Capítulo 3 3. Voltar no tempo

Há se pudesse voltar no tempo... Se pudesse ser mais atento, ser mais resiliente, se esforçar menos para se encaixar... Se não tivesse tanto medo de tentar, de correr atrás dos seus sonhos... Será como hoje eu estaria?- refletia Kather pela manhã. Ao despertar com nenhuma disposição de ver a luz do dia.

Refletindo sobre as conversas internas da noite passada. Sobre tudo que ao longo de sua vida foi por ele absolvido, internalizado e exteriorizado como se fosse algo íntimo e intrínseco, realmente a forma de ser dele.

Olhando as horas. Ainda eram 4h30 da manhã. Começou a recordar todos os péssimos e bons momentos, tentando se entender. Lembrou de velhos amigos, e de dispáres que lhe proporcionaram cenas que ele prefere não rever... Recordou daqueles velhos amigos, aqueles que quase sempre estavam juntos e que passavam horas jogando conversas foras e falando sobre o que ninguém mais falaria. Lembrou de Zyam e Ren.-o que fazem e onde devem está?

Lembrou-se daquela conversa sobre o cansaço e o peso que a vida parecia lhe obrigar a sentir.

E sentiu que aquelas mesmas sensações estavam retornando.

Recordou-se daquela conversa com os amigos, que mais pareceu um monólogo, pois somente ele falava enquanto os outros ouviam e concordavam.

-Eu tô cansando de tudo, Tô sem forças, mas não posso parar. Tenho motivos pra contínuar, mesmo assim não consigo evitar, o desespero de sentir o vazio, da dor que me deixa sem ar. -Será que vocês podem entender isso?

-Tem dias que só se quer está só. Quase sempre é assim, sinto me afogar em águas turvas, muitas vezes sem força pra subir, e outras tantas, na certeza de que não adianta tentar emergir.

-Vocês entendem o que é viver assim?

-Me sinto sem fome, ando meio sem graça, não sei por que. Não pensei que algum dia fosse ser assim. Eu tô ficando, eu que um dia queria ir, eu Tô vendo ir, quem andava perto. Eu sei, nascer é caminhar para o fim, mas mesmo assim, não queremos dar o adeus, nem ver a hora de partir.

Zyan e Ren se entreolhavam. Se perguntavam. Será que Kather, percebe e entende o que ele mesmo diz? Sem sombra de dúvidas eles sabiam que todos ao redor dele, nem sequer imaginariam a complexidade dos conflitos que o amigo passava internamente. Kather continua seu monólogo de desabafo aos amigos.

-Tá muito confuso aqui, Não faz sentido, nenhum sentido, porque tenho de rir?

Cada dia me sinto mais fraco, mais confuso, nem meus sonhos fazem mais sentido.

Recordando-se disso, Kather percebe que todo aquele embaraço de sua cabeça retornara e agora mais intenso e ele não percebeu nem se quer o momento, ou o que o fizera cair naquele abismo novamente.

Porém, agora era hora de retornar a vida codiana. A cabeça atormentada, o dia inteiro indisposto, distraído, irritado. Rezando pro dia terminar. A noite passada parecia ter lhe proporcionado mais cansaço do que o dia inteiro de trabalho. Tentava entender por que estava assim. Foi quando começou a se recordar do sonho que teve, ou pesadelo, ou qualquer coisa fora de série. Algo que lhe dera medo e pavor, o fazendo despertar com arritmia, suor excessivo e ofegante... Porém sem recordar-se do que lhe havia causado tanto medo.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022