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Jhuly
Saio da empresa e percebo que começou a chover. A manhã bela e ensolarada deu lugar a uma tarde escura e melancólica. São três da tarde agora. Procuro por minha sombrinha dentro da bolsa, enquanto ainda estou abrigada sob o imponente edifício da Eng Project. É um prédio alto e com uma arquitetura de encher os olhos, totalmente espelhado. As vezes duvido que consegui ingressar como estagiária aqui. A busca por algo que me proteja da chuva que cai sem parar é em vão. Decido colocar minha bolsa sobre a cabeça e correr pra casa.
Me convenço de que se eu correr vou molhar menos e não terminarei pegando um resfriado. Assim faço. Conheço bem o caminho e sei exatamente onde passar e pisar. Agradeço por morar aqui a mais de quatro anos. Não me preocupo em olhar para frente tanto quanto deveria. Me agarro à ideia de que a calçada está vazia graças à chuva. Ao virar a primeira esquina, quando percebo é tarde demais para evitar a batida.
Quero gritar com quem se meteu em meu caminho. Mas estou tomada pela vergonha. Primeiro, por ter atingido alguém. Segundo, por saber que era eu quem não estava atenta ao que estava pela frente. E agora mais ainda, por estar caida em uma poça de água.
Por um breve momento não consigo reagir. Penso em mil coisas para falar e fazer, mesmo que todas se resumam a pedir desculpas pelo ocorrido. Me sinto envergonhada demais para encarar a pessoa que eu praticamente atropelei, mesmo que eu tenha levado a pior. Sou trazida de volta à realidade pelos xingamentos proferidos pela pessoa que atingi, um homem, que logo se dirige a mim gritando.
_ Não está enxergando garota? Precisa que te compre um óculos? Vê se olha por onde anda.
_ Des.. desculpa e... - Tento me desculpar enquanto me levanto.
_ Olha onde está meu notebook agora. Graças a sua estupidez. Acha que pedir desculpas irá resolver alguma coisa?
Com tanta grosseria, nem me atrevo a olhar para seu rosto. Vejo o notebook caído em uma poça de água e o pego entregando ao homem imediatamente.
Sob seu guarda-chuva, ele solta uma risada de escárnio e que destila ódio. Olho para ele pela primeira vez. Seu olhar é maligno nesse momento, e transborda toda a raiva que ele está sentindo. O notebook é retirado da minha mão e lançado ao chão violentamente. E mais gritos que me fazem tremer, reverberam sob a chuva.
_ Acha mesmo que essa porra irá funcionar depois de cair na água? Está apenas me entregando como se nada tivesse acontecido?
Eu devia ter dito alguma coisa ao entregar o PC a ele. Devia ter oferecido pagar o concerto. Mas não sou capaz de pronunciar nem meu nome nesse momento. Sua aura dominante me intimida totalmente.
_ Eu sinto muito por isso. Eu...- quando finalmente consigo dizer alguma coisa, o celular do homem toca. Ele se afasta e já atendendo a chamada, avisa-me:
_ Ainda não terminamos.