Sinal Vermelho
img img Sinal Vermelho img Capítulo 5 - Passeio de Garotas
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Capítulo 6 - Grandes Revelações img
Capítulo 7 - Sexo e Chocolate img
Capítulo 8 - S.O.S Melhores Amigas img
Capítulo 9 - Passeio ao Luar img
Capítulo 10 - Sinais Divinos img
Capítulo 11 - Histerias e Desgaste img
Capítulo 12 - Que bicho te mordeu img
Capítulo 13 - Jantar de Horrores img
Capítulo 14 - Pijamas e Conselhos img
Capítulo 15 - O Vilão img
Capítulo 16 - Assim que se faz. img
Capítulo 17 - Seja como for, apenas lide img
Capítulo 18 - Verde, azul e vermelho img
Capítulo 19 - Do próprio veneno img
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Capítulo 5 - Passeio de Garotas

Desculpa, foi minha amiga que enviou, eu tenho namorado [terça-feira, 20h53m].

Leio a mensagem que enviei para Lorenzo pela centésima vez dentro de três dias. A mensagem que, por sinal, ele visualizou e não fez questão de responder. Não que eu tenha algum motivo para me importar com isso. É apenas a curiosidade falando mais alto, afinal, ele não apareceu na biblioteca nos últimos dias, como disse que faria, e se ele estava procurando aquele livro tão veemente, deveria ser urgente, não é? Será que seu sumiço foi por minha causa, em respeito ao meu namoro?

Termino de fazer minhas anotações da última aula e começo a organizar meu material, colocando tudo dentro da bolsa e visualizando Ana levantar à minha frente.

- Sabe o que você tá precisando para espairecer? - pergunta, enquanto me levanto. - Sair.

Reviro os olhos e cruzo o corredor com ela em meu encalço, mas antes que eu possa contraria-la, os cochichos por causa de Sofia ganham minha atenção e dão espaço a uma fúria que eu não sabia que existia. Todos se afastaram dela e agora ela é o principal alvo de piadas desse lugar. Tudo isso é extremamente cansativo, até para mim que assisto tudo de longe, e sei que está na hora de fazer alguma coisa.

Caminho até a mulher que de cabeça baixa tentava passar despercebida e envolvo seu braço com o meu. Ignoro seu sobressalto e viro-me para as pessoas que se calaram somente para nos observar.

- Vocês não transam, não, porra? - Descarrego todo meu estresse da semana em meu tom de voz. - Vocês estão na faculdade e não no jardim de infância. Cresçam. - Volto a fitar Sofia que me olha com gratidão e pergunto mais baixo: - Tá tudo bem?

- Sim, obrigada por isso.

- Que bicho te mordeu, Pâmela? - perguntou Ana ao me alcançar, passando a caminhar ao meu lado.

- Eu estava aqui perguntando pra Sofia se ela quer ir no shopping com a gente, acho que todas nós estamos precisando espairecer, não é? - Ignoro o olhar repreendor da minha amiga e ao chegarmos do lado externo da universidade, desvio a atenção para a alourada. - E aí, o que me diz?

- Ah, eu ia adorar.

- Ótimo - digo, parando em frente seu carro e soltando seu braço. - Eu te mando mensagem para combinarmos direitinho.

Ela sorri em resposta, agradece novamente e parte para seu destino. Viro para minha amiga que está me olhando incrédula, como se eu houvesse sido abduzida, e já me preparo para o sermão.

- Depois de tudo que ela fez, você ainda quer ajudá-la?

Dou de ombros.

- Tá na hora de superar isso, Ana, não faz bem para ninguém. Além de que ela virou chacota por machismo, enquanto, adivinha? O professor ainda é idolatrado pelos corredores. Eu faria isso por qualquer mulher e você também deveria.

[...]

Observo meu reflexo no espelho enquanto coloco os meus acessórios dourados nos pulsos. Escolhi um vestido vermelho escuro que marca as curvas de meu corpo, um salto alto e batom na mesma cor. Passei um delineado em meus olhos e prendi meu cabelo em um coque, deixando alguns cachos soltos. Tenho que admitir que estou uma tremenda gostosa.

Ouço uma notificação chegar e pego meu celular, constatando ser Ana avisando que já chegou. Combinamos que ela passaria para buscar cada uma de nós em suas respectivas casas. Primeiro na de Sofia por ser mais próxima e depois na minha, o que me deixava em constante alerta e torcendo para que não brigassem na minha ausência. Mas surpreendo-me quando desço e encontro as duas rindo e conversando.

A Sofia está até sentada no banco da frente!

Caminho até o carro contente por estarem se dando bem e abro a porta, sentando no banco de trás.

- Uau! Como você tá linda, amiga - diz Ana, chamando a atenção da alourada com a mão. - Não é, Sô?

Sô?

- Sim, muito linda.

- Vocês também estão maravilhosas.

Ana está vestindo uma calça preta solta de cintura baixa, uma blusa larga amarela que valoriza o tom de bronze de sua pele e uma bandana da mesma cor que esconde parte dos seus cabelos castanhos e lisos. Já Sofia optou por um vestido curto azul escuro que contrasta com sua pele branca, enquanto deixou os cabelos loiros soltos e com ondas de babyliss.

Ana é a responsável por colocar músicas animadas que vamos cantando ao longo de todo o percurso. Ela estaciona em frente ao shopping, e soltamos gritos de felicidade ao descermos do carro. O clima está abafado com bastante ventania, enquanto o céu acima de nossas cabeças beira à escuridão, sendo iluminado apenas pelas estrelas.

- Onde vocês querem ir? - ela pergunta.

- Eu soube que abriu uma nova loja de roupas e estou louca para dar uma passadinha lá - diz Sofia tão empolgada quanto uma criança. Deixo escapar uma risada, ganhando a atenção das duas.

- E você, Pam?

- Queria passar em uma lanchonete - digo com um sorriso amarelo, ouvindo meu estômago roncar.

Dessa vez quem ri é Sofia, ao passo que Anabel revira seus lindos olhos pretos.

- Se acostuma, Sô, a Pâmela é pequena, mas tem a fome de um gigante.

- Ei - repreendo-a, semicerrando os olhos, e Sofia ri. Ela parece um pouco mais confortável, apesar de aparentar ser tímida, e isso me deixa muito feliz.

Cruzamos a porta do shopping e o ar condicionado baixo arrepia os fios do meu corpo, então eu passo as mãos pelos braços até me acostumar com a temperatura. Hoje é sexta-feira, o que significa que os bares e restaurantes estão cheios, assim como este lugar.

- Mas é verdade. - Anabel dá de ombros. - É o seguinte: primeiro vamos à loja, depois vamos à praça de alimentação e por último assistimos ao filme novo, o que acham?

Assentimos e Sofia nos guia até o local. Há muitas pessoas na loja devido a inauguração, ainda assim conseguimos transitar tranquilamente aqui dentro. E não é para menos, as roupas são tão bonitas e estilosas que até eu que jurei não comprar mais nada esse mês, selecionei algumas e fui até o provador.

De frente para o espelho, avalio suas moldagens em meu corpo e satisfeita com o resultado decido ficar com todas. Visto-me com meu vestido e coloco todas dentro da sacola transparente novamente, deixando o provador e me deparando com Sofia desfilando para Anabel no meio da loja. Bato palmas e solto um assobio, gritando logo em seguida:

- Meu Deus, arrasou!

Ela agradece ruborizada e entra no provador para se trocar. Minutos depois, estamos no caixa pagando nossas compras e quando saímos da loja, Anabel nos ajuda a carregar as sacolas. Paramos na praça de alimentação, fizemos nossos pedidos e nos sentamos em uma mesa. Observo o lanche da alourada totalmente vegano e como se lêsse meus pensamentos, minha amiga a questiona:

- Há quanto tempo é vegana, Sô?

- Hum... acho que tem uns quatros anos que virei vegetariana, mas vegana mesmo eu ainda estou em processo - ela responde após limpar a boca com um guardanapo.

- É bastante tempo - comento, pegando uma batata frita e levando até a boca. - Eu tentei uma vez ser vegetariana, mas não consegui, nos livrar de alguns costumes pode ser bem difícil.

- É sim e tá tudo bem.

Ela sorri, mas não demora até que seu sorriso murche e olhemos para ela com preocupação. É Anabel quem toca a sua mão em cima da mesa e diz com suavidade:

- Desculpa se soei evasiva demais.

Ela ergue o olhar e sorri novamente para nos tranquilar, cobrindo a mão de Anabel com sua outra mão.

- Vocês são muito divertidas e simpáticas, eu é quem deveria estar pedindo desculpas. Há alguns anos atrás eu fui muito malvada com você, Pâmela, e...

- Isso foi a muito tempo, Sô, já está no passado - a interrompo.

- Mas não para mim, eu preciso pedir desculpas e te dizer que eu me arrependo muito. Eu... - ela parece relutante em dizer e respeito seu tempo - eu sou bissexual e hoje consigo dizer que gosto de mulheres com orgulho, mas naquela época era difícil me aceitar, eu odiava tudo que representasse a homossexualidade e por isso te ataquei.

Meu Deus. Eu nem imaginava.

Passo alguns segundos sem saber o que dizer, mas logo a olho com ternura, sabendo que um dia já estive em seu lugar, buscando forças para me aceitar em uma sociedade que repudia minha existência até os dias atuais.

- Tá tudo bem, Sô. Eu não guardo rancor de você e fico imensamente feliz que você tenha conseguido se descobrir.

- É, eu sei que a conversa não é comigo, mas saiba que pode contar com a gente a partir de agora - complementa Anabel com um sorriso.

Visualizo lágrimas encherem seus olhos, enquanto ela nos responde com a voz embargada:

- Obrigada, meninas. Vocês são incríveis.

                         

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