Ele voltou para seu lugar e continuou a revisar uma pilha de papéis. Após longos dez minutos, Neelam ficou entediada. Se levantou e foi até uma estante e escolheu um livro qualquer. Voltou para seu lugar e folheou o livro, pensando no que ela estava fazendo ali e porque Killian estava tão estranho com ela. Será que a idiota da Gillian inventara alguma coisa? Neelam deixou o livro de lado e se aproximou de Killian. Ele estava tão entretido que nem percebeu que ela estava parada ao seu lado.
- Precisa de ajuda? - Ela perguntou em um tom doce, quase infantil.
Killian a encarou e ela sorriu.
- Desculpe por te interromper? É que estou um pouco entediada.
Ele estava tão sério que ela sabia que aquilo não era um bom sinal. Killian olhou para o relógio em seu pulso e disse:
- Só cinco minutos. Eu prometo! Agora, por favor? Volte para o seu lugar. Está me desconcentrando.
Neelam suspirou e voltou para seu lugar.
Ouvir uma grosseria de Duke doía menos que ouvir uma grosseria de Killian porque ela já estava acostumada ao jeito estúpido e rude dele, mas de alguém simpático e certinho como Killian era diferente. Ela havia feito algo errado!
Neelam pegou um livro qualquer e o leu até Killian finalmente se lembrar que ela estava ali. Ele se sentou ao lado dela e a chamou. Ela o olhou e teve a impressão que ele estava mais calmo.
- Eu sei que não é da minha conta, mas preciso te alertar que o Duke não é uma boa pessoa, além de faltar a quase todas as aulas e suas notas serem baixas, ele não leva nada a sério. - Killian disse.
- Duke e eu somos só amigos, mas agradeço por se preocupar comigo. - Neelam disse.
- Me desculpe pela forma como agi pouco... Me sinto sobrecarregado com tantas responsabilidades. Desde que o antigo inspetor foi demitido, a diretora tem empurrado várias funções para os representantes das classes. Está sendo puxado. Fora os problemas pessoais. - Killian abaixou a cabeça chateado.
- Se quiser conversar sobre isso... - Neelam tocou a mão dele.
- Você já foi forçada a fingir ser quem não era só para não decepcionar as pessoas que te amam? - Killian disse. - Não sinto que estou vivendo o que deveria, é como se estivesse desperdiçando o meu verdadeiro potencial.
- Você deve seguir o seu coração, Killian, e fazer o que deseja, sem medo, porque essa vida é curta e é a única que temos. Não pode deixar que decidam tudo por você. Tome suas próprias decisões. - Neelam disse.
- Você está certa. Obrigado. Foi bom falar com você. - Killian sorriu.
† † †
Neelam foi até seu armário, pegou suas coisas e saiu do colégio. Ela estava quase virando a esquina quando ouviu um assobio. Virou-se e viu Duke vindo correndo em sua direção. Ela esperou.
- Você já não devia estar em sua casa? - Ela perguntou em tom insinuante.
- Eu não tenho hora para voltar para a casa. - Falou Duke acendendo um cigarro. - Quer um?
- Não. Obrigada. - Ela respondeu, caminhando.
- Tem certeza? Qual marca você prefere? - Disse ele a seguindo.
- Nenhuma.
- Ah. Você é do tipo que toma refrigerante em vez de cerveja e sempre volta para casa antes da meia-noite. - Falou ele, rindo.
- É... Seu plano de colocar droga na minha bebida já era. - Ela brincou.
- Ainda posso colocar no refrigerante. - Ele brincou. - Ouvi que Killian e você estavam juntos...
- Sim, e daí? - Falou Neelam.
- Então é assim? Já está me traindo com esse aí? - Duke cruzou os braços, bancando o namorado ciumento e então, riu, fazendo Neelam rir também. - O que vai fazer essa tarde? - Ele perguntou.
- Nada de especial. - Ela respondeu.
- Não quer ir à minha casa? - Ele convidou.
- Seus pais não vão se importar? - Neelam se lembrou de quando foi a casa de Kendall. Não gostaria de passar por aquilo novamente.
- Meu pai passa a tarde toda na oficina. Ele nem vai notar que você está lá, e mesmo se notar, ele não vai se importar. Meu velho é de boa. - Falou Duke.
- Tudo bem, então. - Como ele não mencionou a mãe, Neelam achou melhor não perguntar por ela, afinal, os dois poderiam não se dar bem.
Neelam foi para casa, tomou um banho, trocou-se e saiu. Ela se aproximou do portão da casa de Duke e o viu brincando com um grande pastor alemão negro.
- Duke? - Ela o chamou.
O cachorro veio correndo até o portão e latiu de forma hostil.
- Quieto, garoto! - Duke falou para seu cachorro.
- Eu morro de medo de cães! - Falou Neelam se afastando do portão.
- Eu vou prendê-lo no quintal e já volto. - Disse Duke pegando o cachorro.
Depois de prender o cachorro, Duke abriu o portão para que Neelam entrasse e a levou até o seu quarto.
- Uau! - Disse Neelam. - Se eu fosse um garoto, com certeza, teria um quarto como o seu. Você é gótico?
- Só roqueiro, mas não tenho nada contra os góticos. - Falou ele procurando por um dos títulos de suas bandas favoritas.
- Hum, o que você prefere? Nirvana? Beatles? Elvis? - Ele perguntou.
- Que tal Ace Of Base? - Ela perguntou.
- Sério? - Duke riu, balançando a cabeça.
Antes que Neelam pudesse responder, a porta do quarto se abriu.
- Você? O que está fazendo aqui? - Disse Duke sem esperar por aquela visita.
- O seu velho deixou a gente entrar. - Disse Mattew.
- Mesmo assim, você deveria ter batido na porta. - Disse Duke.
- Ih, atrapalhei alguma coisa? Foi mal. - Mattew fez uma careta.
- Não. Imagina. Você não atrapalhou nada. - Disse Neelam.
- Verdade? Ufa! Eu não me perdoaria se tivesse feito isso. - Mattew riu. - Duke precisa desencalhar.
- Vai se ferrar! - Duke disse. - Estou bem sozinho. Obrigado.
- Acho melhor ouvirmos Ace Of Base mais tarde. - Neelam disse a Duke.
- Ace Of Base? Eu amo Ace Of Base! - Disse Mattew.
- Boiola. - Disse Duke.
- Boiola é você que curte ver homem suado. Eu não. Prefiro ver as gatinhas. - Falou Mattew.
- Que nada. Você só ouve música de mulher. - Disse Duke.
- Ué? Porque sou macho e gosto de mulher! - Disse Mattew.
- Vem Neelam? Vamos para a sala? - Disse Duke.
Ela o seguiu.
- Você tem um jeito estranho de mostrar sua masculinidade. - Disse Duke a Mattew.
- Nada. Cara, você é muito machista. - Disse Mattew.
- Isso é verdade. - Disse Neelam concordando com Mattew.
- Viu só? Esse anjo concorda comigo. - Disse Mattew abraçando Neelam.
- Oh, é sim. Para você um homem não pode ouvir Madonna ou Ace Of Base. - Disse Mattew.
- Não. Espera... Que tipo de homem ouve Madonna? - Falou Duke.
- Um fã. - Disse Mattew.
- Ah, não! Não acredito que você trouxe eles. - Falou Duke ao ver Anderson, Merlyn e Willow sentados na sala, conversando.
- Eles quem quiseram vir. - Sussurrou Mattew.
- Eu acho melhor eu ir. - Falou Neelam notando certa tensão no ar.
- Não! Você fica! - Duke disse em voz alta.
- Ei, Duke? E aí cara? - Falou Anderson acenando.
Duke olhou para Anderson e deu um sorriso mais falso que nota de três. Então, voltou seu olhar para Neelam.
- Por favor, fica? Você precisa se enturmar. Sair das sombras. - Falou ele.
- Ok. - Disse ela nenhum pouco animada com a ideia.
- Aí, você tem cerveja? - Perguntou Mattew.
- Tenho. - Respondeu Duke.
- Vou buscar para gente. - Falou Mattew animado e foi para a cozinha.
Duke pegou a mão de Neelam e a conduziu até a sala. Os dois sentaram-se de frente para os outros.
- Oi Nee? E aí? - Disse Anderson sorrindo.
- Oi. - Respondeu ela e sorriu de volta para ele.
- Olá! É um prazer te conhecer! - Willow disse sem esconder sua animação.
Merlyn levantou-se e se aproximou de Neelam.
- Ainda não fomos apresentados formalmente. Sou Merlyn Arcangeli. - Ele disse sorrindo e estendendo a mão.
- Neelam Ferraz. - Disse ela dando a mão a ele.
Merlyn beijou a mão dela.
- Finalmente tive o prazer de conhecê-la pessoalmente. - Ele disse. - Meus amigos falam tanto em você que é quase como se a conhecesse.
- Espero que eles falem bem de mim. - Falou Neelam.
- Oh, sim. - Merlyn olhou de soslaio para Duke e voltou para seu lugar.
- Aí galera? Trouxe uma geladinha para todo mundo. - Disse Mattew ao voltar e entregou uma garrafa para todo mundo.
- Oh, não. Eu agradeço, mas não bebo. - Falou Neelam sem graça.
- Ih, foi mal. - Disse Mattew.
- O que você quer beber? Tem suco, refri... - Falou Duke a Neelam.
- Nada. Não precisa se incomodar. - Disse Neelam.
Duke suspirou e levantou-se.
- Eu já volto! - Ele disse e saiu.
Merlyn levantou-se e sentou-se ao lado de Neelam.
- Você é tão quietinha... Parece um animalzinho acuado. - Disse Merlyn.
- Eu sou um pouco tímida. - Disse Neelam.
- Adoro garotas tímidas. - Falou ele sorrindo. - Mas me fale? É verdade que você tem namorado?
- Sim. O Ken... Conhece? - Disse ela.
- Conheço sim, mas não entendo... Como uma garota como você pode ter se interessado por alguém como ele? - Disse Merlyn
- Temos muitas coisas em comum. - Falou Neelam desviando o olhar.
- Hmm... É mesmo? Por exemplo? - Falou Merlyn a encarando.
- Gostamos de ler e somos antissociais? - Neelam brincou.
- Que sortuda você... Encontrou alguém como você, que a compreende e com quem você pode ser você mesma. - Merlyn disse. - Ainda procuro alguém assim. Pode ser estranho um cara da minha idade falar desse jeito, mas me sinto solitário. Pensei que meus livros e minha coleção de palhaços bastariam, mas sem alguém com quem dividir essas coisas, elas não fazem sentido.
- Você gosta de palhaços? - Neelam perguntou.
Merlyn notou um brilho diferente no olhar dela e aquilo o deixou intrigado.
- Sim, especialmente dos sombrios. - Merlyn disse. - Não é fascinante, um ser que representa a alegria, também provocar medo? No final não importa se o palhaço ri com você ou de você, contanto que ele ria.
- Sim, eu penso igual. - Neelam sorriu. - Tenho uma coleção de bonecas. Eu amo as bonecas da mesma forma que amo os palhaços. A perfeição delas é algo lindo. Parece que elas estão vivas.
- Quando te vi pela primeira vez, pensei que você se parecia com uma bonequinha, tão bela quanto inexpressiva. - Merlyn disse, tocando a mão dela.
Neelam encarou aqueles olhos bicolores, sentindo uma estranha e profunda conexão que até então nunca sentira com ninguém, além de sua irmã, embora, fosse diferente aquela vez.
- Refrigerante com muito gelo. - Disse Duke entregando um copo a Neelam.
- Obrigada. - Disse ela, disfarçando o quanto ficara atraída por Merlyn.
- E então, do que falavam? - Perguntou Duke sentando-se em seu lugar.
- Nada demais. - Respondeu Merlyn.
- Sei... - Disse Duke encarando a mão de Merlyn sobre a de Neelam.
Merlyn soltou a mão dela e virou o rosto, disfarçando.