- É sério, Laura, às vezes eu esqueço que existem pessoas diferentes no mundo, com gostos e princípios contrários aos meus. – suspirou.
- Isso vai te fazer mudar, por acaso?
- Com certeza não! – sorriu – Mas quero ter certeza de que estamos bem.
Ela arqueou as sobrancelhas, um pouco confusa.
- Por quê?
O silêncio entre eles perdurou por alguns longos segundos.
- Não sei responder...
Virando-se, Laura abriu a porta, entre risos leves.
- Você é estranho, sabia? – piscou para ele antes de sair do carro – Boa noite, Ethan!
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O domingo de Laura passou rápido, terminou o serviço de urgência que seu chefe pediu e logo após, passou o resto do dia assistindo séries e comendo porcaria.
A verdade é que ela não soube como reagir ao seu sábado a noite, mesmo que negasse veemente esse repreendesse mentalmente, sentia algo novo dentro de si, Ethan mexia com ela de uma certa forma, apesar de todos os pontos negativos que possui.
No dia seguinte, Laura estava de frente para o seu chefe, ele analisava novamente o contrato do projeto o qual deveria ser entregue a um possível parceiro da empresa no mercado de publicidade e advocacia.
- A correção ficou ótima, a Srta. Braga, meus parabéns. – a elogiou.
- Obrigada, Sr. Bennett. – agradeceu, tentando não parecer tensa.
- Eu preciso que você fale com o advogado da McCoy's Stars, e tente marcar uma reunião para entrar em um acordo. – ele informou a encarando por fim – Esse acordo é de suma importância para nós.
Entregou-lhe uma pasta preta com os documentos do processo judiciário ao qual estava sofrendo devido à empresa rival, ela leu a primeira página rapidamente e um nome em específico lhe chamou a atenção, o que fez seu corpo gelar por um segundo.
- Sim, Sr. Bennett, farei isso imediatamente. – respondeu, engolindo em seco.
- Ótimo, está dispensada! – disse com um aceno de mãos – Assim que estiver tudo pronto, me avise imediatamente, não preciso repetir o quanto isso é importante, não é?
Balançando a cabeça, ela apenas levantou e saiu rumo a sua sala.
- Laura, Laura, ainda está tentando?
Eduardo estava parado, encostado à parede do corredor com um sorriso cínico.
Instantaneamente ela se lembrou da noite de sábado, quando achou tê-lo visto a encarando da esquina, o que lhe deixou curiosa e intrigada.
- Alguém precisa, não é? – respondeu – Mas imagino que você tenha chegado mais cedo e entregado a sua parte.
- Isso mesmo...
Ela o observou ainda incomodada, queria perguntar.
- Se eu fosse você, desistiria enquanto ainda é tempo. – comentou se aproximando.
- Por que você não vai se ferrar e me deixa em paz?
- Prefiro ver você se ferrando primeiro. - gargalhou levemente.
- Que grande idiota você é... – revirou os olhos.
- E como foi seu final de semana?
Essa era a brecha que ela precisava.
- Olha, que engraçado, eu ia te perguntar a mesma coisa.
- Sério?
- Sim, eu achei que talvez tenhamos nos visto perto do restaurante onde fizemos a confraternização da empresa. – cruzou os braços – Eu estava em uma situação bem complicada, por sorte alguém veio me ajudar.
-Foi sorte mesmo?
- Como assim? Você estava lá?
- Não, só perguntei mesmo...
Por mais que quisesse acreditar, tinha quase certeza agora de que era ele, só não podia provar, o mais importante era saber se a estava seguindo.
- E onde estava?
- Não é da sua conta. – sorriu – Eu não falo sobre minha vida pessoal com gentinha.
Cada palavra dele a deixava muito irritada, tinha vontade de agredi-lo ali mesmo, entretanto, pensava em sua carreira e o Sr. Bennett a demitiria imediatamente, sem esperar a menor explicação.
- Idiota, não sei por que ainda te dou ouvidos.
Resolveu passar no banheiro primeiro, antes de retornar a sua mesa de trabalho, jogou um pouco de água no rosto, tentando acalmar os ânimos, poderia fazer alguma besteira.
- Laura! - um dos seus colegas estava parado na porta.
- Sim?
- Há um rapaz na sala de reunião, precisa falar contigo urgente. – ele disse rapidamente – Ah, Mariana passou aqui agora há pouco, ela vai dar um saidinha, mas daqui uma hora estará de volta e precisa que você vá a sala dela.
De sobrancelhas arqueadas, Laura agradeceu a ele e seguiu em direção a sala de reuniões, não sabia do que se tratava, mas esperava que não fosse algo muito ruim, aquele momento era péssimo para receber um cliente insatisfeito.
De costas para ela, observando pela enorme janela de vidro, encontrava-se um rapaz, num terno cinza justo, muito bem alinhado, e sapatos pretos lustrosos aparentemente muito caros, pela postura deveria ser alguém importante.
Tinha cabelos pretos e pele bronzeada e ela rapidamente o reconheceu, de maneira alguma esqueceria aquele ar cínico e sexy ao mesmo tempo, o mauricinho mimado que a perseguiu pela última semana, apenas para satisfazer seu ego frágil.
- Bom dia! - disse após terminar a observação.
O rapaz se virou, revelando o rosto conhecido.
- Quem é vivo, sempre aparece....
Sentiu a boca seca, não era do tipo que ficava interessada em um homem logo após conhecê-lo, mas tinha que admitir o quanto Ethan sabia lhe tirar do sério, de uma forma ruim em certos casos, porém, estranhamente atraente.
- Bom dia, Srta. Braga. - respondeu em um tom calmo e suave - Não sabia a que horas chegava, mas minha ansiedade falou mais alto.
- Pensei que ia desistir depois da noite de sábado. – sorriu – Andei pesquisando sobre você.
- Que lisonjeiro. – ele colocou as mãos no bolso – E ficou impressionada? Ou apenas revirou os olhos?
- Impressionada não, surpresa é a palavra certa. – o encarou – Estou começando a suspeitar desse seu interesse repentino em mim...
- É por eu ser de uma empresa rival?
- Obviamente.
- Isso não interfere em nada.
Laura cruzou os braços.
Ela queria saber até onde essa história chegaria, no entanto, saber que Ethan era um dos donos da empresa rival anula qualquer possível chance de envolvimento entre eles, já que Laura poderia muito bem perder o emprego, se é que havia alguma chance.
Ethan diminuiu o espaço entre eles parando defronte a ela, um sorriso suave pairava em seus lábios, os olhos dele brilhavam e tudo o que Laura conseguia fazer era observar os lábios que infelizmente pareciam convidativos.
Engoliu em seco.
Desde quando tinha pensamentos libertinos, ainda mais com o cara que mais lhe trouxe problemas e dor de cabeça?
- Sente-se, por favor, Sr. Ethan McCoy. - ela pediu com certo deboche e ele o fez.
Laura dirigiu-se a cadeira de frente para ele, não sabia bem como reagir, ter um contato tão pessoal com alguém de grande liderança na empresa rival, poderia significar o fim da sua promoção, devido a desconfianças por meio do Sr. Bennet.
- Sabe, há dois dias você era mais, como posso dizer... – Ethan coçou o queixo – Cheia de energia e um pouco de raiva também...
Ela soltou uma leve risada, a situação poderia realmente ser engraçada, se não fosse por toda a tensão que sentia.