Capítulo 3 Quem será

Aqui é uma cidade bem pequena, sem shopping, cinema, ou lugar interessante para ir. Mas aqui sempre tem um lugarzinho bom, basta estar com a pessoa certa.

Chegando na sorveteria Sofia pediu sorvete de Pistache e eu? Pedi o de sempre, Chocolate Branco com MM. Ela odeia.

- Por que você nunca pede algo que eu goste? Assim não dá para eu tomar o seu também- Disse.

- mas eu posso tomar o seu - Digo tomando uma colherada do dela.

- Para Maêve, assim não vale- Diz em burrada, mas acaba rindo.

As coisas são assim entre mim e ela. Simples. A Sofi é filha única, sortuda. Sempre teve de tudo, é um pouco mimada e patricinha, mas uma pessoa que tem um coração bom e puro, porém é muito brava e se estressa fácil, já falei a ela que um dia ela vai acabar enfartando com isso. Risos.

Conheço há desde dia que me conheço como gente, sempre fomos ligados uma à outra. A minha mãe sempre dizia que eu conversava com ela desde quando ela estava na barriga da mãe. Será que por isso nunca ficamos sem assunto?

Sempre esteve com ela, nos primeiros dentinhos dela nascendo até a primeira troca, estive do lado dela, na sua primeira queda de bicicleta, aliás eu que ensinei. Até a primeira desilusão amorosa, e primeiro beijo. Passamos tantos momentos juntas, tantas quedas, mudanças e perdas, que sempre tive medo das coisas mudarem, mas é apenas medo.

- Quando acabamos aqui, para aonde vamos?-

- Não sei, Sofi. Que tal continuarmos aqui, até dar o horário de ir para casa? Pago-te um sorvete- Insisto.

Na verdade, não queria olhar para outra pessoa sem ser ela, não queria que ninguém me visse em lugar nenhum. Então ali era o melhor lugar para se esconder, no fundo, de uma sorveteria rústica, só eu e ela.

- Tudo bem, mas eu vou querer aquela casquinha de sorvete- Naquele momento os olhos de Sofia pousava em algo tão grandioso para ela que os olhos brilhavam. Era uma casquinha de sorvete tão decorado que parecia mais vômito de unicórnio de tão colorido que era, acabo rindo alto e chamando atenção de todos, e ela me olha sem entender.

- Ai, Ai- Digo rindo e enxugando as lágrimas que insistiam em descer. - Aquilo ali parece vômito de unicórnio- contínuo e a minha amiga me olhar tão brava que achei que ela me bateria ali mesmo, apesar que o tapa dela faz nem cócegas.

- Já acabou de graça Maêve ? Eu vou embora- Já levantando seguro a sua mão.

- não, ficar. Eu te dou sem bendito arco-íris- Digo tentando segurar a risada.

- Espera só um minuto que vou fazer os pedidos -

Assim que levanto, percebo um homem me olhando. Parecia ser um homem importante, estava de terno e gravata, com dois homens fortes e mal-encarados ao seu lado em pé, pareciam seguranças dele. Sinto um arrepio na espinha tão forte que acabo-me segurando na mesa, não sei o que aconteceu.

- Má, você está bem? Ai meu Deus, você está pálida - Sofia diz se levantando e segurando o meu braço, e Continuou. - Maêve, fala comigo? Não vai desmaiar, eu não aguento você.

Eu estava tão anestesiada olhando aquela cara que parecia ser alguém tão importante. Mas como alguém desse porte vem fazer na Bahia? Não aparenta ser uma cara assustador, ao contrário disso, ele parecia alto, os cabelos grisalhos e barbas tão bem alinhadas que parecida que ele fez com um ótimo profissional, a sua fisionomia parecia de um homem de 30 anos mais seus cabelos grisalhos diz que ele tem mais.

Ele olha-me tão anestesiado quanto eu, assustado talvez? Não sei. Estou em choque. Porquê ?

Quando volto a realidade percebo que todos estão-me olhando, e Sofia está mais branca que o normal, assustada. Provavelmente a minha aparência não está das melhores. Olho pro lado e pro outro, e o meu estômago começa a doer. Droga. Odeio ser o centro das atenções.

- Vamos embora!? por favor. - Essas são as únicas palavras que consigo dizer. Automaticamente Sofia pega as nossas bolsas e me tira daquele lugar. A única coisa que percebo é aquele homem com o rosto tão assustado quanto o meu, me olhando fixamente até sair, uma hora tenho uma mínima impressão que ele iria vir falar comigo.

Sair de lá tão anestesiada que nem percebi que a Sofia trouxe-me para biblioteca, um lugar tão calmo e vazio, sem barulhos, então escuto.

- Ma? O que aconteceu? Você está passando bem? O que você viu? Ma?- a minha melhor amiga começa a falar sem parar, fazendo um monte de perguntas, coisa que me irrita, mas quando ela está nervosa ela dispara.

Respiro fundo, pensando em cada palavra que vou dizer a ela, mas no fim resolvo apenas dizer que foi um mal-estar.

- Foi apenas um mal-estar, queda de pressão, talvez. - Sem muita certeza na voz, acabo dizendo a primeira coisa que passa na minha mente. Não tão bem a primeira coisa, porque estou tão confusa quanto a ela. Sofia acaba levando e ajoelhando-se perto de mim.

- Não foi só um mal-estar. Eu vi que você viu alguma coisa, eu não sou cega e ninguém lá é, todo o mundo viu- Tentando manter a calma ela diz.

- Vamos esquecer, ok? Não quero falar sobre isso, não agora.- Realmente não estou entendendo o que aconteceu, e não quero preocupar mais ela.

- Mas, Maêve - Ela levanta-se.

- Por favor- Digo, já cansada dessa conversa que nem bem começou. Se ela souber se do meu pesadelo de hoje, aí se ela estaria uma pilha de nervos, mas não quero trazer mais problemas para ela.

Não insistiu e agradeci muito por isso, não estava afim de explicar. Então, ficamos simplesmente sentadas ali esperando o horário certo chegar, para finalmente irmos para casa.

As nossas casas são perto uma da outra, e não é longe do colégio, porém ficamos sempre zanzando por aí, até chegar o horário da última aula para irmos para as nossas casas. Por que isso? Simplesmente gostamos da companhia uma da outra.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022