Capítulo 4 À primeira vista

"Ai, meus olhos, minha cabeça..." Coloco a mão na cabeça para aliviar a dor, parece que um caminhão passou sobre mim.

- A bela adormecida finalmente desperta...

Êpa, essa não é a voz do papai, abro os olhos e a claridade me deixa tonta e aumenta a dor.

- Ei você não está num hotel, levante-se e vá arrumar a bagunça que fez na minha casa.

A voz autoritária é grave e muito bonita, me desperta completamente, ainda não consigo fazer nada além de segurar a cabeça, com dificuldade me sento na cama e encaro a pessoa do outro lado, sentado em uma poltrona, uma das pernas longas dobrada sobre a outra, a camisa social dobrada acima do cotovelo destacando seus músculos, vou subindo meu olhar e perco o fôlego ao dar de cara com olhos castanhos claros com traços orientais, os olhos em uma linha fina arregalam quando olham diretamente dentro dos meus, a mesma reação de quase todos que me vêem a primeira vez, de certa forma e me sinto nua, levo a mão aos cabelos para ajeita-los quando percebo que meu braço tem uma manga, me assusto e olho o restante do meu corpo, estou vestida uma camisa social.

- Você... Hum hum...- ele suspira.

- Sim, eu troquei suas roupas.

Cubro minha cabeça com a coberta.

- Co- como... Porque?

- Você estava molhada, invadiu minha casa, vomitou em tudo e queria dormir na casa do Lucius.

- Óh meu Deus, será que eu...

- Não tive outra escolha, você saiu da casa do Lucius e caiu na piscina, tive que te reanimar...

- Moço me desculpe... Obrigada por salvar minha vida... Eu não lembro de nada, só me lembro de quando cheguei na casa do meu amigo.

- Você foi drogada...- estremeci, será que? Me levanto em um pulo.

Ele me observa atentamente, enquanto procuro alguma mancha de sangue.

- O que está procurando? Suas coisas estão sobre a mesinha.

Ele não se move, parece tranquilo enquanto me desespero, paro tudo e não tenho coragem de encarar o homem que permanece sentado.

- Alí tem alguns analgésicos pra dor de cabeça.

Ele aponta uma mesinha onde minhas coisas estão ao lado de um copo de suco de laranja e alguns comprimidos.

- Como faço pra retribuir sua gentileza?

- Limpe minha casa o mais rápido possível.

Ele sai me deixando sozinha, me sinto envergonhada, e aliviada ao mês tempo culpada, entro no enorme banheiro e encontro escovas de dente, escovo rapidamente, não sou baixinha mas a camisa cobre até um pouco acima do joelho.

Saio do quarto e da parte de cima vejo uma sala de estar, desço as escadas e já sinto um cheiro azedo de vômito, meu estômago embrulha com a ânsia, mas me seguro, o material de limpeza está ao lado da porta, começo a limpeza, em menos de trinta minutos, sentindo o olhar do homem sobre mim.

- Sua roupa secou, coloque e vá embora... - sinto que havia mais nessa fala, mas não estou pensando direito no momento.

- Seu namorado veio te buscar... - não entendo o que ele quis dizer.

- Eu não tenho namorado.

-"Ainda nem sei beijar direito, como teria um namorado". Penso alto e quando percebo viro de costas.

- On...de estão minhas roupas?

Falo baixinho mas ele escuta.

- Está na lavanderia, vire a esquerda depois do corredor.

Faço o que ele manda e atrás da porta uma imensa área de serviço, meu vestido branco estendido no varal, olho em volta e não vejo ninguém.

Retiro a blusa pela cabeça com pressa, antes que alguém apare...

- Já pode ir embora... - dou um pequeno salto e um gritinho.

-Eu já vi tudo... - sua voz sai um tom mais grave.

- "Que vergonha meu Deus" - penso alto novamente.

- Fica tranquila, não gosto das inocentes, prefiro as experientes.

Acho que deixei transparecer.

- Como eu sei? Você gritou para o Lucius que ele não poderia dormir com você pois ainda não tinha dormido com ninguém, você chamou ele de Joca cachorro safado.- fecho os olhos bem apertado, e podemos jurar que estou completamente vermelha.

Procuro uma saída pra enfiar a cara em algum buraco, passo por ele e sinto seu sorriso, seu cheiro, mesmo sem me tocar sinto sua presença, alcanço a sala e respiro aliviada, em instantes sinto patas abraçando minha cintura e olhos claros de cores diferentes me encaram, o enorme peludo sorridente parece pedir um carinho e sem perceber o atendo, com o coração acelerado.

- Lucius! deitado. - sua voz reverbera em meu ser, fazendo meu coração bater acelerado.

- Muito obrigada! Obrigada mesmo, se algum dia eu pudesse retribuir... Peço a Deus que te retribua em dobro.

"- Meu Deus quanta vergonha ainda tenho que passar na frente desse deus grego? O que será que eu fiz na vida anterior, me diz? Se o senhor tiver pena de mim não deixe que eu o encontre novamente" peço a Deus uma trégua quase chorando de vergonha.

- Obrigada, tome cuidado com suas amizades.

- Não são mais meus amigos... - saio de lá, e sinto que deixei algo para traz, confiro novamente e tenho certeza que está tudo aqui.

- Provavelmente foi minha dignidade.

Pego as chaves do carro e saio de lá como se houvesse mil demônios me perseguindo, chego em casa e escuto um burburinho.

- Bom dia...? - meu pai me olha surpreso, me abraça forte, me solta e dá um leve tapa no braço.

- Onde você estava? - vejo algumas lágrimas em seus olhos, ele me olha assustado.

- O que fizeram com você?– Só então percebo os arranhões nos braços.

- Eu caí em um cerca viva, mas estou bem, não aconteceu nada, dormi com a Ana Júlia.- Conto uma pequena mentira, senão ele nunca mais me deixa sair de casa.

- Agora eu vou trabalhar...- Miguel passa por mim, e com um único olhar eu sinto que até meus ossos arrepiarem, papai o acompanha, e seguem pra oficina, sei que Miguel não vai me deixar escapar assim, restando apenas Jorge que por fora parece tranquilo demais pra ser de verdade.

- Cath Cath, senta aqui...- lá vem chumbo grosso.

- Pois não? - dou um sorriso e sei que estou com a cara mais deslavada do mundo.

- Você não tem nada pra dizer? - ele coloca a mão no coração, em tom de brincadeira, mas fica sério no mesmo instante.

- O que fizeram com você?- penso um pouco e sei que o Jorge é pior do que o math quando quer descobrir alguma coisa.

- bebi alguma coisa, fiquei muito bêbada, caí em cima de uma cerca viva, fui parar numa casa de um estranho, caí na piscina dele, ele me salvou me ajudou, acordei hoje e tive que lavar a casa dele, pois vomitei em tudo.- meu irmão faz cara de nojo.

- Foi só isso? Ele não... - fico curiosa.

- O que? - acho que minha atenção está toda em meu irmão.

- Você sabe... Hum hum- ele limpa a garganta. - ele não se aproveitou de você não?

- Eu estava fedendo a vômito, você acha que alguém ia me querer assim? - ele sorri.

- vai tomar um banho porquinha, tá fedendo até agora.

Meu dia passa tranquilo, é domingo então papai e Miguel não vão trabalhar o dia todo, foram apenas entregar alguns carros, passo o restante do dia estudando e a tardezinha chamo todos pra ir na pizzaria.

- Você vai pagar?! - Miguel brinca, pois sabemos que eu nunca pago.

- Papai paga! Ele que é o patrão!

Cadê o dinheiro que eu pago vocês? Precisam agradar mais seu patrão senão não tem aumento de salário!

- Eu pago a pizza, mas amanhã eu passo no RH pra registrar meu aumento na carteira.

Todos nós caímos na risada, só o Miguel que apenas sorri de canto e permanece calado, as vezes acho que nada abala meu irmão.

Paramos em frente a pizzaria, eu sou a primeira a descer, já que estou do lado da porta, no banco de trás.

-Hoje eu como uma pizza inteira sozinha!

Falo entrando na pizzaria lotada entre meus dois irmãos que parecem meus seguranças, sentamos e escolhemos nossos sabores preferidos, meu gosto pra comida é parecido com o do Miguel, por incrível que pareça.

- Comemos na maior algazarra, eu e Jorge somos os que mais falamos.

Quando estamos indo embora, sinto que estou sendo observada, mas não dou muita atenção, acho que é impressão.

Em casa cada um vai para o próprio quarto.

Durmo cedo e passo a noite sonhando com olhos puxados, cabelos lisos caindo sobre a testa, no sonho dá vontade de passar a mão, mas não o alcanço, seu sorriso perfeito aparece em meus sonhos e acordo suada, levanto com calor e tomo um banho gelado.

🌜☀️☀️☀️☀️☀️🌜

O dia passa rápido, entre um carro e outro, fiz apenas troca de óleo hoje, alguns clientes engraçadinhos, me preparo mais uma vez pra faculdade, estamos no penúltimo semestre do último ano, e já visitei uma montadora em outro estado, não sei se havia dito que falta pouco pra me formar, estou me preparando, para a conclusão do curso, felizmente o TCC não é obrigatório.

- Gente se preparem que amanhã o empresário dono da ChenXav, vira amanhã para a palestra.

- Tomara que dessa vez ele não falte não é prof.

Nosso querido GG conhecendo seus alunos nos dá um sorriso sem graça.

- Seria tão vergonhoso quanto da última vez.

- Que isso prof. A gente entende.

Olho para o lado e vejo a Ana Júlia sorrindo pra mim, sinto que dessa vez ela está diferente, não é tão verdadeiro como antes, fico me perguntando o que aconteceu. Tento falar com ela no final da aula mas ela foge, me sinto um pouquinho mau, meu amigo sumiu também, faz cinco dias que não falo e nem vejo Math.

Meu telefone toca e falando no diabo, o próprio... Deixo tocar por alguns minutos, e ele insiste, quando cai na caixa de mensagem escuto sua voz baixinha do outro lado.

- So...co...r...ro amiga... - meu coração gela, e depois acelera.

Ligo pra ele, mas ele não atende, tento mais uma vez já desesperada, e na última tentativa ele atende.

- Onde você está?- pergunto aflita.

- No po-porão. - sua voz sai rouca.

- Manda a localização...- o telefone fica mudo e meu desespero aumenta.

Escuto o som de uma mensagem chegando, e quando abro vejo que a localização é no mesmo condomínio de luxo que eu fui sábado.

Meu coração gela pois sei que não vou conseguir entrar sem que alguém de dentro me convide.

Ligo pra polícia? Miguel, sei que ele não é da polícia mas tem muitos amigos que são.

- Diga, estou um pouco ocupado agora.

- Não tenho tempo, o Math foi sequestrado, está preso numa espécie de porão... - começo a soluçar mas o choro não vem.

- Eu tenho a localização mas não é todo mundo que pode entrar. - falo sem respirar.

- Manda aí- escuto seus passos.

- Salva meu amigo... - ele desliga o telefone antes do meu soluço terminar, mando a localização. Confio no meu irmão, mas dirijo a toda velocidade na direção em que dois dias atrás jurei que não pisava mais.

Paro em frente a guarita e o guarda parece me reconhecer mas não abre o portão, algumas viaturas chegam fazendo barulho, eles entram assim que se identificam e mostra o mandado de busca e apreensão.

Eles entram, mas não vejo Miguel, em lugar nenhum, ele já deve estar lá dentro.

- Ei... O que está fazendo aí? - me viro e vejo o homem mais lindo do mundo, sentado em uma moto, todo trabalhado no couro preto, não consigo sorrir, termino de cuspir fora a última unha que restava.

- Eu quero entrar, mas não sou autorizada.- ele bate na traseira da moto.

- Sobe aí. - aponto meu carro.

- Deixe aí, o Zé traz pra você.

Subo na moto sem pensar, e ele entra sem precisar falar com ninguém.

As casas são bem afastadas e só agora me pergunto como eu fui parar lá, ele para a moto em frente à sua casa e eu desço, abro o aplicativo de localização.

- Obrigada...- falo distraída olhando o celular.

- Onde você vai?- ele pergunta curioso.

- Resgatar meu amigo...

"Ai, meus olhos, minha cabeça..." Coloco a mão na cabeça para aliviar a dor, parece que um caminhão passou sobre mim.

- A bela adormecida finalmente desperta...

Êpa, essa não é a voz do papai, abro os olhos e a claridade me deixa tonta e aumenta a dor.

- Ei você não está num hotel, levante-se e vá arrumar a bagunça que fez na minha casa.

A voz autoritária é grave e muito bonita, me desperta completamente, ainda não consigo fazer nada além de segurar a cabeça, com dificuldade me sento na cama e encaro a pessoa do outro lado, sentado em uma poltrona, uma das pernas longas dobrada sobre a outra, a camisa social dobrada acima do cotovelo destacando seus músculos, vou subindo meu olhar e perco o fôlego ao dar de cara com olhos castanhos claros com traços orientais, os olhos em uma linha fina arregalam quando olham diretamente dentro dos meus, a mesma reação de quase todos que me vêem a primeira vez, de certa forma e me sinto nua, levo a mão aos cabelos para ajeita-los quando percebo que meu braço tem uma manga, me assusto e olho o restante do meu corpo, estou vestida uma camisa social.

- Você... Hum hum...- ele suspira.

- Sim, eu troquei suas roupas.

Cubro minha cabeça com a coberta.

- Co- como... Porque?

- Você estava molhada, invadiu minha casa, vomitou em tudo e queria dormir na casa do Lucius.

- Óh meu Deus, será que eu...

- Não tive outra escolha, você saiu da casa do Lucius e caiu na piscina, tive que te reanimar...

- Moço me desculpe... Obrigada por salvar minha vida... Eu não lembro de nada, só me lembro de quando cheguei na casa do meu amigo.

- Você foi drogada...- estremeci, será que? Me levanto em um pulo.

Ele me observa atentamente, enquanto procuro alguma mancha de sangue.

- O que está procurando? Suas coisas estão sobre a mesinha.

Ele não se move, parece tranquilo enquanto me desespero, paro tudo e não tenho coragem de encarar o homem que permanece sentado.

- Alí tem alguns analgésicos pra dor de cabeça.

Ele aponta uma mesinha onde minhas coisas estão ao lado de um copo de suco de laranja e alguns comprimidos.

- Como faço pra retribuir sua gentileza?

- Limpe minha casa o mais rápido possível.

Ele sai me deixando sozinha, me sinto envergonhada, e aliviada ao mês tempo culpada, entro no enorme banheiro e encontro escovas de dente, escovo rapidamente, não sou baixinha mas a camisa cobre até um pouco acima do joelho.

Saio do quarto e da parte de cima vejo uma sala de estar, desço as escadas e já sinto um cheiro azedo de vômito, meu estômago embrulha com a ânsia, mas me seguro, o material de limpeza está ao lado da porta, começo a limpeza, em menos de trinta minutos, sentindo o olhar do homem sobre mim.

- Sua roupa secou, coloque e vá embora... - sinto que havia mais nessa fala, mas não estou pensando direito no momento.

- Seu namorado veio te buscar... - não entendo o que ele quis dizer.

- Eu não tenho namorado.

-"Ainda nem sei beijar direito, como teria um namorado". Penso alto e quando percebo viro de costas.

- On...de estão minhas roupas?

Falo baixinho mas ele escuta.

- Está na lavanderia, vire a esquerda depois do corredor.

Faço o que ele manda e atrás da porta uma imensa área de serviço, meu vestido branco estendido no varal, olho em volta e não vejo ninguém.

Retiro a blusa pela cabeça com pressa, antes que alguém apare...

- Já pode ir embora... - dou um pequeno salto e um gritinho.

-Eu já vi tudo... - sua voz sai um tom mais grave.

- "Que vergonha meu Deus" - penso alto novamente.

- Fica tranquila, não gosto das inocentes, prefiro as experientes.

Acho que deixei transparecer.

- Como eu sei? Você gritou para o Lucius que ele não poderia dormir com você pois ainda não tinha dormido com ninguém, você chamou ele de Joca cachorro safado.- fecho os olhos bem apertado, e podemos jurar que estou completamente vermelha.

Procuro uma saída pra enfiar a cara em algum buraco, passo por ele e sinto seu sorriso, seu cheiro, mesmo sem me tocar sinto sua presença, alcanço a sala e respiro aliviada, em instantes sinto patas abraçando minha cintura e olhos claros de cores diferentes me encaram, o enorme peludo sorridente parece pedir um carinho e sem perceber o atendo, com o coração acelerado.

- Lucius! deitado. - sua voz reverbera em meu ser, fazendo meu coração bater acelerado.

- Muito obrigada! Obrigada mesmo, se algum dia eu pudesse retribuir... Peço a Deus que te retribua em dobro.

"- Meu Deus quanta vergonha ainda tenho que passar na frente desse deus grego? O que será que eu fiz na vida anterior, me diz? Se o senhor tiver pena de mim não deixe que eu o encontre novamente" peço a Deus uma trégua quase chorando de vergonha.

- Obrigada, tome cuidado com suas amizades.

- Não são mais meus amigos... - saio de lá, e sinto que deixei algo para traz, confiro novamente e tenho certeza que está tudo aqui.

- Provavelmente foi minha dignidade.

Pego as chaves do carro e saio de lá como se houvesse mil demônios me perseguindo, chego em casa e escuto um burburinho.

- Bom dia...? - meu pai me olha surpreso, me abraça forte, me solta e dá um leve tapa no braço.

- Onde você estava? - vejo algumas lágrimas em seus olhos, ele me olha assustado.

- O que fizeram com você?– Só então percebo os arranhões nos braços.

- Eu caí em um cerca viva, mas estou bem, não aconteceu nada, dormi com a Ana Júlia.- Conto uma pequena mentira, senão ele nunca mais me deixa sair de casa.

- Agora eu vou trabalhar...- Miguel passa por mim, e com um único olhar eu sinto que até meus ossos arrepiarem, papai o acompanha, e seguem pra oficina, sei que Miguel não vai me deixar escapar assim, restando apenas Jorge que por fora parece tranquilo demais pra ser de verdade.

- Cath Cath, senta aqui...- lá vem chumbo grosso.

- Pois não? - dou um sorriso e sei que estou com a cara mais deslavada do mundo.

- Você não tem nada pra dizer? - ele coloca a mão no coração, em tom de brincadeira, mas fica sério no mesmo instante.

- O que fizeram com você?- penso um pouco e sei que o Jorge é pior do que o math quando quer descobrir alguma coisa.

- bebi alguma coisa, fiquei muito bêbada, caí em cima de uma cerca viva, fui parar numa casa de um estranho, caí na piscina dele, ele me salvou me ajudou, acordei hoje e tive que lavar a casa dele, pois vomitei em tudo.- meu irmão faz cara de nojo.

- Foi só isso? Ele não... - fico curiosa.

- O que? - acho que minha atenção está toda em meu irmão.

- Você sabe... Hum hum- ele limpa a garganta. - ele não se aproveitou de você não?

- Eu estava fedendo a vômito, você acha que alguém ia me querer assim? - ele sorri.

- vai tomar um banho porquinha, tá fedendo até agora.

Meu dia passa tranquilo, é domingo então papai e Miguel não vão trabalhar o dia todo, foram apenas entregar alguns carros, passo o restante do dia estudando e a tardezinha chamo todos pra ir na pizzaria.

- Você vai pagar?! - Miguel brinca, pois sabemos que eu nunca pago.

- Papai paga! Ele que é o patrão!

Cadê o dinheiro que eu pago vocês? Precisam agradar mais seu patrão senão não tem aumento de salário!

- Eu pago a pizza, mas amanhã eu passo no RH pra registrar meu aumento na carteira.

Todos nós caímos na risada, só o Miguel que apenas sorri de canto e permanece calado, as vezes acho que nada abala meu irmão.

Paramos em frente a pizzaria, eu sou a primeira a descer, já que estou do lado da porta, no banco de trás.

-Hoje eu como uma pizza inteira sozinha!

Falo entrando na pizzaria lotada entre meus dois irmãos que parecem meus seguranças, sentamos e escolhemos nossos sabores preferidos, meu gosto pra comida é parecido com o do Miguel, por incrível que pareça.

- Comemos na maior algazarra, eu e Jorge somos os que mais falamos.

Quando estamos indo embora, sinto que estou sendo observada, mas não dou muita atenção, acho que é impressão.

Em casa cada um vai para o próprio quarto.

Durmo cedo e passo a noite sonhando com olhos puxados, cabelos lisos caindo sobre a testa, no sonho dá vontade de passar a mão, mas não o alcanço, seu sorriso perfeito aparece em meus sonhos e acordo suada, levanto com calor e tomo um banho gelado.

🌜☀️☀️☀️☀️☀️🌜

O dia passa rápido, entre um carro e outro, fiz apenas troca de óleo hoje, alguns clientes engraçadinhos, me preparo mais uma vez pra faculdade, estamos no penúltimo semestre do último ano, e já visitei uma montadora em outro estado, não sei se havia dito que falta pouco pra me formar, estou me preparando, para a conclusão do curso, felizmente o TCC não é obrigatório.

- Gente se preparem que amanhã o empresário dono da ChenXav, vira amanhã para a palestra.

- Tomara que dessa vez ele não falte não é prof.

Nosso querido GG conhecendo seus alunos nos dá um sorriso sem graça.

- Seria tão vergonhoso quanto da última vez.

- Que isso prof. A gente entende.

Olho para o lado e vejo a Ana Júlia sorrindo pra mim, sinto que dessa vez ela está diferente, não é tão verdadeiro como antes, fico me perguntando o que aconteceu. Tento falar com ela no final da aula mas ela foge, me sinto um pouquinho mau, meu amigo sumiu também, faz cinco dias que não falo e nem vejo Math.

Meu telefone toca e falando no diabo, o próprio... Deixo tocar por alguns minutos, e ele insiste, quando cai na caixa de mensagem escuto sua voz baixinha do outro lado.

- So...co...r...ro amiga... - meu coração gela, e depois acelera.

Ligo pra ele, mas ele não atende, tento mais uma vez já desesperada, e na última tentativa ele atende.

- Onde você está?- pergunto aflita.

- No po-porão. - sua voz sai rouca.

- Manda a localização...- o telefone fica mudo e meu desespero aumenta.

Escuto o som de uma mensagem chegando, e quando abro vejo que a localização é no mesmo condomínio de luxo que eu fui sábado.

Meu coração gela pois sei que não vou conseguir entrar sem que alguém de dentro me convide.

Ligo pra polícia? Miguel, sei que ele não é da polícia mas tem muitos amigos que são.

- Diga, estou um pouco ocupado agora.

- Não tenho tempo, o Math foi sequestrado, está preso numa espécie de porão... - começo a soluçar mas o choro não vem.

- Eu tenho a localização mas não é todo mundo que pode entrar. - falo sem respirar.

- Manda aí- escuto seus passos.

- Salva meu amigo... - ele desliga o telefone antes do meu soluço terminar, mando a localização. Confio no meu irmão, mas dirijo a toda velocidade na direção em que dois dias atrás jurei que não pisava mais.

Paro em frente a guarita e o guarda parece me reconhecer mas não abre o portão, algumas viaturas chegam fazendo barulho, eles entram assim que se identificam e mostra o mandado de busca e apreensão.

Eles entram, mas não vejo Miguel, em lugar nenhum, ele já deve estar lá dentro.

- Ei... O que está fazendo aí? - me viro e vejo o homem mais lindo do mundo, sentado em uma moto, todo trabalhado no couro preto, não consigo sorrir, termino de cuspir fora a última unha que restava.

- Eu quero entrar, mas não sou autorizada.- ele bate na traseira da moto.

- Sobe aí. - aponto meu carro.

- Deixe aí, o Zé traz pra você.

Subo na moto sem pensar, e ele entra sem precisar falar com ninguém.

As casas são bem afastadas e só agora me pergunto como eu fui parar lá, ele para a moto em frente à sua casa e eu desço, abro o aplicativo de localização.

- Obrigada...- falo distraída olhando o celular.

- Onde você vai?- ele pergunta curioso.

- Resgatar meu amigo...

            
            

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