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Rapidamente abri os olhos e encarei o teto dando um pulo na minha cama, levei minha mão até meu ombro para verificar se estava tudo em seu devido lugar, estava assustada demais para associar o que era real ou não.
Tentei controlar melhor minha respiração e olhei em volta, estava em meu quarto e a luz tênue da lua iluminava a borda da minha cama, me levantei e fui até a janela para tomar um ar fresco. Observei a lua, ela não estava completamente cheia, mas estava brilhante naquela noite, eu estava tentando afastar meus pensamentos daquele pesadelo, eu estava me culpando internamente pelo que havia acontecido comigo há uns anos atrás, e isso deixou meu lobo desestabilizado, não conseguia usar minha força sempre que queria, é como se meu lobo estivesse irritado comigo e quisesse me abandonar, e em noites de lua cheia, eu simplesmente perdia o controle e não conseguia voltar ao normal, meu lobo se tornava completamente agressivo e irracional durante as luas cheias, meu avô precisava me manter confinada durate esse período para evitar que eu fizesse atrocidades.
Eu estou destinada a herdar a alcateia dos Lunares, mas não posso fazer isso enquanto não consigo recuperar meu autocontrole, e é por esta razão que estou nessa academia, é como se eu tivesse voltado para o internato quando era mais nova, e hoje tenho que ficar aqui como se fosse algum tipo de doente, mas eu não nego.
Estou alojada aqui faz algumas semanas, pois meu avô ficou sabendo que esta academia era especializada em criaturas fora do controle que precisavam de algum auxílio psicológico. Somos separados em unidades específicas para cada raça durante o expediente dos organizadores, eles nos deixam andarmos juntos quando é para intervalos dos exames ou alguns eventos, temos dormitórios, porém cada um fica em seu quarto, não dividimos o quarto com ninguém, não somos adolescentes, mas eles preferem evitar relações, basicamente é quase um internato.
Pela descrição da propaganda que meu avô me deu, esse lugar parecia um asilo que cuidava de pessoas, mas é exatamente o contrário, existem várias tarefas e exercícios para nós, tem seus desafios e no meu ponto de vista, eles podem trazer riscos para variadas espécies. Os organizadores são todos rígidos, se alguém sai da linha eles precisam puni-lo.
Meu avô não tinha falado nada sobre as punições, e não faz sentido ele me deixar num lugar como esse com pessoas que podem me machucar, talvez ele quisesse provocar o meu pai, já que o meu pai tinha o trabalho dele no mundo humano.
Meu pai era alguém de sucesso lá, administrava uma produtora musical e também tinha um bar ali, mas esse não era o principal motivo para o meu avô odia-lo, mas sim porquê meu pai se casou com a filha dele, minha mãe. O meu avô era tradicional demais e a mão da minha mãe na época já era de outra pessoa, as vezes me questiono se meu avô me odeia por essa união.
Hoje é dia de visitas, e ainda eram 5 horas da manhã, era muito cedo para sair do meu dormitório, pois tinha toque de recolher também, e se alguém violasse isso, era punido, e eu só poderia sair daqui a 1 hora.
Todo mundo acha um absurdo ter toque de recolher já que a maioria das criaturas não precisam de descanso durante a noite, porém eles dizem que há outros seres que ficam mais perigosos durante esse período e não podemos nos misturar.
Respirei fundo e decidi tomar um banho quente e relaxante.
Liguei a luz do quarto e fui me olhar no grande espelho ao lado da cama, eu estava com um semblante cansado e meu cabelo estava todo desgrenhado em um coque mau feito, estava vestindo um pijama cinza simples e curto. Olhei para as tatuagens do meu braço e notei que elas precisavam de algum retoque, eu faria isso depois que eu saísse daqui e sabe-se lá quanto tempo vai levar, soltei meus cabelos negros e tentei desembaraça-lo com os dedos, as ondulações estavam em pequenos nozinhos então era ruim para desembaraçar.
Me dirigi ao banheiro e fechei a porta atrás de mim, logo comecei a me despir jogando meu pijama no cesto de roupa suja. Após tomar meu banho caminhei até meu quarto com a toalha no corpo e fui escolher uma roupa, todas num estilo meio padrão já que eu gostava mais de vestir coisas mais neutras como uma calça jeans e uma camisa preta por dentro, coloquei meu bom e velho all star.
Meu cabelo estava um pouco molhado então desembaracei ele melhor, passei um creme com cheiro de avelã nele e logo as pontas começam a ondular um pouco.
Meu despertador deveria tocar no horário em que eu poderia sair, mas até então nada, revirei os olhos e fui desativa-lo para não tocar depois, faltava uns 15 minutos antes de sair daqui então nesse meio tempo eu resolvi praticar um pouco de música.
Eu trouxe meu violão e minha guitarra comigo para não morrer de tédio, eu espero que meu vizinho do lado não reclame. Peguei meu violão e me sentei na cama, puxei o primeiro acorde e pensei em um ritmo que poderia começar, estava tentando me inspirar, e logo lembrei de meu pesadelo e puxei um som melancólico, lembrei de como foi horrível e sabia a razão do porquê ter sonhado com aquilo, a melancolia da minha música estava rodeando todo meu quarto e eu estava me concentrando apenas em meus pensamentos.
Ouvi uma batida na porta, e então parei de tocar, guardei meu violão e fui atender. Faltava ainda sete minutos para acabar o toque de recolher então estranhei.
Abri a porta e me deparei com um homem alto, ele estava com uma blusa de manga longa preta e os cabelos bagunçados, ele possuia olhos verdes e uma barba por fazer, ele estava com a roupa levemente manchada, consegui sentir o odor de sangue invadir minhas narinas, eu entendi que aquele homem era um vampiro, só não entendi o que ele queria comigo.
- Que foi? - ele por fim diz mudando completamente a expressão e ficando irritado. Arqueei uma sombrancelha e sorri de forma debochada pra ele.
- Eu não sei, você que veio bater na minha porta! - respondi e ele pareceu não gostar, então revirei os olhos e cruzei meus braços - Está perdido? Acho que não vão gostar se te virem fora do seu quarto.
- Não, não estou perdido, só gostaria de pedir que você não fizesse barulho, eles também não vão gostar se você começar a incomodar os outros! - ele retruca de forma áspera e eu olho ele de cima a baixo, ele até pode ser bonito, mas ele está querendo abusar da sorte - Eu nunca te vi por aqui... - ele continua e eu permaneço paciente - Mas isso também é uma outra regra, estou te avisando, acho que não vamos ter problemas, né?
Ele começa a ficar mais ameaçador, então eu dou um passo a frente para encara-lo bem, o cheiro de sangue continuava presente nele e então eu sorri.
- Que engraçado, vamos ver se vão me punir por isso, enquanto você violou o toque de recolher pra fazer um lanchinho. - sussurrei em seu ouvido e logo me afastei - Se você não se importa, eu vou parar de tocar a minha música porque eu quero e não porque você está pedindo, então tenha um bom dia!
Fecho a porta na cara dele e reviro os olhos, podia sentir sua presença ali por alguns instantes e dois minutos depois ele se foi, em duas semanas que eu estive aqui, eu não o vi nenhuma vez. Deveria estar cumprindo com algum castigo nesse meio tempo, dei uma breve risada.