Maya teve um momento de apreensão. Olhou para o rosto de Denis, no intuito de confirmar que era mesmo o carro dele. Ela avistou dois homens, também vestidos em terno, com feições que remetiam ao seu próprio povo. Denis abriu a porta do carro para Maya, mas ela hesitou. Não entraria ali com três homens desconhecidos.
- Ah, você está com amigos? Podia ter me dito antes... - ela declarou, demonstrando receio em seu tom de voz.
- Não são meus amigos, são meus seguranças. - Ele respondeu, com firmeza, determinado a dissipar qualquer dúvida sobre a presença deles.
Para Maya, aquilo parecia verossímil, pois homens ricos de seu país sempre andavam escoltados por seguranças, especialmente em outros países.
- Ok. Mas eu prefiro dirigir meu carro. E eles não vão subir ao meu apartamento... - Ela disse, querendo mostrar que era uma mulher decidida e que tudo ocorreria como ela desejava.
- Tudo bem, não tencionava convidá-los para subir ao seu apartamento. Eles permanecerão no carro. Vou acompanhá-la até seu veículo, então.
Denis seguiu Maya até o estacionamento ao lado da boate. Lá, ele se deparou com um carro de modelo simples, mas bem cuidado e com uma pintura metálica reluzente. Ele julgou que ela não deveria ser de uma família rica de seu país, para usar um carro daquele tipo. O país Paradsia era considerado o mais rico do mundo em questão de renda por habitante e distribuição de renda, além de abrigar parte das famílias mais ricas de todo planeta. Bilionários do mundo todo se refugiavam lá, pois era um país exclusivíssimo, onde tudo era luxuoso e o custo de vida altíssimo.
Ela entrou no carro, agradecendo-lhe por ele ter aberto a porta. Ela se sentia ansiosa. Não costumava levar homens a seu apartamento, na verdade, nunca levou nenhum com a intenção de "se divertir" - apenas colegas de universidade. Quando ele virou as costas, ela buscou seu celular rapidamente e mandou uma mensagem para o grupo que mantinha com suas amigas.
"Amigas, estou com um homem do meu país... Estou levando-o para nosso apartamento. Não sei, talvez hoje aconteça algo a mais..."
Maya nunca havia se deixado levar por homem algum e o máximo de interação que tinha até então era dar beijos e abraços em festas. Ela ainda era virgem. "E agora estou levando um desconhecido até lá!" Ela falou consigo mesma, enquanto dirigia, vendo o Audi a seguindo pelas ruas. "Por que eu acho que vou me arrepender disso? Tenho spray de pimenta na bolsa, por via das dúvidas... - Isso lhe soou animador."
Dirigiu no máximo de velocidade permitida, vendo pelo retrovisor que o carro de Denis a seguia. Quando estacionou seu carro, viu que as meninas haviam respondido sua mensagem:
Marcela disse: "Amiga, se você encontrou um cara legal para perder a virgindade, a hora é agora! Em todo caso, deixe sempre o celular por perto e não tranca a porta do quarto, vai que ele é um tarado maluco!"
Cláudia comentou: "Assim você não está ajudando, Marcela! Ela vai ficar mais receosa ainda! Maya, se joga! Se não tiver camisinhas na bolsa, ou ele não tiver, sempre deixo umas na mesinha de cabeceira do meu quarto."
"Está bem, meninas, amo vocês", foi o máximo que ela respondeu, pois não queria demorar-se. Se não fosse no embalo, mudaria de ideia, voltaria a seu país e seria mais difícil perder sua virgindade, vigiada como era pelos seus pais. E ela não queria isso!
O prédio onde Maya morava se localizava dentro de um condomínio fechado, cujos portões se abriram para revelar a Denis um cenário de serenidade e beleza. Os jardins que cercavam os edifícios eram um verdadeiro espetáculo de cores e aromas, com uma profusão de flores tropicais que emolduravam os caminhos de pedra com elegância natural. As palmeiras ondulavam suavemente ao sopro da brisa, enquanto os pássaros teciam melodias de alegria entre os galhos das árvores.
Os prédios em si, modestos em sua estatura de três andares, emanavam uma aura de simplicidade e calor humano. Sem elevadores, os moradores eram convidados a subir as escadas, o que não era um empecilho para Denis, afinal ele treinava todos os dias e subir três andares não era nada comparado a seus treinos. Ele não gostou, entretanto, dos olhares que recebeu dos outros moradores e estranhou que todos falaram com Maya, de maneira carinhosa, embora ele não entendesse uma palavra de português.
- Maya, querida, você trouxe um amigo hoje? - indagou Dona Lúcia, uma senhora de cabelos grisalhos que estava lendo à porta de sua casa, vestida apenas numa camisola que parecia de outra época. Sempre era a última a dormir.
- Sim. Ele é um amigo...
- Olá, Maya! Quem é esse bonitão? - perguntou João, um homem mais velho que estava saindo para fazer fechar as grades de seu apartamento. - Vai casar-se finalmente?
- Não, seu João! Quando eu for me casar, lhe mando o convite! - Maya brincou.
- Bom dia, Maya! Seu amigo é do teu país? Ele é bem alto! - exclamou Maria, uma jovem que era sua vizinha e estreitou seus olhares para Denis.
Maya apenas sorriu em resposta.
- O que eles tanto te falavam? - Ele questionou a Maya, bem curioso.
- Quê? - Ela perguntou sem entender, mas lembrou que ele não falava português. - Ah, os vizinhos... Ah, aqui no Brasil todo mundo se fala, assim, como se fossem amigos de longa data. Perguntam se você já jantou, se você era meu namorado ou irmão, essas coisas.
- São fofoqueiros, então?
- Não! Fofoqueiros são as famílias de nosso povo, que ficam apenas observando e fazendo comentários quando ninguém vê! Aqui é como se fosse uma grande família sem segredos...
Denis não entendeu o que aquilo queria dizer, afinal, na sua família havia muitos segredos e tantos outros não-ditos.
O apartamento de Maya revelava-se como um recanto de luz e cores vivas, um refúgio para estudantes realmente interessados na aprendizagem. A sala de estar e jantar fluía suavemente de um ambiente para o outro, unindo aconchego e praticidade em uma combinação harmoniosa. Um sofá convidativo, com almofadas macias e coloridas, ocupava o centro do espaço, enquanto uma mesa de jantar simples, mas acolhedora, aguardava as refeições compartilhadas e as conversas animadas.
- E aqui ficam os quartos - Maya apontou na direção do corredor, vendo que ele observava atentamente o ambiente.
- Então você não mora sozinha?
- Não! Aqui é comum amigas e amigos dividirem a mesma casa e as contas de aluguel.
- Ah...
Com aquela afirmação, Denis concluiu que ela realmente não era de uma família rica. Seria uma vergonha para uma família tradicional ter sua filha dividindo contas com outras pessoas.
Porém, Denis gostou do que viu naquela casa. A decoração, embora desprovida de luxo ostensivo, refletia a personalidade vibrante de quem morava ali. Livros empilhados em estantes improvisadas davam um charme e demonstravam o amor pela leitura e o desejo de conhecimento, enquanto traços de bagunça testemunhavam a vida vivida com intensidade e, talvez, numa correria.
- Você veio aqui observar a decoração?
Maya sorriu, percebendo o olhar curioso de Denis.
- Mais ou menos. Gosto de ver como as pessoas vivem, suas escolhas, suas histórias... A decoração conta muito sobre alguém, não acha?
Maya concordou, admirando a sinceridade e a profundidade por trás daquelas palavras.