Capítulo 2 O nascimento

Eu tinha um pouco mais de 30 anos quando recebi a notícia do nascimento de Amélia, a princípio fiquei muito feliz pelo nascimento da menina, era com certeza um pequeno milagre já que Sandra fazia anos que tentava conceber uma criança do seu casamento com filho de Osvaldo. Mas logo que recebi a notícia percebi no olhar de tristeza de Margarida que algo não ia bem. Senti um medo já conhecido e me preparei para o pior, mas a verdade é que se fosse escolher preferia que Sandra vivesse, sim talvez eu seja egoísta.

- Me diga Margarida, algo aconteceu com minha amiga?- A mulher mexeu a cabeça em uma negativa, mas não se pôs a falar. Quase perdi a compostura e estava prestes a chacoalhá-la quando ela começou a chorar, o desespero em seu choro me fez sentir o coração se partir, o medo que me assombrou durante a gravidez de Sandra, outra criança sem vida nascerá, Sandra pode pensar que era uma maldição dela, mas a verdade era que é uma maldição minha.

- Tem algo errado com a criança? - Margarida era uma velha parteira da região e eu lhe tinha prometido uma boa quantia para que ela me avisasse sobre Sandra, já que nos últimos meses de gestação a mesma tinha me expulsado de sua casa. Mas não guardo mágoa de Sandra, ela de fato tinha seus motivos, sou um tanto intragável às vezes.

- A criança está viva? - Margarida se pôs a chorar novamente.

- Juro que não havia nada que eu pudesse fazer, nunca vi algo assim, mas lhe garanto que quando saí da casa a criança ainda estava viva.

- Ora não me angustie mais, fale logo o que de tão terrível aconteceu com a criança?- Margarida estava me assustando, o que mais de terrível poderia acontecer além da morte.

- Ela tem um defeito! -Margarida disse, logo senti minhas pernas fraquejarem, o que de terrível poderia ser para deixá-la dessa forma desolada?

- Que tipo de defeito?!- Ela pareceu pensar, como se quisesse me descrever algo terrível e então balançou a cabeça como uma negativa novamente.

- É melhor a senhora mesmo ir ver, pois não consigo descrever. - Olhos castanhos e cansados de Margaridas que devem ter visto de um tudo, parecia perdidos.

Sinto uma grande angústia , Sandra era com certeza uma mal agradecida, mas não merecia qualquer mal e tão pouco ter uma criança com defeito.

- Terei que ir, pois sendo uma mal agradecida ou não, vou estar ao lado da minha amiga. - Eu a obrigaria a me aceitar em sua casa, até porque não tinha criados, ficaria por si só com aquele imprestável.

E antes de Margarida me dizer mais alguma coisa me virei para um criado e lhe pedi que arrumasse tudo para partimos de imediato.

- A senhora não deixará de me pagar porque a criança tem defeito?- Nunca fui vítima da violência, mas quando voltei meu olhar para Margarida sentir vontade de esbofeteá-la.

- Irá ser paga como falado, mas por agora apenas suma da minha vista. - É assim ela o fez, claro que estava nesse chorou todo pelo dinheiro e não pela menina, devia ter percebido de imediato.

- A senhora tem certeza que deseja sair a essa hora?- O velho Tião me perguntou, ele era mesmo um criado intrometido, deveria demiti-lo, mas apenas respirei fundo.

- Sandra está com problemas. - E foi o suficiente para que ele sequer questionasse sobre a minha segurança.

O caminho foi mais demorado do que eu estava acostumada, admito que minha angústia pela criança fazia com que cada segundo se tornasse horas e posso jurar que o percurso de 2 horas tinha para mim o mesmo de uma viagem de 2 semanas.

Quando cheguei, logo vi Fernando sentado na porta da casa, ele segurava uma garrafa e estava chorando, mesmo não tendo grande apreço pelo homem, não posso negar que aquele cena me deixou um pouco triste.

- Onde ela está?- Ele se esforçou para não aparecer tão miserável quanto estava.

- Ela não irá querer vê-la. - Ele disse olhando para o chão, como se isso fosse uma verdade absoluta.

- E eu pouco me importo! - Caminhei pelo corredor escuro, nem as velas naquele homem se deu o trabalho de acender. Abri a porta, ao menos o quarto estava iluminado e quando Sandra me viu apenas deu um fraco sorriso.

- Sempre aqui está. - Ela disse enquanto eu caminhava até ela.

- Sempre aqui estarei. - Vi que ela segurava com muita força um pequeno embrulho branco. - Como está?

- Estou temerosa. - Ela disse olhando para o pequeno ser em seus braços.

- O que eu fiz a Deus? - Ela me pergunta como se eu de fato eu fosse dizer a ela que merecia a punição.

- O que poderia ter feito? Mas não seja injusta com ele, pois deu o que mais pediu a ele, não foi?- E ela deu o mais largo sorriso e olhou para o embrulho.

- Irá me ajudar a protegê-la? - Sandra pergunta como se tivesse me pedido um pacto, não sou dada a pacto, mas sim a promessas, mais do que eu precisaria proteger a criança?

- Do que exatamente? - Sandra parecia muito cansada, acredito que não soltou a criança desde que a mesma nasceu.

- Da maldade que a rodeia esse mundo. - Ela sussurrou e viu em seus olhos que ela queria ter a certeza que alguém olharia por aquela criança.

- Fala como se ela não tivesse aquele...

Respirei fundo, não queria magoá-la novamente, e ofender Fernando a magoava.

- Sabe que sendo ela sua filha, minha querida amiga, já a amo e sabe mais que todo mundo que sempre protejo quem amo. - Sandra sorriu e então me entregou o pequeno embrulho que guardava tão cuidadosamente.

A criança não pesava quase nada, era como se Sandra tivesse me dado um pequeno pássaro para segurar quando a olhei vi logo que tinha herdado os olhos castanhos de Fernando, ela me olhava como se tivesse compreendido que já veio ao mundo com sua Cruz, mas era um bebê adorável pequena e indefesa em seu rosto nada havia, então olhei para Sandra.

- O que tem de errado com ela?

- Veja. - Ela apontou para a perna da menina.

E devo admitir que ao desembrulha aquele pequeno ser, para poder a testar com meus olhos o mal que lhe foi dando ao nascer, me fez uma pessoa muito mais esperançosa, queria com toda a minha alma que fosse algo banal,algo que o tempo pudesse melhorar, mas nem mesmo minha fé poderia mudar o fato, não era algo banal.

- Eu lamento. -Foi isso que conseguir dizer, não me orgulho desse dia, mas logo que Sandra adormeceu peguei a pequena e a deixei no berço e sair da casa, precisa respirar, precisava recolher forças para não chorar ao lado de Sandra, precisava lembrar que eu tinha uma missão de vida que era proteger aquela criança.

Ao sair vi que Fernando estava na mesma posição que eu lhe tinha deixado a mais de meia hora atrás.

-Levante! - Falei para ele com muita irritação. - Não tenho paciência para sua covardia.

- Amo, sabe que a amo. - Ele fala de maneira em que seu amor fosse sua armadura e sua desculpa.

- Vá ficar com sua família e agradeça a Deus por ela. - Ele talvez fosse o mais culpado da fúria do criador.

- O que faremos com ela? - Ele me olhou como se eu fosse parte da família, como se eu fosse responsável também.

- Eu farei o que sempre faço, mas você terá que deixar de ser tão covarde. - Eu nunca permitiria que ele soubesse que estava tão assustada quanto ele.

- Sandra como está? - Ele pergunta, imagino que não quis voltar ao quarto.

- Temerosa e devia está já que o marido ao invés de está ao seu lado está aqui se embebedando.

- Você é melhor amiga dela, sabe mais do que ela precisa melhor do que eu.

- Realmente sei, e ela precisa que seja o homem que ela achou que estava se casando e entre naquele maldito quarto e fique ao lado delas.

E devo dá um ponto para aquele maldito, pois ele realmente seguiuo que eu disse e por Deus só saiu do lado daquelas duas, quatros anos depois quando veio a falecer.

            
            

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