Capítulo 5 Diálogos internos ( Aurora e Levi)

Quem nunca se pegou tendo diálogos sozinho dentro de si?

Bom, para Kather isso não é algo meramente esporádico ou aleatório, talvez durante todo o dia, parece mesmo haver ao menos três personas dentro dele, e ele mesmo quase sempre se pega como ouvinte delas. De conversas simples e corriqueiras à temas complexos.

Há muito tempo atrás as vozes em sua cabeça pareciam brigar entre si, eram inimigas, cada uma tentando decidir por algo diferente, como se fossem mesmo o bem e o mal, anjos e demônios internos tentando controlá-lo. Até um dia em que num desses conflitos, Kather conseguiu assumir o controle de volta, fazendo as vozes dialogarem entre si. Já que não as conseguia calar, as fez pactuarem a paz.

A partir de então, ainda que pareçam conflitar, buscam uma melhor compreensão do mundo de Kather.

Hoje é um dia desses, em que as vozes internas parecem querer mais do que nunca serem ouvidas e levadas a sério. E Kather parou para escutá-las, num dia de reclusão dentro de si, (lhes deu nomes pela peculiaridade que cada uma tinha na assertividade e imparcialidade, diante dos problemas que lhe apareciam). Precisavam entender sobre a passividade de Kather nas tomadas de decisões. Muitas vezes elas conversam entre si, como se Kather não tivesse controle algum sobre elas.

A voz de Levi questiona a passividade que os faz perder tempo e oportunidades. -Porque você tem que pensar tanto antes de tomar uma decisão que já sabe que é a correta?

Enquanto a voz de Aurora parece sempre tentar justificar-se. -Por que acredito que eu possa está errado, mesmo que eu tenha certeza que não estou. Não sou o dono da verdade.

Kather permanece como um expectador. Enquanto as vozes continuam debatendo entre si...

Levi- Mas você sabe que as contas não fecham e já te provei por várias vezes que é melhor decidir ou vai pagar uma conta maior.

Aurora - mas você também por vezes me pede para esperar mais um pouco, antes de jogar as cartas na mesa.

Kather se pergunta se seriam anjos ou demônios dentro dele, ou se cada um representa uma de suas dualidades, bem e mal. Seriam anjos e demônios tentando puxá-lo para um ou outro lado? Enquanto se questiona as vozes continuam o debate, como se fizessem pouco caso ou mesmo não soubessem o que Kather se perguntava.

Levi possui uma característica de não gostar de voltar atrás, de arrependimentos, então tenta ser o mais racional possível em suas escolhas por isso as vezes pede provas do que irão fazer, antes de bater o martelo na decisão a ser tomada. Por isso responde Aurora como quem sabe o que está fazendo.

-...aí é diferente, Não peço tempo por acreditar que estamos errados. Só quero mais provas para que não haja de forma alguma possibilidade de contestação. Vocês sabem. Porém quando vocês pedem tempo é pura indecisão. Vocês insistem em acreditar que as coisas vão melhorar, que aquela pessoa não deve ser tão ruim. Que é coisa da sua cabeça. Que você não deve julgar os outros.

As vezes há entre elas um distanciamento que para Aurora, trata-se do silenciamento de Levi, por razões que ela obviamente não sabe explicar. -Quantas vezes te procuro pra saber o que fazer e você se silencia? Se eu demoro é porquê aprendi assim. Aprendi que preciso acreditar que o ser humano não é em essência mal...

Aurora parece carregar em suas atitudes todos os paradigmas apreendidos por Kather em suas experiências de vida. Ela acha que Levi ignora tudo isso, pois ele sempre parece tentar impor a Kather que quebre seus paradigmas. -...E você também sabe disso. Também estava lá quando nos ensinaram. Aliás você transformou esse ensino em nossa forma de conduta na resolução das questões.

Kather sabe que é verdade, sua inércia diante das tomadas de decisões. Também concorda que parece sempre ser confrontado dentro de si a quebrar seus paradigmas, a desafiar suas limitações. Porém não sabe se concorda sobre de quem é a culpa.

A voz de Levi não aceita a culpa ou ao menos não a tomaria só pra si. -vai me culpar por serem assim? Eramos pequenos, eu não sabia o que estava acontecendo.

-Mas quando entendi, alertei várias vezes e desde então venho mostrando quem é quem. E sobre isso e sobre aquilo. Vocês quem insistem em não me escutar. Não sou eu que me silêncio. Vocês escutam tudo dos de fora e a mim que estou aqui dentro, parecem surdos.

Kather por um instante se questiona se não estaria presenciando ali um embate entre seu consciente e seu subconsciente. Ele meneia a cabeça e rir.-como seria isso? Não seria o "eu", a representação da minha consciência? Devo tá louco.

                         

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