Já faziam uns dias que essa luta perdurava, Laura terá a grande chance de conseguir uma promoção e finalmente o salário que tanto almeja, nada mais de trabalhos extras ou dividir a sala com mais onze pessoas.
- Quase acabando? - Andréia se inclinou levemente para o lado.
Uma das poucas colegas de trabalho com quem Laura conversava, Andréia já estava na empresa muito antes dela chegar, apesar de ser bem mais velha que a maioria dos funcionários, sua competência no trabalho era inquestionável, mas sempre a apoiou em sua luta por uma promoção, mesmo diante dos avisos.
Era um fato, poucas mulheres conseguiram um cargo de destaque na Bennet's, umas por serem de família ica e outras por oferecerem alguns "serviços" fora de expediente.
- Só preciso revisar amanhã cedo, assim que chegar. - sorriu, com o olhar cansado.
- Está trabalhando demais ultimamente, espero mesmo que consiga essa promoção.
- Não tenho dúvidas, meu maior rival é Eduardo, mas convenhamos, ele não é muito... esforçado, para não dizer coisa pior. - soltou uma gargalhada de leve.
- Laura, Laura, eu já te avisei como as coisas funcionam aqui, menina...
- Relaxa, Andréia.
O relógio de pulso de Laura apitou, informando o fim do expediente.
- Bem, preciso ir ou vou acabar desmaiando de fome. - fez uma careta - Quer jantar fora hoje?
- Tentador... - Andréia a encarou de lado - Mas minha mãe está mal de novo, agora que somos só nós duas eu não posso nem pensar em ficar fora até mais tarde.
- Sinto muito pelo seu marido...
- Já faz mais de seis meses e ainda estou tendo dificuldade para aceitar.
- Eu entendo como se sente, não esquecemos a dor da perda, apenas aprendemos a conviver com ela. - Laura se voltou para a tela - Melhor nos apressarmos então.
Enquanto desligava o computador, ela aproveitou para olhar suas redes sociais para ver se não tinham mensagens não lidas.
- Abriu um novo restaurante aqui perto, caro e chique, do jeito que você gosta. - Andreia brincou.
- Sério? Onde?
- Duas ruas abaixo, perto daquela academia que nos matriculamos e nunca fomos.
As duas se entreolharam antes de rir, não era a primeira vez que faziam algo do tipo, sempre colocavam na cabeça que seria diferente, mas nunca se dedicavam a nenhum tipo de exercício.
Quando se levantou, a porta da sala se abriu revelando seu chefe, Marcos Bennet, o qual parecia nada feliz.
- Laura, preciso que analise uns documentos para mim e me entregue uma resposta até amanhã de manhã. - disse sem rodeios - Já dei algumas tarefas a Eduardo também, estou certo que um de vocês será promovido na próxima semana.
Ela apenas o encarou, não sabia com qual expressão, mas estava furiosa por dentro, resultado de semanas de alimentação ruim.
- Não tem problema fazer isso em casa, mas preciso que me dê a resposta amanhã, enviei para o seu e-mail. - voltou-se a porta - E como anda seu projeto? Quase pronto, eu espero...
Laura balançou a cabeça mecanicamente.
- Quase tudo resolvido.
- Ótimo, até amanhã.
Andréia pousou a mão sobre o ombro dela.
- Parece que você vai ter que pedir pizza de novo.
- Nem pensar, eu vou ao restaurante novo, comer calmamente o quanto eu quiser, gastando o quanto eu quiser. - bufou - Ele sempre diz que quer para o outro dia bem cedo, mas nunca chega na empresa antes das 10 horas da manhã.
- Cuidado, um dia desses vai acabar caindo numa armadilha.
- Relaxa, Andréia, eu vou para cama mais cedo hoje e levanto mais cedo amanhã também. - lhe deu um rápido abraço - Amanhã te conto como foi meu jantar.
Eduardo trabalhava em outro setor da empresa, enquanto Laura fazia parte do setor financeiro, ele fazia parte da equipe de administração, mas a vaga a qual estavam disputando era a liderança do setor comercial, marketing, o que resultou em trabalhos extras para ambos, visando ter ciência se eles estão aptos para lidar com os clientes e possíveis investidores.
O fato é que eles não se dão muito bem e isso resulta em uma rivalidade extremamente hostil, ambos recebem muitos elogios de seus superiores sendo indicados a vaga pelo comprometimento em suas tarefas.
No elevador, ela encarou o teto por alguns instantes, tentando não ficar tonta, o fato de ele estar cheio e abafado não ajudava muito, despercebidamente ela apertava a alça de sua bolsa, como um apoio.
Olhou mais uma vez seu relógio, desejava do fundo da alma que o restaurante não estivesse cheio ou que precisasse fazer reserva, senão ela surtaria totalmente pelo tempo perdido.
Quando a porta se abriu, a primeira pessoa que ela viu foi Eduardo, o qual se encontrava com um sorriso debochado nos lábios e a arrogância de sempre.
- Laura, quanto tempo...
- Não tenho tempo para você agora! - revirou os olhos e continuou andando.
Rapidamente ele a puxou pelo braço, deixando todos passarem, os quais os encararam com certa desconfiança.
- Queria te chamar para jantar, abriu um restaurante novo aqui perto.
Ela o encarou desconfiada.
- Por mais que eu queira saber o que você quer aprontar dessa vez, minha resposta é não!
- Qual é, somos apenas dois colegas de trabalho saindo para jantar, como amigos. - sorriu de lado - Eu andei pensando e independente do resultado, eu quero que façamos as pazes, sabe, chega dessas briguinhas bobas.
- Briguinhas bobas que você provoca.
- Não vamos acusar ninguém, de quem é a culpa não importa. - deu de ombros.
- Eduardo, chega! - o empurrou - Eu preciso ir para casa.
- Pelo menos eu tentei, sua ingrata.
Laura parou no mesmo instante e se virou.
- Vai se ferrar, Eduardo, eu não estou com paciência hoje.
- Vai se arrepender de recusar uma gentileza minha, você nem é tudo isso...
- Sou mais areia do que a sua caçamba de brinquedo pode aguentar, isso eu garanto.
Sem esperar por uma resposta, ela se voltou para a porta e caminhou firmemente, teve a leve impressão de ouvi-lo xingá-la, mas deixou para lá, estava mais preocupada em comer algo do que se preocupar com as criancices de Eduardo.
Mal saiu do prédio e seus ouvidos foram atacados pelo intenso barulho de carros, buzinas e vozes, detestava sair naquele horário devido ao caos que encontrava todo santo dia, porém nem isso iria fazê-la desistir do seu jantar.
Se dirigiu ao estacionamento, o qual era ao ar livre por algum motivo que ela nunca soube explicar, e ligou o veículo, devido o tempo que perdeu escutando Eduardo e suas baboseiras o local já possuía menos carros do que o normal, o que seria mais fácil para ela sair, pelo menos algo de bom ele tinha feito.
Olhou-se pelo retrovisor e percebeu que seus cachos castanhos estavam bagunçados de um jeito estranho, rapidamente pegou alguns adereços de cabelo, fez um coque alto e firme, o enfeitando logo em seguida, e voltou a atenção ao volante, dirigiu para fora o mais rápido que pôde, almejando apenas comer, e não seria pouco como nos outros dias, gastaria com prazer.