Capítulo 4 Como um pássaro na gaiola!

Capítulo 4 ⭐ೋ

Mel se encontrava encarando o teto que era iluminado com as luzes coloridas que adentravam da janela.

Seus olhos estavam fixos e sem brilho. Suas pequenas mãos seguravam com força o lençol que cobria seu corpo nu.

David estava adormecido ao lado da menina. Ele estica seu braço sobre ela.

Amary não se move e continua fitando o nada. Sua pelo clara ainda tinha as marcas roxas feitas pelos lábios do homem. Suas pernas e o quadril continuavam doloridos.

- Ainda está acordada? - O homem fala.

Mel permanece vidrada sem esboçar nenhuma reação.

- Melhor dormir logo, pois amanhã teremos muito trabalho! - O moreno afirma e puxando um pouco o corpo da jovem, ele encosta sua cabeça perto do ombro pequeno e fino.

Dentro da cabeça da ruiva apenas um som abafado se propagava. Ela estava em estado de negação da realidade.

Como qualquer primeira vez, aquele dia seria inesquecível para a menina, mas não por um bom motivo.

Todos os eventos que aconteceram a marcaria para o resto da vida!

O zumbido agudo continua se espalhando na mente da pequena.

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Com o passar do tempo, Mel se torna praticamente propriedade do David. Ele dizia o que ela podia falar, o que vestir e principalmente o que fazer. O mais velho amava ter o controle total da jovem.

A ruiva não queria viver como um brinquedo sem alma, mas ela não conhecia ninguém naquele lugar e estava agora completamente só no mundo. Mas o que mais a impedia de se libertar, era o medo que possuía de seu namorado.

Ela recebeu ferimentos físicos e psicológicos nas poucas vezes que tentou se rebelar contra o homem. Mesmo sendo criada em um lar de caridade, a garota nunca havia passado por tanto sofrimento. Era muito para se lidar sendo tão jovem e inocente.

Fermi monta o restaurante que tanto queria e coloca a pequena como cozinheira. Ele inicia sua exploração dos talentos da Mel. Esse foi um dos motivos para o homem se aproximar da jovem. Isto e também a oportunidade de furtar do orfanato.

Com os seus trinta e um anos, David já havia feito alguns golpes e dominar uma órfã ingênua era muito fácil para ele. Fácil e gratificante!

Durante o dia, Mel trabalhava praticamente sozinha no estabelecimento do casal ficando horas pressa na cozinha. David lidava com os clientes e não permitia que a ruiva tivesse contato com os estes. Para ele, quanto mais isolada a jovem Amary ficava era melhor. Já durante a noite, a "tortura" continuava. Fermi não demonstrava carinho por ela mas sempre antes de dormirem o mais velho usufruía do corpo de sua companheira. Não importava o quanto ela estivesse cansada ou doente, nada mais a pertencia! Ela só tinha a sua mente que encontrava a paz enquanto cozinhava, e assim passaram dias, semanas e meses...

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[Dois anos depois...]

ೋ Tempos atuais

Após se recordar de como havia se metido naquele "inferno", Mel abraça seu amado livro com ternura.

"Mesmo me tornando uma boneca vazia, você age como minha alma!"

Amary começa a apagar as luzes do local, mas antes de sair, ela olha em volta e vendo que estava sozinha, a jovem retira seu sapato e debaixo de seu pé, ela pega duas notas de dinheiro enroladas. Mel as agarra e rapidamente vai até a batedeira de bolo.

Tum, tum, tum...

Seu coração estava disparado por se sentir apavorada.

Ela puxa uma peça solta que se encontrava do lado de fora do utensílio. No local pequeno, a jovem coloca as duas notas juntas com outras que estavam lá.

"Só mais um pouco e eu terei o bastante para ir embora! Ir para bem longe daqui!"

Nos primeiros meses, a mulher realmente se tornou submissa ao namorado. Ele a "sufocava" tanto que ela não conseguia e nem tentava pensar em maneiras para se libertar. Mas após o primeiro ano, David começou a permitir que a Mel fizesse compras em um mercadinho ali perto. O local era de conhecidos então o homem se sentia mais tranquilo em deixa-la ir. Mas o que ele não sabia, era que as vezes os donos do local davam descontos para a jovem sem relatar no comprovante fiscal, e foi assim que a menina começou a guardar de pouquinho e pouquinho o que sobrava das compras para poder organizar uma fuga.

Ela deixa tudo como estava, e respirando fundo, a ruiva se direciona para sua casa.

Amary abre a porta.

- Por que demorou tanto? Estava falando com alguém? - Fermi se encontrava assistindo televisão sentado no sofá.

- Não... Demorei porque os panos de chão estavam bem encardidos.

- Tanto faz, estou com fome! Prepare algo bom lá para mim! - Ele diz enquanto muda os canais da televisão sem a encarar.

"Certo! Só mais um pouco! Preciso aguentar só mais um pouco!"

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[Um dia depois...]

- Estou dizendo menina, eu sou uma ótima dançarina. - Rosa comenta enquanto bebe um copo de água estando encostada na pia.

- Háhahah! Adoraria vê você dançar um dia desses! - Mel diz.

A ruiva se agacha diante do fogão o analisando.

- Um dia te sequestro e te levo para minha área! Os "arrasta pés" de lá são incríveis!

Amary sorri em resposta.

"O que tem de errado com esse forno?"

Já fazia alguns minutos que a jovem tentava ligar o eletrodoméstico.

"Está sem gás no encanamento?"

- Mel aconteceu algo?

A pequena se põe de pé.

- Eu não sei! Vou chamar o David.

"Ele vai ficar furioso se estiver quebrado!"

Se enchendo de coragem, a jovem vai até o seu parceiro.

Como ela tinha previsto, ele se altera após notar o problema no fogão. O moreno joga a culpa toda na garota sem levar em consideração que o eletrodoméstico era usado por horas de segunda a segunda sem cessar.

O pequeno estabelecimento fica sem opção e fecha para manutenção, já que o problema na cozinha estava além do que parecia. Rosa volta para sua casa, e Mel vai para a sua também enquanto Firme auxilia os técnicos que foram consertar o problema na cozinha.

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Descalça, a jovem caminha sobre o piso do quarto após o banho.

Ela seca seus cabelos cor de maçã madura enquanto encara as pessoas que andam na rua pela grade da janela.

"Nesses últimos dois anos, desde que me deixei ser presa como um passarinho na gaiola, nunca sai desse bairro. Se parar para pensar, até na época do orfanato eu mal saia... Em breve farei vinte anos, e isso me faz analisar se minha vida será sempre assim... Se deixarei ela passar diante dos meus olhos."

A pequena termina de se secar e resolve deitar no sofá da sala. Mel nunca tinha folga, e ficar sozinha em casa sem o seu parceiro obsessivo e controlador era raro.

"Parece que o problema não está só no fogão. David deve demorar mais algumas horas."

Mel fecha os olhos.

"Nem me lembro a última vez que fiquei um dia sem cozinhar. Eu realmente estou cansada hoje."

A ruivinha adormece em poucos minutos.

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O vento gélido da janela toca a pela da garota.

Mel se debatia.

"Não... Não!"

Ela tinha um de seus pesadelos de sempre.

A jovem se via em um local totalmente escuro. Ela abre os olhos e não consegue ver nada só a escuridão! Mel tenta falar mas a sua voz não sai! Tudo era agoniante e desesperador.

"Muito escuro... Não consigo respirar!"

Mesmo que andasse indo para todas as direções, a ruiva não consegue ver nem um flash de luz.

"Tão sufocante..."

Ela se ajoelha no chão e tenta se acalmar.

"Quero sair daqui! Preciso sair!"

Pondo a mão sobre seu peito, ela fecha os olhos e se concentra.

"Isso é um pesadelo! Só um sonho!"

Mel se lembra de uma reza que aprendeu com as freiras, e pondo toda a fé que tinha no ato, ela começa a pronunciar as palavras.

As poucos, uma luz azul turquesa nasce em seu peito e se propaga por todo seu corpo. Como uma explosão, o brilho azulado se espalha e Mel acorda.

Ela se senta rapidamente no sofá estando suada e com a respiração ofegante.

Tum, tum... Tum, tum...

Seu coração se encontrava disparado.

"Dessa vez o pesadelo foi pior! Posso sentir ainda aquela sensação sobre minha pele."

Mel paralisa de repente.

Um zumbido podia ser escutado pelo cômodo. Ele entra bem no fundo dos ouvidos da menina e isso parecia a machucar.

"Esse som é do meu sonho! Por que estou ouvindo isso agora e desse jeito tão forte?"

Ela se levanta enquanto põe as duas mãos sobre os ouvidos.

"Eu ainda estou no pesadelo?"

Tum, tum... Tum, tum...

A visão da garota começa a embaçar.

"Eu não... Não estou me sentindo bem!"

Mel cambaleia ao se mover.

Alguns passos são dados com força na escada que levava para o sobrado. Com brutalidade, David abre a porta.

Tum, tum... Tum, tum...

Assim que Mel o fita tudo some! O barulho agudo desaparece e sua visão fica estabilizada.

Por alguns segundos, ela vê uma névoa negra dominar o local. Era quase imperceptível!

Ela se endireita e encara o mais velho que a olha com seriedade.

O mesmo estende a mão e mostra o punhado de dinheiro enrolado.

Tum, tum... Tum, tum...

Os olhos da jovem se arregalam.

- Você sabe o que é isso? - David fala com um tom seco.

"Esse é o dinheiro que ajuntei por meses."

Ela não o responde.

- Se não te dou nada, como conseguiu esse dinheiro? HEIN? SUA VADIAZINHA O QUE ESTÁ ME ESCONDENDO?

O homem joga as notas na direção da pequena que recua por causa do ataque de fúria do parceiro.

- ESTAVA ESCONDIDO, NÉ? Eu só achei sua pequena traição porque as merdas que você nem arruma direito caíram no meu pé. Imagina o susto que levei quando vi isso?

"Ô Deus... Por quê? Por que isso tinha que acontecer? Não tenho mesmo sorte nessa vida!"

Por causa de experiências antigas, Mel sabia que não demoraria muito para o homem a agredir. Ela dá leves passos para atrás enquanto tenta se afastar.

- Como arrumou essa mixaria? Por acaso está dormindo com alguém? Tão frígida comigo se fazendo de santa, mas não passa de uma vadia! Isso me faz pensar como consegue? Será que sai de noite após eu dormir? HEIN? FALE ALGO?

- Da-David eu não te traí...

- NÃO? NÃO ESTAVA PENSANDO EM FUGIR E ME ABANDONAR? ISSO É TRAIÇÃO!

Tum, tum... Tum, tum...

Amary vê os olhos do namorado serem dominados por pura fúria.

Ele vai até ela e a mesma se encurrala na parede. Apenas com um movimento, ele lhe dá um tapa no rosto que faz ela cair no chão por causa da brutalidade.

Sua pele arde.

David a agarra pelos cabelos e a levanta do chão a encostando na parede.

A pequena o fita nos olhos estando com os dela cheios de lágrimas de dor.

- Eu faço tudo por você! Eu cuido de você e é assim que me agradece? Você só tem um lar por minha causa! É isso que dá trazer uma órfã suja para minha cama... Você é como uma cadela de rua sem raça!

- Se sou uma cadela sem valor, por favor me deixe ir embora! - A menina fala enquanto mostra uma coragem que nunca teve.

Tum, tum... Tum, tum...

David sorri e a olha de um jeito sinistro.

- Você tem que entender que é minha! Sua idiota! Você nunca vai se livrar de mim! - Ele sussurra no ouvido da jovem e sem pestanejar o mesmo encaixa sua mão no início da calça de moletom que ela usa. O moreno tenta puxá-la para baixo.

Sua intenção de viola-la era clara! Ele se sentia dominante naquele momento e isso sempre o excitava.

- Não... Não! - Mel segura sua roupa tentando impedir as invertidas do homem.

"Eu não quero! Nunca quis!"

Ela chora.

A cena o enfurece.

- Não? Como ousa me desprezar?

David segura a menina pelo pescoço.

Aos poucos ele tira os pés dela do chão. Seus dedos a apertava com força.

"Não... Na-não consigo respirar!"

A jovem se debate.

- Você me irrita tanto! Seu jeito de "mosca morta" sempre me chateou. Olha o que faz comigo? VOCÊ ME FAZ FAZER ESSAS COISAS!

- Dav... - Ela não consegue falar.

"Depois de tudo não quero morrer assim!"

Os olhos azuis da menina fita os do homem. A cada segundo sem poder respirar, ela via com mais clareza a névoa negra no cômodo.

"Vou morrer! Desse jeito ele vai me matar! Não quero! Ninguém vai saber o que aconteceu comigo! Não quero morrer assim! NÃO QUERO!"

Fechando os olhos, Mel sente seu peito se aquecer. Diante dos olhos do mais velho, ele nota uma leve luz azul turquesa iluminar a pele da jovem. Suas mãos que estavam no pescoço dela começam a esquentar até arder com intensidade.

- O QUÊ? - Assustado, David a joga no chão.

Ele fita as mãos queimadas e geme de dor sem entender o que havia ocorrido.

Tentando trazer o ar de volta para os seus pulmões, Mel se arrasta pelo chão na direção da porta da saída.

Firme a vê e mesmo com as mãos feridas, ele tenta segura-la pelas pernas.

"Dessa vez não tem jeito! Tenho que fugir! Ele iria me matar! Ele vai me matar!"

Mel o chuta e o afasta.

- VOCÊ NÃO VAI FUGIR MESMO QUE EU TENHA QUE TE ACORRENTAR!

- FIQUE LONGE SEU DOENTE! SEU DOIDO! - A jovem deixa toda a sua revolta sair. - EU TE ODEIO! EU TE ODEIO E TENHO NOJO DE VOCÊ!

David Insiste em agarra-la e Mel avista um vaso de flores. Sem pensar muito, ela o taca na cabeça do homem que cai no chão na hora.

Tum, tum, tum... Tum, tum, tum...

Seu coração estava à ponto de explodir.

O moreno fica deitado no chão com a cabeça sangrando.

Vendo que ele ainda estava consciente, a ruiva se movimenta com desespero e corre até o seu quarto. Ela pega sua mochila e coloca só o necessário nela. Amary veste um casaco sobre a roupa de moletom de dormir.

Mel pega seu livro e o abraça com carinho.

"Mesmo não sabendo para onde ir e como farei daqui para frente, sei que à hora chegou! Qualquer lugar é melhor do que aqui!"

A jovem demonstrando um olhar de pura determinação vai até a sala, e mesmo com o David se arrastando pelo chão, ela pega algumas notas que ele havia jogado.

- VOCÊ NÃO VAI ESCAPAR! VOU TE ACHAR!

Ela põe o capaz do casaco e o encara seriamente.

- Prefiro morrer de fome e frio do que deixar que me toque de novo! - Ela cospe na direção dele.

David esbraveja e Mel o ignora.

Ela puxa a porta e sente a brisa gélida em seu rosto. Algo em seu coração lhe dizia que não precisava ter medo, pois ela só estava no início de sua jornada!

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{Receita do dia}

➻ Quatro copos de tortura...

➻ Três litros de controle...

➻ Um kg de possessão...

➻ Moldando o tabuleiro com exatidão, surge a forma perfeita para a remoção.

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