- Nem todo mundo me irrita aqui.
Ela fecha os olhos e posso sentir sua respiração acelerada. O cheiro dela invade minha narina e seu doce perfume me inebria.
Um cheiro único que nunca havia sentido em toda a minha vida. Passo meu nariz em seu cabelo e ela solta um longo suspiro.
- Vamos para perto da fogueira?
Clara pergunta nos tirando desse transe maravilhoso e ao mesmo tempo perturbador. Eu nunca me senti tão perdido assim perto de alguém.
- Vamos!
Ana sussurra e se afasta de mim seguindo com Clara. Posso ver um leve rubor em suas bochechas e algo em mim diz que ela também sente essas coisas estranhas quando está comigo. João me olha e vejo um brilho em seu olhar.
- Ela mexeu com você.
Bufo para ele e sigo até a fogueira.
- Ela mexeu muito! O jeito que olha pra ela. Você nunca sorri e quando ela chega você não tira o sorriso da cara.
- Cala a boca, sorriso!
- Vamos lá seu idoso, seja um adolescente e beije na boca como se o mundo fosse acabar.
- É assim que um adolescente deve se comportar?
- Quase assim.
Ele começa a gargalhar.
- Minha mãe disse que são os hormônios.
Começo a rir e sento no tronco de uma árvore em frente a fogueira. Ergo meu olhar e a minha frente está ela. Os tons alaranjados da fogueira a deixam ainda mais linda. Está ao lado do tal Fabrício que abraça ela com carinho. Desvio meu olhar sentindo um gosto amargo na boca com essa cena.
- Está tudo bem?
- Sim!
Respondo ao João bebendo toda a minha bebida de uma vez.
- Vou pegar mais bebida.
- Ok!
Levanto e sigo para a mesa com as bebidas.
- Oi!
Uma menina de cabelos e olhos negros se aproxima toda sorridente.
- Oi!
Respondo enchendo meu copo com refrigerante.
- Sou a Lígia!
- Eduardo!
Sou curto na resposta, sem querer dar espaço para conversa.
- De Santos?
- Não, São Paulo.
- Eu sou de Santo André.
Fico calado, apenas observo de longe Ana e Fabrício.
- Não gosta muito de conversar, né?
- Não.
Ela suspira.
- Não estou dando em cima de você, juro. Apenas não conheço ninguém e você me pareceu legal para conversar.
Encaro seus olhos e vejo tristeza.
- Me desculpe, não queria parecer um idiota. É que realmente não sou bom em socializar.
- Eu percebi.
Ela diz com um lindo sorriso.
- Mas conheço alguém que pode ser interessante para você.
Digo pegando sua mão, puxando-a comigo. Me aproximo do João que fica meio tímido.
- João está é Lígia, é de Santo André e está meio perdida no meio de tanta gente.
- Olá gatinha! Perdida e foi achar justo o idoso?
Olho para ele bravo e ela começa a rir.
- Agora se explica o mau humor.
- Que bom que se entenderam.
Digo irritado.
- Não fica assim irritadinho! Lígia, depois que conhece melhor o resmungão percebe que é até legal.
- Vai a merda João!
Os dois começam a rir e me pego rindo também. Sinto meu corpo queimar e me viro para ver o que é. Ana me encara e assim que me vê olhando para ela fica vermelha e vira o rosto. Estava me vendo com Lígia e aqueles olhos estavam me fitando de um jeito estranho. Será que sente ciúmes de mim? Acho impossível! Volto a conversar com Lígia e João que se entenderam super bem. Ela pelo menos curte esse bom humor dele e o fato de não parar de falar.
- Vou andar um pouco.
Digo me afastando dos dois, é muita gente falando pro meu gosto, preciso sair um pouco ou vou pirar. Ando até um canto escuro de frente para o lago. A lua ilumina a água e o torna ainda mais incrível. Sento na grama e fecho meus olhos curtindo essa paz.
- Fugindo?
A doce voz dela surge próxima do meu ouvido.
- Tentando.
Digo segurando o sorriso.
- Me desculpe, não queria te atrapalhar.
Abro meus olhos e a vejo indo embora.
- Ana!
Chamo por ela que para de andar.
- Fica!
Peço em um sussurro.
- Não precisa ser gentil Eduardo, vou deixar você sozinho.
Sua voz soa com tristeza e minha vontade é de me afogar nesse lago depois de ter sido um idiota.
- Eu realmente quero que fique, gosto de ficar perto de você.
Ela se vira me encarando.
- Tem certeza?
- Sim.
Vem andando até onde estou e senta ao meu lado. Abraça as próprias pernas e observa o lago.
- Eu não queria ser grosso, me desculpa.
Ela me olha e sorri.
- Você não curte mesmo tudo isso né?
- Nunca vivi tudo isso, sempre evitei por achar que não combina comigo.
- Ser adolescente e curtir as férias com adolescentes não combina com você, adolescente? Isso não te parece estranho?
- Eu meio que não sou um adolescente normal.
- Percebi.
Olho bravo para ela que ri de mim. Se deita ao meu lado e olho para ela.
- Deita ao meu lado.
Pede e me deito ao seu lado sentindo meu braço encostar no dela.
- Olha esse céu e essas estrelas.
Observo o céu estrelado.
- Já parou para observar como é lindo?
- Não.
- Mas você acha lindo?
- Sim.
- Aqui é a mesma coisa! Se parar para observar vai perceber que é legal. Se nunca parar para ver, vai continuar julgando como chato. Cada dia aqui é de um jeito diferente e isso é muito bom.
- Hoje eu me divertir e muito por sinal.
Sinto a mão dela na minha, seus dedos se enroscam nos meus.
- Então se permita ser um adolescente como todos da sua idade.
- Eu nem sei como fazer isso.
Ela se vira e fica de lado me olhando, faço o mesmo e encaro seus olhos.
- Eu te ensino, apenas se solte e o resto te guio.
O ar que sai da sua boca toca meu rosto. Nossos olhos estão conectados de um jeito mágico. Levo minha mão ao seu rosto e acaricio sua pele macia. Ela fecha os olhos e sinto sua outra mão em meu peito. Observo seus lábios carnudos e avermelhados. Percorro com meu dedo seu lábio inferior e ela geme com o meu toque. Aproximo minha boca quase os tocando e meu nariz toca o dela.
- Ana!!!!!!!!!!
O grito forte de um homem nos assusta e ela abre os olhos se afastando.
- Acho melhor eu ir.
Diz sentando e faço o mesmo.
- Ana... eu...
- Amanhã te mostrarei as maravilhas do acampamento.
Avisa se levantando, me levanto e fico a sua frente.
- Boa noite, Eduardo!
Fica nas pontas dos pés e beija meu rosto bem próximo a minha boca.
- Boa noite, Ana!