- Eu agradeço a sua gentileza, mas minha mãe me mataria se me visse ao lado de um... Garoto como você. - Disse Neelam tentando não ser tão grosseira.
- Eu posso te deixar na esquina. - Insistiu ele.
- Sinto muito. Eu sou claustrofóbica. - Disse Neelam se afastando dele e indo embora.
- Mas eu dirijo uma moto. - Disse Duke a seguindo.
- Não moro longe. - Disse Neelam caminhando rapidamente.
- Ok. Podemos caminhar. - Disse Duke. - Merlyn sempre diz que preciso de um pouco de caminhada, que estou fora de forma. Acredita nisso?
- Sério? O que você quer de mim? - Neelam parou e o encarou.
- Killian encheu o meu saco por sua causa. - Disse Duke.
- Eu juro que mantive o nosso trato. Não disse nada. - Falou Neelam temendo que ele fizesse alguma coisa a Ken.
- Nada? Um beijo é nada para você? - Perguntou Duke a encarando.
Neelam não respondeu. Nunca se interessara de verdade por um garoto em sua vida. Sempre preferira ficar na sua, e mesmo quando um garoto bonito se interessava por ela, fingia que não era com ela. De alguma forma, ela sentia que o amor não fora feito para ela.
Duke chegou mais perto dela e agarrou sua cintura com uma mão. Com a outra mão, acariciou o rosto dela. Neelam sentiu um calor com a proximidade. Nunca estivera tão próxima de um garoto antes. Nervosa, ficou parada, sem saber o que fazer. Quando os lábios de Duke tocaram os dela. Por um momento, ela desejou ardentemente ceder e corresponder aquele beijo, mas se conteve e empurrou Duke.
- Não me toque novamente! - Ela disse brava e foi embora.
- Eu não prometo nada. - Duke elevou a voz para que ela o ouvisse e riu.
† † †
Merlyn tirou seus sapatos e seu sobretudo. Desabotoou sua camisa e a tirou, expondo sua pele albina e a tatuagem de asas angelicais que tinha em suas costas. Foi até a sacada e olhou para o céu nublado. Suspirou e abaixou a cabeça, encontrando os olhos azuis da garota de aparência frágil que o espiava por uma fenda entre as cortinas na casa da frente. Gianina Velardi. A garota sempre seria sua fã número um sem dúvida. Ninguém, nunca seria tão obcecada por ele como ela era.
Os cabelos naturalmente louros – quase brancos – dele se agitaram ao vento, conferindo um ar feérico aquele belo rosto e, em especial àqueles olhos. Gianina amava os olhos dele porque o tornavam ainda mais especial. O direito era azul e o esquerdo era verde. Merlyn não gostava de sua heterocromia e sempre tentava disfarçá-la, usando lentes.
Merlyn acenou para Gianina e ela se escondeu, rindo como uma fã apaixonada. Ele recuou, deixando a sacada.
† † †
Neelam tomou um banho e após se trocar, colocou um casaco amarelo de lã que pertencera a sua irmã mais velha. Deitou-se em sua cama e encarou o porta-retratos em cima do criado-mudo, admirando o sorriso de sua irmã. Tudo o que ela queria era se parecer com ela, mas para a sua decepção, ela falhava miseravelmente. Nunca seria perfeita como a irmã.
O som da guitarra do vizinho invadiu seu quarto, a consolando de alguma forma e ela sorriu. Não tivera a chance de conhecer seu vizinho, mas desde que se mudara, o ouvia tocar e tentava imaginar como ele era... Talvez, loiro, rebelde e sexy como Kurt Cobain? Ou moreno com cabelos longos, todo vestido de preto como um típico metaleiro, ou... Ruivo com um sorriso malicioso.
- Deus me livre! - Neelam se virou, afundando a cabeça no travesseiro.
Os próximos dias transcorreram naturalmente no colégio. Neelam evitou cruzar o caminho de Gillian e também o de Duke, preferindo passar mais tempo com Kendall. Ela o convidou para jantar em sua casa e ele aceitou.
Neelam vestiu um vestido branco estampado com bolinhas vermelhas, calçou um par de sapatilhas e pôs uma tiara vermelha na cabeça. Ela não gostava de usar muita maquiagem, por isso, sempre optava por um batom de cor clara ou um brilho labial.
Ao ouvir a campainha tocando, desceu as escadas correndo. Quando chegou na sala, sua mãe estava recebendo Kendall e uma garota que ela ainda não conhecia. Neelam se aproximou exibindo um sorriso tímido.
- Boa noite, Neelam? Espero que não se importe por eu ter trazido minha irmã, Juno. - Disse Kendall, sem graça.
- Não. Não me importo. - Disse Neelam, disfarçando.
- Hã, oi? Estava ansiosa para conhecer a amiga do meu irmão! - Falou Juno sorrindo.
- É um prazer. - Neelam disse.
- Bem, eu preciso voltar à cozinha, mas fiquem à vontade, crianças. - Mikaela disse antes de deixá-los a sós.
- Por favor, sentem-se? - Disse Neelam a Kendall e Juno.
Eles se sentaram e os três se encararam em silêncio por um tempo, até Juno quebrar o gelo.
- Tem uma casa linda!
- Obrigada! - Respondeu Neelam.
- E o seu jardim é um sonho! Invejo você! Ken e eu moramos em um apartamento minúsculo. Não é a mesma coisa que morar em uma casa grande com porão e jardim. - Falou Juno.
- Nós temos um gato, uma tartaruga e alguns peixes. - Disse Kendall.
- Oh, sim! Azazel, o gato. E Amy, a tartaruga. - Falou Juno.
- Azazel?! - Repetiu Neelam encarando Juno curiosa. Por que alguém poria o nome de um demônio em um gato?
- Minha irmã gosta de coisas sobrenaturais, como bruxas e demônios. - Disse Kendall, ao perceber que Neelam parecera pouco à vontade de repente.
Juno revirou os olhos.
- O que ele quer dizer é que eu sou uma adepta da Kaos Magick! - Falou Juno.
- Acho que já li algo a respeito uma vez. Vocês trabalham com tulpas, é isso? - Disse Neelam.
- Servidores Astrais é o termo correto. - Falou Juno. - Deveria experimentar essa forma de magia para atrair coisas boas para a sua vida.
- Como o quê, por exemplo? - Perguntou Neelam.
Juno sorriu e respondeu:
- Isso o que você secretamente deseja.
Neelam sentiu um arrepio. Aquela garota era estranha e quando a encarava, era como se pudesse ver sua alma.