Capítulo 6 A hora e a vez da corrupção

Nessa época, ele queria se vingar dos empresários, ele não conseguia acreditar que Odracir havia trocado ele por Iara. Odracir foi a primeira paixão verdadeira de Alul.

Em 5734, ainda apaixonado por Odracir, ele deu uma guinada em sua vida. Começou a esconder sua atração por homens, e ao perceber que a sociedade era conservadora, até se casou com a viúva de um taxista, alguém que compartilhava sua visão de mundo, em um casamento de fachada.

Em 5735, ele passou pela experiência mais aterrorizante de sua vida. Após uma bebedeira com companheiros do sindicato, fora de si, ele manteve relações sexuais com uma enfermeira.

No dia seguinte, ao acordar ao lado dela, ele se sentiu imundo, tomou mais de dez banhos, quantia que normalmente tomaria em um semestre, ele não conseguia acreditar que aquilo tivesse acontecido. Para piorar, cinco meses depois, ela o procurou e lhe informou que ele seria pai.

Alul tentou convencer ela a abortar, não suportava saber que seu relacionamento gerou um fruto, mas sem sucesso. Ela foi irredutível e sumiu no mundo.

Maria, a viúva do taxista, perdoou sua pulada de cerca, com a condição de que ele assumisse seu filho com o taxista, e ao longo de três décadas, eles teriam mais três filhos. Nesse ano, o casal também conheceu e se tornou amigo intimo de um adolescente de quatorze anos, Oinotna Iccolap, cuja amizade daria muito o que falar no futuro.

Ainda nesse ano, logo após o casamento, ele se tornou presidente do sindicato dos metalúrgicos, e liderou grandes greves na província sabiana, a primeira delas, na empresa do homem que o desprezou, Odracir.

Esses fatos o levaram a ser preso por um mês em 5740, e na cadeia ele conheceu duas pessoas que mudariam para sempre sua vida. Apenas o delegado responsável pela prisão conhecia esses pormenores, e ele revelaria algumas dessas informações em um livro publicado trinta e cinco anos mais tarde.

Uma dessas figuras era um homem com muito dinheiro e ambição, se tornou o padrinho de sua filha, e levou ela para a República das Luzes. A outra agiu nos bastidores, e conseguiu que ele fosse solto.

Após ser libertado, ele fundou o Partido dos Trambiqueiros, reunindo todo mundo que não gostava de trabalhar. Todos eram pessoas sem caráter, a maioria sindicalistas.

A maior surpresa na lista foi um bancário honesto da Província do Quero-Quero, que juntamente com um economista da Província do Sabiá Laranjeira, foram as duas únicas pessoas de caráter que fizeram parte do partido ao longo de toda sua história.

Por esse partido, Alul se elegeu deputado federal pela Província do Sabiá Laranjeira. Durante esse mandato, se uniu a outros deputados sem caráter, e conseguiu implantar vários cavalos de Tróia na Constituição da República das Águas, que estava sendo debatida e promulgada.

Direito à greve e reforma agrária foram alguns dos cavalos de Tróia plantados por ele na Constituição. Com isso assegurado, seria fácil encontrar magistrados corruptos para chancelarem a narrativa.

Iniciava ali a sua postura de vitimismo e coitadismo, que o levaria a ser derrotado em quatro eleições presidenciais. Aí entrou no jogo a figura que ele conheceu quando esteve preso, e com a ajuda da mesma, ele foi eleito presidente.

Como tudo foi ajeitado das sombras, ele não tinha base parlamentar, e só conseguiu apoio via favores sexuais e pagamentos mensais em dinheiro vivo para os parlamentares.

Daqueles que não eram cem por cento heterossexuais, ele conseguiu o apoio facilmente. Bastou uma festa na residência oficial da presidência sem a presença de mulheres, com proibição de entrada com celulares, no que ficou conhecida como a maior orgia do mundo, e estava formada a base parlamentar.

Nesse tempo, ele ainda não sabia o porquê, mas sabia que todo ser vivo do sexo masculino que não fosse cem por cento heterossexual seria atraído por seu ânus e faria todas as suas vontades. Assim, ele dominou completamente o espectro de esquerda, e até conseguiu avançar um pouco em direção ao centro.

Nesse momento, embora por baixo dos panos, ele e Ledif Ortsac já eram um casal. Ele finalmente esqueceu Odracir, sua primeira paixão, e entregou seu coração a Ortsac.

Alul viajou quatro vezes para a República do Charuto, e em todas as vezes, ele e Ortsac fizeram sexo nos mais variados lugares e elevaram a temperatura em Havana.

Ortsac também visitou quatro vezes a República das Águas, e em uma delas, com a ajuda de Ielrednav, um técnico de futebol identificado com a ideologia de Alul, eles puderam realizar o sonho de transarem no vestiário do maior estádio do país, somente trinta minutos antes de um jogo decisivo entre Guerreiros e Urubus.

Como o vestiário não foi limpo, o atacantes dos Urubus até sentou no sêmen de Ortsac e fez uma cena antes do jogo.

Alul viajou por todo o mundo levando a mensagem de seu marido Ortsac e tentando angariar apoiadores. Todos os principais serviços de inteligência do mundo estavam de olho nele, e alertavam seus líderes e faziam de tudo para impedir que Alul abaixasse as calças quando estivesse reunido com eles.

Mas isso era válido apenas para os principais países. Antes disso, Alul já havia conquistado a fidelidade do Continente Original com favores sexuais, sendo adorado como um deus lá, embora não fosse unanimidade nem mesmo em seus próprio país.

Durante seus dois mandatos, a corrupção cresceu a níveis nunca vistos no universo. Até o mundo do futebol foi envolvido, e um título do Campeonato Aquariano vencido pelos Macacos foi anulado e repassado para os Gambás, em um acordo com o presidente dos Gambás para Alul ter os favores sexuais de um zagueiro deles, que havia deixado Alul completamente apaixonado.

Corrupção era a palavra chave. Todo o submundo do crime estava em posições de comando. Tudo funcionava na base da propina e do suborno.

A ideologia de Oluap Erierf, um dos fundadores do partido, foi implantada com sucesso, a meritocracia não existia mais, e a quantidade de imbecis produzidos pela ideologia de Erierf aumentava exponencialmente.

Com exceção das áreas das exatas e da saúde, as universidades não formavam mais profissionais, e sim militantes. Quase todo o meio jornalístico foi inundado por esses militantes, e eles apresentavam um país de conto de fadas que só existia na cabeça deles para a sociedade.

A suprema corte do país passou a ser controlada pelas facções do crime organizado, cada facção tinha um ministro. Além disso, a primeira paixão de Alul, Odracir, que havia sido traído por Iara e abandonado por ela, também foi indicado para a corte, mesmo com os ataques de ciúme de Ortsac.

Nesse tempo, o poder subiu completamente à cabeça de Alul, ele achou que estava no topo do mundo, e ficou cada vez mais descuidado.

Mesmo com os altos degraus da justiça completamente amarrados e comprometidos com o crime, um homem se levantou e ousou investigar os vários casos de corrupção. Com o apoio do povo aquariano e de um fenômeno recente, as redes sociais, que minimizaram a importância da imprensa lotada de militantes, e contra todas as probabilidades, Oigres Orom conseguiu provar a corrupção em um dos casos e levar Alul para a cadeia.

Oigres Orom se tornou o herói nacional, mas os criminosos não desistiriam tão fácil.

            
            

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