Amor era algo inalcançável, pensava ele. Homens como Marcos Pícoli não tinha tempo para amor, ou felicidade. Quando não estava na empresa, estava nas intermináveis reuniões com aqueles que financiava o tráfico.
Os Pícoli não tinham uma preferência de comprador, quem desse mais, levava a mercadoria. Eles financiavam todo tipo de coisa, seja o crime ou o exército.
Naquele momento ele deveria estar prestando atenção no que seu irmão falava, mas não conseguia tirar a morena da cabeça.
- Você não está prestando atenção. - Seu irmão se irritou por estar falando sozinho. - Sabe o quanto odeio isso?
- Procure a morena de ontem, o seu nome é Dakota. - Ignorou totalmente o assunto.
- É uma piada? - O homem não gostou nada de estar fazendo o papel de assistente de um idiota apaixonado. Se ele falasse isso em voz alta, levaria um soco do irmão. - Não se preocupe, outra, tão bonita quanto, irá aparecer.
- Quero aquela mulher. - Ele viu, como um idiota. No auge dos seus trinta e nove, achou alguém que não o entediava, melhor, provocava. Não podia dizer que era a melhor pessoa que poderia encontrar, porém, ficou curioso para saber se ela tiraria seu corpo da realidade, assim como fez noite passada. - Ela é diferente. Não tem interesse algum, não... ela é teimosa, e quer ser tão superior quanto eu.
- Um joguinho novo? - Dante sentou-se na cadeira a sua frente, desistindo de convence-lo o ouvir. - Não sou seu mandachuva, irmão, meu trabalho é outro.
Marcos então voltou a realidade, encarou o irmão e só ali, Dante sabia que ele não estava brincando.
- Apenas faça o que estou mandando. - Mandou, sem muita paciência. - Sobre seu outro assunto, diga ao general que pode me mandar os arquivos. Vou ler quando tiver tempo.
- Sabe que o homem comanda a defesa nacional e não um posto de bairro, certo? - Dante odiava ter que dar broncas no irmão mais velho, contudo, as vezes era necessário, só que não funcionava muito. - Certo. - Disse ao se levantar.
Ela cheirava a perigo, mas ele estava louco para provar desse veneno.
Ela me deixava louco só com o olhar.
Ele ainda estava imaginando seus olhos negros o encarando sem medo, isso nunca aconteceu. O deixou excitado, porém, ele tinha que controlar o seu instinto pervertido. Não podia ficar pensando nela na hora do trabalho. Mesmo que aquela boceta tenha o enlouquecido.
Marcos estava tentando voltar a sua rotina quando ouviu seu telefone tocar. Era Anna, a garota tinha o poder de mudar o seu humor e dia. Não importava o quanto ele era temido, cruel ou frio, sua filha tirava o melhor dele.
- Amorzinho.
- Nada de amorzinho. - A voz autoritária e brava, do outro lado da linha, o fez sorrir. - Hoje é o meu aniversário e você nem me deu um beijo, de bom dia.
Se bem sabia, ela estava com aquele bico de chateada, que sempre o fazia dar a ela, tudo o que queria.
- Perdoe-me, estava atrasado e não quis acorda-la tão cedo. - Às vezes, Marcos parava para pensar e chegava conclusão de que não merecia ter alguém como Anna em sua vida. Ela era doce, delicada, engraçada, e não tinha maldade alguma em sua alma. Ele se achava sortudo por tê-la, e temia que algo levasse essa parte boa dele. Também se questionava como pode ele ter algo tão bom, sendo que era um homem desprezível. - Prometo chegar mais cedo, vou levar um presente e... podemos assistir um filme antes de dormir.
- Quero ir ao Joe. - Mandona. Anna tinha o espirito de liberdade, não temia o pai, na verdade, notava que quanto mais chateada ficasse, ou parecesse, ele lhe recompensaria. Então, às vezes, o manipulava. - Sorvete de aniversário.
- Tão tarde da noite? - Ele não achava que era uma boa ideia.
- Hoje pode, papai, é meu aniversário, e como não vou ter festa, no mínimo um sorvete é justo, afinal, não vou fazer dez anos próximo ano. - Manipuladora e esperta.
- Certo, mas só um. - Avisou.
- Veremos.