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Enquanto o carro deslizava suavemente pela estrada, Felícia e Eduardo mantinham uma distância sutil entre si nos assentos, o silêncio entre eles era preenchido apenas pelo suave zumbido do motor e o ocasional sussurro dos pneus contra o asfalto.
- Senhor, chegamos! - disse o motorista, parando em frente à mansão que se tornaria o novo lar do casal.
Eduardo saiu do carro e notou que Felícia ainda estava submersa em seus próprios pensamentos. Ele a chamou:
- Não vai sair? - sua voz era grave, combinando com a personalidade séria que ele parecia ter.
Os olhos de Felícia se voltaram para Eduardo, que estava parado em frente à porta do carro.
- Sim, vou! - seus olhos se desviaram ao encontrar os dele.
Ao abrir a porta, Felícia pôs seu pé direito para fora, mas devido ao salto alto, acabou deixando-o cair dentro do carro.
- E ainda é desastrada! - murmurou Eduardo ao presenciar a cena.
Com seus quase dois metros de altura e uma presença bastante viril, Eduardo deu as costas para Felícia e dirigiu-se até a majestosa porta daquela imponente mansão.
Ao abrir a porta, uma enxurrada de lembranças e planos não realizados o atingiu em cheio. Embora seu casamento fosse arranjado, ele nutria sentimentos por aquela que desde criança ouviu que se tornaria sua esposa.
Aquela casa fora escolhida por Natália, e toda a decoração era de acordo com seus gostos. Não viver aquilo ao lado dela era devastador para Eduardo.
- Não vai entrar? - perguntou Felícia ao vê-lo parado em frente à porta.
Sem dizer uma palavra, Eduardo apenas a olhou de forma rude, deixando claro que não era com ela que ele queria estar vivendo aquilo.
- Sejam bem-vindos, senhor e senhora Callegari - cumprimentou Elô, a governanta da casa.
- Obrigada! - respondeu Felícia com um sorriso singelo, mas seu semblante mudou ao ver a forma como Eduardo a encarava.
- Pensei que os senhores iriam para a lua de mel - comentou Elô.
- Foi cancelada! - disse Eduardo, sério - Vou descansar, estou morto.
Ele se dirigiu em direção às escadas, folgando sua gravata azul escuro com a mão esquerda.
Sem conhecer a casa, Felícia apenas seguiu Eduardo, que parou no primeiro quarto à esquerda. Assim que ele entrou, ela o seguiu.
- O que faz aqui? - seu tom sério a assustou.
- Não...não é aqui que irei ficar? - Felícia gaguejou diante dele, seu coração acelerou.
- Natália tinha razão quanto a você... - ele comentou com um sorriso sínico nos lábios.
- Do que você está falando? - Felícia não entendeu o significado daquelas palavras, muito menos o sorriso que havia nos lábios dele.
- Eu sempre achei que fosse paranoia ou ciúmes dela, mas agora eu vejo o quão baixa você é... se deitar com o próprio cunhado, apenas para conseguir o que quer? Só pessoas que não valem nada fazem isso. - a olhou de cima a baixo e se afastou.
Ele começou a se despir diante dela e ao ver que ela não se movia, se aproximou.
- Me diz... era realmente virgem como disse a meu pai?
Os olhos de Felícia se encheram de lágrimas e por mais que ela quisesse se defender, o medo e a humilhação a impediam.
- O quê? Vai chorar? - ele coçou a cabeça - achou mesmo que eu a aceitaria com um sorriso no rosto e faria de você a minha esposa tão facilmente? Não se engane... você só terá uma serventia nessa casa que é gerar um herdeiro! Nada mais do que isso... agora saia, não quero olhar para sua cara!
Com os saltos em suas mãos, Felícia virou-se em direção à porta, mas antes que pudesse sair, o ouviu dizer:
- Claro, se eu conseguir tocar em você... só estando muito bêbado para fazer isso.
As lágrimas que Felícia tanto relutava para não cair acabaram rolando por sua face e o vestido que antes ficava folgado em seu corpo, de repente se tornou apertado ao ponto de não conseguir respirar.
A jovem que desde criança sonhava em se tornar confeiteira agora estava presa a um homem que além de não amá-la a desprezava com todas as suas forças.
- A senhora está bem? - perguntou Elô ao vê-la sentada no último degrau da escada tentando respirar. - Senhor... - gritou por Eduardo ao perceber que Felícia não estava bem, mas Felícia a segurou.
- Não, por favor... só me ajuda a sair daqui!
Após alguns minutos, Felícia se acalmou e, ao olhar para Elô, notou uma expressão que denunciava o quão estranho era aquilo tudo.
- Eu sei... Não parece que acabamos de nos casar, mas acontece que ele e eu não nos amamos, e de quebra, ele ainda me odeia - desabafou a jovem. - Poderia me mostrar um quarto onde eu possa ficar?
- Claro, menina... Quer dizer, senhora!
- Pode me chamar assim... Prefiro ser chamada assim do que ser chamada de 'senhora Callegari' - deu um sorriso sem graça.
Elô a levou até o quinto quarto, o mais distante do quarto que deveria ser do casal.
- Elô, pode me ajudar a abrir os botões do vestido?
- Claro, menina!
Enquanto Elô abria botão por botão, Felícia deixava lágrimas escorrerem pelo seu rosto, fazendo com que Elô nutrisse compaixão por ela.
- Quer que eu coloque água na banheira?
- Não, obrigada!
Após um longo banho quente, Felícia acabou adormecendo sem sequer secar o seu cabelo.
A noite chegou e ela apenas despertou ao sentir uma dor muito forte em seu estômago. Desde o acontecido, ela não havia comido nada e agora o seu corpo reclamava de fome.
Ao descer as escadas, caminhou em direção à sala de jantar e encontrou a mesa repleta de comida.
- Espero que seja do seu agrado, senhora... Digo, menina.
- Com certeza será!
Um sorriso inocente se formou em seus lábios, fazendo com que Elô se questionasse o porquê de Eduardo tratá-la assim, sendo que ela demonstrava ser uma pessoa bastante gentil.
Felícia estava com tanta fome que quase não tinha paciência para cortar a carne que havia colocado em seu prato. Quando finalmente conseguiu, Eduardo chegou fazendo-a devolver o garfo com a carne para o prato.
- Espero que o jantar esteja de seu agrado, senhor - disse Elô.
- Se eu jantar aqui é capaz de perder a fome, por isso irei comer fora.
Felícia sabia que aquelas palavras eram destinadas a ela, e antes que ele fosse mais grosso, pegou seu prato.
- Não precisa ir comer fora... Eu vou comer na cozinha.
Com seu prato na mão, Felícia se dirigiu até a cozinha, onde se juntou aos demais funcionários para fazer sua refeição. Percebendo que suas palavras não tinham atingido Felícia como ele esperava, Eduardo saiu de casa ainda mais irritado.
Já deitada, pronta para dormir, Felícia ouviu a voz de Eduardo invadir seu quarto, seguida por um barulho como se ele tivesse caído.
- Eduardo!
Felícia correu em direção a ele ao vê-lo caído no chão.
- Me deixa aqui... Eu quero ficar aqui! - Murmurava enquanto Felícia tentava levantá-lo.
- Quantas garrafas você bebeu? - Felícia questionava ao tentar erguer aquele homem.
Com dificuldade, Felícia conseguiu levá-lo até o quarto dele e o deitou na cama.
- Vou precisar de um remédio para a coluna! - disse ela, tentando aliviar a dor que sentia em suas costas.
- Felícia, você...
Ele sussurrou.
- O quê? Disse alguma coisa? - ela se aproximou dele para entender o que ele estava falando, mas foi surpreendida ao ser puxada para cima dele.
- Eduardo, me solta! - Tentava se desvencilhar dos braços dele, mas ele a segurou firmemente.
Sem forças para continuar lutando, Felícia aceitou o fato de que não sairia dali tão cedo e acabou adormecendo.