Capítulo 2 Conhecendo

Quando chego tudo está como deveria estar.

A minha melhor amiga me esperando como sempre faz, do outro lado uns grupinhos de meninos e meninas que param de falar e olham-me fixamente. Bando de fofoqueiro.

Sei que o meu jeito pode chamar atenção, os meus cabelos longos, ruivos e minha cara cheia de sardas, pior ainda, não me sinto bem como nada deles.

Continuo fazendo meu caminho com o meu skate, até a minha melhor amiga, Sofia, ou como gosto de chamar Sofi. Lembrando bem que ela odeia.

Além da Sofi, tenho mais 3 amigas, mas nenhuma mora aqui. Cada uma tem a sua própria personalidade. Clara, sempre alegre, brincalhona e lerda, seria capaz de passar uma semana inteira só tentando entender uma única frase. Laura, a festeira, é uma daquelas que parece que tem parentescos com o mestre dos magos, sempre sumindo e aparecendo do nada.

Katherine, alegre e risonha sempre esconda a cachaça dessa dai. As nossas relações são simples, porém com muitas intrigas e risos. A sofi não se dá bem com nenhuma delas, "ciúmes" já que a conheço a mais tempo.

- Oi! pequena Sofi- digo assim que abraço ela.

As pessoas dizem que eu sou fria e calculista. Talvez eu seja mesmo. Mas sei diferenciar quem merece esse meu lado e quem não merece. As minhas amigas são uma delas, elas não merecem esse meu lado sombrio. Cálculo sempre na dose certa como devo agir com as pessoas, não sou boba sei que existem pessoas boas e ruins no mundo, é por isso que sempre estou observando e calculando como devo agir com elas.

- Pare de revirar os olhos para mim, você é a pequena Sofi, sim- Digo segurando o riso da cara de brava da minha amiga.

Sofi tem 1,49 de altura e eu? 1,72 a diferença é grande. Odeio ser grande e magra demais, sou esquisita, a minha família diz que eu só tenho altura e cabelo, e que eu chamo muita atenção por isso, já que o meu cabelo é ruivo, enorme e a altura não ajuda muito. Creio eu, que eles só querem diminuir a minha autoestima, mas mal sabem eles que ela está mais que, no fundo do poço.

Ao contrário de mim, Sofi tem um corpo maravilhoso e chama atenção por conta disso, os tem uma pele tão Branca como a neve, um cabelo longo e pretos. A verdadeira obra de arte.

- Olha aqui senhorita, Maêve, tu não me chame assim, você sabe que eu odeio- a minha melhor amiga fala com o dedo na minha cara e acabo caindo na gargalhada e ela também.

- Para Má, - Cruzar os braços.

- Desculpe, pequena. Mas se toda a vez que você ficar brava por conta de eu te chamar de Sofi, eu não vou da conta. - Continuo rindo sem parar.

- Ok, ok! Você venceu, mas só porque estou morrendo de saudade dessas suas palhaçadas. Mas é só hoje, viu - Continuou Sofi, de um jeito mandão.

Bato continência para ela entender que eu entendi, mas acabou levando um tapa.

- Ai, doeu - digo.

A minha melhor amiga passou disparada na minha frente me deixando para trás. Resolvo a seguir, e entrar para a escola, onde tem uma faixa em frente à escrita; BEM VINDOS DE VOLTA. Mas foi como se li se: bem-vindo de volta ao inferno. Assim seguidos diante para um dia logo de aulas.

A minha escola é um saco.

Tem alguns em questões de melhores professores. Pessoas que querem dar um aprendizado melhor para o aluno, dar um ensino diferente. Mas as pessoas de cima, diretores, por exemplo não dão o melhor de si, não assinam em baixo projetos bons dos professores que querem dar um ensino diferente, eles não acreditam na capacidade dos que estão lá em baixo ainda.

- Que saco- resmungou baixinho em mais uma palestra de Bem vindos.

Estou em mais uma palestra sobre como vai continuar o ensino daqui em diante. Até parece que a gente não sabe, vão ser aulas chatas que os professores precisam ter decorado em mente. Monogâmica.

Não estou lamentando por isso, por estudar numa escola monogâmica. Aqui poderia ter a capacidade de algo grandioso, alguns até tentam, tipo a professora de geografia que tenta levar os alunos para lugares onde a beleza é natural, onde a gente pode mexer na areia e plantar árvores, onde a gente pode ver os rios e descobrir em como deixar ele vivo. Ela quer levar a gente a lugares que existem na bahia que podemos aprender. Mas os de lá de cima, não assinam em baixo.

Tá! ok, tem alunos que não gostam e são bagunceiros, mas nem todos. Sabe aquele ditado, quem anda com porcos, farelo come? Então, é isto.

Aqui não existe um só lugar onde posso ficar tranquilo com o meu caderno de desenho, onde posso vagar pelo meu mundo. Não existe um só lugar que possa ficar com a minha mente tranquila, sempre tem olhos em cada canto, no pátio no banco, banheiros, em tudo. Aqui sempre tem de tudo, às bocas que só fala, as que beijam, fumam, as que insultam por trás depois está colada em você, como melhores amigos. E todas elas insistem em focar numa só pessoa, eu. Já me sinto estranha o suficiente, sendo a magra alta, ruiva cheia de sardas. Tudo um exagero.

O ginásio de esporte está cheio, chuto uns 500 alunos. Estou bem na última fileira com a única amiga que tenho aqui, mas sempre estou sentindo repletos de olhares curiosos para a única pessoa ruiva na "platéia". Poderia dizer que me sentiria bem me sentindo a única ou poderia dizer que queria ser uma árvore e teria um cabelo diferente a cada estação, mas do mesmo jeito eu chamaria atenção, e no final ficaria careca quando chegasse o outono. No final, eu sempre serei esquisita.

Quando a palestra acabou, a minha melhor amiga e eu combinamos de ir tomar um sorvete, já que só tivemos uma aula hoje e ainda eram 10h. Poderiam ter avisado? Poderiam, mas é sempre assim, surpresa.

Assim foi a metade do meu dia, sentada num lugar nada macio, ouvindo coisas que não vão acontecer.

Ao som da campainha, Sofia e eu colocamos a nossa mochila no ombro e bolsa, para irmos ao nosso destino.

-Vamos?- Digo.

Dou uma olhadela na direção ao lado. Lá está mais um grupinho, apoiados nas arquibancadas, e escuto eles dizendo sobre mim. Qual o problema dessa escola? Aqui ninguém pode ser diferente, sendo o centro das atenções.

- Vocês nunca viram uma ruiva de cabelo cacheado na vida? Se toca - Digo já apertando as minhas mãos. Mas que droga. A minha melhor amiga automática olha.

- Vamos embora, Ma- Ela diz segurando a minha mão e tirando-me dali- Você não pode ficar parada olhando para as pessoas toda a vez que eles falam de você, sei que você não gosta, mas só deixa para lá, ok?- Sofia continuou.

Não digo nada, só percebo que eu não disse nada daquilo, só disse na minha cabeça. As pessoas já me acham esquisita, agora vão ter certeza.

Coloco a minha bolsa que contém o meu material de desenho em um dos ombros, e a sigo.

Desenho sempre foi uma forma de expressar-me, não nasci com o dom e para mim desenho não é dom, é prática. Comecei com 4 anos, assim como comecei a ler, foi como andar de bicicleta, altos e baixos. Desenho de tudo, se estou triste desenho. Se estou entediada, desenho. Se estou feliz, também desenho. Expresso sempre o que tem dentro de mim, as pessoas não entendem, mas a Sofia sim.

            
            

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