- Vou ficar bem, mãe - Valen revira seus olhos com a
mão de Verena acariciando seu rosto.
- Me deixa cuidar de você, garoto ingrato - mamãe não
para o seu ato.
Santino deixa escapar uma gargalhada e ri da situação do
nosso irmão.
- Vai se foder, San - Valen xingou nosso irmão.
- Os dois, chega! - Verena os repreendeu.
Estou sentada na ponta da cama impaciente, mexendo
meus pés. Quero ver Enrico, mas sei que meu pai e Aldo estão com
ele no quarto.
- Pietra, pare de mexer esses pés, está me deixando
irritado - San pragueja diante do meu gesto.
- Azar o seu - dou de ombros.
- Ela está querendo ir ver o amado dela -Valen murmura
ainda meio grogue com os remédios.
- Cala a boca, seu imbecil - declaro erguendo a mão e
mostrando o dedo do meio para meu irmão acamado.
- Enrico, oh, meu Enrico! - Santino coloca a mão no
coração fazendo drama.
- Chega! Os três! Isso não é assunto para entrar em
pauta! - Mamãe faz com que a gente se cale.
Valentino deixa uma risada fraca escapar, os gêmeos são
idênticos e por causa do acidente, adquiriu alguns hematomas em
seu rosto. Mostrando assim algo diferente entre eles.
- Espero que fique com uma linda cicatriz, isso será muito
útil para não os confundirmos... - zombo.
- Ótimo, agora vou parecer com um dos meus tios da In
Ergänzung - Valen revira os olhos.
- Deveria agradecer. Se chegar aos pés do que o tio
Heinz fez, será um excelente Don - volto a debochar da cara do
meu irmão.
- Deixa o papai ouvir isso - San se intromete.
- Sabemos que os dois são ótimos chefes - Mamãe se
intromete, fazendo com que o assunto cesse novamente.
Verena nunca tomaria um partido. Seu irmão era o Don da
In Ergänzung, a máfia da Suíça. O casamento de mamãe foi um
acordo de paz entre os dois clãs.
Aprendi, ao longo dos anos, que a Cosa Nostra sempre foi
uma máfia mais impulsiva, ao contrário da In Ergänzung, que
sempre foi de analisar metodicamente antes de agir.
No entanto, esse contexto mudou quando meu primo Yan,
filho de Heinz, assumiu como Don da In Ergänzung recentemente.
Ele ainda é novato e não tem definido o seu estilo de comandar,
mas já deixou claro que é mais sanguinário que Heinz.
Até mesmo tia Zara, mãe de Yan, falou que esperava isso
do filho, já que Heinz sempre deixou claro que ele entraria para
comandar a máfia com punhos de ferro. Ele foi treinado para isso
durante sua vida inteira.
A porta do quarto foi aberta, e papai, que tem a mão em
sua cintura e circula a arma que está fixa ali, entra.
Logo o soldado que protege a porta a fecha.
- Pai? -chamo pelo meu pai buscando novidades.
- Enrico está acordado, não lembra de como aconteceu o
acidente, é como se tivesse apagado tudo do momento da sua
mente. Mas está consciente, lembra de tudo, menos de como
aconteceu - Tommaso caminhou até o lado da esposa, olhando
para o filho.
- Estou bem, não preciso ficar nessa droga - Valen
tentou levantar-se, mas papai o barrou.
- Vai ficar quieto aí, precisa ficar em observação. - Papai
soltou um longo suspiro.
Mamãe intercala seus dedos aos do meu pai.
- Precisamos descartar qualquer possibilidade de ataque,
afinal sabemos que o cartel da Colômbia está tentando quebrar o
nosso negócio em Las Vegas. Malditos colombianos - papai solta
um longo suspiro - o motorista foi interrogado e a princípio não
sabe de nada. Foi liberado, mas tem alguns dos nossos homens na
cola dele.
- Será que eles seriam tão baixos? - Valentino encara
meu pai com os olhos sérios.
- Os desgraçados querem quebrar a Cosa Nostra! Qual é
a melhor forma de me atingir? Indo direto na minha família. Por isso,
de agora em diante, todos sairão acompanhados pela escolta,
incluindo, principalmente, você - apontou o dedo para mim.
- Por que eu? - franzo os olhos sem entender.
- Sempre sai sozinha, vai para faculdade, shopping, sai
com suas amigas. Em parte, até que é melhor que tenha trancado a
faculdade nesse momento, prefiro tê-la sobre a minha supervisão.
Soltei um longo suspiro, me segurando para não revirar
meus olhos diante da possessividade do meu pai em respeito a
minha vida.
Às vezes acho que terei 50 anos e ele ainda continuará se
intrometendo no meu bem-estar.
- Posso ver o tio Enrico? - Santino pede.
Pulei da cama nesse momento e avisei que iria junto.
Papai nos autorizou, mas deixou claro que um dos soldados nos
acompanharia.
San não falou nada caminhando ao meu lado, com seu
coturno, que ecoa no piso do hospital.
Ninguém sabe qual dos meus irmãos assumirá o comando
da Cosa Nostra. Os dois são muito parecidos em questões de
comando, mas, ao contrário de Santino, Valen é mais impulsivo e
sempre quer resolver tudo na força. Eles não discutem sobre o
assunto, sabem que um dos dois será o Don, e o outro será o seu
braço direito.
O soldado parou em frente à porta do quarto e abriu para
nós dois passarmos. San entra primeiro, em seguida, faço o mesmo.
Meus olhos vão direto para a cama onde Enrico está. Seus
cabelos estão bagunçados e, como o Valentino, ele tem arranhões
no rosto e uma facha que passa em sua testa circulando a cabeça.
Enrico vira seu rosto para o lado quando percebe nosso
movimento no quarto. Seus olhos fixam em nós dois e não expressa
nenhuma reação. Mordo meu lábio contendo o impulso de ir até ele
para abraçá-lo e agradecer por estar vivo.
- Vaso ruim não quebra tão fácil - Enrico murmura.
Aldo, que está parado no canto da janela, se vira na nossa
direção.
- Quem pensou que ele estava na pior... - San zomba
ao parar ao lado da cama.
Fico no sentindo oposto do meu irmão e vejo os braços de
Enrico cheios de fios, seu corpo coberto pela camisola hospitalar, a
perna erguida com um curativo enorme na região do joelho e o
braço dobrado com o gesso, que o mantém imóvel.
- Pietra? - Enrico chama meu nome, ele deve ter
percebido meus olhos temerosos avaliando seu corpo - estou bem.
- Fiquei com tanto medo - murmurei olhando no rosto
dele.
- Não vai ser um acidente que acabará comigo, pequena
- deixei um sorriso de lado escapar por meu lábio ao ouvir que ele
me chamou de pequena.
Amava quando ele me chamava de pequena, mesmo
sabendo que nunca houve uma segunda intenção nisso.
- Tecnicamente não está tão bem assim - pendo minha
cabeça para o lado ao responder o subchefe, que sorri com a minha
reação.
Enrico não é um homem que costuma sorrir com
frequência, isso quando se trata de mim. Contendo toda minha
vontade de abraçá-lo, fecho minha mão com força.
- Na medida do possível, acho que estou bem e pronto
para a próxima! Avisem Valentino que não terminamos ainda - ele
tem a voz baixa e rouca.
- Argh! - balanço a cabeça - vocês, homens, deveriam
vir com um aviso de trava quando querem se meter em algum
perigo! Não tem como esquecer esse lance de moto?
Os três homens me olharam ao mesmo tempo.
- Pequena, a adrenalina nunca morre dentro de um
homem - Enrico declara, me fazendo revirar os olhos.
Logo ele mudou de assunto, querendo saber como estava
Valen, e foi San que respondeu.
Fico quieta a todo momento observando Enrico. Ele estava
todo quebrado, mas, mesmo podendo estar com dor, não deixa isso
transparecer.
Em alguns dos momentos ergo o rosto encontrando com
os olhos de Aldo fixos em mim, como se tentasse desvendar algo.
Preciso ser mais discreta com a minha paixão platônica, Aldo é um
homem muito observador e pode perceber o que eu sinto.