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-Quisera voltar atrás e que o tempo lhe desse mais uma chance, só pra mudar aquele instante, mas agora já é tarde e nada será como antes. Reflete Zyan durante o seu café matinal solitário. Dessa vez nem tanto, já que recebera a visita do amigo Ren que há muito não via.
-Essa é a vida meu caro amigo, chances são raras de acontecer, oportunidades devem ser aproveitadas. Se você não as aproveitar, não deve esperar que elas tornem a acontecer. Você precisará fazer acontecer. Comenta Ren.
Parece haver entre os dois um clima de saudade e arrependimento por parte de Zyan e decepção por parte de Ren.
-E quem nunca lembrou do tempo da infância, com saudades daquele tempo que tudo que era quase impossível de acontecer, era contemplado apenas como algo distante pelo tempo que ainda não tinha chegado... Não havia preocupação com os problemas cotidianos, não havia responsabilidades...
Continua Ren.
Sem responder Zyan contesta.-E se você pudesse largar tudo, deixar tudo, e ficar em algum marasmo, sem as preocupações, as responsabilidades e os medos?
Se você pudesse fugir, começar do zero, ou melhor nem precisar começar?. Só deixar tudo do jeito que tá, sem ter nenhum sentimento de culpa...
Se pudesse ficar em silêncio horas e horas, não precisasse de ninguém e melhor ninguém precisasse de você e você não causasse nem bem e nem mal aos outros?
Não fizesse falta e nem trouxesse alívio?
Se você pudesse ter o poder de sumir, ficar num limbo onde sua presença ou ausência não fizesse a menor diferença? Se fosse como se você não existisse?
Zyan para um pouco reparando em Ren. Sabe que o amigo o escuta, só não sabe se ele de fato o compreende. Ren acena com a cabeça pois sabe dos complexos do amigo, que por sua vez continua seus pensamentos.
-Pois então é como muitas vezes me sinto, mas em nenhuma delas é como eu queria que fosse, porque sempre me sinto vazio, por que nunca consigo fugir. Alguns dizem que fugir dos problemas é covardia. Mas de verdade, exploda-se o que dizem...
-Desde pequenos somos ensinados sobre o que fazer, ser, pensar, querer...e crescemos fazendo tudo o que aprendemos. Mas em algum momento achamos que isso é o que queremos. Internalizamos o que não é nosso como se houvessemos nascido assim. Muitas vezes nem se quer damos oportunidades para objeções, subjeções. Só seguimos o script a risca...
-Bom não sei se é errado, talvez seja o certo. Isso é, se conseguirmos seguir a viagem da vida, sem olhar pros lados. Porque uma vez olhando, não será possível seguir aquele script a risca. E esse talvez tenha sido meu erro... Meu grande erro...
-Ah!! Se eu pudesse não ter as preocupações e responsabilidades, talvez o vazio não seria tão avassalador.
-Antes que você diga que eu sou um cara totalmente desiludido da vida, e prestes a destruí-la, digo lhe que não. Eu a amo. Porém não sei se a amaria e a quereria tanto. Se não fossem os problemas, as preocupações, as responsabilidades e o medo.
Zyan fica em silêncio reflexivo, acendendo o cigarro e olhando para o nada, mesmo que estivesse com Ren, agora nesse momento parecia está em outro lugar. Quando Zyan fala, sempre parece ter algo mais que queria dizer, algo que ele sente que nunca vai conseguir sintetizar em palavras.
Ren interrompe a introspecção de seu amigo lhe retornando sua própria pergunta. -Mas porque então eu iria querer que fosse como se eu não existisse?
E dando um tom de concordância com as observações que Zyan lhe havia feito, continua:
-Talvez se eu não tivesse construído laços, eu não teria por que me preocupar com o amanhã. Talvez seja essa a causa, de tantos conflitos internos. Zyan parece concordar com Ren.
-Quase sempre parecemos está vivendo, pra cumprir o que já está proposto. As vezes parecemos mesmo tão sobrecarregados não pelas nossas cargas, e sim pelas dos outros.
-Não que estejamos culpando elas, só que as vezes...
-As vezes sentimos que criamos laços que se por algum motivo os desatar, estaremos fazendo mal, mas muito mais para os outros e então acabamos precisando mantê-los. E com o tempo o que era prazeroso pode começar a se tornar uma obrigação, um fardo que vamos continuar levando até o fim. Acho que é disso que estamos falando, não é?
Há nesse momento uma concordância entre os dois, porém talvez nem eles mesmos sabem sobre o que realmente estavam falando. Porém sabiam que a vida era valiosa demais para desperdiça-la, e pesada demais para a romantizar.