Enquanto estava testando o funcionamento de um novo software, não conseguia parar de pensar nela, no que ela fez no tribunal. Confrontar o chefe de uma máfia, era muito corajosa ou não tinha noção do perigo. De qualquer forma a admirava. Ninguém nunca se atreveu a falar comigo daquela forma.
Algumas vezes pensei em como poderia encontrá-la de novo. E se eu a contratasse para cuidar da minha empresa? Poderia oferecer muito dinheiro, disse que estava precisando, também fiquei curioso para saber o motivo. A nova audiência iria demorar, já que teriam que reavaliar o processo de escolha dos jurados.
Passaram-se 3 dias desde a audiência, quando a vejo pela TV novamente, dessa vez ela estava com uma expressão preocupada e triste, mas permanecia firme, não havia sorriso. Mark estava morto. Me pegou de surpresa, mas era o esperado fazendo negócios com cartéis mexicanos, eles não correriam o risco de serem pegos pela polícia.
De repente congelei, queima de arquivo, Jenna com certeza seria a próxima! Agora tenho motivo para me aproximar, queria que fosse de outra forma, mas mesmo que me deixasse exposto, só conseguia pensar que não poderia vê-la no meio do fogo cruzado. Convoquei minha equipe de seguranças, e até os que não estavam em NY tiveram que vir de imediato. Eu estava pronto para começar uma guerra se precisasse, e ela nem sabia quem eu era.
Meus seguranças já haviam checado o lugar do velório, não havia jornalistas, o caso deixou de ser interessante para eles, Mark estava morto e provavelmente ainda não sabiam do envolvimento dos cartéis. Não havia ninguém escondido, não havia perigo iminente, apesar dos cartéis mexicanos serem extremamente violentos, eles não são tão organizados e nem querem, não há um grande plano, eles apenas chegam e matam quem tem que matar. O que os tornam ainda mais perigosos.
Desci do carro, e de longe já pude observar algumas pessoas, um casal idoso, provavelmente os pais, estavam bem tristes, mas não havia desespero, afinal já sabiam o destino dele. A mulher e o filho, não pareciam abalados. Tinha um padre, eu sei irônico, provavelmente os pais que o chamaram, espero que quando chegar minha hora também tenha um orando pela minha alma, Deus sabe de todos os meus pecados. Havia mais algumas pessoas, alguns integrantes da organização, outros que não sei exatamente quem eram, poderia ser outros parentes, enfim eles não me importavam, porque depois que a vi, só tinha olhos para ela.
Jenna estava com um casaco longo preto, aberto, um vestido na altura do joelho, meia calça e um sapato preto, ficava bem de preto! Seu cabelo castanho estava solto, meio ondulado, óculos escuros, bochechas rosadas, por causa do frio, prestei atenção em todos os detalhes enquanto me aproximava, Jenna era linda.
Ela ainda não tinha me visto, quando começou a andar para um lado mais reservado, longe do sermão do padre, desviei o caminho e fui em sua direção. Meu coração estava disparado, finalmente iria conhecê-la. Parei do seu lado, e percebi que estava chorando, quase que soluçando, peguei meu lenço no bolso e entreguei, enquanto ela me olhava desconfiada.
-Não sabia que Mark tinha uma amiga - eu disse.
-Na verdade eu era sua advogada -disse colocando o óculo sob sua cabeça.
-Normalmente advogados não se apegam assim -continuei
– Gostaria que meus advogados gostassem de mim desse jeito. – sorri e vi que ela sorriu de canto, tentando parar de chorar.
-Eu só queria mostrar um pouco de compaixão. Estou chorando porque... enfim, assuntos pessoais -sua pausa deixou transparecer seu desconfortoem falar com um estranho.
-Se quiser desabafar – perguntei
-Desculpa, você é? -teria que mentir, estendi a mão.
-Aaron Moretti.
-Jenna Wilson -estendeu de volta.
-Então, velórios tem esse efeito, nos faz repensar nossa vida
Tentei achar uma brecha para descobrir mais.
-Morrer sozinha...
Fiquei aguardando ela continuar, não quis interromper, parecia precisar desabafar.
-Perdi um amigo um tempo atrás, e o velório dele tinha umas mil pessoas. Ele era muito amado, fez a diferença na vida de muita gente. Fico pensando que o meu só teria meu irmão, ou sei lá.
-Isso é triste – não tive palavras, fiquei pensando em como ela estava vulnerável.
-Me desculpe, eu nem te conheço e... tem tanta coisa acontecendo. Me desculpa -seu corpo parecia querer sair dali.
-Não precisa se desculpar – ponderei.
-Você parece precisar de um amigo -completei.
-Você era amigo dele?
-Não. Apenas o conheci há muito tempo. Não o via desde criança – não era tudo mentira, de fato o conhecia há muito tempo.
-Lamento por isso. Olha, preciso ir, na verdade preciso achar um táxi – ela parecia confusa.
-Posso te dar uma carona?
Torci para que ela aceitasse.
-Oh não, não quero atrapalhar? Prefiro não incomodar.
Jenna aidna não tinha noção de que carona era o minimo que eu faria por ela.
-Claro que não, eu insisto, não vou deixá-la pegar um táxi nesse estado – ela acenou com a cabeça aceitando.
Finalmente, não poderia dizer isso antes nem para mim mesmo, mas agora que a conheci, tinha que admitir. Eu estava obcecado! Até arriscaria dizer apaixonado. Isso nunca me aconteceu, tive alguns namoros, mas agora era diferente, Jenna era diferente. Com certeza me chamaria de louco se soubesse. Precisava ter calma.
Abri a porta para entrar, nos acomodamos no banco de trás, o perfume dela tomou conta do carro, torci para que aquele cheiro ficasse mesmo depois que fosse embora. Assim que o carro começou a se movimentar, então perguntei para onde iria.
-Pode me deixar na...
Mais rápido do que meu cérebro poderia comandar, senti meu corpo cobri-la com um abraço, ouvi o barulho dos freios do carro, estava zonzo, fiquei alguns segundos tentando recobrar a consciência, devo ter batido a cabeça, o barulho de tiro disparado aumentava conforme me restabelecia.
Era no nosso carro, estavam nos atacando, só conseguia abraçá-la com mais força a cada som de tiro. Eu sabia que meus seguranças estavam revidando. Estávamos no meio do fogo cruzado, e nunca senti tanto medo, mas não era por mim. Sabia que precisava mantê-la viva.
Os tiros foram diminuindo, olhei pela janela, acima do banco traseiro e um carro preto saiu disparado, logo atrás meus seguranças seguiram os atiradores. Era o cartel, tinha certeza. Olhei para Jenna, com aqueles olhos arregalados, sangue escorrendo em sua testa, verifiquei se não era profundo, me certifiquei de que era apenas um corte superficial por causa da batida, repetia o tempo todo que ela estava bem, só a soltei quando senti seu corpo relaxar, olhamos para frente, e pude ver que Marcus estava morto, cresci com ele, era filho do motorista do meu pai, definitivamente estávamos em guerra.
Desci do carro e fui apoiado por um dos meus seguranças que havia ficado, olhei e haviam 2 homens mortos, mais um dos meus. Senti uma dor no ombro direito, me toquei que tinha sido atingido, mas continuei lúcido, concluí que teria sido de raspão.
Jenna desceu do carro, ainda em choque, mas conseguindo falar.
-O que aconteceu? Quem eram? – perguntou
-Provavelmente os mesmos que mataram Mark - respondi
-Meu Deus, estavam atrás de mim? – perguntou assustada, mas já sabia a resposta.
-Você está bem, vai ficar tudo bem, eu prometo – falei segurando-a em meus braços.
-Seu motorista...Me desculpe!
Ela disse em pausa, olhando todo o ambiente
Se desvencilhando ela viu suas mãos sujas de sangue e logo percebeu que eu estava machucado.
-Deixa eu ver - continuou já tirando minha jaqueta, parecia preocupada comigo, e gostei da atenção, mas não foi assim que imaginaria esse momento
– Precisamos ir logo para o hospital- disse preocupada
-Foi de raspão, estou bem – respondi tentando acalmá-la.
Meus seguranças nos levaram até o hospital. Realmente o tiro era de raspão, mas comecei a sentir mais dor assim que a adrenalina passou.