Ela fez o pedido ao garçom e esperou pacientemente, nada poderia tirar sua paz, aproveitou o tempo para beber um dos vinhos mais caros do cardápio, enquanto observava atentamente o local, não estava tão cheio quanto ela esperava, o que fora um alívio.
- Bem, a persistência parece ser minha amiga. – escutou uma voz masculina atrás de si.
Não precisou se virar para saber de quem se tratava, ela apenas respirou fundo e se preparou mentalmente para não o xingar, quando estivesse de frente.
- Laura, Laura... – Ethan se sentou na cadeira vazia mais próxima a ela. – Tenho certeza que estava me esperando.
Balançando a cabeça, ela soltou uma risada anasalada.
- Além de inconveniente, é convencido também.
- Eu disse que nos veríamos de novo. – sorriu.
- Saiu por aí me procurando, apenas para ter certeza?
- Lógico que não. – serviu-se do vinho. – Coincidentemente, deve ser o destino me presenteando, vi a bela Laura em seu terninho, vagando pela Bennet´s ontem, quando fui a uma reunião de negócios.
Ela apenas arqueou as sobrancelhas.
- Quem a vê, toda arrumada e de nariz empinado, nem imagina a maluca que você é.
- Eu sou maluca? – cruzou os braços – Você é o babaca riquinho que saiu esbanjando o dinheiro da sua família, apenas porque você pode...
- Isso não é ser maluco, é saber viver!
- Olha, eu estou aproveitando o início do meu fim de semana, será que pode me dar licença?
Ethan coçou o queixo, como se estivesse pensando no assunto.
- Mas é claro... – tomou um gole do vinho – Que não!
Laura revirou os olhos.
- Como é possível odiar alguém que você acabou de conhecer...
- Não sei, ao contrário de você, eu não sou mal-humorado.
- Vai se ferrar, Ethan!
Ethan ia dizer algo a ela, porém foi interrompido por uma jovem loira, de grandes olhos verdes, tão bonita a ponto de fazer Laura se sentir desconfortável com a presença dela.
- Ethan! – ela chamou, fazendo beicinho – Você veio comigo, lembra?
A garota encarou Laura de cima a baixo, seu olhar de alguém que a "desaprovava".
- Sendo sincero, eu só te trouxe porque achei que não encontraria a Laura, de novo. – deu de ombros. – Além do mais, você fala demais, tem essa vozinha meio infantil e irritante, eu nunca ia ficar excitado com isso.
Ethan! – ela soltou um gritinho.
- Apenas volte para sua casa ou encontre outro acompanhante. – ele respondeu de forma banal.
Piscando duas vezes, Laura permaneceu incrédula diante da situação, o cara realmente era um verdadeiro babaca.
- Isso não vai ficar assim! – ela saiu emburrada.
Os olhares das mesas ao redor acompanharam a garota, logo após retornaram a mesa de Laura, deixando-a constrangida.
- Ethan, você está estragando minha noite.
- Laura, vamos aproveitar a noite. – tomou um grande gole de vinho – Até o final da noite, vai estar vendo estrelas.
- Veremos.
********
O restante do jantar passou de forma rápida, Laura comeu calmamente, ignorando qualquer investida de Ethan, enquanto ele dava o máximo de si para chamar a atenção dela.
- Para de me seguir, Ethan! – ela resmungou, enquanto caminhava pela calçada movimentada.
- Eu te levo em casa, ou podemos ir a outro lugar. – se colocou ao lado dela – Sei que você não está de carro, então vou te seguir e insistir até ceder.
- Me diz uma coisa. – ela parou e o encarou – Você é sempre insistente assim, quando quer transar?
Ele coçou o queixo.
- Não, apenas quando eu sou rejeitado...
- É questão de ego?
- Laura, eu posso ter qualquer supermodelo que eu desejar, mas uma funcionária mal paga, que se acha super certinha e melhor do que todos, me rejeita e você quer que eu deixe isso para lá? – colocou as mãos no bolso – Acho que não...
- E como, transar comigo, vai resolver o problema?
- Vou provar que você é só mais uma entre muitas, um pouco de atenção e luxúria são suficientes.
Antes que ele pudesse terminar a frase, Laura lhe deu um tapa no rosto, o qual estalou tão alto, que os transeuntes ao redor se viraram na direção deles, para saber o que estava acontecendo.
- Você é um idiota completo, eu até estava achando divertido essa sua insistência, mas quer saber? – respirou fundo – Eu devia ter dado um basta logo no início.
Laura se virou e começou a caminhar mais alto, havia uma parada de ônibus algumas quadras a frente, ela se dirigiu para lá.
- Espera! – Ethan a alcançou – Escuta, uma noite e não vai precisar me ver nunca mais.
- O problema não é ser uma noite apenas de sexo e sim o que você disse. – resmungou impaciente – Para você tudo tem a ver com status, esbanjar dinheiro e se sentir o maior pegador do mundo, mas deixa eu te contar uma coisa, a vida adulta não é assim...
- A sua pode não ser, porém, eu sou assim e não vou mudar da noite para o dia.
Ela parou e o encarou sem saber como reagir, Ethan ficou parado esperando que ela dissesse algo, no entanto, Laura apenas se virou, apertando ainda mais o passo.
O lugar onde estavam já não era mais tão movimentado, apenas alguns carros passando e a iluminação parcial, o ponto de ônibus estava a pouco mais de dois metros.
- Laura.
Ethan segurou o seu braço, fazendo com que ela se virasse de frente para ele, o qual lhe deu um longo e lento beijo, no primeiro instante ela apenas permitiu, porém, logo em seguida tentou se desvencilhar, sem muito sucesso, o que a fez apelar para uma mordida.
- Ai, sua maluca! – ele berrou.
- Maluca? Eu? – o empurrou – Você que me agarrou!
- Quer saber, eu desisto, faz o que você quiser...
Antes que ela pudesse xingá-lo de todos os palavrões que conheciam, ele saiu caminhando na direção oposta, sem olhar para trás.
Laura continuou seu caminho até a parada de ônibus, era um dos locais mais escuros da rua, ficou um pouco incomodada, por estar sozinha, porém, ela precisava ir para casa, olhou a tela do celular, nem mesmo sabia qual era o horário do próximo ônibus.
Tentou pedir um carro por aplicativo, mas todos cancelavam a corrida, o que a deixava mais irritada e frustrada a cada minuto.
Esperou por cerca de dez minutos até cansar, na esquina ela avistou um grupo que se aproximava lentamente, as vozes com certeza eram masculinas, a loja mais próxima ficava na outra esquina, do outro lado da rua, ela calculou mentalmente se conseguia chegar lá antes de eles a alcançarem.
O coração dela estava disparado, nem lembrava a última vez que se sentiu em perigo assim, a ansiedade atacando, a respiração entrecortada, eram sensações que ela desejou nunca mais poder reviver.
Colocou o pé na rua e quando ia atravessar, um carro freou quase em cima dela, a fazendo cai sentada na calçada.
- Mas que filho da...
- Você está bem?
O motorista era Ethan, o qual estendeu a mão para ela.
- Vem, melhor sairmos daqui logo. – ele encarou algo atrás dela.
- Você quase me matou... – disse entre sussurros.
Ethan a ajudou a levantar e a guiou ao banco do passageiro, em seguida entrou pelo lado do motorista e trancou as portas, o grupo passou por eles muito lentamente, encarando o carro fixamente.
- Foi mal, por mais cedo. – ele se recostou no banco, a encarando – Você está bem, ou não?
- Estou viva... – suspirou – Eu acho que quero só ir para casa agora...
Da janela do carro ela conseguiu ver uma silhueta na esquina, por um segundo achou que fosse Eduardo, mas não pode identificar com certeza.