu irmão mais novo, Oliver, sentia falta de morar comigo. E, sendo bastante sincera, eu também sentia saudades de morar com ele. Sempre fomos muito grudados, devido à pouca diferença de idade. Oliver tinha 22 anos e era meu melhor amigo. E ele estava sempre comigo, mesmo detestando meu namorado.

Riley Reed era um exemplo de homem e namorado perfeito. Nos conhecemos no colegial e namoramos desde então. Eu tinha apenas 16 anos quando conheci Riley. Ele tinha ido buscar o primo, quando nos esbarramos na entrada do colégio. Ele não saiu do meu lado, desde então.

Estávamos juntos há 8 anos. Riley tinha 29 anos e era um arquiteto incrível. Além de muito requisitado. E claro, meus pais o adoravam. Ao contrário de Oliver. Não sei qual era o problema dele com Riley, mas sempre foi daquele jeito. Quando ele conheceu meu namorado, algo não foi bem e Oliver o detestou. Mas, acima de tudo, ele me amava, então sempre respeitou minha escolha.

Depois de tantos anos era difícil não me ver com Riley. Ele foi meu primeiro e único namorado durante toda a vida. E eu só conseguia me ver com ele. Porque Riley era incrível, em todos os sentidos. Um namorado apaixonado, carinhoso, presente, preocupado, gentil e muito amável comigo. E era isso que me fazia ser tão apaixonada por ele.

Há alguns meses as coisas ficaram mornas, confesso. Depois da minha decisão de uma nova universidade. Com isso, teria menos tempo para nós dois. E eu lamentava esse fato, mas queria expandir os horizontes. Nunca fui parada e queria aprender mais. E fiquei extremamente satisfeita quando Audrey, Valerie e Alice embarcaram nisso comigo.

E, como toda mudança puxa outras, eu mudei mais coisas além da decisão de uma nova universidade. Cortei o cabelo, troquei o plantão no hospital e parei de passar todos os fins de semana na casa dos meus pais. Claro que essa decisão deixou Oliver chateado, mas eu precisava mudar muitas coisas.

- Olívia, você já está pronta? - Audrey entrou no quarto apressada. Audrey Morgan era a mais doida de nós 4. Loira dourada, cabelo na altura dos seios e 1,73cm. Além de ser a mais doida, era a mais alta também, e dona de um sorriso encantador. Os olhos escuros de Audrey me encararam e eu balancei a cabeça, afirmando.

Eu estava em cima de uma bota de salto preta de couro de cano baixo, já que meu 1,65cm não era muita coisa. Calça jeans azul clara, camiseta preta e jaqueta de couro preta por cima. Meu cabelo estava todo liso, já que estava na altura da clavícula. Eu havia amado ele daquela forma.

- Estou bem? - perguntei, dando uma voltinha para que ela tivesse a visão completa. Audrey semicerrou os olhos para mim.

- Quer que eu diga que você está muito gata? Porque eu posso dizer - Ela respondeu, me fazendo sorrir. - Então vamos, lindinha

Peguei minha bolsa, após passar perfume, e segui Audrey para fora do nosso quarto. Eu dividia quarto com ela e Valerie e Alice dormiam juntas no quarto da frente.

Encontramos Valerie já pronta na cozinha. Valerie Watson também era loira, tinha a mesma altura de Audrey, cabelo quase no mesmo tom, mas olhos azuis claros. E era dona de um sorriso contagiante.

- Bom dia - murmurei, ao deixar minha bolsa no sofá, e dei um beijo no rosto de Valerie ao passar por ela e ir até a geladeira em busca de algumas frutas para fazer uma vitamina.

Alice apareceu quando peguei o liquidificador no armário e deu um beijo em cada uma de nós antes de se ocupar com o café. Alice Johnson era parecida comigo, de certa forma. Cabelo castanho, olhos escuros e 1,64cm. Um centímetro nos diferenciava e o tom de castanho mais escuro do meu cabelo.

E esse era o nosso quarteto. Todas as manhãs eram assim. Eu fazia vitamina de frutas, Alice cuidava do café, Valerie das torradas e Audrey do suco e saía para comprar algo diferente. Hoje ela trouxe croissant.

- Nervosas? - Valerie indagou, quando todas nos sentamos à mesa. Audrey riu, doida que era. Alice balançou a cabeça negativamente enquanto eu disfarçava o sorriso.

- Não, nem um pouco. Animada, na verdade - respondi, com um sorriso.

- Estou rindo de nervoso mesmo, só para avisar - Audrey disse, antes de colocar uma colher cheia de iogurte com granola na boca. Valerie apenas encarou-a.

- Estou animada para o curso. Vai complementar muito na nossa profissão - Alice comentou, enquanto passava geleia em sua torrada.

- Foi o que pensei, por isso aceitei embarcar na loucura da Olívia - Valerie esclareceu, me fazendo rir. Loucura da Olívia. Era o que essa segunda faculdade estava sendo chamada. Até meu irmão perguntava sobre a loucura da Olívia. Eu realmente mereço.

- Muito obrigada - Abri um sorriso debochado para a loira de olhos claros, que apenas riu para mim. Valerie conseguia ser engraçada quando queria, o que não era sempre. Então aproveitávamos.

Audrey sempre foi a palhaça do quarteto, tudo era motivo de graça para ela. Valerie sempre foi a mais centrada, a conselheira. Alice, a quieta, a fofa. E eu, bem, eu... Eu nunca fui a mais quieta, nem a mais louca. Era na minha, de certa forma. Mas tenho meus outros lados também. Riley que o diga, ele detesta brigas porque nunca tem argumentos suficientes para discutir comigo. E sempre acha que resolve nossas brigas com sexo. Não vou negar que resolve, até certo ponto. Mas depois ele aguentava, porque eu nunca deixava uma briga inacabada. E ele aguentava bem.

- Vamos logo - Audrey levantou da mesa após terminar seu iogurte com granola e tomar um copo de suco. Franzi a testa e olhei para Valerie; ela tinha a mesma expressão que eu: confusa.

- Ainda temos tempo - disse, olhando no celular. Ainda eram 07:10hs. Entrávamos às 07:30hs e a Saybrook ficava perto daqui do apartamento. Fizemos a nossa primeira faculdade lá, e como gostamos, faremos a segunda. A Saybrook é ótima. Horários acessíveis e flexíveis. Vai ser ótimo uma segunda faculdade lá.

- Pode ter trânsito. Você conhece o trânsito daqui, é quase igual ao de Malibu ou Los Angeles - Audrey argumentou, pegando sua bolsa em cima do sofá. Ergui as sobrancelhas.

Desistindo de tentar convencê-la de esperar mais, me levantei, terminando de tomar a vitamina e peguei meu celular. Tinha uma ligação perdida do Riley. Ele sempre ligava pela manhã. Deve ter ligado na hora que eu estava no banho ou com secador ligado. Suspiro pesado. Eu retorno no carro.

Depois de terminar de me arrumar, pegar minha bolsa e passar um batom, sigo Audrey e Valerie para fora do apartamento. Alice sai logo atrás de mim e tranca a porta.

- Quem vai dirigindo? - Ela inqueriu, quando entramos no elevador e eu apertei o botão do subsolo. Olhei para Audrey e Valerie, esperando por uma resposta já que eu não havia pego a chave do meu carro e nem Alice a do dela.

- Eu, é claro. Audrey está com preguiça, como sempre - Valerie resmungou, nos fazendo rir e Audrey revirar os olhos evitando rir junto.

- Não é preguiça. Seu carro é maior que o meu, Valerie - Audrey justificou, se defendendo. Eu e Alice nos entreolhamos com um sorriso disfarçado. As portas do elevador se abriram e nós saímos para a garagem fria.

Nossos carros ficavam estacionados juntos. Meu Captur o Pajero da Audrey, o Duster da Alice e o Tucson da Valerie. Realmente, eu achava o Tucson maior que o TR4. Opinião minha, e da dona Audrey folgada.

Os faróis do Tucson piscaram e eu fui direto para o banco carona. Audrey era a folgada, mas eu ia na frente, sim. Eu também sabia ser folgada, às vezes. Valerie assumiu o volante enquanto Audrey e Alice entravam no banco de trás.

Conectei meu celular no carro enquanto Valerie saía da garagem. Tinha a sorte de todas termos aparelhos da Apple. Assim, uma podia usar as coisas da outra sempre. Bad Blood do Bastille começou a tocar quando Valerie entrou na avenida principal. Aproveitei o som baixo para ligar para Riley. Ele ia surtar. Eu não era de demorar.

- Oi, amor - Riley estava ofegante ao atender no terceiro toque. Ele estava na academia. Era o horário dele lá. E eu sempre me esquecia daquilo.

- Oi, meu bem. Vi sua ligação agora

Audrey riu e levou um tapa de Alice. Eu não tinha visto a ligação agora. Já fazia um tempinho, mas ele não precisava saber disso. Valerie revirou os olhos para a gracinha de Audrey.

- Tudo bem. Eu estou na academia agora. Como você está? Dormiu bem?

Mais uma coisa que eu amava no Riley: sua preocupação comigo e meu bem estar. Ele sabia que eu sofria de insônia desde os 18 anos. Então, era difícil eu conseguir pegar no sono. Às vezes tinha que tomar remédios para conseguir dormir. E sua preocupação comigo, era linda. Quando dormia na casa dele, Riley ficava fazendo carinho nos meus cabelos até que eu pegasse no sono. E eu conseguia dormir tranquilamente nos braços dele.

Mas eu já não dormia em seu apartamento há algumas semanas. Como disse, amornamos depois da decisão da segunda universidade. Eu não sabia qual era o problema de Riley com aquilo, mas ele sequer queria tocar naquele assunto. E eu respeitava. Cada um com suas decisões. Ele aceitou a minha, mesmo não gostando. Eu só não entendia o porquê. E desisti de entender há algum tempo.

- Ah, sim. Estou bem. Consegui dormir bem também. Nada de enxaqueca. 01hs eu já tinha dormido - esclareci, passando os dedos pela minha calça jeans.

- Que ótimo! Fico feliz por isso

- Estou indo para a universidade, Riley - disse de uma vez, porque detestava enrolação.

Ouvi Riley respirar fundo do outro lado. Ele ficou em silêncio e eu resolvi não cutucar. Ele já estava bem estranho com isso. Deixei que digerisse.

- Bem... Boa sorte, então - Riley disse, finalmente, após alguns segundos, que pareceram minutos, em um silêncio muito incômodo. Soltei o ar. Ele estava melhorando, se esforçando. Ele tinha que aceitar. Era a minha decisão, era o que eu queria fazer. E eu não aceitaria nenhum tipo de reclamação ou questionamento se ele não explicasse os motivos de tanto incômodo com a minha segunda faculdade. Era bom para mim, e para as meninas. Expandir, aprender mais, se aperfeiçoar na carreira que escolheu e no que ama fazer. Era uma evolução, tanto profissional quanto pessoal. Eu não via motivos para achar algo ruim naquilo.

- Obrigada. Nos vemos depois?! - disse, um tanto quanto incerta. Já faziam 4 dias que não nos víamos. Eu sentia falta do meu namorado, sim. Se não sentisse, nem namorando com ele estava mais. Era quase um noivado, na verdade. Afinal, eram 8 anos juntos.

- Claro, meu amor. Eu posso passar para te buscar quando seu plantão terminar no hospital - Riley sugeriu. Mordi o lábio inferior. Era tentador, mas eu havia prometido ao Oliver que iria vê-lo hoje. O folgadinho podia bem ir me ver no meu apartamento, mas disse que estava estudando para as provas da universidade. Ele estava cursando arquitetura, como Riley. Tão parecidos e ao mesmo tempo tão diferentes. Então, eu iria. Não gostava de prometer algo ao meu irmão e não cumprir. Fazia 1 semana que não o via. Eu precisava ir.

- Na verdade, eu fiquei de ir ver o Oliver após o plantão hoje. Você não quer passar lá em casa depois? Talvez com uma pizza, eu ia adorar - disse, como quem não quer nada. Riley riu e eu pude ouvir o barulho da esteira cessar do outro lado.

- Claro, linda. Eu passo no seu apartamento umas 21hs, pode ser?!

- Pode, é claro. Eu vou estar esperando por você

- E nós também - Audrey completou, me fazendo revirar os olhos. Riley riu. Ele tinha ouvido.

- É claro que a Audrey estará esperando por mim, ela me ama

- É, a Audrey te ama - resmunguei, fazendo Valerie e Alice rirem. - Estou chegando na universidade. Eu te mando mensagem mais tarde

- Vou esperar, amor. Tenho algumas reuniões hoje durante o dia, mas eu dou um jeito de te responder

- Tudo bem. Eu te amo - Peguei minha bolsa quando Valerie estacionou e saí do carro.

- Eu te amo, Olívia

Desliguei com um suspiro. Ás vezes era bom ser lembrada de que Riley me amava. À cada vez que ele repetia aquilo todas as manhãs eu me sentia bem. Eu sabia que ele me amava mesmo. Não era mentira. Eu sentia que Riley me amava de verdade.

Entrei ao lado de Alice enquanto Audrey e Valerie procuravam nossa sala. Era no final do corredor, antes de virar para o corredor da diretoria. Conhecíamos muito bem essa faculdade, o que facilitava muito a nossa vida.

Valerie sentou-se com Alice quanto entramos na sala e eu me sentei com Audrey atrás delas. Ainda eram mesas duplas, o que nos deixou muito contentes. Seria muito chato sentarmos separadas depois de tantos anos sentando juntas. Escolhemos lugares na frente, era bem melhor.

Não demorou para que a sala fosse enchendo. E rapidamente estava lotada. Curso de fisioterapia era um dos mais procurados em Oakland e em todo o estado da Califórnia. Mas, talvez se eu morasse em Los Angeles seria detetive, e em Malibu arquiteta. Sempre imaginei isso.

Meu olhar se fixou no homem que entrou quando a sala já estava cheia. Tinha certeza de que ele era bem mais alto que eu, tinha uma barba muito atraente, além de um olhar sedutor. O que eu estava pensando reparando em um homem que não fosse meu namorado daquela forma?

A sala ficou em silêncio quando ele se encostou na mesa do professor e cruzou os braços, observando tudo.

- Olá, pessoal. Eu sou Adam Scott e ensinarei Anatomia e Fisiologia Humana para vocês durante o curso - Ele se apresentou quando a sala finalmente ficou em silêncio. Ele era nosso professor... Minha boca quase se abriu. Quase.

- Uau! - sussurrei. O que era aquela voz? Audrey virou-se para me encarar com os olhos semicerrados e eu dei de ombros, com a expressão inocente.

- Você namora! - Ela me repreendeu quando o professor se virou.

- Não sou cega! - Rebati, piscando para ela.

- Você é impossível, Olívia Wright - Audrey revirou os olhos, rindo. Ergui as sobrancelhas. Valerie apenas balançou a cabeça e Alice parecia completamente absorta de tudo enquanto digitava no celular. Me estiquei para pegá-lo da mão dela.

- Pare de conversar com aquele idiota do Paul no meio da aula, Alice! - Repreendi minha amiga. - Confiscado. - Avisei, entregando o celular para Audrey. Alice revirou os olhos e bufou, encostando-se na cadeira de braços cruzados. Valerie me olhou e balançou a cabeça; eu estava certa.

Nós tínhamos algumas divergências com o namorado de Alice, Paul. O cara era um idiota e só Alice não via isso. Ele a tratava mal na maior parte do tempo, Alice chorava, ele pedia desculpas e ela aceitava. Era entediante. Se tornou um ciclo vicioso. E ele sempre fazia besteira, porque sabia que ela perdoava.

O cara tinha 36 anos, era vivido, experiente, esperto e cheio de lábia. E aquilo me irritava demais. Ele fazia minha amiga de boba! E Alice sempre defendia dizendo que era o jeito dele, mas ele a amava. Eu detestava relacionamentos abusivos! E o relacionamento que Alice tinha com Paul era abusivo, de muitas formas. Mas só minha inocente e ingênua amiga que não via. Eu não suportava.

Eu, Audrey e Valerie tentávamos avisar há muito tempo, mas não adiantava; Alice não via o quanto aquele relacionamento fazia mal para ela. E nós não podíamos fazer nada enquanto ela não visse. Era angustiante ver aquela situação se repetir diversas vezes em um curto espaço de tempo. Para piorar, o cretino era médico no mesmo hospital que nós. Foi lá que Alice o conheceu, há 3 anos, quando começamos o estágio. Deveríamos ter ido para outro hospital, só para ela não conhecer esse cretino do Paul.

Puxei o ar, desviando o olhar dos cabelos castanhos de Alice e me deparei com o professor me olhando. Ele foi pego no flagra, virando-se para a lousa digital. Abaixei o olhar. Ele estava mesmo olhando fixamente para mim? Aquilo estava bem errado. Quantos anos ele devia ter? 30? 35? Eu nem conseguia imaginar. Aquele olhar era fascinante de se encarar, devo confessar. Mas eu não podia, não devia e não iria. Eu tinha namorado e o amava. Mas que o olhar me causou um arrepio estranho, causou. Eu não podia negar tal fato.

A aula foi tranquila, na maior parte. Peguei o professor olhando-me diversas vezes. Ele foi discreto, porque nem Valerie percebeu. E nada escapava ao olhar afiado de Valerie Wright.

O olhar de Adam parecia querer ver mais que apenas meu rosto, e aquilo me deixou constrangida algumas vezes. Ele olhava tão profundamente que fui obrigada à desviar o olhar em 20 das 30 vezes que ele me olhou. Não que eu estivesse contando, é claro.

Finalmente o sinal tocou Às 09:45hs e eu estava livre dos olhares do professor de Anatomia e Fisiologia Humana. Que matérias peculiares para um observador ensinar, não é mesmo?!

Depois de uma pausa de 15 minutos de café, voltamos para a sala de aula, para mais duas aulas. Nos sentamos no mesmo lugar e eu me encostei na cadeira, cruzando os braços e as pernas. Eu balançava meu pé direito impacientemente.

Não demorou para que outro professor entrasse na sala. Dessa vez não foi o meu olhar que se fixou no homem de barba, foi o de Audrey. Valerie percebeu, porque me olhou com um sorrisinho malicioso. O professor se encostou na mesa e cruzou os braços, como Adam. O jeito até podia lembrar o do professor de Anatomia, mas ele parecia mais velho e mais sério.

- Bom dia, turma. Sou Jared Collins, diretor da universidade e também aplico Farmacologia e Patologia para esta turma - Ele se apresentou. Audrey estava olhando para ele com um olhar diferente, parecia intrigada e admirada ao mesmo tempo. Estava com o rosto apoiado na mão e Valerie riu ao ver a cena, eu e Alice nos seguramos para não fazer o mesmo.

Audrey saiu do estado inerte e fingiu que nada havia acontecido. Minha amiga era cheia dessas. Fingir que não era nada, quando na verdade era tudo. Acho que todas nós éramos um pouco assim algumas vezes.

- Um olhar misterioso, não?! - Audrey comentou. Parecia mais consigo mesma do que conosco. Olhei para Valerie e ela deu de ombros. Alice ergueu as sobrancelhas e balançou a cabeça. Eu não fui a única a não entender Audrey, e olha que ela era fácil de ser compreendida, um livro aberto. Dessa vez, não entendemos. E era estranho. Bem estranho.

A aula foi chata, confesso. Entediante. Talvez por eu já estar impaciente para ir embora, ou talvez pelas matérias serem simplesmente chatas. Queria poder eliminá-las, mas não as estudamos em Ortopedia. Então, haja paciência nesses 4 anos de faculdade.

Finalmente o sinal do fim do período tocou, às 11:45hs, e nós nos levantamos já com nossas coisas nas mãos. Saí com Valerie da sala. Audrey e Alice vieram logo atrás de nós, tagarelando sobre nosso churrasco do fim de semana. Todo fim de semana fazíamos, para juntar as famílias, já que nossas mães eram amigas de colegial, por isso nos conhecemos desde que nascemos. Apesar de ter diferença de idade entre nós. Eu tenho 24, Audrey 25 e Valerie 26. Alice tem 27, nós a conhecemos na universidade, então a família dela dificilmente se juntava à nós.

Nossos irmãos que tem idades mais parecidas. Oliver tem 22, assim como Edwin, o irmão do meio de Audrey. Samantha e Hilary tem 19. Samantha é a irmã caçula de Audrey e Hilary a de Valerie. Só Alice que não tem irmãos. E eu sabia bem do tombo que meu irmão tinha pela Samantha, só era lento demais para admitir. Ao contrário de Edwin, vivia aos beijos com Hilary, mas namoro que era bom, nada.

Entrei no banco carona novamente e Valerie dirigiu rápido. Nosso plantão começava 12:30hs. Só dava tempo de passar em casa, pegar os jalecos, as marmitas e ir para o hospital. E foi o que fizemos. Chegamos 12:20hs. Ainda dava tempo de almoçar.

Nós trabalhávamos no Oakland Medical Center desde que estávamos na faculdade. Fomos muito bem acolhidas aqui no estágio e efetivadas após 1 ano e meio de residência. E ficamos, porque é um dos melhores hospitais de Oakland. Única coisa que estragava é Paul Lerting, o namorado idiota de Alice. E tivemos o desprazer de encontrá-lo logo na entrada. Idiota. Eu, Audrey e Valerie passamos reto enquanto Alice parou para falar com o babaca.

- Ele é detestável - Audrey comentou, com cara de nojo.

- Queria tanto que Alice terminasse com ele - Valerie suspirou, desanimada.

- Ela não vai - murmurei, séria. Alice não iria. E aquilo era um erro. Mas também era a vida dela. Não poderíamos interferir, podíamos apenas aconselhar. E era o que fazíamos, mas não tinha resultados. Alice estava cega pelo que sentia por Paul. E era angustiante de ver.

Quando entrei na minha sala, soltei o ar. Era bom finalmente ficar sozinha com meus pensamentos. Eu não conseguia parar de pensar nos olhares de Adam. Por quê? Eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Sinceramente não sabia. E aquilo me preocupava. Como eu ia olhar para Riley depois de ficar tão mexida com os olhares do meu professor de Anatomia?

Na hora do café, eu saí da minha sala e encontrei as meninas na lanchonete do hospital. Elas já me esperavam e haviam pedido um suco de laranja para mim. Tinha pães de queijo na mesa também. Me juntei à elas.

- Tudo bem? Você está com uma expressão estranha. - Valerie comentou, quando me sentei. Valerie Watson observadora em ação. Ergui as sobrancelhas.

- Estou bem, apenas com enxaqueca. - murmurei, tentando desconversar e desviar o assunto.

- Vá até a enfermaria. Elas te dão algo para isso - Alice sugeriu.

- Ótima ideia. Posso ir com você - Audrey se ofereceu.

- Claro. Pode ser - concordei, para não gerar mais assuntos. Audrey assentiu e nós tomamos café com Valerie contanto a última que Hilary e Edwin aprontaram no fim de semana.

Tentei me concentrar na conversa e esquecer o turbilhão que estava na minha mente e os olhares de Adam, mas aquilo parecia muito difícil naquele momento quando minha cabeça tinha vários pensamentos ao mesmo tempo.

No final do plantão eu não estava cansada, eu mal vi a hora passar. Eu estava com a mente turbulenta, ainda. Os olhares de Adam Scott estavam me rondando desde o momento em que entrei na sala de aula naquela manhã.

            
            

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