Capítulo Um
Mauro
O mundo da máfia era construído sobre regras.
Regras que nunca devem ser quebradas. Elas sobreviveram às gerações, resistindo às mudanças constantes da sociedade moderna. Eram como o Coliseu. Os fundamentos de nossas tradições permaneceram firmes, mesmo quando nos adaptamos ao ambiente.
Uma dessas regras era não desejar uma garota que não lhe foi prometida, principalmente se a garota fosse sua meia-irmã.
Como Underboss de Cleveland, meu pai precisou se casar novamente depois que sua primeira esposa, minha mãe, morreu. Eu tinha onze anos quando ela faleceu, ainda um menino e já bem familiarizado com a morte. Crescendo na máfia, especialmente se seu pai era um dos Underbosses da Famiglia e governava centenas de homens, você era apresentado ao ventre escuro do negócio desde o início, para fortalecê-lo para tarefas futuras.
O pai aguardou exatamente o ano esperado antes de se casar com Felicitas e desaparecer no casulo de felicidade conjugal, deixando-me para lidar com algo que eu não esperava: uma criança, uma meiairmã. A primeira vez que vi Stella, ela tinha sete anos, com aparelho e tranças ridículas, e tão tímida, que não falou comigo por uma semana depois que se mudou. Isso mudou rapidamente, no entanto, e quando sua mãe deu à luz a três bebês em curta sucessão, esquecendo a existência da filha mais velha, Stella se tornou minha sombra e eu, a dela - a princípio não tão disposto – protetor e companheiro.
Stella sempre foi uma criança aos meus olhos, uma garota que eu precisava proteger porque éramos família, embora não por sangue e nem por opção, porque ninguém nos perguntou antes que nossos pais selassem seu vínculo. Sendo cinco anos mais nova, eu não tinha notado as mudanças graduais em seu corpo, porque não prestava a mínima atenção. Pequenas mudanças bem diante dos meus olhos simplesmente não foram registradas. Até o pai me mandar embora para ajudar nossa família na Sicília na luta contra as outras famílias da máfia. Eu fiquei fora pouco mais de um ano e quando vi Stella pela primeira vez depois de todo esse tempo, tive que olhar duas vezes. Ela correu em minha direção com um sorriso enorme e se jogou nos meus braços. Eu a abracei de volta depois de um momento, de repente sentindo suas curvas, seus seios pressionando contra o meu peito. Quando me afastei, eu realmente a olhei. Algo que nunca tinha feito. Ela era Stella, minha meia-irmã, não uma das garotas que eu saia. E, no entanto, meus olhos estavam nos lugares certos e, porra, Stella era espetacular. Ela compartilhava a beleza de tirar o fôlego de sua mãe, mas felizmente não a vaidade egocêntrica ou a frivolidade.
Eu nunca tinha notado suas curvas ou Stella as desenvolveu em apenas um ano? Parecia impossível. Eu devia estar alheio, e era um estado que eu precisava alcançar rapidamente novamente. Stella estava completamente fora dos limites. Porra, nós compartilhávamos um sobrenome. Nós éramos família.
Depois daquele dia, fiz um esforço extra para não olhar para o corpo dela, concentrando-me apenas no seu rosto. No entanto, mesmo isso não ajudava em nada. Porque os olhos azuis e o sorriso provocante de Stella assombravam minhas noites, e às vezes até apareciam quando eu fodia outra mulher. Era enlouquecedor.
Stella se tornou uma estrela do caralho, brilhando tão intensamente que queimava minha mente. Não importa o que eu fizesse, a imagem do seu sorriso, e de suas curvas brilhava, mesmo quando fechava os olhos. Era como fechar os olhos depois de olhar diretamente para o sol por muito tempo: manchas de luz continuavam dançando contra a escuridão de suas pálpebras, lembrando o brilho sedutor que você bloqueou.
Limpei minhas mãos do sangue. A equipe de limpeza cuidaria do corpo e dos pedaços cortados. Torturar idiotas da Bratva por informações era uma das vantagens de meu trabalho, que atualmente era o de faz tudo, porque aos vinte e três anos, meu pai queria me mostrar os meandros de todas as áreas do negócio na nossa cidade antes que eu assumisse o controle em alguns anos.
Meu telefone tocou e sequei minhas mãos antes de atender.
- Mauro, preciso que você venha imediatamente para vigiar
Stella.
Eu parei. - Eu achei que vocês iriam para Vermont hoje? - Em todos os jantares de família aos quais fui forçado a participar nas últimas semanas, Felicitas não se calava sobre a próxima viagem para esquiar em um daqueles resorts de luxo.
- Iremos, - disse o pai, impaciente. - Mas Stella não vai conosco.
- E os anões? - Era assim que eu chamava meus três meiosirmãos menores.
- Claro, eles irão. Felicitas ficaria louca se tivesse que se separar dos filhos por uma semana.
- Stella também é filha dela, ela sabe disso, certo?
- Eu não tenho tempo para falar sobre isso. Venha para cá. Você precisa ficar aqui nos dias que estaremos fora e proteger Stella. - Ele desligou, sem esperar pela minha resposta. Naturalmente, ele esperava obediência. Afinal, seus soldados sempre seguiam suas ordens e, como filho, eu era pouco mais do que isso a seus olhos.
Peguei as chaves, saí da sala de tortura e me apressei em direção ao meu carro, um novo modelo da Aston Martin que meu pai me dera no meu último aniversário. O que lhe faltava em elogios e carinho, ele compensava dez vezes mais em dinheiro e presentes caros. Eu não era mais uma criança que ansiava por seu amor ou aprovação, então estava feliz com o nosso acordo. Congelei com o dedo indicador contra o botão de partida do motor quando percebi o que a mais nova tarefa de bancar a babá significava para mim. Eu teria que passar uma semana inteira sob o mesmo teto com Stella, minha meia-irmã proibida que visitava meus sonhos quase todas as noites.
Porra. Eu estava muito fodido. Algo que eu não poderia fazer com Stella - nunca. Stella
Mamãe não me dignou um olhar sequer, enquanto conduzia meus três meios-irmãos para o saguão onde suas malas esperavam que os guarda-costas as pegassem. Ela nunca foi tão maternal comigo, nem quando eu era mais jovem. Talvez fosse porque ela tinha apenas dezenove anos quando me teve, ou talvez ela simplesmente não gostasse de mim porque eu era metade do meu pai. Ela nunca se apaixonou por ele enquanto por Alfredo ela parecia apaixonada como uma adolescente.
- Onde ele está? - Mamãe perguntou, irritada, enquanto olhava para o Rolex, que combinava com o Rolex no pulso de Alfredo.
Alfredo conhecia esse tom e pegou o telefone para ligar para Mauro.
Excitação borbulhou em mim quando pensei em passar uma semana sozinha com Mauro. Quando ele se mudou, e pior, passou um ano no exterior, fiquei arrasada. Ele sempre foi o único que ficou do meu lado nesta casa. Como homem feito, ele era ocupado, então eu só o via uma vez por semana quando ele vinha ao jantar em família. Antes de sua passagem pela Sicília, ele ocasionalmente me buscava para que pudéssemos fazer algo juntos, mas isso nunca mais aconteceu.
Um toque soou e Mauro apareceu na porta aberta, revirando os olhos para o pai. - Estou aqui. Eu vim o mais rápido que pude. Infelizmente, o meu carro não era o único na rua.
- Vamos nos atrasar para o nosso voo, - disse a mãe. Eu pairava no último degrau da escada e dei um sorriso rápido para Mauro, tentando ignorar o modo como minha barriga tremia. Por três anos, estive apaixonada por ele, uma paixão completamente insana e impossível que eu não conseguia abafar. Ainda bem que Mauro não me via como mais do que sua meia-irmã, alguém que ele agora tinha que tomar conta como se eu tivesse oito anos e não quase dezoito.
Mauro levantou uma sobrancelha para mim sobre a cabeça da minha mãe e tive que conter o riso. Ela provavelmente teria me castigaria pela eternidade se descobrisse que eu não estava tão triste quanto ela queria que eu estivesse, porque não tinha permissão para ir na aventura de esqui com eles.
- Você planeja ficar fora uma semana? - Mauro perguntou.
- É claro, - disse Alfredo como se fosse uma pergunta estúpida.
Os olhos de Mauro estreitaram, suas sobrancelhas construíram um V e um músculo em sua bochecha esquerda pulsou de uma maneira que demonstrou seu descontentamento com a situação. Era tão ruim passar alguns dias comigo?
- O aniversário de Stella é daqui a quatro dias. Não é tradição comemorar com a família?
Oh. Ele estava chateado por mim. As borboletas estúpidas no meu estômago se rebelaram.
Mamãe fez um pequeno ruído baixo. - Ela deveria ter pensado nisso antes de se portar mal.
Minha irmãzinha tinha me batido com sua boneca Barbie porque eu não fiz o que ela queria, e por isso fui castigada. Mamãe a estragara e a meus outros meios-irmãos também e obviamente preferia manter as coisas assim.
Estava feliz em ficar em casa. Se eu fosse, eles me usariam como babá e seu saco de pancadas metafórico sempre que algo não saísse como planejado. Alguns dias frios com Netflix, fast food e Mauro pareciam pura felicidade em comparação.
Mauro balançou a cabeça novamente. Às vezes, sentia que o desinteresse de minha mãe o irritava mais do que a mim. Isso me incomodou por um longo tempo, e ainda o fazia ocasionalmente, mas eu tinha chegado a um acordo sobre isso. Mamãe não se tornaria milagrosamente mais carinhosa ou afetuosa, e se eu não queria que a negligência dela me quebrasse, precisava aceitá-la e seguir em frente.
Mãe, Alfonso e os três pirralhos mimados finalmente deixaram a casa. Mauro fechou a porta com mais força do que o necessário, balançando a cabeça. Então seu olhar se fixou em mim.
- Você parece ter recebido uma sentença de prisão. É realmente tão ruim ficar comigo?
Mauro passou a mão pelos cabelos escuros, os olhos castanhos chocolate ao leite se fixando nos meus. - Não. Mas eu odeio ser afastado dos negócios por causa dos dramas de última hora.
- Você tinha planos? - Eu perguntei, me questionando se ele estava vendo alguma garota no momento. Ele realmente não podia namorar. As mulheres do nosso mundo só podiam ficar com o marido, e as pessoas de fora nunca poderiam ser mais do que um caso. Ainda assim, me incomodou que Mauro estivesse com outras garotas quando decididamente não deveria. Ele não era meu, nunca seria. As borboletas pararam de vibrar enlouquecidas como se alguém tivesse arrancado suas asas, e era assim sempre que eu pensava em como os meus sentimentos por Mauro estavam condenados.
Não pude deixar de admirá-lo. Ele era alto, mais de uma cabeça mais alto que eu, e musculoso, mas não volumoso. Ele era flexível, mortal e ridiculamente bonito. Sua camisa abraçava seu tanquinho, seu peitoral e seu bíceps forte. Como a camisa era branca, o contorno de sua tatuagem da Famiglia que todo homem feito fazia na sua iniciação irradiava através dela.
Nascido em sangue. Jurado em sangue.
Entro vivo e saio morto.
Por que eu não conseguia parar de olhá-lo como se pudesse estar com ele? Era errado. Nossos pais nunca permitiriam. Principalmente por causa do grande escândalo que causaria. Eu não tinha certeza de quanto tempo o examinei, mas Mauro parecia perdido em seus próprios pensamentos. Ele estava me olhando de um jeito como se eu fosse o seu pior pesadelo, e eu não entendi. Éramos tão próximos antes de ele ir para a Sicília e continuamos enquanto ele estava lá, mas as coisas ficaram tensas, às vezes quase estranhas quando ele voltou. Não tive coragem de perguntar o porquê. Talvez fosse algo que acontecia com todas as pessoas na minha vida. Elas eventualmente perdiam o interesse em mim.