Capítulo 4 4. Julian

Sentado diante do mesmo balcão que conheci Luce, segurava meu copo de drink perto da boca, tentando não fazer uma restrospectiva sob o meu dia, mas sim sobre Emma.

Ao longo dos anos, Emma tinha permanecido no fundo da minha mente, mas nunca esquecida. Nossas memórias da infância eram como tesouros guardados em um baú precioso, que ocasionalmente abria para reviver momentos especiais que compartilhamos juntos. No entanto, nunca esperei que nossos caminhos se cruzassem novamente.

À medida que o tempo avançava, a vida seguiu seu curso, e novas amizades e experiências tomaram o lugar daquela amizade de infância. Embora os laços de amizade com outras pessoas tenham sido importantes e significativos, a conexão que eu tinha com Emma era única e especial.

As vezes me perguntava como ela estaria, o que estaria fazendo e se lembrava de mim também. Mas o pensamento de nos reencontrarmos parecia um daqueles romances que acontecem apenas nas páginas de um livro ou em filmes. A distância geográfica e os diferentes rumos que nossas vidas tomaram pareciam tornar o reencontro impossível.

Encontrar ela na fila do café literalmente não era algo que eu esperava, principalmente naquela manhã. Foi como se o universo tivesse conspirado para nos dar a chance de nos encontrarmos novamente. E ao vê-la ali, toda a nostalgia e alegria da infância retornaram, inundando meu coração de lembranças calorosas.

Me lembro de todas as promessas que fizemos um ao outro quando éramos crianças, especialmente aquela de deixar a nossa cidade juntos. Naquela época, imaginávamos aventuras e possibilidades além das nossas fronteiras conhecidas, sonhávamos com um mundo vasto e cheio de oportunidades.

Relembrar aquelas promessas fez com que meu coração se enchesse de uma angústia momentânea, por perceber o quanto éramos inocentes.

Embora não tivéssemos cumprido essa promessa exata, estar ao lado dela novamente era como realizar um desejo que nem sabia que tinha.

Enquanto segurava o copo, com a imagem de Emma de vinte anos atrás gravada em minha mente, tomo um gole do líquido de uma vez só, mal sentindo o ardor em minha garganta. A tequila quente desceu, mas meus pensamentos estavam mergulhados na nostalgia do passado.

Aquele único gole parecia ter o poder de trazer à tona todas as lembranças da nossa infância compartilhada. Podia ver Emma sorrindo, como se o tempo não tivesse passado. As brincadeiras, os segredos compartilhados e as aventuras que vivemos juntos vieram à tona, como um filme se desenrolando em minha mente.

Só então percebo o quanto aquela imagem de Emma de vinte anos atrás ainda tinha um lugar especial em meu coração.

- Esperando a mulher da outra noite? - Joe, o barman, que já conhecia um bom tempo e que havia assumido o lugar após a morte do pai, pergunta.

Naquela cidade, era comum assumir o lugar do pai após a morte.

Pisco algumas vezes, empurrando o copo na direção dele, para que me servisse outra dose.

- Não acho que vou ver ela de novo - digo sincero.

- Eu acho que vai - diz ele sem hesitar, colocando em minha frente uma pulseira dourada com o nome Aiden gravado em seu interior.

- Pode ser de qualquer pessoa - Encaro a pulseira, tentando me lembrar dela no corpo de Luce, mas nem mesmo seu rosto lembrava com clareza, apenas um borrão persistia.

- A única pessoa que estava sentada aí, era ela, ninguém mais sentou aí depois que vocês saíram - Ele serve outra dose.

Dou de ombros.

- Mesmo que seja dela, não tenho como devolver. Não sei nada dela - E não era nada incomum isso, era só sexo após um funking dia, para aliviar toda a tensão que havia pelo meu corpo.

Joe se apoia sobre o balcão.

- Ela pediu um Uber com o seu celular - diz com um pequeno sorriso - Por achar que estava bêbado demais para dirigir - Isto explicava o por quê não encontrei meu carro no estacionamento do hotel.

- Já dirigi mais bêbado do que estava ontem - ressalto.

- Mas ela não queria sofrer um acidente com você, Sr. Imprudente - Ele se afasta para atender outro cliente.

Eu não usava Uber e se não usava, ela teve que usar algum cadastro para isto e para isto usou um número de celular. Depois de praticamente fuçar o aplicativo, encontrei a sequência de número, uma sequência até fácil de memorizar, mas que não fui capaz de deduzir.

Hesito por um momento, antes de ligar naquele número.

Chama algumas vezes, esperançoso permaneço na linha, até que ninguém atende. Soltando o ar dos pulmões, jogo o celular sob o balcão, tomando a outra dose de tequila, antes de mergulhar nos meus próprios pensamentos.

De repente, meu celular toca sob o balcão e meu olhar se fixa de imediato no visor, vendo ali o número que havia acabado de ligar.

- Alô? - Uma voz feminina, um pouco rouca, soa do outro lado.

- Luce? - digo indeciso.

Breve silêncio.

- Quem é? - diz séria.

- Julian? - Tento fazer ela se lembrar de mim, apenas com a minha voz.

Mais uma pausa.

- Ah. Julian - Ela limpa a garganta - Dei meu número ontem para você? - pergunta indecisa.

- Não, mas deixou no aplicativo e... - Seguro a pulseira entre os dedos, olhando para o nome Aiden na pulseira - uma pulseira aqui no bar - Ouço ela se mover, como se de fato estivesse procurando a pulseira.

- É - diz soltando o ar dos pulmões - Acho que esqueci realmente em algum lugar - Posso a imaginar sorrindo de nervoso, mas sem ver seu rosto com clareza, pois ainda não lembrava nitidamente do seu rosto, apenas da cor de seu cabelo curto. Preto.

- Tem o nome Aiden escrito dentro - ressalto.

- É. É minha mesmo - diz rapidamente.

Abaixo a cabeça, sorrindo lentamente ao lembrar daquela voz gemendo.

- Estou aqui naquele bar. Caso queira buscar sua pulseira - sugiro. Luce fica em silêncio por alguns instantes, o que me faz ver se ainda estava na linha - Luce? - chamo.

- Certo. Eu irei - diz por fim, antes de desligar.

Ergo o olhar, vendo Joe sorrir para mim, enquanto secava os copos.

- Parece que alguém vai se dar bem hoje de novo - diz tentando conter o sorriso.

- É você que está dizendo - Volto a olhar para a pulseira dourada.