Capítulo 2 Caminho de Incertezas

Já parou pra pensar, que somos donos do que não pedimos pra ter? Que caminhamos muitas vezes sem rumo, numa estrada que no final sempre nos reserva uma cilada?

A vida, nossas escolhas, o destino, o livre arbítrio, a estrada. Seja como, quando ou onde for, sempre nos levará ao fim do qual nenhum de nós poderá fugir. Isso é obvio, a morte é o que nos espera no fim e a estrada é a vida, a mesma que nos leva ao seu final.

-A estrada é um caminho qualquer, sem muito objetivo, caminhante a vagar o seu destino, em algum lugar, alguém que vá pra nenhum lugar, caminha sem ter escolha na estrada que agora está - recita o jovem senhor ao anoitecer, antes de apagar as luzes.

-Pela manhã será outro dia. Diz Kather, sem muita fé. Há muito tempo espera, as coisas melhorarem, espera a poeira do vendaval devastador (que suas escolhas e seus erros fizeram), baixar.

Há pouco mais de um ano ele era um jovem, bem ajustado (religioso, casado com filhos, um homem feliz e realizado, apesar das dificuldades) ou ao menos era o que todos acreditavam, por que dentro de si havia tanta confusão que dois ou três anos atrás experiênciou a sua primeira crise de insônia e ansiedade. A partir de então elas seriam mais corriqueiras do que ele imaginava, e mais constantes do que pessoas ao redor tinham conhecimento.

Agora, três anos depois da sua primeira crise de ansiedade, com sua vida totalmente ao averso, a confusão se manifesta dentro e fora de si, e é nítida a qualquer um que quiser ver. Por mais que se ponha a descansar, está sempre exausto, por mais que repita, que não irá se culpar tanto, e começará a viver de novo, a culpa o oprime e o destroí dia após dia.

E ele sabe disso, por isso antes de dormir repete sempre e sem fé. -Amanhã é outro dia. Pois na pratica os dias parecem sempre iguais.

As noites sempre parecem longas, pensamentos diversos, pesadelos, medo, incertezas, pede mesmo para que logo amanheça. Poucas são as noites tranquilas, e quando são passam rápido e ao amanhecer parece que nada descansara, e sabe que logo a luta do dia começa. Apesar de essa parecer mais branda que aquela que trava durante a noite, onde se atormenta com seus segredos. Embora agora já nem tanto como era no começo.

E lá se vai ele pra mais um dia de sol, caminhante rotineiro, seu sorriso a esconder seus medos, de longe parece mesmo bem, escondendo seus segredos, que além dele só sabe mais um alguém. Alguém que ele mesmo nem conhece bem.

Mas é assim que é. Não é? Não se pode carregar túmulos de uma vida inteira sozinho. Ele talvez não creia que ela devesse saber dos seus segredos, da sua dor, mas talvez ele não estivesse aqui, se não houvesse alguém pra lhe ouvir.

Mesmo tendo muitos ao redor ele é sozinho, a solidão o acompanha sempre. E sempre foi assim, não foi a mudança de cento e oitenta graus em sua vida que o tornou solitário, na verdade ele sempre se sentiu como tal desde a sua infância. E foi no seu erro, que ele encontrou alguém a quem revelar seus segredos, pra não sentir tanto desprezo e não odiar tanto a si mesmo. Foi caminhando por outro caminho, um cheio de espinhos, que pode contemplar a verdadeira face de si mesmo.

Ele não gostou do que viu ao se olhar no espelho, mas apesar do caos, sentiu que estava onde devia estar, mesmo com a falta do que o fazia continuar. Sabia que não podia mais negar-se ou esconder-se. Refletia isso no espelho, depois de um dia cansativo e de muitos conflitos.

            
            

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