- Eu não posso fazer isso!
_ A jovem diz sem arrependimentos, ela sabe que não é certo meter-se na vida de outras pessoas, a qual ela nem mesmo conhece, ainda mais quando está sob uma possível ameaça.
- Eu não sei o que você quer com isso, mas, não farei parte disso e você não sabe o que está a me pedir!
_ Ela continua a afirmar, enquanto o seu líder espera a que ela termine de falar, ele ansiosamente espera, sabe que pode haver muitas maneiras de fazê-la realizar os seus desejos, afinal, ele é o seu criador, é o líder da comunidade em que ela nasceu e cresceu e sabe também que pode dizer o que quiser, mas, ela acabará fazendo o que ele quer.
- Não falarei novamente Helena, você sabe que sou o seu criador, sabe que posso obrigá-la de maneiras que você não vai gostar e sabe também que...
_ Ela interrompe-o com um gesto de mãos, pedindo-lhe que pare por ali, ela realmente sabe que ele pode obrigar-lhe, ela apenas não quer fazê-lo, sabe que não se controlará, ela sabe que o serviço que o seu chefe a obriga a realizar, pode custar uma vida humana, uma vida que ela não quer carregar apenas por estar tão perto.
- Mestre, o senhor sabe que eu nunca estive perto de humanos, será a minha primeira vez e não quero correr riscos, não sei se poderei controlar-me.
_ Ela explica, mas do lado de fora daquele salão, há alguém a espreita que houve todo o assunto, este, se vai, sabendo já o que deve ser feito! Ali, o líder continua a falar com Helena, ele enfim decide ceder, mas, apenas para ela, para que ela saiba o real motivo e saiba cuidar bem do assunto.
- Helena, eu sei que comecei como um chefe autoritário, mas, preciso contar-te algo e espero que fique apenas entre nós!
_ Ele pede com a maior educação possível, nem mesmo ela imaginaria que ele poderia um dia ter um olhar tão sensível e tão meigo em relação a algo, que parece mesmo até ser muito pessoal.
- Mestre, o que significa essa humana para o senhor?
_ Ele franze a testa, olha para ela fixamente e logo começa a explicar-lhe.
- Bom, não posso deixar de contar-te, mas, espero que você seja o mais discreta possível e não conte nada para ninguém do Clã, eles podem não gostar de saber o que vou dizer agora.
_ Ela olha-lhe e concorda, balançando a cabeça, seriamente esperando que ele conte a história para que ela possa ajudá-lo da melhor maneira. Ela olha para o seu mestre atentamente, franzindo a testa e ouvindo o que ele tem a dizer sobre a garota que ela terá que vigiar e cuidar, a garota que provavelmente ela terá que levar até ele, uma moça que ela não sabe quem é e nem o porquê de tanto interesse.
- Bom, vou começar contando que num passado bem distante tive uma esposa, ela era humana, e vivemos por muito tempo juntos. O seu nome era Laura, eu a amei mais-que-tudo na vida, mas, o nosso amor era proibido!
_ Helena o mira firmemente, sem piscar em nenhum momento, ela presta bastante atenção ao que o seu mestre conta, ouvindo cada detalhe.
- Como o senhor a conheceu? Por que ela não está aqui com o clã?
_ Ele pensa bem antes de falar, pois não quer que ninguém saiba o que aconteceu no seu passado, não quer que saibam sobre a sua história e descubram que ele é um traidor, e que as guerras entre eles e o clã vizinho são por sua culpa.
- Helena, primeiro você deve saber que não podemos de nenhuma maneira nos envolver com os humanos, o nosso clã tem uma regra fundamental, não atacar nenhum humano e foi com muito custo que a consegui colocar aqui e fazê-la cumprir.
_ Ele explica-lhe, buscando a melhor forma de se expressar.
- Sei que você foi bem treinada e que jamais atacaria um ser humano, ou as consequências seriam bem severas. Sei que o que te peço não será fácil de cumprir, por isso vou mandar você com o Sayver, ele já tem um controle maior, pode cuidar de você e também saberá sobre a pessoa que você vai tomar conta.
_ Ela não gosta muito de ouvir quem vai acompanhá-la, Sayver não é um imortal amigável que digamos, mas, é um guarda fiel, protetor dos mais vulneráveis do clã, mas, não gosta muito de humanos, tampouco consegue fazer-lhes mal, o mais importante, ele é muito respeitador.
- Mestre, sei que o Sayver é um bom cão de guarda, mas, ele não gosta de humanos, pode ser hostil, e quem é a pessoa que vamos ter que tomar conta? Sabe que ele não serve para ser baba não é?
_ O líder ri, ele sabe de tudo o que ela está dizendo, ele conhece cada membro do clã, sabe de cada um e as suas limitações. Assim sendo, ele continua a contar-lhe o que necessita saber.
- Gabriela é o nome da garota, ela tem 17 anos, logo completará a maior idade e assim, terá que saber a verdade da sua origem.
- Ela é a sua filha com a humana, não é mesmo?
_ Ele confirma com a cabeça, conta que foi muito apaixonado por sua mãe, que dessa relação veio a sua filha e que Laura teve que ir embora, pois eles não sabiam que imortais poderiam ter filhos e isso prejudicou o clã, pois os membros do clã que ele pertencia não concordavam com a união, o seu irmão mais velho que era o líder no tempo, não aceitava e mandou que fossem assassinadas Laura e a sua bebê, pois a menina era meio-humana e meio-imortal.
- Mestre, nunca soube que o líder do clã que o senhor escapou era o seu irmão. Também não imaginava que já houvesse se apaixonado por uma humana.
- Sim, foi exatamente o que aconteceu, o pior de tudo, é que o líder do clã deveria ser eu, mas, o meu querido irmão me roubou a posição que o meu pai deixou-me de herança, assim como também a família que eu criava, nunca, jamais entenderei por que ele se posicionou contra mim ou contra a minha família, afinal não o afetávamos em nada.
_ Ele conta a Helena a sua história com os olhos cheios de lágrimas, para ela ele acaba revelando parte do seu segredo mais profundo, não imaginando ele que entre o seu clã, há um traidor, também não imagina quem possa ser e a descoberta poderá ser angustiante e desesperadora.
Chega o dia da mudança!
_ Helena mudou-se para a desconfortável cidade, junto com Sayver ela chega a cidade e vai para o pequeno apartamento alugado pelo seu mestre para que ela possa estar por perto e vigiar a sua filha Gabriela, para que eles possam protegê-la até o momento em que ela possa conhecer o pai legítimo. Helena e Sayver se mudam pela manhã, não é o melhor momento, pois durante o dia as suas energias ficam baixas e como se alimentam de energia vital, não estão na sua total plenitude das forças. O dia é longo, Helena observa a movimentação, faz a vistoria do apartamento e apresenta os documentos junto a Sayver, já que eles são agora "irmãos". Ela apresenta os documentos e os dois tentam fielmente e controladamente não aparentar a vontade quase incontrolável de se alimentar, mas, conseguem e enfim saem daquela sala com o cheio de humanos suculentos. Está óbvio que energia vital clonada não chega aos pés da energia verdadeira e quente, que desce como licor de chocolate pela garganta e percorre queimando as veias. Bom, assim eles lembram como a primeira vez que experimentaram, logo quando foram transformados. Após isso eles são acostumados a se alimentar de energia vital clonada, pois a caçada humana pode levar a escassez e levantar suspeitas de ataques, pode chamar atenção das autoridades e assim todo um mundo sobrenatural pode ser descoberto e assim eles podem ser caçados e exterminados. Helena e Sayver estão colocando os móveis da mudança no apartamento, Helena a todo o tempo observa o movimento e procura algum sinal de Gabriela, mas, ela não sabe nada da garota além da foto que o seu mestre mostrou, e que, na verdade, pode não ajudar, pois a foto é de uma menina de uns seis anos, que, ao que parece foi a última que ele recebeu de Laura, mãe de Gabriela.
_ Passa o dia e nenhum sinal da garota, ela não apareceu e com a sua audição supersensível, ela percebe uma agitação no apartamento de Gabriela, ela percebe que o pai adotivo de Gabriela está nervoso e algo esteja a acontecer e que ela tem que descobrir logo.