Capítulo 2 Conhecendo a verdade

As memórias daquele primeiro dia como presidente vieram à mente de Riaj, e ele sentiu como se estivesse revisitando seu passado. Naquele dia, ele se reuniu com seus ministros, recebeu embaixadores, traçou planos e metas de governo, e finalmente encerrou o dia fazendo uma transmissão ao vivo nas redes sociais para seus eleitores.

Ele estava exausto do dia cheio, e após cerca de cinco horas de sono, a primeira dama acordou assustada com os gritos dele.

- Eu vou matar esse desgraçado, ele não me escapa, maldito rato de esgoto.

Ellehcim, a primeira dama, prontamente interviu e acendeu a luz.

- O que aconteceu amor, é aquele sonho estranho de novo?

Riaj logo respondeu.

- Sim, mas de dez anos para cá, cada vez o mistério diminui mais. Parece que agora conheço o lugar do sonho.

Esfregando os olhos, ela perguntou.

- Onde é que é então?

- Deixa pra lá, vamos dormir.

Riaj respondeu e logo apagou a luz, sem dar mais explicações.

Esse sonho o atormentava desde criança. A primeira vez que ele se lembrava dele era quando tinha por volta de seis anos de idade. Ele se perdeu em um mato na fazenda de seu avô, ficando perdido por uma semana.

Ele só se lembrava de estar perseguindo um tatu com um facão, e sua próxima memória era acordar ao lado de uma vertente na fazenda. Ao seu lado havia uma espada, ela estava dentro de uma bainha de cerca de um metro e meio de comprimento.

Riaj desembainhou a espada e viu que sua lâmina era azul indigo e haviam algumas inscrições estranhas gravadas nela. Ele olhou atentamente para a espada, tentando entender. Quando a empunhou, um estranho anel, que estava no cabo da espada, levitou para fora dela e se alojou em seu dedo anelar direito.

Ele tentou removê-lo, mas sem obter sucesso, embainhou novamente a espada, e com ela em uma mão e o facão na outra, retornou para a sede da fazenda, onde descobriu que seus familiares achavam que ele havia sido morto por um animal e já tinham comprado seu caixão. O seu reaparecimento causou sensação na fazenda.

Revivendo seu passado, Riaj recordou que na noite após esse incidente, ele teve o primeiro sonho. Dois braços brandiam espadas um contra o outro.

Desde aquela data, ele já havia perdido a conta de quantas vezes teve esse sonho. A cada vez, ele se tornava mais detalhado.

Uma noite antes de sofrer um atentado durante a campanha eleitoral, na Província da Seriema, ele pode identificar que um dos lutadores era ele mesmo, mais jovem, mas ainda não conseguia ver a face do adversário.

Riaj relembrou que naquela primeira noite como presidente, pela primeira vez ele viu o ambiente em que duelavam, e teve uma sensação de familiaridade com o local. Na época ele ainda não sabia, mas aquela seria a última vez que ele teria o sonho.

Nessa oportunidade, pela primeira vez, o sonho começou mostrando um anel que ele carregava desde criança. Esse anel se transformava em uma projeção, e nessa projeção, ele e um oponente lutavam.

Ele degolava o adversário, mas quando a cabeça começava a cair, ele só conseguia ver o queixo do oponente, e a cena ficava escura e voltava para dentro do anel.

Trazendo à mente as recordações daquela época, Riaj relembrou que sua memória era peculiar naquele momento. Um dia depois, ele teria um encontro fascinante com alguém de seu passado e lembraria de quase tudo, mas naquele instante, ele não se lembrava de nada que havia acontecido em sete anos, bem como em cinco semanas de sua vida.

Quando tinha dezesseis anos, após passar a noite com Amanda, uma linda loira de olhos verdes de sua idade, filha do capataz, ele estava plantando soja na lavoura de seu pai, quando sentiu sede.

Ele desligou o trator e entrou em um mato próximo para procurar uma vertente, e havia andado uns trinta metros mato adentro quando avistou uma cachoeira. Aquilo era estranho, pois ele já estivera várias vezes ali, e ninguém sabia que passava um rio e muito menos que existisse uma cachoeira nas terras de seu pai.

Também havia uma vertente ao lado da cachoeira, onde ele se ajoelhou e bebeu água. Quando estava se virando para voltar para a lavoura, viu umas luzes estranhas no meio da cachoeira. Como estava sozinho no mato, ele tirou a roupa, colocou sobre uma pedra , e entrou no rio.

A profundidade era baixa, cerca de um metro e vinte centímetros, e ele logo chegou à queda de água, onde estavam as luzes. Ele atravessou a parede de água, e este foi o último acontecimento que ficou gravado em sua memória.

Riaj acordou sete dias depois, nu, ao lado da pedra em que deixara suas roupas. Ao seu lado estava uma espada, parecida com a que ele encontrou dez anos atrás, na fazenda de seu avô, mas sua lâmina era azul petróleo, mais clara do que a outra.

Ao empunhar ela, algumas agulhas que estavam no cabo da mesma, levitaram e se incrustaram no anel misterioso que ele havia recebido dez anos atrás, mudando a aparência do mesmo.

Ele saiu do mato e procurou pelo trator, mas não o encontrou. Ao retornar à casa do pai, carregando a espada, descobriu que uma semana havia se passado, e eles o haviam procurado em todo lugar, em um raio de dez quilômetros.

Riaj contou sobre o rio e a cachoeira, mas seu pai disse que ele estava ficando louco, não existia rio e muito menos cachoeira em sua propriedade. Com o impasse, uma comitiva formada por Riaj, seu pai, o capataz, e alguns peões, deixou a sede da fazenda e rumou para o mato que Riaj afirmava ter entrado.

Surpreendentemente, ao entrarem, encontraram o rio e a cachoeira, mas era uma cachoeira normal. Seu pai ficou espantado, conhecia esse mato de cabo a rabo, e nunca tinha visto rio e cachoeira ali. Eles discutiram e deixaram o local.

Quando haviam andado uns trezentos metros, um dos peões comentou que havia esquecido seu chapéu sobre a pedra na borda da cachoeira. Riaj ficou ali esperando e eles voltaram para buscar, mas ao entrarem novamente no mato, por mais que procurassem, não encontraram o rio e a cachoeira.

Os peões começaram a tremer que nem vara verde, e falaram sobre uma lenda antiga. Daquele dia em diante, ninguém mais entrou naquele mato, e todos na propriedade diziam que ele era mal assombrado.

Oirotiv, o bisavô paterno de Riaj, havia recebido aquela propriedade após vencer uma aposta com um famoso feiticeiro da região, mas poucos se lembravam desse fato.

Revisitando suas memórias, Riaj lembrou que outra parte de suas memórias que eram incompletas antes de ele se tornar presidente, era de quando ele tinha vinte e seis anos. Ele se lembrava de chegarem em um barco a um lago em frente a uma cachoeira gigantesca, a qual parecia ter quase mil metros de queda.

Eles estavam em cinquenta no barco, mas apenas ele e mais quatro eram aquarianos. Todos usavam máscaras e se dividiram em dez botes, remando para perto da queda de água.

O objetivo era investigar um estranho fenômeno que estava acontecendo ali.

A correnteza era forte, e enquanto remavam, Riaj caiu do bote e desapareceu perto da queda de água gigantesca. Seus colegas procuraram por ele desde as oito horas da manhã, momento do acontecimento, até as sete da noite, quando retornaram ao barco principal para dormir.

As buscas continuaram por mais seis dias e foram infrutíferas.

Quando todos os militares voltaram para o barco principal, e se preparavam para deixar a região, ouviram um estrondo e viram uma fenda se abrindo no meio da queda de água, a uns trezentos metros de altura.

Um homem empunhando uma espada com lâmina azul de cerca de dois metros, fazendo movimentos bizarros e muito rápidos com ela apareceu da fenda, que rapidamente se fechou.

            
            

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