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Visita íntima

Visita íntima

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Sinopse

Rubi é uma jovem que aprendeu cedo a se virar sozinha no Complexo do Alemão. Desde que perdeu a mãe, carrega no peito o peso da solidão - e o amor incondicional por Dona Irene, sua madrinha, a única figura materna que lhe resta. Mas o mundo de Rubi desaba de novo quando descobre que Irene está com câncer. O tratamento é caro demais para elas bancarem, e a esperança parece escorrer pelos dedos. Sem saída, Rubi e sua prima Vanessa se veem diante de uma proposta suja, cruel, mas tentadora: uma delas deve aceitar fazer visitas íntimas ao temido e poderoso chefe do morro - o homem conhecido apenas como Rei. Nessa encruzilhada entre o amor e o sacrifício, entre a dignidade e o desespero, uma escolha precisa ser feita. E o que começa como um acordo impensável, pode acabar despertando segredos, paixões perigosas e um caminho sem volta.

Capítulo 1 01

Sol, Saliva e Provocação

Rubi

O sol tava rachando o crânio. A mochila pesando nas costas e o tênis já quase derretendo no asfalto quente da ladeira. Subir o morro naquele calor era castigo. Mas era minha vida. E se eu fosse parar por preguiça, já tinha morrido no primeiro verão.

Respirei fundo, tirei a blusa que grudava no corpo e fiquei só de sutiã. Dane-se. Aqui todo mundo já me conhecia mesmo.

Passei na frente do ponto de mototáxi como fazia todos os dias. E, como todos os dias, vieram os assobios, os "E aí, princesa" e as cantadas sem vergonha.

Resolvi parar.

- Vocês podiam me dar um bonde até lá em casa, né? - fiz bico, jogando charme.

Metade dos caras ali cresceu comigo, alguns estudaram comigo na escola. Era zoeira, mas também era teste. Eu gostava de provocar.

- Três conto a corrida - disse João, sorrindo com aquele jeitão debochado.

- Credo, faz uma boa ação aí e me leva, por favor, João!?

- Faço, pô. Mas depende do que eu vou ganhar em troca!

- Vai ganhar um abraço, quer mais que isso? - apoiei a mão na cintura, olhando ele de cima a baixo.

- Vou poder colocar a mão na tua bunda?

Cheguei pertinho, até ele prender a respiração, e sussurrei:

- Vai poder colocar a mão onde quiser... se me levar em casa.

Me afastei e vi ele todo sem graça. Sorri de canto.

- Iti, que fofinho.

- Fofo o caralho! - reclamou, tirando minha mão do rosto dele e me puxando de leve. - Quer ver uma coisa fofa? Eu te mostro.

João era meu amigo desde os tempos de escola. Saiu cedo pra trabalhar e ajudar em casa. Se não fosse isso, acho que teria se formado comigo. Era um daqueles que a vida bateu, mas não quebrou.

- Sai dessa, maluco! Me larga - empurrei ele. - Tava só brincando, sou da igreja.

- Tu atiça e depois foge. Mó filhadaputagem!

- Até parece que não me conhece, João. Tu sabe que eu sou dessas!

- Vai se fuder, Rubi! - falou bravo, mas eu só ri.

Me aproximei e abracei ele com força, enquanto ele tentava me soltar.

- Não fica bravo comigo, mô! Não vou largar!

- Na moral, tu é chata pra caralho!

- Sou chata, mas uma chata que você ama! - sorri.

- Quem foi que te iludiu desse jeito?

- Meu amor por você é real! Sem mim tua vida seria um tédio.

- Além de maluca, é iludida!

- Vai à merda! - dei o dedo pra ele, rindo. - E aí, vai me levar ou não?

- Até ia, mas teu namorado acabou de chegar - disse ele, apontando com a cabeça.

Revirei os olhos.

- Tá vendo aliança aqui? Não, né? Então tá doido, amor!

Quando olhei pra trás, lá estava ele: Tuka. Camisa regata, tatuagem subindo pelo pescoço, cigarro no canto da boca e olhar de quem queria me furar com os olhos. Dei de ombros. Ignorei.

- Tu gosta, né? - João murmurou, balançando a cabeça.

- Gosto de quê? - perguntei, rindo, jogando o cabelo.

- Tu sabe.

- A gente é só amigo, João. Ele que lute com os fantasmas dele.

- Fala isso pra ele! O cara tá quase soltando fogo pelas ventas.

- Que pena! - sorri maliciosa. - Melhor eu ir mesmo. Tu tá morrendo de fome.

- Tu é uma diaba!

- Vou considerar isso um elogio, mô - abracei ele mais uma vez. - Tchauzinho.

- Filha da puta! O cara vai me matar!

- Vai nada, relaxa! - pisquei pra ele e saí andando, ignorando a presença do Tuka.

Enfiei a camisa pela alça da mochila e amarrei o cabelo num coque malfeito. O calor tava me derretendo. Puta que pariu.

E então eu ouvi. A moto parando bem do meu lado. Nem precisei olhar pra saber quem era.

Tuka.

O barulho do motor silenciando me fez gelar mesmo debaixo do sol.

Aquela presença me dava nos nervos. Não era só porque ele era bonito ou perigoso. Era porque ele me encarava como se soubesse de todos os meus segredos - até os que nem eu sabia que tinha.

Mas antes dele falar qualquer coisa, minha mente já estava longe... Longe dali, da moto, do calor, do João.

Ela estava no quarto da madrinha.

No exame que ela escondeu.

Na palavra que a gente finge que não escutou: câncer.

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