- Qual é? É um encontro inofensivo.
- Encontro? – suspirou – Não quero um encontro, muito menos com você.
- Laura, você precisa relaxar um pouco...
Ela respirou fundo, antes de prosseguir.
- Só para deixar claro, não vamos sair, você é um dos donos da empresa rival, o que coloca o meu emprego em risco. – comentou com a expressão séria – Não sei se você compreende o quanto isso tudo é importante para mim.
- Ser "dono" é uma palavra forte, porém, meu pai deixou metade da herança para mim, é verdade. – coçou o queixo – Caso ajude na sua decisão, podemos deixar tudo em segredo, não tenho objeções quanto a isto, mas sei que não irá resistir a mim por muito tempo.
- Sério mesmo?
- Vai dizer que não se sentiu atraída por mim na outra noite?
Ela deu de ombros, tentando parecer indiferente, mesmo que a resposta fosse sim, ela sentiu uma atração, por mais leve que fosse.
- Não vai rolar, me dediquei muito a minha carreira para perder tudo agora.
- Tudo bem, eu entendo o seu ponto de vista. – respirou fundo – Sempre há a opção de deixar a carreira de lado por um tempo e se divertir um pouco.
- Olha bem para a minha cara e veja se sou o tipo de mulher que aceita depender de homem. – resmungou – Já está enchendo minha paciência, é melhor sair daqui antes que eu acerte bem nos países baixos.
Ele apenas sorriu e encarou a janela atrás dela.
- Desculpe, estou acostumado com outro tipo de mulher, porém, é sempre bom mudar de hábitos. – levantou-se – Que horas posso passar no seu apartamento?
- Olha, isso tudo foi muito divertido até agora, mas está na hora de dar um fim nesse "relacionamento" esquisito.
O sorriso de Ethan aumentou rapidamente, a conversa não estava tomando o rumo que ele queria e isso não lhe pareceu de todo mal, era sempre assim com ela, nunca sabia o que esperar.
- Posso propor um acordo? – perguntou.
- Você é surdo? – resmungou.
Ethan suspirou tentando encontrar uma saída para a situação.
- Tenho alguns assuntos a tratar agora, mas podemos almoçar mais tarde. – explicou –Continuarei aqui na empresa, qual o seu horário de almoço?
- Simplesmente já deu para mim, acredito que o seu ego tapou seus ouvidos. - protestou.
- Não vai ser difícil descobrir. – ele apenas lhe dirigiu uma piscadela e saiu sem esperar que ela respondesse algo.
- Ethan! – ela quase gritou, porém, conteve-se.
Laura sentou-se novamente e passou a encarar a porta pela qual o rapaz acabara de passar, confiante de que iriam almoçar juntos... realmente ela queria recusar?
Foi impossível não rir, Ethan era um idiota acima de tudo, mas ela poderia usar aquele almoço como uma chance de tirar vantagem sobre o processo judicial pelo qual as duas empresas estavam passando, talvez a situação nem fosse de todo mal.
Podia ser o dia em que teriam um almoço agradável, sem perturbações ou intrigas.
A manhã passou tão rápido que ela quase esquecera do almoço com Ethan, se ele não estivesse parado no estacionamento, ao lado do seu carro, ela teria ido para casa tomar um banho e depois pensaria no que comer.
Enquanto caminhava em direção a ele e seu sorriso presunçoso, fez algumas anotações mentais, com perguntas úteis para o problema que estava enfrentando.
- Achou que ia escapar de mim? – ele questionou.
- Na verdade, sim...
- Você pode me fazer perguntas de negócios ou o que quiser, desde que aceite sair comigo, dessa vez num encontro de verdade. – ele sorriu.
Laura o encarou por alguns segundos, fingindo estar pensando na proposta.
- Tudo bem...
Ethan a guiou até o seu carro.
- Melhor irmos no meu carro.
Calmamente ela o acompanhou, aquela sensação de que estava fazendo algo errado lhe tomou, fazendo seu corpo gelar, pelo canto do olho pensou ter visto alguém os observando, porém, quando virou o rosto, não viu ninguém por perto, apenas eles dois no estacionamento já um pouco vazio.
Ele parou ao lado do carro e abriu a porta ajudando-a a entrar.
- Que fique claro, aceitei almoçar com você apenas para tratarmos de alguns assuntos importantes. – comentou colocando o cinto de segurança.
Dando a volta, Ethan se sentou no banco do motorista.
- Bom, nesse caso acabará se decepcionando. – respondeu – Quem cuida dos assuntos da empresa é o meu irmão mais velho, Ezra.
- E o que você faz na empresa? – virou-se para ele – Não me diga que sua vida se resume a gastar dinheiro com mulheres.
Ele franziu o cenho.
- Meu irmão disse a mesma coisa mais cedo – gargalhou levemente – Ezra é quem comanda tudo desde que o nosso pai morreu, eu apenas sirvo para assinar alguns papéis quando necessário.
- Você me enrolou. - resmungou retirando o cinto - Com esse terninho arrumado, os sapatos caros, cabelo alinhado... eu realmente pensei que você seria útil para alguma coisa.
Ela devia ter imaginado que Ethan não era do tipo que gostava do trabalho duro, sempre deixou claro preferir se divertir e manter seu ego nas alturas.
- Se continuar assim vai acabar me ofendendo. –Ethan a puxou pelo braço, impedindo que abrisse a porta – Eu sei de algumas coisas que podem te interessar, mas vai precisar almoçar comigo para descobrir.
Ela arqueou as sobrancelhas.
- Eu tenho cara de trouxa?
- Preciso responder?
- Vai se ferrar, Ethan! – bufou, tentou se soltar.
Ethan apertou um pouco mais o braço dela, impedindo-a de sair.
- Me dá só mais uma chance...
- Eu não quero perder meu emprego, estou perto de ser promovida, uma demissão atrasaria minha carreira, e muito! – se desvencilhou do aperto dele – Além disso, eu prefiro homens que gostem de trabalhar tanto quanto eu, e ainda são aptos a ter responsabilidades.
- Laura, eu só quero almoçar com você, nada demais. – disse a encarando – Não é como se fôssemos casar ou assumir um relacionamento público assim do nada, apenas um almoço.
- Sabe quantos homens me disseram isso ao longo da minha vida?
- Olha, você precisa relaxar um pouco, está muito tensa.
- Que se dane!
- E se eu prometer te ajudar com seja lá o que você quer e ainda me esforçar mais dentro da empresa, eu posso até fingir que acordo cedo para ir trabalhar e essas coisas de gente adulta.
- Quantos anos você tem? Dez?
Ethan tombou a cabeça levemente para o lado.
- Vai almoçar comigo ou não?
- Se prometer que vai mesmo me ajudar, eu aceito.
- Ora, nem foi tão difícil.
- Um almoço apenas, nada de gracinha, e qualquer assunto desagradável vai me dar o direito de agredi-lo de novo.
- Você tem sérios problemas de raiva, não me admira estar solteira. – comentou rindo.
Infelizmente acabou se arrependendo diante do olhar furioso que recebeu, engoliu em seco, não sabia o que dizer para amenizar a situação constrangedora em que estava, no mínimo receberia um chute nos países baixos... de novo...