ANA
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Capítulo 5 -5

Acordo mais cedo que o normal e talvez o motivo seja não ter conseguido dormir direito depois daquele sonho. Ele parecia tão real, tão perfeito. Faço minha higiene e coloco um agasalho, hoje o dia está frio.

- Já acordado?

João pergunta assim que acorda.

- Sim, não consegui dormir direito.

Pego os fones e o celular.

- Aonde vai?

- Correr um pouco.

Respondo saindo da cabana e seguindo pela floresta. Coloco uma música agitada para impor ritmo aos meus pés e sigo correndo o máximo que consigo. Minha mente tenta fugir de uma certa pessoa, mas seu sorriso e suas travessuras surgem em minha mente e me pego sorrindo igual um idiota. Volto para a cabana depois de uma hora e tomo um banho. Coloco minha roupa e sigo para o refeitório. Assim que entro estranho o fato de só ter os meninos. Coloco minha comida e sigo para a mesa do João.

- Cadê as meninas?

- Não sabemos.

Manoel entra chamando a nossa atenção.

- Tivemos problemas com o ônibus das meninas noite passada e elas tiveram que dormir na cidade. Estão arrumando o ônibus, mas ainda não sabemos quando elas voltam.

João me olha e depois em volta percebendo alguns meninos conversando.

- Vamos fazer hoje o dia só dos meninos então, vou liberar a quadra e montar times. Quero todos lá em trinta minutos.

Manoel grita já saindo do refeitório e não consigo ignorar um certo alguém do meu lado.

- O que foi?

- Você não tem cara de que joga bola.

Reviro os olhos e continuo o meu café.

- Sabe jogar?

- Não, detesto futebol, gosto de corrida e luta.

- Posso te fazer uma pergunta?

Olho para ele e confirmo com a cabeça.

- Você é gay?

Encaro o amigo nada discreto, querendo rir da pergunta bem invasiva.

- Nada contra, juro, acharia até legal ter um amigo gay.

- Eu não sou gay.

- Tem certeza? Você já se decidiu? Porque nessa idade ainda é tudo muito estranho.

- Sério João, eu não sou gay.

- Então você só é estranho?

- Sim.

Ele começa a rir.

- Se mudar de idéia eu vou te apoiar viu.

***********

Assim que chegamos na quadra, Manoel começa a divisão de times. Para a minha alegria, meu primeiro jogo é contra o time do Fabrício. O jogo começa, me deixam no ataque e a pessoa que me marca é justamente o Fabrício. Ando de um lado para outro fugindo dele, esperando a bola.

- Afasta-se da Ana.

Sussurra parando nas minhas costas.

- Vai a merda!

Digo saindo de perto dele, mas não adianta muito.

- Ela não é esse tipo de garota que está acostumado em São Paulo.

Viro e encaro seus olhos.

- E eu não sou esse tipo de garoto de São Paulo.

Está me encarando irritado e antes que eu possa avançar nele sinto a bola bater em minhas costas. Fabrício chuta para longe e vem pra cima.

- Sai de perto dela.

Ordena, se afasta e troca de lugar com outro do time. Isso só pode ser brincadeira. Que merda acabou de acontecer? Nem namorado dela é e esta tentando me impor limites. Respiro fundo, conto até mil para não socar a cara desse idiota. Depois de passar o dia jogando, mesmo irritado seguimos para o almoço.

- Estou começando a ficar preocupado com as meninas.

João diz sentando a minha frente.

- Se tivesse alguma coisa errada Manoel diria.

Digo pegando um pedaço da carne.

- Elas estão demorando demais.

- Para de ser apaixonado. Logo a sua loira estará aí e vão poder se atracar pelos cantos.

Ele ri e morde um pedaço do pão.

- Sinto falta dos beijos dela.

Sinto falta do não beijo da Ana e isso é muito estranho. Nunca nos beijamos e sinto falta disso.

- O que tem com a Ana?

- Nada.

Digo bebendo o suco.

- Não me parece nada, estão bem juntinhos.

- Culpa sua, está pegando a amiga e por isso tenho que cuidar dela.

- Você gosta dela.

- Cala a boca, João!

- Quando ela está do seu lado nem parece um velho rabugento.

- Para de me perturbar e come.

*************

A tarde toda foi chuvosa e ficamos na sala de vídeo assistindo filmes. João dormiu durante o filme e não me segurei. Coloquei na mão dele um pouco de chantilly e agora estou passando uma pena em seu nariz. Ele resmunga, mas não mexe a mão. Passo a pena dentro do seu nariz, bate a mão na cara se melecando todo de chantilly e não consigo parar de rir.

- Que merda, Eduardo!

Reclama rindo, limpando o rosto e estou no chão rindo muito.

- Que bom que está se divertindo as minhas custas. É bom saber que faço um idoso feliz.

Vem andando para o meu lado e me levanto correndo.

- Nem vem, nada de me melecar.

Corre e passa o rosto na minha blusa.

- Para João!

Peço rindo ainda mais.

- Vamos nos limpar seu velho.

**************

O relógio marca 22hs da noite e nada das meninas voltarem.

- Vamos para a cama.

Manoel grita nos tirando da sala de vídeo.

- Elas não vão voltar hoje?

Pergunto começando a me preocupar com Ana.

- Vão Eduardo, o ônibus já saiu da cidade.

Respiro fundo e sigo para a cabana. Amanhã encontro com ela. Deito, coloco os fones, fecho meus olhos e deixo o sono me levar.

- Eduardo...

Escuto um sussurro em meu ouvido.

- Acorda dorminhoco...

Abro meus olhos e vejo Ana sorrindo.

- De novo não! Não quero mais sonhar com você.

Ela abre um lindo sorriso.

- Você sonha comigo?

Então percebo que estou acordado e ela realmente está ao lado da minha cama.

- O que faz aqui?

- O que anda sonhando comigo?

Reviro os olhos e ela morde o lábio inferior.

- Normalmente me força a fazer coisas legais.

- Vamos! Quero te forçar a fazer uma coisa legal.

- Agora?

- Sim.

Vai saindo do quarto em silêncio e vejo no relógio que são 02hs da manhã. Sigo Ana até o refeitório sem entender nada.

- O que vamos fazer aqui?

- Comer escondido.

- Sério mesmo?

- Sim.

Responde abrindo a porta da cozinha.

- Você não comeu na cidade?

- Comi, mas costumo assaltar a geladeira de casa na madrugada e aqui não vai ser diferente.

- E podemos fazer isso?

- Não! Se nos pegarem passaremos o dia todo amanhã lavando a louça suja.

- Você me trouxe para uma armadilha?

- Prometo que vai compensar.

Abre a geladeira, retira doce de leite e geléia de morango. Vai até o armário e pega um pacote de bolacha maizena. Anda até o balcão e senta nele com as coisas.

- Vem experimentar.

Retira a tampa dos potes e abre o pacote de bolacha.

- Vai misturar os dois na bolacha?

- Sim, vai ver a maravilha nisso.

Enfia a bolacha nos potes sem dó e ergue ela toda melecada.

- Vem!

Me aproximo ficando entre suas pernas. Abro minha boca e mordo a bolacha. Mastigo e realmente a mistura é muito boa.

- Isso é bom.

Sorri e faz uma bolacha para ela. Assim que coloca na boca fecha os olhos gemendo. Meus olhos observam sua boca e a forma como chupa os dedos. Merda! Desvio o olhar sentindo uma certa parte minha dura. Ela pega a bolacha e coloca os recheios de novo.

- Toma!

Assim que vou pegar, ela afasta rindo. Dou mais um passo entrando entre suas pernas e Ana afasta novamente a bolacha. Nossos corpos estão colados e coloco minhas mãos em suas pernas. Ela suspira e encara meus olhos. Vem com a bolacha até a minha boca e a mordo. Um pouco do recheio escorre pelo meu queixo e assim que ergo a mão para limpar ela me segura.

- Eu limpo!

Sussurra e aproxima a boca. Começa a beijar meu queixo dando pequenos chupões. Fecho meus olhos me deliciando com seus beijos e aperto a coxa dela quando sinto sua língua lamber uma pequena parte perto da minha boca. Minha respiração está acelerada assim como a dela. Se afasta e me encara com aqueles olhos verdes intensos. Subo minhas mãos para o seu rosto e o seguro firme.

- Sonhei com seu beijo.

Confesso aproximando minha boca da dela.

- E foi bom?

Pergunta encarando meus lábios.

- Muito.

Sussurro sentindo o calor de sua boca quase colada a minha.

- Eu quero te beijar.

Digo fechando meus olhos.

- Quem está ai?

Uma voz feminina surge no corredor.

- Merda, é a cozinheira.

Ana me empurra rindo.

- Vamos pela janela.

Diz já me puxando e seguindo para a janela. Assim que pulamos, corremos para as cabanas e ela está rindo. Estamos de mãos dadas correndo como loucos de uma cozinheira maluca que nos grita da janela. Paramos em frente às cabanas e ela me olha.

- Obrigada por me ajudar a roubar doce.

- Eu que agradeço! Acho que me viciou em bolacha com doce de leite e geléia de morango.

Se aproxima e se apóia em meus braços.

- Boa noite!

Beija o canto da minha boca e corre para a cabana das meninas. Assim que chego a minha cama me jogo nela e um sorriso espontâneo surge em meus lábios. Preciso desesperadamente sentir o gosto daquela boca.

                         

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