Capítulo 4 O terror da crise

Tenho vinte anos. Falta pouco para o meu aniversário de vinte e um! Infelizmente, estou na pior época da minha vida.

Meu companheiro não sabe mais o que fazer comigo, e minha família? Muito menos! Estava na pior fase do namoro e me descobri num relacionamento abusivo. Parece que não tenho amigos, e relembro com muita dor o passado, a adolescência, o bullying. Oras, eu me odeio! Posso me matar? Não, não posso. O que me resta? Gritar!

E eu gritei tanto, mas tanto, que o inevitável aconteceu: eu fui parar no hospital psiquiátrico. Duvidaram do meu diagnóstico de autista, e eu sofri o meu pior pesadelo: vi minha teimosia se dissipar num instante.

- Quero sair daqui, exijo que liguem para a minha mãe!

E riram.

- Letícia, me acompanhe, vou mudar você de quarto.

Eu vi um quarto estranho, e por lá fiquei. De repente, a enfermeira começou a me amarrar! Como assim, pensei eu? Que absurdo! Eu estava melhor na minha casa, e quero sair daqui! Por que fui me descontrolar tanto, meu Deus? Por que deixei isso acontecer?

- Você não é autista, não parece autista! – dizia a enfermeira enquanto me amarrava.

Ah, mas não me diz isso, não!

- Sua ignorante! – Eu gritava. – Estude mais sobre autismo, e depois nós conversamos!

- Você não vai conversar nada, querida. – Ela era muito irônica. – Vou te dar um remedinho, e você vê se dorme!

Eu não dormi. E o dia foi longo!

Enquanto eu estava totalmente presa, lembrei dos meus bons momentos, inclusive o lançamento do livro Entre Barbantes. Pois é, parece que a vida dá voltas! Às vezes estamos na melhor, e depois caímos em nosso próprio abismo de ilusões. Será que valia a pena sonhar? Escrever poemas, amar alguém, amar minha família e lutar para terminar os estudos? Parece que não, já que meu fim está num hospital psiquiátrico. E seria esse o meu fim, de fato?

Feliz aniversário, Letícia! Sozinha, num hospital. Será?

Eu não vou revelar o que aconteceu para vocês, mas é óbvio que saí de lá. Como escreveria sobre isso caso não? E fiquem tranquilos, não sou uma fugitiva. Fui liberada, por mais doido que pareça!

Existir é um fardo assustadoramente belo! Afinal, só o fato de ditar essa frase, já é um motivo íntimo de vitória.

Como seria uma vida sem sofrimento? Eu não faço a mínima ideia, mas deve ser bem legal! Acho que todos sofrem, mas não a ponto de escrever essa obra às quatro da manhã. Sendo mais exata, às quatro e vinte e quatro, numa terça-feira, 27 de julho de 2021. Época de pandemia, olimpíadas e dor. Tudo bem, a dor fica por minha conta!

Fui convidada para uma live sobre bullying e autismo. Fui notada por alguém, e ainda chamada de corajosa por contar sobre minha deficiência. O que seria, então, coragem?

Será que eu tenho coragem?

            
            

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