Capítulo 3 O primeiro amor

Amélia já tinha 8 anos e claro que com essa idade já sabia de suas limitações, mas sempre foi uma meninas sorridente, para mim ela sempre teve um sorriso largo demais, porém como sua madrinha admito que sempre fui levada a ser mais crítica com ela do que com os outros.

- Madrinha podia me levar para sua casa na cidade? - Amélia gostava do campo, mas como não tinha outras crianças para brincar isso a deixava muito entediada. Mas tanto eu quanto Sandra sabíamos que a maldade dos outros iria magoá-la.

-Sabe que adoraria recebê-la em minha casa, porém sua mãe não gosta do barulho na cidade. - Ela olhou para sua mãe com tanta ternura que me fez derreter por dentro.

- Vamos mamãe, prometo que irei ser muito boazinha, mas não aguento mais essas mesmas paredes.

Sandra me olhou aterrorizada, mas a menina tinha ganhando o meu lado, então apenas sorri para ela.

- Vamos Sandra, sei que gosta muito dessas paredes,mas não pode forçar a pobre Amélia a gostar também. - Amélia abriu seu largo sorriso ao vê que me convencera.

- Não sabe o que diz. - Sandra fala temerosa.

Mas não demorou muito para Sandra a aceita e fomos todas para a cidade, onde lá a chegada de Amélia foi muito mais aceita do que pensamos, claro que sempre havia crianças que tirava sarro dela, mas Camila uma menina linda de cabelos de caracóis logo tomou Amélia como sua protegida e minha querida Amélia nunca foi tão radiante.

Pouco tempo depois Sandra vendeu sua pequena casa no campo e se mudou para cidade,o que de fato me fez muito feliz pois não tinha mais idade para ficar indo e voltando. E Amélia foi crescendo e de certo se tornou uma moça muito radiante apesar de ser evidente a todos que ela era muito diferente, mas isso não a deixava ficar para baixo e devo admitir que ela me fez se uma pessoas muito mais grata. A menina era muito bondosa e sempre estava tentando fazer com que os outros fossem felizes, porém o mal que eu e Sandra previmos aconteceu. Amélia tinha 15 anos quando se apaixonou pela primeira vez, o garoto era de certo de boa aparência e vinha de boa família, modesta, mais respeitável, ele era amável com Amélia e mandou mais de uma vez flores para ela. E minha menina ficou radiante, seu sorriso já muito largo tinha se tornado ainda mais aberto e posso jurar que ela tinha ganhado até mais beleza e graça do que antes. Eu como sua madrinha lhe garanti que se ele fizesse o pedido daria a ela um grande dote e acho que ela nunca me amou tanto, porém o menino desapareceu em um belo dia, não mandou mais flores e começou a se esconder quando via Amélia. E quando pressionado mandou um bilhete falando que sua mãe se opôs ao pedido que ele pretendia fazer a Amélia, logo que eu soube disso fui até a casa deles.

- Que honra em tê-la aqui. - A mulher baixinha de grandes olhos verdes falou logo arrumando tudo para que eu me sentisse confortável.

- Vim falar sobre o seu filho.- Ela me olhou por um momento como se tentasse compreender do que eu estava falando.

- Toninho não está indo a catequese? Eu disse ao pai dele, não sei o que fiz para ter um filho tão travesso. - Ela me encarou novamente e como eu nada disse ela continuou. - Ele disse que não quer ir a igreja porque pode ganhar tempo estudando, mas minha queria lhe garanto que amanhã eu mesmo o levo.

- Toninho não tem faltado às aulas. - Falei já sem paciência, com a dissimulação da mulher.

- Pois então? -Ela me olhou confusa, e quase fui levada acreditar em seu teatro.

- Miguel cortejou minha afilhada por um tempo. - A mulher me olhou mais confusa do que nunca.

- Meu Miguel?! - Ela parecia de fato não saber o que eu falava, mas óbvio que era mentira.

- Sei que Amélia não é a nora que você sonhou para seu filho,mas não acho que seja justo separar duas pessoas que se amam....

- Meu Miguel ama a Amélia? - Queria se mais delicada com a mulher mais não conseguir.

- Não se faça desentendida, sei que a senhora o proibiu de propor casamento a Amélia, mas saiba que a menina é muito mais do que ele merece e saiba que como minha afilhada nada faltaria aos dois. Então te pergunto o que teu filho tem a oferecer a qualquer moça além da beleza?

Ela me encarou por algum tempo, depois se levantou e falou com um criado,não demorou muito para o rapaz entrar na sala, obviamente ele se deu o trabalho de corar ao me ver.

- Miguel tem algo a me dizer? - O garoto me encarou com seus grandes olhos negros e então baixou o olhar.

- Eu só não sabia como dizer. - Ele estava vermelho e começou a soar, suas mão até então paradas começaram a se mexer, ele puxa o ar e então ele me encara.

- Eu juro que não tinha mais intenção, mas Amélia é uma menina tão doce, e eu era educado com ela. - Eu sabia onde ele queria chegar.

- Só educado?! - Eu estava prestes a dar uma surra naquele moleque com minha sombrinha.

- Minha mãe disse que eu devia ser amável com ela. - Ele encarou a mãe. - Você mandou não foi?

- Mas é claro, porém não sabia que estava a cortejar a moça. - A mulher estava claramente envergonhada.

- Não foi minha intenção, mas quando vi Amélia já estava esperando que eu a pedisse em casamento, eu não estou pronto para me casar.

- E porque ao invés de dizer a ela a verdade usou sua mãe? - Não era possível que Amélia tivesse o mesmo gosto que a mãe para covardes.

- Não queria magoá-la. - Ele fala claramente envergonhado, mas a questão é que ele não amava, e talvez seja melhor assim.

- E acha que ela não ficou magoada?- Queria dar uma surra naquele moleque.

- Como pode fazer algo assim com afilhada....

E antes ela disse mais alguma coisa e apenas me virei para o garoto.

- Ela merece alguém melhor do que você. - Os olhos dele baixaram, não ousou levantar o olhar quando disse.

-Eu sei. - Ele disse simplesmente e para mim aquilo foi mais do que o suficiente, ele não era homem para ela, não tinha caráter e nem princípios.

Mas para minha grande angústia seis meses depois estava Amélia no altar, ela sorria, mas para quem a conhecia sabia que aquele sorriso era muito inferior aos que ela estava acostumada a dar.

E logo depois da cerimônia fui procurá-la e a pobrezinha estava debruçada sobre o um sofá e chorava de soluçar.

- Minha querida. - E antes que eu continuasse ela se levantou e me abraçou.

- Queria muito estar feliz por Camille. - Ela disse limpando as lágrimas com um lenço.- Há madrinha como dói, eu ainda o amo e por mais que eu queira ficar feliz por minha amiga não consigo, sou uma pessoa terrível, sou o ser mais egoísta do mundo.

- Então não fique, não é como se ela merecesse, Deus me perdoe, mas ela bem que merece aquele traste, verá que não serão felizes.

- Não seja má madrinha.

-Ela podia ter recusado, já que sabia do seu sentimento por ele, ela poderia não aceitar o cortejo dele.

-E seríamos nós três infelizes ao invés de um.

E a menina tinha razão, com toda certeza é melhor um coração quebrado do que três, mas tinha que ser logo o coração mais frágil a ser estilhaçado?

            
            

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