A perdição do Mafioso
img img A perdição do Mafioso img Capítulo 3 Enrico Ferrari
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Capítulo 6 Já desisti de você há muito tempo. img
Capítulo 7 Onde você está indo img
Capítulo 8 Porra, Tommaso! img
Capítulo 9 Pequena img
Capítulo 10 10 dias depois... img
Capítulo 11 O que está fazendo img
Capítulo 12 Tem uma mulher na minha cama. img
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Capítulo 3 Enrico Ferrari

Pendo minha cabeça para o lado e torço minha boca ao

ver a curva desajeitada que Valentino fez.

- Ah, garoto... - murmuro para mim mesmo.

- Nem todo mundo tem a sua praticidade para andar

sobre duas rodas - Tommaso declara ao meu lado, ouvindo o meu

suspiro.

- Se ele não se deitar mais na curva, nunca vai fazer com

precisão.

Estamos em uma via pouco movimentada, a pista de moto

estava muito longe e não queríamos perder uma hora de treino no

caminho até lá.

Chegando aqui cada um passou o comando da moto para

os garotos. Tommaso deu a dele ao filho, enquanto eu dei a minha

para o outro menino. As motos já são deles, mas Tommaso ainda

não tem confiança em deixar os filhos pilotarem sozinhos.

As árvores se movem ao nosso redor, denunciando que

em breve poderíamos ter uma das poucas chuvas que temos no

verão: a maldita chuva vinda do mar Mediterrâneo.

- Temos que ir logo - Tommaso olha para o céu e

imagina o mesmo que eu.

- Ainda vai demorar para chover - murmuro, com a mão

em meu bolso da calça.

- E por um acaso virou meteorologista agora? - meu

amigo zomba.

Descendo um pouco o morro, estavam dois carros. Eram

soldados que protegiam o Don da Cosa Nostra, seus filhos e a mim.

Um Subchefe da máfia nunca fica à frente do perigo, assim

como o Don, somos a peça principal.

O ronco da moto de Santino vai se fazendo mais presente

até ele pará-la na nossa frente.

O moleque tira seu capacete, revelando um dos seus

sorrisos zombeteiros, uma característica herdada de seu pai.

- E aí? Sou melhor que Valentino? Sim ou claro? -

Esses garotos viviam em competição constante.

- Você é convencido, o que tem uma grande diferença -

zombo, caminhando na direção dele, disfarçando ao dar um soco

em seu braço, em meio à brincadeira, vendo-o reclamar de dor.

- Porra, tio Enrico, tem a mão pesada - Por trás da mãe,

eles falam o vocabulário que aprenderam com o pai.

- Muito exercício - deixo um sorriso escapar.

- Sim, imagino os seus exercícios - Santino revira os

olhos, esfregando o ombro - onde está o Valen?

- Voltou a subir a curva - aponto com a cabeça vendo a

moto do outro moleque fazer a curva.

Ele fez a manobra com precisão, mas cometeu o mesmo

erro. Se ele quer adquirir mais estabilidade em uma curva, precisa

deitar mais a moto dele.

- Cometendo o mesmo erro - o pai deles murmura.

- O bunda frouxa ao invés de deitar mais a moto dele -

Santino declara orgulhoso, como se entendesse do assunto.

- O que você entende? Está cometendo o mesmo erro

que o dele - retruco o moleque - vocês dois estão tendo a

impressão de que estão fazendo certo, mas não estão.

Balanço minha cabeça. Tommaso sempre me deu total

liberdade com seus filhos, e, como sou padrinho dos gêmeos, tenho

abertura para lhes puxar a orelha quando é conveniente.

Talvez os filhos de Tommaso sejam o que terei mais

próximo de filho.

Eu vi os três crescerem e daria minha vida por cada um

deles. Até mesmo por Pietra, que, desde que se tornara mocinha,

passou a se manter mais distante de mim.

Agora ela já é uma mulher, não a mesma menininha que

eu pegava em meu colo e que adorava que eu brincasse de avião

com ela. Seus gostos mudaram, e os assuntos também. Tenho uma

boa relação com Pietra ainda, mas em nada se compara com os

irmãos dela. A liberdade que tenho com os gêmeos é mais forte.

Pela garota eu sinto um carinho, talvez algo entre pai e

filha? Sei lá, eu nunca tive uma filha para saber o que é isso. E

nunca vou ter.

Meu destino é morrer sozinho, assim como meu tio Fillipo.

Uma morte rápida e solitária e um longo legado de histórias na Cosa

Nostra.

O ronco da moto de Valentino vai se tornando mais lento

conforme ele se aproxima, balançando a cabeça. Ele para ao lado

do irmão, tirando o seu capacete.

- Mas que caralho, não estou conseguindo fazer essa

maldita curva - ele praguejou mil palavrões. Se Verena estivesse

aqui nesse momento, mandaria o filho morder a língua.

A forma como Valentino não desiste dos seus objetivos

deixa claro que ele será um bom Don caso ele herde a Cosa Nostra

em algum momento da sua vida.

- Estou percebendo que os dois estão fraquejando -

olho de um para o outro.

- Qual a dica tio? - Santino pergunta.

- Não tem dica, apenas prática.

Tommaso não é muito fã de motos, está apenas nos

acompanhando. A verdade é que dificilmente o Don pilota motos.

Essa sempre foi a minha praia, o meu passatempo depois que o

chefe da máfia se casou e tornou a sua esposa o seu passatempo.

Posso ter a mulher que quero todas as noites em minha

cama, mas isso é apenas algo corporal, não existe ligação. Durante

o dia não gosto de ninguém rondando a minha casa, muito menos

pernas femininas caminhando em meu assoalho.

Não gosto de precisar conversar com mulheres, muitas

vezes suas vozes me irritam, aquele timbre feminino me deixa

inquieto, por isso apenas as uso, meu prazer em troca dos dela, e,

assim, todos saem felizes.

- Vem, Valentino, vou pilotar a sua moto, fique na minha

garupa e verá o que é fazer uma curva - pego o meu capacete no

chão.

- Podemos deixar isso para outro momento? - Tommaso

pede, coçando a barba, sabendo que gostaria de estar em seu

escritório fechando outro negócio ilícito.

- Só mais essa tentativa e podemos ir, pai - Valen pede

animado.

O pai suspira confirmando. O garoto pula para o banco de

trás conforme me sento à sua frente.

Dou a partida na BMW M1000 RR, das duas, essa é a

mais potente. Pode deixar apenas o rastro de pó na rua.

Acelero subindo o morro fazendo a curva fechada,

praticamente encostando o meu joelho no asfalto da rua. No banco

traseiro Valentino dá um grito de satisfação.

- Porra, tio! - ele gritou admirado.

Vamos até o topo, dou a volta e refaço o percurso

descendo o morro. A curva é fechada e não podemos ver o que vem

no sentido oposto.

Tomo uma velocidade alta para fazer o ponteiro lamber o

último número do painel.

Um sorriso se faz presente em meus lábios. Essa

adrenalina aquece a minha alma e revigora meus instintos.

Faço a curva pronto para fazer tudo certo e ensinar ao

garoto que está atrás da moto sentado. Isso até ver um caminhão

vindo na nossa direção. Estou rápido demais para parar, ou até

mesmo frear.

Mas que porra!!! É tudo o que eu penso até agir e jogar a

moto contra o gramado, fazendo ela perder o rumo e descer o morro

curto.

Valentino não grita, não emite som algum, e, nesse

momento, só penso em salvar a vida dele.

Vendo que a moto em breve se chocará em alguma árvore,

aviso:

- Se agarre a mim! - berro e sinto os braços dele em

minha cintura, o que é o suficiente para me jogar e fazer do meu

corpo um escudo para proteger a vida do moleque.

Tudo parece acontecer em câmera lenta, e, de todas as

mortes que planejei para mim, de longe essa nem se passou na

minha cabeça.

            
            

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