Com o tempo, fui ficando mais instável. A vida não é feita só de amor e eu sempre soube disso, fiz coisas que até Deus em sua infinita bondade duvida. Eu me envolvi cada vez mais fundo no crime, nas drogas, em assassinatos... E eu percebi que não queria ser apenas mais um, eu queria mais, queria tudo e tudo envolvia o morro todo. Eu tramei contra meu maior aliado e venci. Ele era muito louco e estava fazendo coisas bizarras, e eu não me arrependo de ter dado um belo tiro na cara dele.
Derramei muito sangue para chegar onde cheguei e não me arrependo. Hoje o morro do Caos é meu, eu sou o rei e dono dessa porra. Protejo minha comunidade com unhas e dentes, aqui eu faço as leis e gosto disso. Acredite, ser rei é bom, ter poder nas mãos é melhor ainda.
As pessoas do morro do Caos são sofridas. Metade tem antecedentes criminais por alguma coisa, a outra metade provavelmente vai ter algum dia considerando como as coisas tão feias aqui. As crianças crescem sem esperança e com ódio do governo, achando que o único herói possível sou eu e os caras que eu comando, e fora do morro eles chamam isso de valores invertidos. Considerando que os coxa sentem prazer em dar tiro em preto pobre, quem vira o vilão na cabeça dos meninos da favela? Não faz sentido considerar os cara da boca que dão botijão de gás pra mãe solteira como malvado, e o policial que deu um tiro na sua cabeça de bonzinho.
A gente tenta fazer o melhor que pode. Eu pago escola pra uma criançada daqui, porque as escolas do morro são pra vagabundo. Não dá. Criança que quer ter futuro tem que ser bolsista fora do morro, e eu faço questão de pagar. A gente dá coça em pai que deixa criança solta, dá tiro na mão de ladrão que rouba a comunidade pra tentar deixar as coisas mais pacíficas e mata os traidores pra mostrar que aqui o povo tem que ser unido em um só propósito. O povo sabe quem tá no comando porque eu cuido de todo mundo na mesma proporção que castigo. Ninguém aqui passa fome graças a mim.
Passei as duas mãos por meu rosto, cansado. Os últimos dias foram intensos considerando as traições e o que eu passei com minha mina, eu enchi o cu de droga e cachaça, fui em bailes pelo morro e comi mais mulheres do que comi em toda minha vida. E eu nem sou assim. Sou sério, fechado, na minha... Mas o desespero e o vazio fazem a gente fazer bosta.
Decidi dar uma volta fora do morro, abriu um restaurante bacana aqui perto, onde as meninas servem a gente de biquini.
Eu já estou na merda, mesmo. Quem sabe dar uma olhada em umas gostosas de fora me deixe mais animado com a vida né?
Cheguei lá todo bonito, no estilo. Eu sou alto, todo tatuado e gosto de usar anéis e correntes. Meu cabelo tá sempre bem arrumado, eu tenho um pouco mais de um e oitenta, malho bastante e gosto de estar sempre cheiroso e arrumado. Isso porque aparência é tudo nessa porra de morro.
– Oi, é... Esse é seu nome mesmo? Predador? – Disse, com um belo sorriso no rosto. Ela era a garçonete com o rosto mais lindo de todo o restaurante e por sorte, veio parar na minha mesa.
– Mais ou menos, mas pode me chamar assim. – Respondi.
– Você é bem bonito. Gostei das tatuagens. – Ela abriu um sorriso sacana. A parte foda é que eu não sei se ela está sendo sincera ou falando isso porque está sendo paga.
– Valeu. Você é bem gostosa. – Comentei.
– Posso te dar meu cartão? Eu tenho um site só meu onde posto foto de biquini... E algumas sem, se é que me entende. – Ela sorriu. Um belo sorriso.
Por que uma garota tão linda e agradável está se sujeitando a se vender assim?
- Pode, mas só se você sentar aqui na mesa comigo. Te pago o dobro do que tão te pagando pela noite. - Eu falei e sorri. Ela sorriu de volta.
- Meu chefe me mataria... - Ela girou os olhos. - Mas eu saio as duas da manhã. Acha que aguenta até lá? Vou ser sincera com você, bonitão... - Ela passou a mão em meu ombro, enquanto me olhava nos olhos. - Eu gostei de você. Não me ofereço assim para os clientes, mas você é irresistível.
- Ah, eu sou irresistível? E por que eu sou irresistível, qual vai ser seu preço? - Eu brinquei, a olhando de forma sacana.
- Quinhentos. Sem tocar na parte de trás e é claro, eu preciso de exames de DST recentes.
Caí na gargalhada.
- Que tipo de cara você acha que eu sou? Acha que eu pagaria por sexo? - Falei, rindo.
- Eu não sei, oras. Se eu fosse rico e não tivesse paciência de conquistar uma mulher por noite, com certeza contrataria uma gostosa como eu, sabe? - Ela disse e sorriu.
Incrível, gostei dela.
- Eu pago os quinhentos, mas não quero sexo. Quero sua companhia. - Falei. Ela concordou com a cabeça.
- Adorei. Você vai me dar um respiro ótimo. - Ela riu e saiu da minha mesa.
Quando acabou seu serviço, ela se trocou e apareceu na minha mesa.
- Me esperou mesmo. Gostei de você, homem de palavra. Quer ir no meu carro? - Ela perguntou e eu dei os ombros.
- Pode ser, mas seremos seguidos. - Avisei.
- Como assim?
- Eu sou levemente importante, então, ando com seguranças sempre.
– Isso é bem legal. – Afirmou.
Entramos em um carro simples, eu fui para o lado do passageiro. A garota colocou um motel no GPS e começou a dirigir.
- Eu disse que não quero transar com você. - Falei.
- Eu sei, mas esse motel tem uma hidromassagem fantástica e eu tive um dia péssimo. Um velho gordo apertou minha bunda seis vezes e me deu só vinte de gorjeta, foi ridículo. - Ela girou os olhos e riu. Eu ri também.
- Certo. Vamos para esse motel, então.
Ela é uma garota fantástica. Porra, o que eu encontrei aqui?
Entramos no motel e eu avisei meus caras pelo telefone que estava tudo bem, iria passar a noite com uma garota e que de manhã eles poderiam voltar. Aqui dentro eu estava seguro. Era um bom motel, entendi porque ela escolheu aqui.
Entramos e ela arrancou a roupa toda. Eu olhei aquela beldade nua, e fiquei meio chocado. Ela estava de costas para mim, indo em direção a hidro, e eu a via andar com um andar felino até lá. Ela virou apenas o rosto e olhou para mim.
- O que foi? Eu trabalho seminua, acha que tenho vergonha de alguma coisa? Por favor, Predador... Não precisamos disso. - Ela riu. - Vai querer dividir a banheira comigo?
- Hm, não. Vou me sentar... Aqui. - Eu peguei uma cadeira e me sentei perto da banheira. Ela jogou alguns sais na banheira e logo formou bastante espuma por causa da hidro.
– Me fala um pouco sobre você, Predador. Quem é você? Por que veio parar no restaurante onde trabalho e por que pagou uma puta pra conversar? – Questionou.
– Eu sou o chefe do tráfico de armas e drogas do morro do Caos. – Sorri de forma maliciosa. Ela ergueu as sobrancelhas.
– Acho que nunca estive com um homem tão importante. Quer dizer, já estive com um mafioso uma vez. Ele ficou falando umas bobagens sobre matar um cara e depois transamos. Ele tinha um negocinho minúsculo no meio das pernas.
Eu gargalhei.
- Que merda! - Falei.
- Acho que ele compensava o tamanho minúsculo do amiguinho com dinheiro, sei lá. Mas enfim... Continua falando sobre você.
– Ana, você é ótima... Então, eu comando esse morro que te falei... E eu estou aqui porque basicamente minha fiel me jogou no fundo do poço. Eu sou um merda sem coração? Sou. Mas eu amava a Aline. – Falei.
– Eu sinto muito, Predador. As pessoas são imprevisíveis e as duas Alines que conheci eram terríveis. – Falou e eu concordei.
– Estávamos juntos há anos. E eu tô muito puto, porque minha tristeza vai acabar manchando minha reputação. Eu preciso voltar ao normal e logo, cara, onde já se viu... Você tem razão sobre eu estar aqui, falando contigo, sei lá, isso já mostra que eu tô mal. Eu nunca contratei...
- Uma puta?
- É. Nunca. Mas eu prefiro te chamar de psicóloga no momento.
- Ah, eu adorei. Adoraria poder trabalhar dentro de uma banheira de hidromassagem ouvindo homens e não dando pra eles.
- Você seria ótima com isso, eu aposto. Quer um champagne? - Questionei e ela riu.
- Se você for pagar, eu quero. - Ela falou e eu sorri.
- Eu pago. Mas, como eu dizia... Eu preciso ficar bem... Ou aparentar isso... Eu não sei. – Eu respondi a ela. Meu cérebro começou a raciocinar coisas que até que faziam sentido. – Eu poderia contratar alguém pra botar ciúme na Aline. E pra mostrar pra todo mundo que eu tô de boa e superei aquela merda. Você acredita que ela foi embora porque eu matei um amigo de infância dela?
- Ah, jura? Que motivo pequeno para terminar um casamento. - Ela disse de forma irônica.
- Ele era traidor no morro, não matei ele por ser amigo dela, e sim por ser traidor.
- Amigo? Ai, Predador, você era corno. Desculpa. Ela te deixou porque você matou o amante dela, não o amigo. - Ana colocou as duas mãos na cabeça, fazendo um sinal de chifre.
- Claro que não! Ela não é doida! Mulher que trai perde o cabelo, e ela é vaidosa demais pra isso. Escuta, eu preciso de uma namorada falsa. Preciso mesmo, preciso aparecer com uma gostosona no morro, pra irritar a Aline e mostrar pra galera que segui em frente.
– Uma namorada falsa? – Eu concordei quando ela repetiu.
– Caralho. É isso. – Falei. – Você... Fica em pé aí, deixa eu ver teu corpo. – Ordenei e ela obedeceu, dando uma voltinha e se exibindo. Pensa numa mulher gostosa... Toda natural, pelo visto
– Gostou do que viu? Você tá me pagando, pode aproveitar... Psicóloga com benefícios especiais. – Perguntou.
– Não, eu tô de boa. Passei os últimos dias fodendo com umas amigas e enchendo o rabo de droga, acredite, eu tô bem satisfeito.
- Melhor pra mim. - Ela riu e deitou na banheira.
– Tenho uma proposta pra você. Eu vou te dar uma boa quantia se você fingir que é minha nova fiel. Eu não quero entrar em um relacionamento. A Aline vai ficar puta porque você é muito gostosa, vai voltar e... Porra, é genial. – Soltei uma risada comigo mesmo. - Nossa, isso seria muito bom. Você topa?
– Você vai quitar minha casa se eu fizer isso? – Perguntou. – Eu faço, mas você tem que quitar minha casa. E eu tenho meus termos.
–Tá, primeiro eu falo os meus termos. Eu quero fazer esse acordo com você de um mês, mas você não pode sair do morro sem mim, entendeu? – Concordou com a cabeça ao me ouvir. - Nada de namorados ou vir trabalhar aqui. Eu preciso que você fique integralmente comigo, e eu vou te exibir.
- Eu vou ser paga pra ser uma namorada troféu? Adorei, continue.
- Te dou acesso aos cartões de crédito e você pode comprar o que quiser no morro. Porém, eu quero saber seu endereço. Quero que me dê uma garantia de que você não vai aprontar.
- Afinal, eu sou uma puta, e faria qualquer coisa por dinheiro... Relaxa, cara, eu tenho família, tá? Eu faço isso pra sustentar minha mãe e meu filho.
- Sério? - Perguntei.
- Você achou que a gente era o quê? Alienígenas sem família? Moradoras de rua? Nah, por favor. Eu topo. Quero metade do dinheiro agora e metade no final. Fica bom pra todo mundo e eu te passo os endereços.
– Combinado.