Capítulo 5 5° Capitulo

-Claro. Comemoro estar de novo consigo - levantou a sua taça para brindar. -

Salute!

Estava

sentado sobre o braço oposto do sofá, mas não a enganava. Ainda que parecesse

estar relaxado, era como uma pantera negra à procura de sua próxima vítima.

-Porque me atraiu até aqui?

-Não quis vir jantar comigo na outra noite - e encolheu os ombros. - Que outra

alternativa me restava?

-Podia ter-me deixado em paz - disse ela em voz baixa.

-Não tenho paz - disse ele em tom duro. - Desde que nos conhecemos, não há uma

única hora do dia em que não recorde os seus olhos, a sua boca...

-Por favor - respondeu Flora, quase sem fala. Não deve dizer essas coisas.

-Porquê? - perguntou ele. - Porque a envergonham? Porque a ofendem? Ou porque

também pensou em mim, mas não quer reconhecê-lo? Qual é a razão, Flora mia?

-Não está a ser justo comigo...

-Já sabe o que dizem: "na guerra e no amor vale tudo". E se tenho que

lutar por si, cara, serei eu a escolher as minhas armas.

-Estou comprometida - disse ela num tom desesperado. - Você sabe. Já tenho

planos para a minha vida e você não entra neles.

-Então quer dizer que não estou incluído no seu futuro... Pois bem, poderia

dar-me algumas horas do seu presente, esta noite.

-Isso é impossível.

-Vai estar com o seu noivo esta noite?

-Naturalmente. Temos muitas coisas que preparar.

-Naturalmente - disse ele com doçura. - Falou-lhe de mim?

-Não havia... - disse Flora, tentando firmar a sua voz, - nada para dizer.

Ele arqueou as sobrancelhas.

-Não pensa que lhe interessaria saber que outro homem conhece o sabor da sua

mulher e o aroma da sua pele quando se lhe desperta o desejo?

-Já chega! - Flora levantou-se a tremer e entornou algum champanhe sobre a sua

saia. - Não pode falar-me assim!

Ele não se moveu e permaneceu com os olhos fixos nela. Flora sentia que o seu olhar

lhe abrasava a boca e lhe chamuscava a roupa até chegar à pele.

- Então dê-me esse direito. Jante comigo esta noite.

-Não posso - a voz de Flora era débil.

- Você é muito estranha. Tão segura no seu trabalho, e com tanto medo de viver...

- Isso não é verdade! - protestou ela.

- Então demonstre-mo - estava a irritá-la. - O dia em que nos conhecemos, escrevi

o nome de um restaurante num papel.

-E eu deitei-o fora - respondeu ela com ar frio.

-Mas estou certo que se lembra do nome - disse ele com doçura. - Não é verdade,

bella?

-Porque me faz isto? - murmurou ela. Ele encolheu os ombros.

-Só estou a ser sincero pelos dois - disse, sorrindo-lhe. - Pois então, diga-me

o nome do restaurante.

Ela

engoliu em seco.

-Pietro's... na rua Gable.

Ele

confirmou.

-Voltarei a jantar lá esta noite. Como já lhe disse antes, pode encontrar-me lá

depois das oito - fez uma pausa. - E tudo o que peço é a sua companhia durante

o jantar. Nada mais. Tem a minha palavra.

-Quer dizer que não... que não me vai pedir...

-Não. Pelo menos, não esta noite.

-Então, porquê? Não entendo nada. Ele esboçou um sorriso quase felino.

-Saberá, cara, que a imaginação aumenta o apetite. E eu desejo que esteja

ansiosa, voraz.

-Penso que já deixei tudo bem claro. Não estou disponível nem esta noite, nem

nunca.

De caminho para a porta, temeu que ele a detivesse. Que a agarrasse pelo braço ou

pelo ombro e a retivesse e abraçasse.

Chegou

às escadas e desceu-as depressa. À saída, encontrou-se com Melinda, que lhe

abriu a porta e desejou as boas-noites.

-Está bem - disse Flora, sem respiração, enquanto cruzava a praça à procura de

um táxi. - Já terminou tudo e estás a salvo.

E nesse mesmo instante, pressentiu que Marco estava a observá-la da janela. Não

se atreveu a voltar-se para comprovar se tinha razão. Isso demonstrava que não

estava a salvo, e ela sabia-o.

Pediu ao taxista que a deixasse em frente ao supermercado mais perto da sua casa. Fez

as compras para o fim-de-semana, incluindo vários petiscos e vinhos que Chris

gostava.

Tinha que se concentrar e, que melhor maneira do que

passar um fim-de-semana feliz a fazer planos para o futuro com o homem que

amava?

Quando dobrou a esquina carregada com os sacos, saltou-lhe o coração. O carro de Chris

estava estacionado em frente ao seu apartamento.

Encontrou-o no salão, acomodado num cadeirão, a ver um programa de desporto. Olhou-a de

lado com cara de poucos amigos.

- Onde diabos estiveste? Estou à tua espera há horas!

- Tive que fazer uma visita de trabalho de caminho para casa, e depois fui às

compras - mostrou-lhe os sacos. - Vês? Todo o tipo de petiscos...

- Ah... - disse ele arrastadamente. - Na verdade, não posso ficar. Isto é o que

vim dizer-te. Jack Foxton convidou uns clientes para jogar golfe este

fim-de-semana e, como lhe falta uma pessoa, pediu-me que vá. Tenho as minhas

coisas no carro e vou reunir-me com eles no hotel.

-Oh, não! - Flora olhava-o, desconsolada. - Eu tinha feito planos para nós...

-Não podia dizer-lhe que não - disse ele. - Já sabes que pode conseguir-me muito

bons negócios. E não quero desiludi-lo.

Flora levantou a cara.

- Ao que parece, não te preocupa desiludir-me a mim...

- Querida... Foi uma coisa de última hora, senão ter-te-ia dito antes. E compensar-te-ei no próximo fim-de-semana. Ter-me-ás só para ti, prometo-te disse, levantando-se rapidamente.

"Ruivo, de olhos azuis, obstinado e tão... preocupado consigo mesmo", pensou

Flora.

-Chris, por favor, não me faças isso - disse com voz trémula. - A sério, preciso

de passar algum tempo contigo. Para falar...

-E falaremos, querida. Quando voltar - disse com um sorriso encantador. - De

qualquer forma, tenho que te dar espaço para adiantares o teu trabalho ou para

que faças alguma dessas coisas de mulheres que nunca tens tempo para fazer.

Porque não ligas à Hester? É possível que ela também não tenha nada que fazer -

disse, e despediu-se com um beijo suave nos lábios a que ela não correspondeu.

- Telefono-te assim que possa. Se não, vejo-te segunda-feira - acrescentou

enquanto fechava a porta e desaparecia.

Flora ficou imóvel, com os sacos das compras aos seus pés, sentindo-se abandonada,

desiludida e um pouco perdida. Chris era o seu apoio, a sua salvação contra

todos os pensamentos e emoções que a assaltavam. E de repente, não estava ali

para a ajudar.

Começou a relembrar os seus comentários de despedida e ficou furiosa. Como se atrevia a

dizer as coisas que disse? Que conceito tinha dela? E de Hester? Como podia ter

tanta certeza que a sua amiga não tinha mais que fazer numa sexta-feira à noite

do que fazer-lhe companhia?

"É isso que pensa de nós? Que somos duas mulheres solteiras que se resignam a

passar a noite com comida entregue em casa e um filme de vídeo? Sem homem e,

por isso, sem valor?", pensou.

Pois, se essa era a opinião dele, acabava de cometer o maior erro da sua vida.

Foi até ao seu quarto, abriu com força o armário e começou a procurar no seu

guarda-roupa. Tirou um vestido de seda preto com alças finas, bem curto e

esvoaçante.

Tinha-o comprado umas semanas antes e ainda estava por estrear, à espera de uma ocasião

apropriada.

"E esta noite é a ocasião perfeita", pensou, desafiante. Tirou a etiqueta e

desligou os sinais de alarme do seu cérebro, a vozinha interior que lhe dizia que estava a ponto de fazer algo que deixaria Chris fora de si e que podia ser

realmente perigoso.

"Toda a vida fui prudente", argumentou, enquanto procurava uma tanga preta de

seda, que era tudo o que cabia debaixo da saia. "E onde me levou isso?"

Essa não era a primeira vez que o trabalho de Chris tinha sido prioritário e que ele

a tinha deixado pendurada num fim-de-semana. Até a esse dia, tinha pensado que

a sua ambição era uma coisa boa e que merecia todo o seu apoio. Mas tinha

chegado ao ponto em que a ambição não era mais do que egoísmo.

Porque não era só o trabalho que o afastava dela. Podia ter cancelado a sua viagem às

Bahamas, onde foi sozinho. Mas não o tinha feito, apesar de ter sido num

momento em que ela necessitava de todo o seu amor e apoio. Quando ela não

queria ficar sozinha.

Mas isso era passado e não devia pensar mais nele. Só que, de momento, o futuro

também estava confuso.

Não ia passar outra noite de sexta-feira a olhar para as quatro paredes do seu

apartamento, tendo como alternativa algo mais agradável.

Olhou-se ao espelho e ficou assombrada com o seu aspecto. Estava demasiado arrasadora,

porque Marco Valante era muito mais do que um homem atraente. Era uma força da

natureza e, ao pensar nele, estremeceu com uma mistura de medo e excitação.

Desde o momento em que o tinha visto no restaurante, tinha-se sentido atraída por

ele, indefesa como a maré debaixo da lua.

O único problema entre eles era que Marco tinha dado a sua palavra de que seria

somente um jantar e nada mais. Mas... como se atrevia a confiar na palavra de

um estranho?

Sobretudo

quando o instinto lhe dizia que se tratava de um homem que vivia segundo as

suas próprias regras.

Tocou nos lábios, recordando o beijo, e pensou que devia estar louca.

Claro que podia tirar o vestido, pendurá-lo e ficar em casa a ver televisão...

- Vou jantar com ele - disse a si própria, desafiante. - E vou rir-me, conversar

e divertir-me como não fiz durante meses. Mas só por esta noite. Para além

disso, ele gosta de brincar e eu também posso fazê-lo. E quando terminar,

agradeço-lhe, aperto-lhe a mão e venho-me embora. Fim da história.

Tomou duche e lavou o cabelo, colocou uma maquilhagem subtil e calçou umas sandálias

de salto alto.

                         

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