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Já no quarto, Felícia e Eduardo compartilhavam a mesma cama, apenas com alguns travesseiros os separando.
Ambos se sentiam desconfortáveis com a situação, mas enquanto os pais de Eduardo estivessem presentes, não havia outra opção senão dormirem juntos.
- Felícia... - batidas na porta interromperam o momento tenso, indicando que Olga a estava chamando.
- O que ela quer? - Eduardo expressou seu desconforto, sentindo-se ainda mais tenso com a situação.
- O que eu faço? - Felícia perguntou a Eduardo.
- Ela não vai parar de te chamar enquanto você não for até ela - Eduardo respondeu em meio a sussurros.
Felícia se levantou e caminhou em direção à porta, mas antes de abrir, Eduardo chamou sua atenção.
- Espera! - ele jogou para fora da cama todos os travesseiros que os separavam. - Agora pode abrir.
- Que bom que não estou atrapalhando nada... - Olga comentou ao ver que Felícia ainda estava vestida com as mesmas roupas do jantar.
- Venha comigo, quero te dar algo. - disse Olga, fazendo um convite inesperado.
- Claro! - Felícia respondeu com um sorriso no rosto, aceitando o convite e acompanhando sua sogra.
Alguns minutos depois, Felícia retornou ao quarto, sentindo suas bochechas pegarem fogo de tanta vergonha. Seus olhos imediatamente foram em direção à cama, mas Eduardo não estava lá.
- Graças a Deus! - ela murmurou, sentindo um alívio momentâneo.
Caminhando com passos leves, Felícia foi em direção ao closet de Eduardo, mas antes que pudesse chegar, Eduardo saiu do banheiro.
- Não olha! - ela pediu, virando-se de costas abruptamente.
Felicia havia ganhado de sua sogra uma camisola onde era possível ver claramente a cor da sua calcinha através do tecido transparente da mesma.
- Então era isso que ela queria te dar? - Eduardo podia sentir seu rosto ruborizar com aquela situação, enquanto tentava disfarçar o desconforto.
- Era... - a voz de Felícia era tímida, seu rosto completamente vermelho como se tivesse levado um tapa.
- Posso pegar uma camisa sua? - ela perguntou envergonhada, buscando uma forma de se sentir mais confortável naquele momento constrangedor.
- Pode! - Eduardo respondeu.
Foi questão de segundos para que Felícia se livrasse do presente da sua sogra e retornasse para a cama usando uma camisa de Eduardo que mais parecia um vestido devido aos 1,90 de altura do mesmo. Apesar da camisa ser grande demais, proporcionava um alívio bem-vindo diante da situação embaraçosa.
Depois daquela situação tão desconfortável, nenhum dos dois conseguia dormir.
- Eduardo... - Felícia o chamou, quebrando o silêncio que havia entre os dois.
- Sim? - ele se virou, mas ela ainda permanecia de costas para ele.
- Acha que seremos capazes de ter filhos? Digo, não é como se você tivesse se casado com a sua prometida... nossa relação é... - Felícia tentava expressar seus pensamentos, mas as palavras pareciam fugir dela naquele momento.
- Não sei... mas um dia precisaremos ter um filho. - Eduardo respondeu, olhando para as costas dela.
- Eduardo... - ela o chamou novamente.
- Sim...
- Talvez você não acredite - ela se virou, ficando frente a frente com ele - Mas não era isso que eu queria para nós, eu não queria o lugar de Natália, muito pelo contrário, eu torcia por vocês dois. - concluiu, olhando nos olhos dele com sinceridade.
Percebendo a sinceridade nas palavras de Felicia, Eduardo apenas disse:
- Boa noite, Felícia.
Ao dizer isso, ele se virou e fechou os seus olhos, deixando o silêncio preencher o quarto mais uma vez.
No dia seguinte, Eduardo despertou sentindo seu braço dormente; Felícia estava dormindo sobre ele. Com cuidado, ele a tirou de cima dele e pôs um travesseiro no lugar, sem a despertar, e saiu do quarto.
- Bom dia, meu filho! - a voz de Olga assustou Eduardo logo cedo.
- Bom dia, mãe! - ele respondeu, ainda meio sonolento.
- Onde está sua esposa? - perguntou Olga, demonstrando sua curiosidade.
- Dormindo. - Eduardo respondeu brevemente, evitando prolongar a conversa.
- Gostaram do presente? - ela continuou, referindo-se à camisola que havia dado a Felícia.
- Mãe! - ele ficou envergonhado novamente.
- O que foi? - Olga não parecia entender o motivo da vergonha do filho.
- Deixa pra lá... - ele desviou o assunto, sabendo que não adiantaria explicar.
Eduardo sabia que falar com sua mãe sobre certos assuntos era um caso perdido; ela sempre insistia em questões que o deixavam desconfortável, como ter um neto.
- Para onde você está indo? - perguntou Olga ao vê-lo entrar no quarto ao lado.
- Como Felícia ainda está dormindo, irei tomar banho nesse quarto para não acordá-la. - explicou Eduardo, fechando a porta para ter um pouco de privacidade.
Com a mesa posta, todos aguardavam Felícia para tomarem o café da manhã.
- Quer que eu a chame, senhor? - perguntou Elô.
- Não, pode deixar que eu a chamo. - respondeu Eduardo, levantando-se da mesa.
Antes que pudesse se afastar da mesa, Felicia chegou.
- Bom dia! - ela cumprimentou, puxando a cadeira e se sentando - desculpem o atraso.
- Dormiu bem? - perguntou Olga, esperando por alguma informação que indicasse que o presente dela havia tido efeito.
- Mais ou menos! - respondeu Felícia, sem perceber a verdadeira intenção da sua sogra.
Após o café da manhã, Eduardo retornou ao quarto.
- Vá, querida, ajudar o seu esposo a se preparar para o trabalho. - sugeriu Olga.
- Ajudar?
- Sim! Como vocês irão aprender a se amar se não cuidam um do outro? - explicou Olga.
Depois de ouvir sua sogra, Felícia foi para o quarto de Eduardo.
- O que foi? - ele perguntou ao vê-la entrar.
- Ela me disse para vir ajudá-lo a se preparar para ir ao trabalho. - Felícia explicou, sem esconder o desconforto.
- Ah, minha mãe... o que devo fazer com a senhora... - Eduardo murmurou, enquanto terminava de colocar a gravata.
- O que devemos fazer? - Felícia perguntou.
- Não sei! Só sei que ela não irá embora enquanto não nos ver demonstrar que realmente somos um casal.
- E como vamos fazer isso? Ela sabe que não nos amamos! - Felícia expressou sua preocupação.
- Só sei que se quisermos nos livrar dela, precisamos fazê-la pelo menos acreditar que estamos tentando.
- O que devo fazer? - Felicia perguntou, esperando por uma solução.
- Espera, deixa eu pensar... já sei! - disse Eduardo, olhando para o seu pulso.
- Hum? - Felícia não entendia onde ele queria chegar.
- Assim que eu sair, conte até trinta e depois corra em direção à porta chamando pelo meu nome com esse relógio na mão.
- E depois? - Felícia estava curiosa.
- Depois, deixa o resto comigo.
Ao chegar no número trinta, Felícia fez exatamente como Eduardo havia instruído, correndo e chamando por seu nome enquanto segurava o relógio.
- O que foi? - Eduardo perguntou, disfarçando para sua mãe.
- O relógio... - Felícia entregou o relógio para ele.
- É mesmo, eu havia esquecido. - Eduardo pegou o relógio e o colocou em seu pulso.
Com sua mão direita, Eduardo segurou suavemente na nuca de Felícia e a puxou para mais perto de si, depositando um breve beijo sobre a testa dela. Felícia permaneceu imóvel, com aquele gesto imprevisível de Eduardo.
- Obrigado! - Eduardo sorriu para ela antes de se retirar, deixando Felícia com um leve rubor nas bochechas.
Por conhecer seu filho, Olga sabia exatamente quando ele estava fingindo.
- Não adianta fingir! - disse Olga, com uma expressão não muito agradável, cortando o ar tenso.
- O quê? - Felícia voltou à realidade ao ouvir a voz de sua sogra.
- Já não basta ter mudado uma tradição que cumprimos à risca por séculos, ter traído a sua irmã e estragar o que venho me dedicando há anos, ainda acha que podem me enganar? - A voz gentil foi mudada para um tom hostil.
Olga se aproximou de Felícia e com um olhar intimidador e disse:
- Você só tem que fazer uma coisa nessa vida que é dar um herdeiro ao meu filho, então faça isso direito! - disse Olga com desprezo.
Assim como a mãe de Olga a preparou para se tornar a esposa de Dirceu para dar continuidade à tradição dos Callegari, Olga também se dedicou por anos preparando Natália para se tornar a mulher que um dia ela se tornou. Ver todo seu esforço sendo jogado no lixo não a agradava. Por isso, esperava que ao menos Felícia pudesse lhe dar netos que fossem herdar tudo futuramente.