João diz sorrindo e vejo que já está de dia. Retiro os fones e me estico todo.
- Você sumiu, te procurei e levei um susto quando te vi aqui dormindo. Pensei que tivesse sumido com a Ana.
- Ela estava com Fabrício.
Digo me sentando, sentindo o sangue ferver.
- Não estava não, ela sumiu também. Depois apareceu brava e desapareceu de novo. Fabrício ficou com a gente depois.
Será que ela foi me procurar? Será que ela também ficou mexida e resolveu ir para a cabana dela? Mil perguntas rodam na minha cabeça.
- Vamos tomar café e nos preparar para o dia puxado.
Saio da cama e sigo para o banheiro fazer minha higiene.
***************
Assim que termino de me arrumar seguimos para o refeitório. No canto do local, lindos olhos verdes me observam sorrindo. Dou um pequeno sorriso e sigo para pegar meu café. Mesmo João insistindo para sentarmos lá com as meninas neguei, não vou aguentar olhar para a cara daquele idiota do Fabrício. Após o café seguimos para o ponto de encontro com Manoel.
- Bom dia a todos!
Grita todo animado.
- Hoje vamos cozinhar! Vocês mesmos farão suas comidas em dupla. Agora meninos se misturem com as meninas, dupla mista rápido.
Vejo João andando em direção a Clara que sorri. Fabrício se aproxima de Ana que sai da direção dele vindo na minha.
- Pronto para a diversão?
Ela pergunta animada.
- Quer fazer dupla comigo?
- Claro! Disse ontem que te ajudaria a curtir esse acampamento.
Um enorme sorriso surge em meus lábios.
- Então estou pronto para a diversão.
Ela segura a minha mão enlaçando nossos dedos e um arrepio surge em meu corpo. As duplas vão se formando e vejo Fabrício ficar com a Lígia. Seguimos para a cozinha com várias mesas nos esperando.
- No canto temos panelas, à direita os fogões e ao lado a dispensa, pensem no prato e mãos a obra.
Dora fala nos indicando os lugares. Escolhemos uma mesa e Ana pega um livro de receitas.
- Pra que o livro?
- Quero uma receita difícil.
- Está de brincadeira, né?
- Claro que não! Qual a graça de fazer dupla para cozinhar e fazer coisa normal que sempre comemos? Vamos fazer algo muito difícil.
- Ana, vamos ter que comer isso depois e se ficar ruim vai ser...
Paro de falar quando percebo que quase sai um palavrão.
- Vai ser foda!
Ela continua meu raciocínio rindo.
- Não precisa ter vergonha em falar assim.
Fico vermelho e desvio o olhar focando no livro.
- O que gosta de comer?
Pergunto vendo-a virar as folhas.
- Eu como de tudo, e você?
- Também, mas eu queria fazer a torta da minha avó. Eu amo a torta dela e queria fazer pra você.
Me olha e vejo um brilho em seu olhar.
- Quer fazer pra mim o seu prato preferido?
- Sim!
Respondo dando de ombros.
- Isso é muito fofo!
Beija meu rosto e sinto que estou vermelho.
- Eu te ajudo, o que vamos precisar?
Digo a ela tudo que preciso e vamos juntos na dispensa. Separamos os ingredientes na mesa.
- Torta de frango com palmito?
- Sim!
- Acho que isso vai se tornar meu prato preferido também.
Me sinto orgulhoso por escolher algo que ela vai gostar.
- Vou cozinhar o frango enquanto pica os ingredientes.
Ela diz se afastando, indo para o fogão. Começo a lavar e picar alguns ingredientes. Estamos os dois nos olhando o tempo todo sorrindo. Gosto dessa sensação quando estou com ela. É um desejo de nunca mais me afastar e isso me assusta. Estou criando uma dependência dela. Ana desfia o frango e sigo refogando algumas coisas para misturar nele.
- Você tem jeito na cozinha, acho que já cozinhou bastante.
- Minha avó! Ela sempre me colocava para cozinhar com ela.
- Colocava?
- Sim, faleceu faz dois anos.
Digo sentindo uma saudade enorme dela.
- Sinto muito!
Me abraça pela cintura e enterra o rosto em meu peito.
- Tudo bem, ela estava sofrendo e acredito que foi melhor assim.
Ana deposita um leve beijo em meu coração e ele acelera muito. Ergue os olhos me encarando e ficamos tão próximos que posso sentir o cheiro de seu batom de morango.
- Está sentindo esse cheiro?
Pergunta e me lembro do refogado.
- Merda!
Me afasto dela que está rindo e tiro a panela do fogo.
- Para de rir, vai comer torta queimada.
Digo fingindo estar bravo, ela segue para fazer a massa e misturo todo o recheio.
- Eduardo, olha isso!?
Me chama erguendo a mão com farinha. Me aproximo e assim que observo a farinha ela assopra no meu rosto, rindo alto em seguida.
- Não acredito que fez isso, sua criança.
- Fiz seu, velho.
Assim que consigo abrir um olho vejo ela chorando de rir.
- Não devia ter feito isso.
Ana para de rir e me olha assustada.
- Você não faria isso!?
- Faria!
Digo puxando-a para os meus braços, passando o meu rosto por toda a lateral do dela que começa a rir e pego mais farinha tacando em sua cabeça. Tenta fugir e a puxo ainda mais para mim. Me desequilibro e caio no chão com ela em meu peito. Ana ri e o som da sua risada é incrível.
- Estamos cheios de farinha.
Diz limpando meu rosto, fecho meus olhos me deliciando com seu toque delicado.
- Prefiro quando fica de olhos abertos, amo a cor dos seus olhos.
Confessa em um sussurro e assim que abro meus olhos vejo seu rosto bem próximo do meu.
- Desde ontem não paro de pensar nisso.
Murmura aproximando a boca da minha. Meu coração está acelerado e meus olhos estão grudados em sua boca que se aproxima ainda mais da minha.
- Está tudo bem aqui?
Manoel surge ao nosso lado e fecho meus olhos frustrado.
- Sim, apenas problemas com a farinha.
Ana diz e posso sentir seu corpo sair de cima do meu. Levanto e bato a farinha do meu corpo.
- Vamos logo que daqui a pouco é a hora do almoço.
- Ok!
Respondo irritado.
- Já vamos colocar no forno.
Ana diz terminando de amassar a massa. Montamos a torta e colocamos dentro do forno. Ela senta no balcão e me encara.
- Realmente ficou pensando no que aconteceu ontem?
Pergunto me sentando ao seu lado.
- Sim.
Responde e suas bochechas ficam vermelhas.
- Eu também fiquei.
Digo colocando minha mão sobre a dela.
- O que acontece com você e o Fabrício?
- Nada.
- Ele vive te cercando.
Digo olhando a parede a minha frente.
- Ele cuida de mim como um irmão, nos conhecemos há muito tempo.
- Acho que ele gosta de você.
Ela começa a rir.
- Para Eduardo!
- É sério! Ele me olha irritado e vive tentando ficar do seu lado.
- Ele me protege, só isso.
- Então você não tem ninguém?
- Ninguém.
- Está livre?
Pergunto erguendo uma sobrancelha, ela salta do balcão e segue para o forno.
- Não me respondeu.
- A torta está pronta.
Ana abre o forno e tira a torta.
- Está com um cheiro ótimo.
Observo a torta e sinto seu cheiro maravilhoso.
- Está bem parecida com a da minha avó.
Seguimos para o refeitório, vejo Clara e João rindo e nos aproximamos.
- O que fizeram?
Pergunto a eles.
- Macarrão, nenhum dos dois sabe cozinhar.
- Fizemos torta.
Ana diz mostrando a torta.
- Cara, dá um pedaço?
João pede e vem se aproximando.
- Nem pensar, fique com o seu macarrão.
Respondo rindo, saindo com a Ana de perto.
- Você foi malvado, o que custa dar um pedaço?
- Depois que você experimentar me diz se daria a eles.
Digo a Ana que senta e pega duas colheres me entregando uma.
- Sem pratos?
- Só colheres.
Fala colocando a colher na torta e pegando um enorme pedaço. Ela assopra e seus lábios ficam perfeitos em um bico. Coloca na boca e fecha os olhos. Solta um gemido e um suspiro de prazer.
- Isso é realmente a coisa mais gostosa que já comi.
Elogia pegando outro pedaço.
- Eu te disse!
Com o mais um pedaço e quando chego ao último vejo Ana jogada na cadeira.
- Acho que não consigo respirar.
Começo a rir com a cena que vejo.
- É serio, está tudo cheio de torta.
Manoel aparece ao nosso lado.
- Ana as meninas vão com Dora em uma atividade fora. Eduardo os meninos vão comigo fazer trilha.
- Ok!
Respondo me levantando.
- Obrigada pela torta.
*************
Passei o dia todo pensando nela, as meninas não apareceram no jantar e até agora nada delas. Tomo um banho e coloco um agasalho.
- Sabe das meninas?
Pergunto ao João.
- Parece que o ônibus pifou, vão chegar só de madrugada.
- Que merda!
- Sim! Queria dar um beijo de boa noite na minha gata.
Um enorme sorriso surge nos lábios dele.
- Como vocês estão?
- Muito bem!
Diz deitando e puxando a coberta. Coloco meus fones e fecho os olhos esperando o sono. Sinto um toque em meus lábios, abro meus olhos e vejo Ana tocando meus lábios com o dedo.
- Ana....
Ela sorri e se inclina.
- Eu preciso de um beijo seu.
Se aproxima de mim, passa o nariz no meu e fecha os olhos.
- Eduardo....
Sussurra colando os lábios nos meus de forma calma. Sua mão segura meu rosto e as minhas seguram a cabeça dela se perdendo em seus cabelos. Sua língua desliza para a minha boca e sinto seu gosto maravilhoso. Minha língua encontra a dela e se unem de forma perfeita. Seus lábios quentes se moldam aos meus e ela morde meu lábio inferior me fazendo gemer. Afasta-se ofegante assim como eu. Encaro sua boca agora vermelha do beijo e a vontade louca de repetir isso é maior que tudo. Ela se levanta sorrindo.
- Ana...
Chamo por ela e assisto indo embora.
- Ana...
Sento na cama ofegante e observo o quarto todo. Merda!!!!!!!! Foi um sonho!!!!! Me jogo na cama novamente sentindo meu coração acelerado e certa parte do meu corpo bem acordada. Ela está dominando até meus sonhos.