Capítulo 7 Como seguir em frente!

~Pedro~

- MEU DEUS! - Mia se joga em meus braços assim que chega em seu apartamento e me vê sentado no sofá da sala.

Com um sorriso, eu retribuo o abraço, sentindo que a mesma está me apertando além da conta.

Eu havia preparado uma surpresa para ela. Após sair da prisão, pedi a todos que não comentassem sobre a minha saída com Mia, pois gostaria de pegá-la de surpresa em sua casa. Muita coisa mudou desde aquela época em que ela se mudou para essa cidade. Agora Mia cursa faculdade de moda e está morando definitivamente aqui, com seu próprio apartamento. Confesso que as coisas também mudaram entre a gente, principalmente quando Emma foi embora e eu sequer fazia questão de manter contato com ela, já que eu estava num estado depressivo, mas quando eu me entreguei à polícia por pequenos delitos... Mia começou a me visitar com mais frequência e foi a única pessoa com quem eu conseguia desabafar sobre Emma...

Ela sempre me ouvia, quando eu contava sobre os sonhos, ilusões e lembranças que eu tinha com Emma, com os olhos carregados de pena. Acho que ela lamenta e até se culpa pelo fim que tivemos...

- Eu não consigo crer no que os meus olhos estão vendo! É você mesmo? Pedro... - Ela murmura incrédula após se afastar apenas para me olhar nos olhos, tocando o meu rosto como se para se convencer de que sou real.

E isso me faz sorrir.

- É, sou eu, Pedro. E é assim que você recepciona o seu irmão que ficou preso durante um ano? Eu pensava que quando chegasse aqui veria um banquete servido para mim. - Digo com arrogância, fazendo ela rir, se desvencilhando dos meus braços.

- Seu otário! Se tivesse me avisado que estaria vindo para cá eu teria preparado tudo o que quisesse. - Ela joga uma almofada em minha cara, se jogando no sofá ao meu lado. - Mas e como você está se sentindo? Deve ser estranho finalmente estar no mundo real após um ano trancado numa cela.

Viro-me de lado em sua direção apenas para olhar em seus olhos. Ergo a minha sobrancelha, pensando sobre a sua pergunta, mas a verdade é que...

- Sinto que não consegui o que eu queria quando me entreguei, mas... ainda não sei sobre como estou me sentindo, mas quero aproveitar um pouquinho para descobrir. Por isso vim aqui. Não tem pessoa melhor e mais animada que você para saber como se divertir.

Ela põe uma mão na testa, me encarando como se estivesse perdida em seus pensamentos.

- Bom... eu não acho que eu continue sendo a sua irmã animada de antes, mas... posso dar um jeito nisso. - Ela me lança um sorriso que de certa forma me transmite a mensagem de que ela vai fazer o máximo para me ver bem.

E isso me faz suspirar ainda a encarando.

- Isso tem a ver com Enzo? - Questiono, ganhando a atenção dos seus olhos, que me encaram por vários segundos em silêncio, como se não soubesse ou não quisesse me responder. - Você ficou ouvindo minhas baboseiras durante um ano... o que custa se abrir comigo pelo menos uma vez?

Ela desvia o olhar com um sorriso nos lábios.

- Talvez... é que muita coisa aconteceu desde o dia em que fui embora. Eu estava muito magoada com a traição... muito mesmo, tanto que eu tentava conhecer pessoas novas mas ficava insegura em relação a ser boa o suficiente ou a confiar na pessoa. Mudei muito por conta disso, comecei a focar mais no que eu queria fazer ao invés das minhas relações pessoais, talvez por isso eu tenha perdido um pouco daquilo que me fazia entender perfeitamente as pessoas. - Ela explica ainda com um olhar distante, me fazendo encara-la seriamente. - E depois de alguns meses vivendo assim, Enzo veio atrás de mim. Ele tentou me mostrar o quanto gostava de mim e como não parou de se culpar pelo o que fez comigo. Eu ainda me sinto um pouco insegura, do tipo que tem ciúmes por besteiras, mas é que... não sai da minha cabeça que ele pode fazer aquilo de novo a qualquer momento. Mas eu também gosto dele e não gostaria de simplesmente terminar com ele sem sequer tentar. Quer dizer, ele não viria até aqui depois de meses se não gostasse de mim e não tivesse mudado de verdade, não é?

Ela finalmente olha em meus olhos, buscando por uma resposta, talvez por eu ter passado por algo parecido e por ser amigo de Enzo.

- Sobre isso eu não sei, mas até agora eu não vi ele comendo nenhuma puta e nem me chamando para participar.

- SEU OTÁRIO! - Exclama Mia, pegando uma almofada para bater em mim.

Tento me desvencilhar aos risos de sua almofada.

- Aiii que ódio eu tenho de você, Pedro! - Ela se levanta aborrecida, jogando a almofada com força no sofá. - Eu já tinha esquecido desse seu lado irônico e egocêntrico! Mas e essa mochila? É tudo o que você trouxe? Quanto tempo vai ficar? - Ela questiona caminhando até a cozinha onde se serve um copo de água enquanto eu a observo.

- Uns dias... confesso que não sei o que fazer ou para onde ir... estou perdidinho. - Comento também me levantando para segui-la até a cozinha.

Enquanto beberica lentamente, ela me encara por vários segundos como se estivesse tentando me decifrar, até que arregala os olhos quase se engasgando com a água.

- Meu Deus... você pretende deixar a máfia? - Ela arfa desacreditada quando eu não a respondo. - Puta que pariu! Você está falando sério? Você sabe o que vai acontecer caso você sair do comando sem dar explicações, não é?

Ergo uma sobrancelha, me sentando de frente para o balcão onde também me sirvo um copo de água, com um olhar distraído.

É, eu sei as consequências da minha atitude. Sei que aquele maldito logo tentará entrar em contato comigo para reclamar pelo o que estou fazendo, mas sinceramente... eu estar no comando ou não, não vai mudar em nada a vida daquele imbecil. Mesmo que eu suma do planeta terra, ele não vai se preocupar comigo. O único propósito na vida daquele homem é infernizar a minha vida... e por pouco a da minha irmã.

- Estou pouco me fodendo para as consequências. Coloquei isso na minha cabeça e não tem quem tire... mas ainda vou resolver tudo direitinho com aqueles dois panacas.

Mia franze o cenho, dando a volta no balcão para se pôr ao meu lado.

- Eu fico feliz que você esteja finalmente fazendo o que gosta. - Com um sorriso nos lábios, ela deposita um beijo na minha bochecha, me fazendo sorrir com um olhar cheio de graça. - Eu vou tomar um banho e vamos dar uma volta pela cidade. Vamos à praia tomar sorvete e quem sabe eu não mostro a você algumas festinhas que vai gostar...

Ela sugere já animada e eu reviro os meus olhos.

- Vamos ver se você tem um bom senso de diversão...

~;~

Quem diria... quem diria que passar uma tarde de bermuda e camiseta com os pés na areia da praia tomando sorvete e conversando com Mia pudesse ser tão aliviante. Talvez porque eu estava com um peso enorme em meus ombros, e passar esse tempo com a minha irmã faz com que eu deixe esse peso de lado, mesmo que temporariamente. O que é estranho pois eu nunca havia saído ou conversado de uma forma tão íntima e familiar com Mia, como se nós fossemos irmãos que não desgrudam um do outro.

Mas foi bom...

Pela primeira vez em muito tempo, eu não tive que ficar me preocupando com coisas sem sentido, mas era inevitável ficar olhando de um lado para o outro pensando na hipótese de alguém estar nos seguindo.

Acho que afinal de contas, aquele maldito dia também me marcou.

- Não acredito que você está bêbado logo no primeiro dia que veio me visitar. - Murmura Mia de forma engraçada, deixando que eu apoie o meu peso em seu corpo enquanto tenta me guiar pelas calçadas.

Bem... após a nossa tarde familiar, pensamos que deveríamos jantar, e foi durante o jantar que tudo começou. Estranhamente aquele vinho com baixo teor alcoólico me trouxe lembranças que eu estava tentando esquecer. E Mia estava animada. É final de semana e ela havia trabalhado como louca em seus projetos da faculdade durante a semana, então quando sugeri que fossemos em alguma festa com bebidas... ela não titubeou. Acho que ela só não gostou do tipo de festa para qual eu a levei...

- Era para este tipo de festa que você costumava ir? Tinham pessoas drogadas no chão... meu Deus!

Dou risada, achando engraçado como ela está enojada com isso quando na verdade, as festas que eu ia costumavam ser piores... as drogas não eram lícitas... e tinha puta em todas as mesas para quem quisesse. Essa é a diferença.

- Hummm... por que não voltamos lá para dentro? Eu preciso só de mais um golinho...

- Chega! Você nem está mais conseguindo ficar de pé! Vem, eu vou chamar um táxi.

E foi assim que Mia me obrigou a entrar num táxi mesmo com as minhas reclamações. Quando chegamos no prédio do seu apartamento, foi ainda mais difícil para mim me manter de pé, pois o elevador me deixou extremamente enjoado.

Eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Sempre fui muito acostumado a beber até de manhã, e mesmo quando estava preso, Heitor sempre dava um jeito de trazer uma garrafa de whisky para eu me manter são, já que lembrar de Emma me deixava louco.

E lembrar dela era tudo o que eu fazia.

- Caramba, Pedro! - Exclama a minha irmã quando eu já estou de joelhos em frente a privada do banheiro vomitando como se estivesse doente. - Será que você está com febre? Nunca vi você beber para vomitar, mas o que está acontecendo com você?

Agachada ao meu lado, eu sinto suas mãos na minha testa, como se para verificar a minha temperatura.

- Eu sinto falta dela... - Sussurro deixando a minha cabeça cair sobre a tampa da privada, o que Mia impede rapidamente, segurando a minha cabeça.

- O quê? O que você tanto fica murmurando desde que saímos da festa? - Ela questiona me encarando com os olhos cheios de preocupação.

- Emma... por que ela não sai da minha cabeça? - Questiono sentindo meus olhos pesarem e minha cabeça girar. - Eu acho que ela veio para eu pagar por tudo de ruim que eu fiz... porque toda vez que eu penso nela... sinto vontade de chorar.

Fecho os meus olhos, ainda com a cabeça apoiada em sua mão, sentindo um aperto em meu peito por lembrar daqueles olhos que eu tanto amo... que nunca se apagam da minha memória....

Sinto os dedos de Mia em minha testa, tirando uma mecha do meu cabelo da frente dos meus olhos.

- O que vocês tiveram foi realmente muito intenso, não é? - Ela questiona com a voz baixa, quase como se não quisesse ser ouvida. - E pensar que eu estava longe enquanto vocês viviam tanta coisa em um curto período de tempo... às vezes eu me odeio por não ter estado ali quando ela precisava... mas... acho que o melhor para ela era se afastar, e você sabe disso.

Abro os meus olhos, me deparando com uma Mia perdida em seus próprios pensamentos.

- Eu sei. - Respondo seriamente, ganhando a sua atenção. - Mas se eu visse ela de novo... eu não deixaria passar a oportunidade de tê-la em meus braços.

Os seus olhos se abrem em surpresa, e é quando ela desvia o olhar, parecendo não saber o que falar.

- É melhor você ir tomar banho. Eu vou preparar a cama para você. - Diz ela me ajudando a levantar pelo braço. - Você já está bem grandinho para receber um banho. Fique firme e se vire!

Reviro os olhos quando ela sai do banheiro, encostando a porta logo em seguida. Mesmo com dificuldade e pensativo sobre o que eu acabei de revelar a ela, eu consigo tomar um banho de gato. Quando eu saio do banheiro com uma toalha ao redor do meu quadril e encontro um pijama em cima da cama, eu logo o visto sem dar prioridade para a cueca.

- Toma, é remédio para evitar a ressaca.

Quando me sento na cama, vejo Mia com um copo de suco e um comprimido em mãos. Ela se senta ao meu lado na cama, me entregando.

- Então você sai para beber... se tem isso em casa é porque fica bêbada constantemente. - Murmuro já bebericando o suco após pôr o comprimido na boca, fazendo ela rir.

- Olha, eu sei que agora eu estou sem graça, mas eu não virei uma santa não, eu hein!

Dou risada, pondo o copo na bancada ao lado, me deitando e me cobrindo aos risos, enquanto Mia me encara como se eu fosse um louco.

- Claro que não é uma santa. Deu para o meu melhor amigo...

- Primeiro, ele que me seduziu, segundo...se você não quer que eu te sufoque com esse mesmo travesseiro, é melhor calar a boca e dormir! - Exclama ela com um biquinho, me fazendo rir ainda mais.

Por que ver ela assim está me fazendo rir descontroladamente?

- Caralho... a minha irmãzinha ficou muito brava. - Brinco ainda rindo, me virando na cama para receber o impacto dos seus tapas no braço. - Ai... ai! Tá, eu vou parar, maninha!

- É melhor mesmo! Eu hein, um Pedro já é demais para mim, ter que lidar com você bêbado é insuportavelmente impossível!

- Que é isso?! Eu sei que você está amando o fato de eu estar aqui. - Murmuro trazendo sua mão para eu depositar um beijo no dorso da mesma. - E eu também estava com saudade.

Lanço-lhe uma piscadela desengonçada, sentindo o peso do cansaço cair mais uma vez sobre os meus ombros, e principalmente sobre os meus olhos que lutam para permanecerem abertos.

- Pedro... - Diz ela num suspiro, acariciando a minha testa enquanto fecho os meus olhos, sentindo-me confortável o suficiente para dormir por um dia inteiro. - Eu fico feliz... que você esteja tentando ser o irmão que eu sempre quis desde o início. E acho que devo isso a Emma, mas... por favor, eu não gosto de te ver assim... eu não acho que vocês possam se encontrar ou dar certo algum dia, então esqueça ela. Você deveria viajar para algum lugar, tentar ser feliz com o que ela deixou para você. Eu sei que as lembranças são dolorosas, mas seria tudo mais fácil se você saísse desse estado de luto e começasse a aceitar que o que vocês dois tinham era bonito enquanto durou, mas agora vocês dois juntos não existem mais. Agora é cada um por si... pense que ela pode estar finalmente seguindo a vida dela, que pode estar feliz... e isso não é para te deixar mais deprimido, porque se você ama ela de verdade deve desejar essa felicidade mesmo de longe. Assim como eu sei que ela torce pela sua.

Viro o meu rosto na sua direção, a encontrando com lágrimas nos olhos.

- Eu não sei como seguir em frente. - Confesso, sentindo algo amargo em meu peito por saber que o que ela está falando é o que eu deveria estar fazendo.

Mas não é fácil quando Emma ocupa meus pensamentos boa parte dos dias.

- Eu sei... e me dói muito te ver assim. Pedro eu te amo, e por isso você tem que seguir em frente. - Ela limpa uma lágrima solitária que desliza pela bochecha. - Agora que você está decidido a deixar a máfia de lado, por que não tenta um recomeço em outro lugar? Compra uma casa... Você começou a gostar do mar, não foi? Mora perto dele... Chama Lucas e Enzo para te visitar e sempre que der eu também vou... quem sabe você não adota um cachorrinho.

Torço o nariz, sentindo o meu estômago embrulhar ao falar em animal de estimação. Acho que isso é demais para mim!

- Vem cá. - Ponho um braço em cima do travesseiro para que ela de deite, e mesmo surpresa, ela deita sobre o meu braço, de costas para mim onde faço questão de abraçá-la. - O que acha dos Estados Unidos?

Ouço ela arfar, surpresa.

- Bom... agora que você disse... parece a sua cara! E quando eu escuto esse nome... sinto que você vai encontrar coisas boas lá

                         

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