Se ajeita na cama, se cobre e fica me olhando.
- Cala a merda da boca e pare de sorrir.
João cai na gargalhada e vejo os meninos nos olharem.
- Desculpa! É que você parece aquele velho resmungão do desenho da casa que voa. Cara, ele nunca está feliz e vive reclamando.
- Eu não sou assim!
- É sim! Do tempo que estou do seu lado só fez cara feia e criticou.
Agora se senta e me encara firme.
- Você prefere viver ao lado de uma pessoa chata, reclamona ou feliz e espontânea?
- Feliz e espontânea.
- Então me aceita que dói menos e tente não ser chato, muito menos reclamão, que vamos nos entender.
Seguro a vontade de sorrir.
- Boa noite, velho!
Fala cobrindo a cabeça para dormir.
- Boa noite, sorriso!
Ri alto e me pego sorrindo também. Talvez ele não seja tão irritante assim. Respiro fundo e penso nas palavras da minha mãe: "TENTE SE DIVERTIR". Só espero que amanhã seja melhor.
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Acordamos cedo e após a nossa higiene seguimos para o refeitório. Coloco minha bandeja no balcão e escolho algumas coisas para comer.
- Dormiu bem?
João pergunta atrás de mim.
- Sim.
- Eu não.
Olho para ele sem entender.
- Não ouviu nada de noite?
- Não.
- Dormiu com os fones?
Pergunta apontando para os fones no meu pescoço.
- Sim.
- Ontem uma galera fugiu das cabanas e se reuniu para tocar e cantar na beira do lago.
- Legal!
Digo saindo com a minha comida e ele vem atrás. Se não dormiu, se está reclamando é porque ficou no alojamento.
- Por que não foi?
- Eu não sei o que fazer, chego lá e fico perdido, não quero parecer um babaca. Você bem que poderia ir comigo essa noite.
Paro em frente a uma mesa encarando ele.
- Sabe que essa coisa de dupla não é o tempo todo, certo?
- Sei, só quero um amigo ao meu lado.
João parece um cachorrinho carente querendo um amigo.
- Vou pensar, mas tente controlar mais essa sua boca. Se me prometer falar menos durante o dia, irei com você a noite.
- Fechado!
Tomamos o café e seguimos para o ponto de encontro com todos do nosso grupo.
- Bom dia a todos! Hoje começaremos nossas atividades, vamos nos separar em quatro equipes. Amarela, azul, verde e vermelha, então se separem.
Começa aquela correria e seguro o João.
- Vamos ficar sem grupo.
Reclama me encarando.
- Para de ser afobado, o grupo que terminar com menos entramos.
Ele observa tudo e um enorme sorriso surge.
- O grupo da Clara!
Sussurra, vai andando até o grupo com menos pessoas e o sigo.
- Cara, você é um gênio!
Afirma feliz enquanto nos aproximamos.
- Pare e observe antes de correr.
Concorda com a cabeça, olho para o meu lado, vejo um lindo sorriso e olhos verdes me encarando.
- Oi!
A garota sussurra para mim.
- Oi!
Devolvo sorrindo e esse sorriso é novo pra mim em meus lábios.
- Sou a Ana!
- Eduardo!
E alguém do nada abraça a garota.
- Fique por perto cabeça, assim consigo te proteger das bexigas.
- Não preciso de proteção.
Responde o garoto bem grudento, revira os olhos e o menino ri. Puxa ela para longe e apenas observo. Sinto um toque no meu ombro.
- Vejo que conheceu a Ana e o Fabrício.
- Ele é o namorado dela?
- Não.
João responde animadinho.
- Irmão mais velho da Clara, todos acham que ele é caidão pela Ana, mas nunca vi nada.
Respiro fundo e não gosto dessa sensação deles juntos.
- Vocês serão a equipe azul.
Dora diz passando e nos entregando coletes azuis.
- Vamos fazer a guerra de bexiga, que claro estará com água.
Manoel avisa passando e colocando nos nossos coletes oito bexigas.
- Se ao final alguém ainda estiver seco o grupo dessa pessoa ganha.
- O que ganhamos?
João pergunta.
- Festa no lago essa noite. Cada um tem cinco minutos para se esconder valendo agora.
Todo mundo começa a correr e João desaparece. Sigo caminhando pelo meio do mato, vejo algumas pedras e subo me sentando nelas.
- Sentado ai não vai nos ajudar a ganhar.
A voz dela soa ao meu lado, viro e assisto Ana sentando na pedra comigo.
- Ficando aqui me excluo e provavelmente ninguém me molha.
- Mas então não vai molhar ninguém.
Ela diz com um lindo sorriso.
- Ainda fico seco.
- Já entendi você, seus pais te forçaram a vir, está evitando se divertir.
- Exatamente!
- Já imaginou que talvez possa ser divertido?!
- Acho impossível!
Vem se aproximando de mim e sua respiração quase se mistura a minha. Encara minha boca assim como faço com a dela e sinto meu coração acelerar.
- Me desculpa!
Ana murmura estourando uma bexiga na minha cabeça, me molhando todo e começa a rir. Seguro a risada mordendo os lábios de olhos fechados.
- Sabe que sou da sua equipe, né?
- Sim!
Sua gargalhada tem um som muito agradável.
- Sabe que por sua culpa vamos perder, né?
- Ainda estou seca.
Abro meus olhos e encaro olhos verdes.
- Você não vai fazer isso!
Fala se afastando e rindo mais ainda.
- Isso o que?
Me faço de louco e vou me aproximando dela. Ana levanta, sai correndo e pulo para fora da pedra correndo atrás dela. Observo seus longos cabelos escuros ao vento e tenho quase certeza que nunca vi nada tão perfeito se movendo. Ela corre rindo e às vezes me olha de um jeito muito incrível mordendo os lábios. Posso correr mais rápido e pega-la facilmente, mas estou curtindo vê-la assim. Acho que sei como o leão se sente perseguindo sua presa. É excitante de um jeito surpreendente! Ela corre para uma arvore e se esconde.
- Sabe que estou te vendo, certo?
- Sei! Preciso de ar e a arvore é grande. Posso rodar ela por muito tempo fugindo de você.
Ando devagar e me aproximo.
- Eduardo...
Me chama e gosto do meu nome em seus lábios. Ando pela lateral da arvore.
- Ainda está ai?
Pergunta e vejo olhar para um lado. Pulo a sua frente e prendo-a na arvore.
- Merda!
Resmunga, suas mãos estão no meu peito e seu corpo colado no meu, preso a árvore.
- Você não me molharia...
Fala manhosa e levando a mão até o meu rosto. Seus dedos vão tocando minha bochecha, queixo e contorna meu rosto com delicadeza. Gosto do toque dela, de seus dedos delicados em mim. Aproximo meu rosto do dela que está ofegante, colo nossas testas encarando seus olhos.
- Molharia!
Digo estourando uma bexiga em sua cabeça que ri muito, sua risada se mistura a minha.
- Isso é divertido!
Afirmo empolgado, soltando o corpo dela da árvore.
- Eu sei!
Joga uma bexiga em mim me molhando mais. Estamos os dois atirando bexigas sem parar e ensopados. Assim que as bexigas acabam ela pega a minha mão e me puxa.
- Onde vamos?
- Voltar, precisamos de toalhas. Uma das regras dessa brincadeira é se secar rápido, assim evitamos uma doença.
Enlaça nossos dedos e sigo sorrindo feito um idiota para a cabana.
Assim que nos aproximamos observo muitos do nosso grupo molhados, mas não vejo João e nem Clara. Ana me passa uma toalha e fica com uma. Seco o meu corpo e ela o dela sem deixar de sorrir um minuto.
- Parece que não temos vencedor.
Manoel anuncia quando todos chegam, João está com um enorme sorriso ao lado da Clara.
- Vamos fazer essa festa coletiva então. Todos para um banho quente!
O supervisor grita e me separo da Ana. João se aproxima de mim suspirando.
- Beijou ela?
- Sim, melhor dia da minha vida.
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O resto do dia foi de caminhada e comida. O tal do Fabrício não desgrudou da Ana, não que esteja com ciúmes, apenas gostei de ficar ao lado dela.
- Vamos nos arrumar para a festa.
João diz seguindo para o alojamento.
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Me arrumo com uma calça jeans escura e uma camiseta branca pólo. Ele está de jeans claro e camiseta preta pólo.
Seguimos para o grupo em volta da grande fogueira. Manoel toca violão e a galera canta com ele. Pego algo para beber e observo todo mundo, ela ainda não veio.
- Clara!
João sussurra e me viro para onde ele está olhando. Clara vem com um vestido quase curto azul. O que chama a minha atenção é a pessoa que vem ao seu lado. Respiro fundo vendo Ana com um vestido longo florido bem claro e com seus cabelos presos em um rabo de cavalo. Seu sorriso se amplia ao me ver e as duas estão vindo em nossa direção.