Com o coração acelerado, despertei abruptamente quando uma mão pressionou minha boca subitamente. Meus olhos se arregalaram, esperando encontrar meu "hóspede", mas ao invés disso, me deparei com o rosto apavorado de Luíza.
Seu cabelo caía sobre mim, as pontas fazendo cócegas em meu rosto enquanto ela pressionava o dedo indicador contra seus lábios, indicando silêncio.
Compreendendo a urgência em seu olhar, me deixo guiar por ela, seguindo-a em silêncio enquanto evitava fazer o mínimo ruído possível sobre o piso de madeira. Cada passo era calculado, cada respiração controlada, enquanto tentávamos nos mover sem despertar a atenção de quem quer que fosse.
Apenas quando saímos do quarto e paramos no corredor, que solto o ar dos pulmões, voltando a respirar.
~ Por que tem um rastro de sangue na casa? ~ Luíza pergunta em um tom baixo controlado ~ E quem é aquele cara?! ~ Seu rosto branco estava quase todo vermelho, os olhos continuavam parcialmente arregalados.
~ Ele invadiu a casa ~ murmuro, olhando para a porta do quarto fechada ~ Estava aqui quando cheguei do trabalho.
~ E por que não ligou para a polícia? ~ Ela questiona entre dentes, como se tivesse sido relapsa e não ter tido feito isto.
~ Tinha uma arma... ~ Dou dois passos na sua direção, tencionando meu maxilar com os olhos fixos nela ~ todo tempo apontada na minha direção, se eu cogitasse isto, com certeza iria me encontrar morta.
Ela inspira o ar, erguendo as sobrancelhas.
~ Vamos fazer isso agora.
~ Não.
~ O quê?! ~ Ela balança a cabeça de um lado para o outro ~ Ele bateu na sua cabeça ou algo do tipo? Ele pode ser um estuprador, um bandido de alta perigosidade e você não quer ligar para a polícia!
~ Ele vai embora.
~ Ah, ele vai?
~ Vai. Ele só precisava de ajuda, Luíza. Estava ferido.
~ E você como uma boa samaritana, resolveu ajudar ~ diz com deboche.
Cruzo meus braços sob o peito, não acreditando que ela estava deixando subentendido que deveria ter feito alguma coisa, lutado com um homem bem maior do que eu e mais forte, apenas para proteger aquele casa.
Ela se aproxima mais um pouco, me fuzilando com o olhar, jogando o cabelo vermelho para trás dos ombros.
~ Não vou ficar com um criminoso dentro de casa ~ Dito isto, prestes a andar em direção da escada, a porta do quarto abre de repente e ela paralisa, fixando seu olhar no "hóspede".
Ele a olha com atenção de cima a baixo, a expressão indecifrável, como se estivesse tentando decifrar quem era a mulher em sua frente. Os olhos de Luíza finalmente conseguem desviar dos olhos dele, descendo para a arma que segurava e voltando mais uma vez para o meu blusão que ele vestia.
~ Algum problema? ~ Ele pergunta, a voz séria, capaz de causar um arrepio na espinha.
Continuo abraçada com o meu corpo, me sentindo intimidada, mesmo ele não ter olhado em nenhum momento na minha direção.
~ N-não ~ Ela gagueja, engolindo em seco.
~ É a Luíza, não é? ~ Ela me lança um breve olhar, antes de voltar a olhá-lo.
~ Isso.
Ele assenti devagar, se aproximando dela.
~ Sabe a Josie? ~ Ele olha na minha direção e Luíza faz a mesma coisa, assentindo ~ Ela não gosta de rosa ~ Ela franze o cenho confusa ~ Sendo amiga dela deveria saber disso.
~ E-eu devo ter me enganado ~ Sua voz soa entre cortada.
~ Você mora com ela, porra. Como se enganou?! ~ Ele eleva a voz, para a surpresa de nós duas.
Ela pisca algumas vezes, abrindo e fechando a boca, tentando afastar as lágrimas dos olhos.
~ Foi desleixo meu ~ diz por fim.
~ E não tem nada para dizer para ela?
Um breve silêncio se instala, enquanto ela tentava não olhar para a arma que ele segurava despreocupadamente.
~ O que quer que eu diga? ~ pergunta baixo.
~ Se desculpar é um bom começo.
~ Mas este presente foi do aniversário do ano passado.
~ Não importa. Seja uma boa amiga e seja gentil ~ Ele inclina a cabeça para o lado ~ Agora.
Luíza se vira na minha direção, mexendo as mãos em frente ao corpo.
~ ... me desculpa ~ Sussurra.
~ Acho que ela não ouviu.
~ Me desculpa por isto, Jojo.
Ele coloca a mão sobre o ombro dela, deixando todo o seu corpo tenso.
~ Muito bem. Agora faça um favor a si mesma e vá arrumar seu quarto, está um verdadeiro lixão aí dentro ~ Ela não hesita em virar os calcanhares em direção do quarto ~ Mas antes... ~ Ela para de imediato ~ o celular ~ A contra gosto, Luíza entrega seu Iphone de última geração, presente de seu pai e que eu teria que trabalhar praticamente dois anos em dois empregos, para conseguir pagá-lo somente.
Feito isto, ela entra dentro do seu quarto, fechando a porta em seguida. Desvio a atenção da porta, encontrando os olhos dele.
~ Não vai mais ter que usar essa merda ~ Ele comenta, se referindo ao blusão, antes de voltar para dentro do meu quarto.
Não havia dito que não gostava de usar aquele blusão, mas ele deve ter chegado a esta conclusão sozinho.
~ Não precisava fazer aquilo.
~ Ouvi a conversa de vocês ~ diz sentando na beirada da cama.
Merda.
~ Não deixei ela chamar a polícia ~ digo rapidamente.
~ E obrigado por isto. Só que não foi isto que me incomodou e sim o modo como ela falou com você.
~ Luíza é assim quando está nervosa.
~ Você não é ~ Nos encaramos por alguns segundos, até que decido quebrar o contato visual.
~ Me avise se estiver com dor.
Não espero ouvir uma resposta, invés disso, entro no banheiro, permanecendo lá até as batidas do meu coração se regularizarem e eu poder voltar para a cama.