A perdição do Mafioso
img img A perdição do Mafioso img Capítulo 2 Pietra Vacchiano
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Capítulo 6 Já desisti de você há muito tempo. img
Capítulo 7 Onde você está indo img
Capítulo 8 Porra, Tommaso! img
Capítulo 9 Pequena img
Capítulo 10 10 dias depois... img
Capítulo 11 O que está fazendo img
Capítulo 12 Tem uma mulher na minha cama. img
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Capítulo 2 Pietra Vacchiano

Olho para o meu reflexo no espelho por longos segundos.

Meus olhos arderam diante do meu devaneio, esqueci até mesmo

de piscá-los.

Solto um longo suspiro amarrando as duas cordinhas da

minha camisa, disfarçando o decote. A calça jeans em cintura baixa

marca a minha barriga.

Viro minhas costas para checar como está minha

aparência.

Estou prestes a ouvir uma longa palestra do meu pai, tudo

porque resolvi largar a faculdade.

Meus saltos ecoaram no chão, saindo do quarto.

Passei pelo corredor, revirando os olhos para os milhões

de quadros dos ancestrais da minha família: os intocáveis

Vacchiano.

Seguro no corrimão da escada e desço um degrau por vez,

sentindo o cheiro do café da manhã impregnado no ar. O calor do

café acalenta meus instintos.

Viro o corredor e entro na sala de café da manhã, onde

vou logo encontrando com os olhos do meu pai. Ele, que segura

uma xícara, arqueia uma sobrancelha na minha direção como se

estivesse esperando um parecer meu, um bom motivo para ter

largado os estudos.

- Bom dia, família - e isso é tudo que eu falo.

- Sente-se aqui, Pietra - papai fala, esticando-se um

pouco e puxando a cadeira ao seu lado.

Contive-me para não revirar os olhos, pois sei que

ninguém vai contra uma ordem de Tommaso Vacchiano, a não ser

minha mãe.

Sentei-me na cadeira de frente para minha mãe, Verena,

dona de lindos cabelos loiros, que são a perdição do Don da Cosa

Nostra.

- Quais são seus planos, filha? - papai deixa a xícara

que estava na sua mão sobre a mesa, me concentro na fumaça que

sai do líquido fumegante.

- Não sei, papai, preciso de planos? - pendo a cabeça

um pouco para o lado e solto meu sorriso que sempre funciona para

deixar Tommaso comovido.

- Planos servem para nos manter focado - Tommaso

segue.

- Posso pesquisar alguns cursos que me interessem...

- Qual era o problema com Design de Moda? - Mamãe

pergunta com sua voz doce.

- Não sei, nunca vou poder atuar nisso - dei um breve

chacoalhar de ombros.

- Quem lhe disse tal atrocidade? É minha filha, pode tudo!

- Papai ergue sua mão, colocando o meu cabelo atrás da orelha.

- Eu sei, eu sei, o problema é que eu quero fazer algo

que seja útil ao nosso clã, não somente ser a esposa de um homem

- murmuro sentindo repulsa disso pelo simples motivo que o único

homem que eu quero nem me vê como mulher.

Papai rosna, minha mãe sorri.

- Por mim, nenhum homem poderia encostar em você. Se

quiser, pode até mesmo envelhecer solteira - ele sempre repete

isso.

Tommaso não pode nem sonhar que não sou mais virgem,

na mente dele sou a imaculada Pietra. Bem, eu fiz dois anos de

faculdade. Foram dois anos podendo dar minhas escapadas e ir a

festas clandestinas. Não me manteria pura para um homem que sei

que não vou amar.

Sou boba? Se algum dia terei que me casar com alguém

que nem ao menos amo, por que vou manter minha virgindade para

ele?

Mamãe sempre me ajudou a esconder minhas escapadas

do meu pai, ela sempre deixou claro que não queria que eu

repetisse os seus passos, em se manter intacta ao meu pai e ser

tratada igual verme quando chegou à casa dele. Foram longos

meses até papai aceitar que ele era somente mais um homem

apaixonado.

- Pai... - bufo erguendo a minha mão para pegar o bule

de café.

- E estou mentindo? Filhas não deveriam se casar -

Tommaso em seu modo protetor chega a ser assustador.

- Lembre-se que tem dois filhos e eles vão precisar se

casar - zombo, lembrando meu pai dos meus irmãos gêmeos.

- Posso abrir exceção para as amadas dele - papai

responde.

- Amadas? - bem nesse momento Valentino entra na

sala.

- Papai deve ter batido a cabeça ao acordar - Santino

entra ao lado.

Ambos vão logo puxando cadeiras para se sentar. Franzo

meu rosto diante do barulho que eles fizeram, já que são típicos

bagunceiros.

- Garotos, por favor, ergam as cadeiras - Verena os

repreende.

- Relaxa, mãe - San fala do seu modo despreocupado.

Pelo menos, com eles ali, papai esquece de me pressionar.

- Tio Enrico já apareceu por aqui? - Valentino pergunta.

- Ainda não - papai responde sem olhar nos olhos do

filho, mantendo a sua atenção em algo no seu celular.

- Deve estar traçando alguma gostosa - Valen murmura

com um sorriso um tanto estranho nos seus lábios, o que me faz

revirar os olhos.

- Valentino Vacchiano, tenha modos! - Mamãe olha de

cara feia para ele.

Até mesmo quando Verena tenta fazer uma das suas

caretas não se torna assustadora. Valentino não falou nada, apenas

se calou. Ele sabe que, se falar, papai dará uma dura nele.

Se tem uma mulher que todos respeitam na Cosa Nostra é

a minha mãe, e, claro, de mim, ninguém chega perto. Sabem o

quanto Tommaso é extremamente possessivo com a única filha

mulher dele, e eu, em muitos momentos, me aproveito dessa

situação.

- Não terminamos a nossa conversa - papai volta a

chamar a minha atenção.

- Prometo que vou pesquisar outros cursos - pisco

algumas vezes e ouço meus irmãos bufarem, pois sabem que eu

tenho muitas táticas para convencer Tommaso.

- Tudo bem - papai finalmente fala em meio ao seu

suspiro - mas enquanto isso não acontece, eu a quero sob os

meus olhos.

Assinto sabendo que os olhos dele se estendem aos da

minha e sabendo que ela sempre encoberta.

Levo minha xícara de café à boca, dando um pequeno

gole. Ao devolvê-la para a mesa, sinto aquele cheiro masculino que

já me fez até mesmo comprar o mesmo perfume e não surtir o

mesmo resultado.

Ao virar o rosto, avisto Enrico Ferrari, o motivo dos meus

sonhos mais impuros. Ah, como eu já me imaginei nos braços dele

de diversas maneiras...

Seu caminhar é decidido e tem olhos esverdeados com

aquele brilho ladino de quem acabou de acordar com uma mulher

em sua cama.

Maldição! Odeio o simples fato de saber que ele

compartilha a cama com diversas mulheres.

- Fala, tio, é hoje que vamos treinar? - San vai logo

falando.

- Sim, seu pai deixou? - Enrico coloca a mão no seu

bolso da calça social.

- Ainda acho isso uma idiotice - Verena bufou - não

podem ter hobbies normais igual a qualquer garoto de 17 anos?

- Isso não tem graça, mãe - Valen responde um tanto

alterado, levantando-se da sua cadeira sem terminar de comer -

imagino que já tenha comido, Enrico. Podemos ir?

- Ele sempre come bem - Santino leva a frase para o

duplo sentido, fazendo mamãe olhar para ele de cara feia.

- Sim, eu já me alimentei. De comida. - ele frisa a última

parte de sua resposta, piscando um olho para Verena, que é como

uma amiga para ele.

Enrico nem ao menos olhou na minha direção desde que

chegou. Estava com a sua atenção em meus irmãos. Os três vão

para a pista de pilotagem, Enrico está ensinando os dois a pilotarem

motos. Porque lidar com armas não é perigo o suficiente, agora

querem viver sobre duas rodas.

Enrico é o subchefe do meu pai, seu braço direito, ambos

são como irmãos, e papai confia nele cegamente. Sabe que o

subchefe nos vê como sobrinhos. O problema é que eu não o vejo

assim. Desde que completei quinze anos, os garotos da minha

idade já eram sem graça para mim, como se não tivessem o brilho

necessário.

Em muitos momentos me vi analisando Enrico, sua

desenvoltura, os primeiros botões da camisa que, às vezes, ele

usava abertos, os cabelos dourados às vezes bagunçados. Ah,

como eu queria ser a pessoa que bagunça o cabelo dele!

Mas a nossa idade sempre será o muro que nos divide, e o

fato dele me ver como uma sobrinha torna o muro maior ainda.

Solto um longo suspiro e viro meus olhos para frente

encontrando os olhos da minha mãe na minha direção, recebendo

um chute de baixo da mesa que me fez morder o lábio com força.

Arregalo meus olhos para ela, e Verena deixa explícito no

seu olhar que eu precisava disfarçar mais, ou, então, papai

perceberia.

- Pai? - Valentino chama.

- Sim, já estou indo - ele se levanta da sua cadeira -

mas, lembrem-se, é apenas no período da manhã. Enrico e eu

temos muito para resolver à tarde, e vocês dois vão participar.

- Espero que tenhamos ação - Valem esfrega uma mão

na outra.

Tommaso se abaixa na direção da minha mãe, segurando

no queixo dela, e dá um selinho de despedida. Ele nunca foi de

disfarçar seu amor por ela, o que me faz revirar os olhos.

Enquanto os homens saem da sala, fico olhando para as

costas do subchefe que estava ao lado do meu pai.

- Precisa disfarçar mais, Pietra - mamãe me chama.

- Papai nunca vai perceber...

- Seus irmãos também nunca iriam perceber e

perceberam. Você sabe que os dois agem sempre no impulso e

podem acabar falando sem querer.

- Nada vai acontecer, afinal, Enrico ainda me olha como

se eu tivesse dois anos - murmurei desanimada.

- Precisa entender que ele tem idade para ser seu pai.

Ali estava o maior empecilho.

- Relaxa, mãe...

- Só vou relaxar quando vê-la de vestido branco se

casando, assim terei completa certeza de que seu pai nunca vai

descobrir o seu amor pelo subchefe.

- Prefiro morrer solteira a me casar com um homem que,

com certeza, babará o ovo do meu pai. Enquanto isso, sigo

enrolando.

- O que me faz lembrar que precisamos decidir sobre a

sua faculdade - Verena volta a focar no assunto.

- Podemos dar uma volta no shopping enquanto

conversamos sobre isso, o que acha?

- Pietra, Pietra, é uma bela trapaceira - mamãe sorri.

Nossa relação sempre foi muito maleável, além de mãe e

filha, somos ótimas amigas.

            
            

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