Respondo saindo da cabana e seguindo pela floresta. Coloco uma música agitada para impor ritmo aos meus pés e sigo correndo o máximo que consigo. Minha mente tenta fugir de uma certa pessoa, mas seu sorriso e suas travessuras surgem em minha mente e me pego sorrindo igual um idiota. Volto para a cabana depois de uma hora e tomo um banho. Coloco minha roupa e sigo para o refeitório. Assim que entro estranho o fato de só ter os meninos. Coloco minha comida e sigo para a mesa do João.
- Cadê as meninas?
- Não sabemos.
Manoel entra chamando a nossa atenção.
- Tivemos problemas com o ônibus das meninas noite passada e elas tiveram que dormir na cidade. Estão arrumando o ônibus, mas ainda não sabemos quando elas voltam.
João me olha e depois em volta percebendo alguns meninos conversando.
- Vamos fazer hoje o dia só dos meninos então, vou liberar a quadra e montar times. Quero todos lá em trinta minutos.
Manoel grita já saindo do refeitório e não consigo ignorar um certo alguém do meu lado.
- O que foi?
- Você não tem cara de que joga bola.
Reviro os olhos e continuo o meu café.
- Sabe jogar?
- Não, detesto futebol, gosto de corrida e luta.
- Posso te fazer uma pergunta?
Olho para ele e confirmo com a cabeça.
- Você é gay?
Encaro o amigo nada discreto, querendo rir da pergunta bem invasiva.
- Nada contra, juro, acharia até legal ter um amigo gay.
- Eu não sou gay.
- Tem certeza? Você já se decidiu? Porque nessa idade ainda é tudo muito estranho.
- Sério João, eu não sou gay.
- Então você só é estranho?
- Sim.
Ele começa a rir.
- Se mudar de idéia eu vou te apoiar viu.
***********
Assim que chegamos na quadra, Manoel começa a divisão de times. Para a minha alegria, meu primeiro jogo é contra o time do Fabrício. O jogo começa, me deixam no ataque e a pessoa que me marca é justamente o Fabrício. Ando de um lado para outro fugindo dele, esperando a bola.
- Afasta-se da Ana.
Sussurra parando nas minhas costas.
- Vai a merda!
Digo saindo de perto dele, mas não adianta muito.
- Ela não é esse tipo de garota que está acostumado em São Paulo.
Viro e encaro seus olhos.
- E eu não sou esse tipo de garoto de São Paulo.
Está me encarando irritado e antes que eu possa avançar nele sinto a bola bater em minhas costas. Fabrício chuta para longe e vem pra cima.
- Sai de perto dela.
Ordena, se afasta e troca de lugar com outro do time. Isso só pode ser brincadeira. Que merda acabou de acontecer? Nem namorado dela é e esta tentando me impor limites. Respiro fundo, conto até mil para não socar a cara desse idiota. Depois de passar o dia jogando, mesmo irritado seguimos para o almoço.
- Estou começando a ficar preocupado com as meninas.
João diz sentando a minha frente.
- Se tivesse alguma coisa errada Manoel diria.
Digo pegando um pedaço da carne.
- Elas estão demorando demais.
- Para de ser apaixonado. Logo a sua loira estará aí e vão poder se atracar pelos cantos.
Ele ri e morde um pedaço do pão.
- Sinto falta dos beijos dela.
Sinto falta do não beijo da Ana e isso é muito estranho. Nunca nos beijamos e sinto falta disso.
- O que tem com a Ana?
- Nada.
Digo bebendo o suco.
- Não me parece nada, estão bem juntinhos.
- Culpa sua, está pegando a amiga e por isso tenho que cuidar dela.
- Você gosta dela.
- Cala a boca, João!
- Quando ela está do seu lado nem parece um velho rabugento.
- Para de me perturbar e come.
*************
A tarde toda foi chuvosa e ficamos na sala de vídeo assistindo filmes. João dormiu durante o filme e não me segurei. Coloquei na mão dele um pouco de chantilly e agora estou passando uma pena em seu nariz. Ele resmunga, mas não mexe a mão. Passo a pena dentro do seu nariz, bate a mão na cara se melecando todo de chantilly e não consigo parar de rir.
- Que merda, Eduardo!
Reclama rindo, limpando o rosto e estou no chão rindo muito.
- Que bom que está se divertindo as minhas custas. É bom saber que faço um idoso feliz.
Vem andando para o meu lado e me levanto correndo.
- Nem vem, nada de me melecar.
Corre e passa o rosto na minha blusa.
- Para João!
Peço rindo ainda mais.
- Vamos nos limpar seu velho.
**************
O relógio marca 22hs da noite e nada das meninas voltarem.
- Vamos para a cama.
Manoel grita nos tirando da sala de vídeo.
- Elas não vão voltar hoje?
Pergunto começando a me preocupar com Ana.
- Vão Eduardo, o ônibus já saiu da cidade.
Respiro fundo e sigo para a cabana. Amanhã encontro com ela. Deito, coloco os fones, fecho meus olhos e deixo o sono me levar.
- Eduardo...
Escuto um sussurro em meu ouvido.
- Acorda dorminhoco...
Abro meus olhos e vejo Ana sorrindo.
- De novo não! Não quero mais sonhar com você.
Ela abre um lindo sorriso.
- Você sonha comigo?
Então percebo que estou acordado e ela realmente está ao lado da minha cama.
- O que faz aqui?
- O que anda sonhando comigo?
Reviro os olhos e ela morde o lábio inferior.
- Normalmente me força a fazer coisas legais.
- Vamos! Quero te forçar a fazer uma coisa legal.
- Agora?
- Sim.
Vai saindo do quarto em silêncio e vejo no relógio que são 02hs da manhã. Sigo Ana até o refeitório sem entender nada.
- O que vamos fazer aqui?
- Comer escondido.
- Sério mesmo?
- Sim.
Responde abrindo a porta da cozinha.
- Você não comeu na cidade?
- Comi, mas costumo assaltar a geladeira de casa na madrugada e aqui não vai ser diferente.
- E podemos fazer isso?
- Não! Se nos pegarem passaremos o dia todo amanhã lavando a louça suja.
- Você me trouxe para uma armadilha?
- Prometo que vai compensar.
Abre a geladeira, retira doce de leite e geléia de morango. Vai até o armário e pega um pacote de bolacha maizena. Anda até o balcão e senta nele com as coisas.
- Vem experimentar.
Retira a tampa dos potes e abre o pacote de bolacha.
- Vai misturar os dois na bolacha?
- Sim, vai ver a maravilha nisso.
Enfia a bolacha nos potes sem dó e ergue ela toda melecada.
- Vem!
Me aproximo ficando entre suas pernas. Abro minha boca e mordo a bolacha. Mastigo e realmente a mistura é muito boa.
- Isso é bom.
Sorri e faz uma bolacha para ela. Assim que coloca na boca fecha os olhos gemendo. Meus olhos observam sua boca e a forma como chupa os dedos. Merda! Desvio o olhar sentindo uma certa parte minha dura. Ela pega a bolacha e coloca os recheios de novo.
- Toma!
Assim que vou pegar, ela afasta rindo. Dou mais um passo entrando entre suas pernas e Ana afasta novamente a bolacha. Nossos corpos estão colados e coloco minhas mãos em suas pernas. Ela suspira e encara meus olhos. Vem com a bolacha até a minha boca e a mordo. Um pouco do recheio escorre pelo meu queixo e assim que ergo a mão para limpar ela me segura.
- Eu limpo!
Sussurra e aproxima a boca. Começa a beijar meu queixo dando pequenos chupões. Fecho meus olhos me deliciando com seus beijos e aperto a coxa dela quando sinto sua língua lamber uma pequena parte perto da minha boca. Minha respiração está acelerada assim como a dela. Se afasta e me encara com aqueles olhos verdes intensos. Subo minhas mãos para o seu rosto e o seguro firme.
- Sonhei com seu beijo.
Confesso aproximando minha boca da dela.
- E foi bom?
Pergunta encarando meus lábios.
- Muito.
Sussurro sentindo o calor de sua boca quase colada a minha.
- Eu quero te beijar.
Digo fechando meus olhos.
- Quem está ai?
Uma voz feminina surge no corredor.
- Merda, é a cozinheira.
Ana me empurra rindo.
- Vamos pela janela.
Diz já me puxando e seguindo para a janela. Assim que pulamos, corremos para as cabanas e ela está rindo. Estamos de mãos dadas correndo como loucos de uma cozinheira maluca que nos grita da janela. Paramos em frente às cabanas e ela me olha.
- Obrigada por me ajudar a roubar doce.
- Eu que agradeço! Acho que me viciou em bolacha com doce de leite e geléia de morango.
Se aproxima e se apóia em meus braços.
- Boa noite!
Beija o canto da minha boca e corre para a cabana das meninas. Assim que chego a minha cama me jogo nela e um sorriso espontâneo surge em meus lábios. Preciso desesperadamente sentir o gosto daquela boca.