Capítulo 3 Primeiro encontro - parte 2

O homem continua falando ao celular com uma expressão de irritação clara em seu rosto. Parece estar desmarcando uma reunião importante, e suas palavras carregam tensão enquanto ele tenta explicar o contratempo que acabou de lhe acontecer. Em meio a gritos ele ordena que a reunião seja cancelada. Enfatizando que a palavra final será a dele. Enquanto isso, Jhuly permanece sob a chuva. Está totalmente encharcada agora, sentindo a água escorrer por seu rosto e corpo.

Enquanto o homem fala ao telefone, seu olhar por vezes desvia para Jhuly. Por um momento, ela sente seus olhos fixos nela e tem a impressão de ver um olhar mais suave do que o de antes. Certamente ela estava enganada. Sua atitude falando ao celular é a mesma do homem rude que a confrontou momentos atrás. Ele encerra a ligação e volta a se aproximar dela.

"Que dia para tudo dar errado," ele resmunga, e respira fundo, passando a mão pelos cabelos. Ao se aproximar, dispara:

_ As coisas já estavam ruins e você se esforçou para estragar o resto do meu dia.

Jhuly tenta contornar, apesar da situação desconfortável.

_ Eu realmente lamento por ter lhe causado problemas.

Ele lança um olhar mais atento a ela, como se finalmente a visse de verdade. Seus olhos passeiam pelo rosto molhado, pelos cabelos úmidos e, involuntariamente, por seu corpo que o uniforme fino e encharcado deixava entrever. Uma sensação de desconforto percorre Jhuly, como se ele pudesse ver além das aparências.

_ Não importa, é tarde demais. O que foi feito não pode ser mudado. - Ele murmura, talvez para si mesmo, enquanto recolhe o notebook do chão e o inspeciona com uma expressão insatisfeita.

Jhuly tem a impressão que ele está tentando disfarçar algo, talvez uma reação inesperada à visão dela encharcada. No entanto, ela decide que não vai deixar que essa situação a derrube. Ela mantém a compostura e tenta se apresentar, mesmo que ele não tenha feito o mesmo ainda.

_ Eu sou Jhuly. - Ela diz, estendendo a mão na direção dele.

Ele olha para a mão dela, hesitando por um momento, mas então decide cumprimentá-la.

_ Arthur. Responde de forma seca, apertando a mão dela brevemente.

_ Olha, eu realmente sinto muito pelo seu notebook. Se quiser, posso ajudar a pagar pelo conserto. - Jhuly oferece, esperando que isso possa amenizar a situação.

Arthur olha para ela, e com certo desdém diz que não será necessário.

Ela encolhe os ombros, um pouco tímida.

_ Bem, foi minha culpa, afinal. E eu quero fazer o que puder para compensar o problema.

Ele franze o cenho.

_ Não tenho certeza de que seja possível consertá-lo. De qualquer forma será melhor não encontrar você novamente. Evitaremos que você me cause mais problemas. - Fala de forma grosseira novamente.

Jhuly apenas assente. A chuva começa a diminuir um pouco, e Jhuly quer ir logo para casa e se trocar.

_ De qualquer forma, tenho que ir. Já perdi tempo suficiente graças a você. - Reclama já saindo sem se despedir.

_ Claro, eu entendo. - Jhuly comenta com um sorriso tímido e se desculpa novamente.

Arthur se vira para ela novamente, como se estivesse prestes a dizer algo, mas então ele balança a cabeça e afasta os pensamentos.

_ Apenas olhe por onde anda da próxima vez.

Jhuly assente novamente, e os dois seguem por caminhos opostos. Ela assiste enquanto Arthur se afasta, virando a esquina.

À medida que Jhuly caminha de volta para casa, ela não consegue evitar sentir que essa série de eventos foi um tanto surreal.

Quando ela chega em casa, tira as roupas molhadas e toma um banho quente. E os acontecimentos do dia voltam a sua mente o tempo todo. Algo do tipo nunca havia lhe acontecido. Ela se sentiu humilhada e constrangida com a situação em que se colocou e ao mesmo tempo sabe que foi sua culpa. Sem contar o notebook danificado.

Porém o que mais a atormenta é lembrar de Arthur, um homem de quem ela quer distância, mas que ao mesmo tempo desperta sua curiosidade.

            
            

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