carregamento de cocaína, e nem fodendo essa porra iria acontecer.
Nossas vestimentas eram uma mistura equilibrada de funcionalidade.
As roupas consistiam em um conjunto tático composto por calças e uma
jaqueta resistente. A jaqueta de cores sóbrias tinha vários bolsos
estrategicamente posicionados, cada um contendo equipamentos essenciais
para diferentes situações.
Na parte frontal, um colete à prova de balas adicionava uma camada
extra de proteção, enfatizando nossa prontidão para estarmos na linha de
frente. Nos pés, botas robustas com solas antiderrapantes completavam o
conjunto, proporcionando estabilidade em diversos terrenos.
Um cinto de utilidades adornava nossas cinturas, carregando uma
série de acessórios: facas, armas e outros itens indispensáveis. Nossos
antebraços eram protegidos por braçadeiras de couro, resistentes o suficiente
para reduzir o impacto de golpes e quedas. Luvas de couro preto cobriam
nossas mãos, oferecendo aderência e proteção sem comprometer os
movimentos.
A maioria dos meus homens já estava com a máscara de combate,
ajustada firmemente ao rosto, escondendo suas expressões e protegendo suas
identidades. Seus olhos, visíveis por trás das lentes escuras dos óculos de
proteção, exibiam uma determinação intensa, como se estivessem prontos
para enfrentar qualquer adversidade.
E estavam.
Naquele momento, só nossa fidelidade à Blood Skull importava, e se
algum de nós saísse morto, teríamos perdido a vida com honra e propósito.
- Faça uma checagem nos fones, Ryan - comandei e ele entendeu,
saindo sem fazer perguntas.
Um sistema de comunicação de última geração me conectava à minha
equipe, permitindo coordenação eficiente e troca de informações em tempo
real. Conferi uma das armas em minha cintura, sentindo-a firmemente presa a
um coldre, pronta para ser empunhada com precisão letal.
Exatamente como eu gostava.
Meu celular vibrou no bolso e o peguei, abri o aplicativo de
mensagens vendo as fotos da Mia. Contive um sorriso ao vê-la aparentemente
tão feliz e... livre. Ela havia ido passar a noite de Réveillon com duas amigas
e parecia estar muito contente.
Não foi muito difícil convencer Luigi a deixá-la ir, já que todos os
custos foram por minha conta, além de ter colocado um dos meus jatinhos à
disposição das meninas com equipes de segurança da minha confiança.
Mia estava radiante e era impossível detalhar a beleza daquela
mulher. Não nos encontrávamos desde o nosso desentendimento no dia em
que fui procurá-la no hospital. Entendo que ela tinha suas questões, mas o
que minha noiva precisava entender é que não era eu quem precisava resolver
seus questionamentos internos, mas ela mesma.
Havia pouco menos de um mês que ela tinha iniciado residência em
cirurgia geral e fiquei muito puto. Isso significava mais três anos, porra. Mais
três fodidos anos em que aquela mulher iria estar longe. Isso tudo fazia com
que nossa diferença de idade e todos os outros problemas que isso poderia
nos trazer começassem a me incomodar.
Quando fossemos nos casar eu iria ter 40, enquanto ela teria 28 e não
sabia como seria. O receio de não estarmos na mesma página, me deixava
levemente irritado. Era bom que aquele fosse o último pretexto que ela tinha
arrumado para postergar nossa união, pois qualquer outra tentativa seria
barrada por mim.
Voltei a prestar atenção em sua foto e senti meu coração acelerar de
forma instantânea. Mia estava lá, no meio da multidão, em um vestido de
verão que com certeza tinha sido feito sob medida para ela.
Ela era tão linda quanto um espetáculo hipnotizante do qual eu não
conseguia desviar os olhos.
Por um momento, imaginei como seria se eu estivesse lá e se só por
uma noite ela estivesse com a guarda baixa.
Eu iria admirar de perto a silhueta do vestido que parecia realçar
perfeitamente suas curvas, delineando sua cintura delicada e quadris
suavemente esculpidos. Eu beijaria os ombros expostos, revelando a pele
macia e levemente bronzeada.
Dei play no vídeo, vendo os cabelos dela dançarem ao vento, como se
estivessem acompanhando a melodia da música que eu não sabia qual era,
pois estava vendo a filmagem no mudo. Ela sorriu para as amigas, irradiando
uma energia contagiante. Sua alegria parecia genuína, e quando a vi rindo,
senti vontade de sorrir também.
Meu coração voltou a disparar e contive o desejo irracional de acabar
com aquela merda de operação e pegar meu jatinho para voar de encontro a
ela. Não era a primeira vez que eu percebia que aquela mulher fazia meu
coração bater mais rápido e meu mundo girar em câmera lenta.
- Boss - Ryan falou alto, correndo em minha direção. Minha
postura mudou imediatamente. - Nosso informante disse que a embarcação
já está chegando na Marina.
Olhei meu relógio de pulso, achando aquela porra toda muito
estranha. Liguei o plug de comunicação e guardei o celular no bolso.
- Avise aos nossos soldados que saímos em três minutos. Vamos
conferir de perto quem é o filho da puta que está tentando nos boicotar.
Caminhei de volta para o banco do carona, mandando que meu
motorista ficasse a postos. Ignorei a vontade de estar naquela noite de virada
do ano junto da morena bonita que me deixava maluco até mesmo por foto
sempre que passava aquele batom vermelho sangue.
Naquele momento, eu era o Boss da Máfia Blood Skull e só a minha
posição e a minha organização importavam.
•
Meu colete estava aberto quando o elevador parou na minha
cobertura, entrei em casa tirando o coldre da cintura, assim como o cinto com
facas e outras armas. Tirei o colete, a jaqueta e então a camisa, deixando-as
sobre o sofá. Livrei-me das botas pesadas e das meias, sentindo o chão gelado
sob os meus pés. Respirei fundo, passando a mão no rosto e agradecendo
mentalmente para algum ser divino que ainda olha para pessoas como eu por
nossa operação ter sido bem-sucedida.
Quando pensei em ir para o banheiro, meu celular tocou. O peguei
mesmo que a vontade fosse de jogá-lo contra a parede para poder tomar um
banho em paz e dormir por pelo menos quatro horas seguidas.
- Porra - praguejei quando vi que era uma ligação da Selena, uma
das seguranças da Mia. - O que houve? - falei quando atendi.
- Boss, Mia viu o Jake filmando-a e não gostou - contou e franzi a
sobrancelha, Jake sempre fazia isso a pedido meu. Ele tirava fotos e fazia
filmagens com frequência, será mesmo que ela nunca havia percebido antes?
- Você poderia ter me contado isso amanhã, soldado. Acabei de sair
de uma operação e...
- Me deixa falar com esse filho da puta! - Ouvi a voz da minha
noiva gritando atrás, me fazendo sorrir.
- Ela parece irritada - falei e Selena pigarreou.
- Mia tinha uma faca escondida embaixo do vestido e quando
confrontou Jake, ele foi resistente em dar informações sobre as filmagens,
ela o esfaqueou. - Arregalei os olhos, surpreso.
Cacete!
Ainda bem que não tinha ninguém perto para presenciar a forma que
reagi às ações daquela mulher, mas isso foi realmente inesperado.
- Esfaqueou como? - questionei.
- Ela o apunhalou na coxa - Selena respondeu.
- Eu quero falar com ele! - Mia esbravejou.
- Jake está bem?
- Ele vai ficar, senhor.
- Ok. Passe o telefone para ela.
Um barulho e então ouvi a voz da morena bonita que acabava com a
minha sanidade, mesmo à distância.
- Você manda seus capangas me filmarem? Que tipo de stalker
maluco você é? - perguntou.
- Amore mio - respondi, voltando a sorrir quando a escutei bufar.
- Você sempre soube que sigo todos os seus passos mesmo a quilômetros de
distância. Sei tudo sobre você, Mia. É sério que nunca percebeu que é
filmada e fotografada constantemente?
- Você se diz tão possessivo, mas permite que eu seja o reality show
particular de um dos seus soldados?
Isso me fez rir.
- Jake é casado com outro soldado da Blood Skull, querida. Caleb,
um atirador de elite. A propósito, você tem treinamento?
Mia ficou momentaneamente em silêncio, até que suspirou, resignada.
- Só respondo a essa pergunta sob tortura.
- Querida, não me dê ideias - respondi, deixando claro o duplo
sentido na frase. Ela deu um risinho baixo, mudando de assunto.
- Onde passou o Ano-Novo? - questionou.
- Até me esqueci disso - falei enquanto olhava as paredes de vidro
da minha cobertura, vendo que estava quase amanhecendo. - Estava em
uma operação.
- Estava? - questionou com certo desdém na voz.
- Liga a câmera - disse, já ativando a minha, fazendo a chamada
virar uma ligação de vídeo. Olhei a tela do celular e sorri, percebendo que
Mia ficou muda e a câmera continuava desligada. - Eu sei que está me
vendo, amore mio.
- Esse sangue no pescoço é seu? - questionou no exato momento
em que sua imagem apareceu do outro lado da tela.
Linda. Puta merda! Linda pra caralho!
- Um corte superficial - respondi e ela acenou em positivo.
- Estava mesmo em combate - disse, como se falasse consigo
mesma.
- Sim, acabei de chegar - respondi, virando a tela para as armas e
roupas sobre o sofá.
- A operação foi bem-sucedida? - questionou, então me sentei no
sofá, vendo que realmente parecia interessada no assunto.
- Tivemos uma baixa de quatro pessoas.
- Isso é ruim?
- Ainda que tivesse acontecido apenas a morte de um soldado, seria
ruim.
- Meu pai não costuma ligar muito para isso, desde que a
mercadoria ou a operação tenha atingido seu objetivo.
- Eu e seu pai lideramos nossos homens de formas diferentes, além
disso, Luigi é um pau no cu - falei, fazendo-a rir.
- Em alguma coisa concordamos. - Ficamos em silêncio por um
momento e aproveitei para olhar cada traço do rosto dela, irritado pelo celular
da minha soldado não ter a imagem tão boa para poder olhar melhor seus
traços. - Dominic, obrigada por essa viagem.
Mia sabia que não era uma cortesia do seu pai, claro que sabia. O
arrombado precisava deixar claro que a filha era apenas um estorvo em sua
vida e não um elo importante que o unia a outra organização criminosa.
- Já disse, não sou seu inimigo. - Foi o que respondi.
- É - disse, mais para si mesma do que para mim. - Veremos. Vou
desligar para entregar o celular à Selena.
- Tudo bem - concordei, mesmo que minha vontade fosse de ouvir
sua voz por mais um tempo.
Ela sorriu de leve, mordendo o lábio.
- Boa noite, vita mia - brincou.
- Boa noite, amore mio - respondi e então ela desligou.
Sorri, soltando uma risada incrédula ao perceber como parecia um
idiota na puberdade quando o assunto era aquela mulher.
Resignado, me levantei disposto a ir até o banheiro tomar um banho
relaxante e em seguida dormir, já que levando em consideração que o sol já
estava nascendo, devia ter apenas umas três horas de sono até acordar e estar
presente para o almoço com minha família.